Pedra de Toque
SISSI DOS MEUS QUINZE ANOS
Na rádio o locutor anunciou friamente a trágica nova.
Num apartamento em Paris, sem vida descobriram teus olhos, teu corpo.
Fiquei triste, triste ao saber-te morta.
Porque resplandecente te recordo – ai os meus quinze anos – ao ritmo ondulante da valsa, encantando a corte nos braços do príncipe.
Eras a Sissi dos olhos líquidos e fundos.
Esbagoámos, eu e minha avó, no velho Cine-Teatro ao ver-te bela e feliz no fim da fita iluminando os paços imperiais com o teu sorriso eterno.
Agora, a lágrima, vergonhosamente, correu para dentro.
A Sissi permaneceu contudo intocável na memória adolescente.
Depois, naturalmente, viraste mulher ao compasso da vida.
Na piscina dos teus olhos, os jovens de então mergulhámos adultos no sentimento, no perfume do teu corpo sensual.
Magistralmente, inventaste na tela a mulher de classe, lindíssima e apaixonada, que semeou carradas de talento e beleza entre os que te aplaudimos.
Paris que te acolheu, viu-te pela derradeira vez.
Paris que tu amavas de Champs-Elysées a Montmartre.
Soube-te, mais tarde, doente pelos dramas da vida.
Os caminhos desencontrados do amor e a morte violenta do teu filho gastaram-te.
Mas pela Sissi dos meus quinze anos, pela Romy Scheneider, pelo teu talento, pelos teus olhos verdes fundos, pelo teu sorriso quente.
Aqui fica a minha prece que, quando a memória desperta, ainda rezo com enorme saudade.
António Roque