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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

13
Mai18

Pergaminho dobrado em dois


pergaminho.jpg

 

Faz todo o sentido repetir-me

 

Faz todo o sentido repetir-me, aliás peço desculpa a quem já leu esta crónica em outro lado. Preciso deste desabafo. É que as coisas estão sempre a acontecer e a deplorável mente humana é sempre intemporal.

 

Hoje acordei e tive uma leve ideia que estaríamos no século XXI, mais concretamente em meados de 2018. Presenciamos a maior era de evolução tecnológica e social de sempre. De todo o mundo chegam-nos invenções inacreditáveis como a Sophia – o primeiro robô a ser considerada uma cidadã do mundo –, como sabem, a inexistência da palavra patrão que foi substituída por CEO. Já fomos à lua, Trump foi eleito presidente do Estados Unidos da América, Portugal venceu o Euro, Cristiano Ronaldo venceu mais bolas do que a soma da minha idade vezes cinco, criaram-se redes sociais, nomeadamente o Instagram onde podemos seguir todas as mulheres bonitas, passar três horas e meia a observar gatinhos, publicar fotos tomando o pequeno almoço saudável de aveia, sementes de sésamo e frutos afrodisíacos congelados numa tigela vermelha que combina com a parede e com a capa do novo livro do Pedro Chagas, antes de fazer um training matinal. Também já podemos comunicar uns com outros, ao lado um dos outros, por mensagem, o que nos traz benefícios se a pessoa for realmente feia. Cada vez há mais pedagogos no Facebook, mestres da palavra, escritores de grande gabarito, proclamadores da verdade e da autoajuda que brotam sabedoria ancestral e certas e determinadas coisas como:

 

“Se estás mal, muda-te, faz mesmo todo o sentido.” – Gustavo Santos

 

o que na verdade nos transmite uma confiança inabalável, uma paz reconfortante e um quentinho no coração nos momentos de falta de comida na mesa, e dificuldade em pagar a renda. Vivemos num mundo vigiado pelo politicamente correto. Onde não podemos dizer o que pensamos porque consequentemente podemos perder o emprego, ou ser ameaçados de morte por termos uma opinião.

 

Gravíssimo

 

Já preparei a minha cicuta, e despedi-me da minha Xântipe  – nunca se sabe o que pode acontecer quando me lembrar de escrever no meu Facebook: “gosto de mulheres morenas”, possivelmente alguém me vem perguntar ofendido o porquê de não gostar também de loiras, e o porquê de só gostar de mulheres.

 

- Talvez sejas preconceituoso. Se calhar dizes isso porque és xenófobo, e no pior dos casos só mulheres morenas brancas. Racista também.

 


E, não passando quase cinco minutos, já a minha vida se tornou um reality show facebokiano e a partir desse momento, é só beber aquilo que tenho pousado na mesinha de cabeceira.

 

Isto tudo para dizer que infelizmente, de tão evoluídos que estamos, ainda não conseguiram descobrir qual a unidade linguística que mais se adequa ao facto de os meus pais se locomoverem numa cadeira de rodas. Uma senhora que conheci ontem chamou-os – sem querer ofender diz ela –, de aleijados. Outro senhor, esse já conhecido há mais tempo de que ontem, infelizmente, chamou-os de mancos. Não sei se alguém tem mais adjetivos que os possam descrever. Eu fico por deficientes. É mais prático, remete-nos logo para o que é e abrange uma plataforma de inúmeras doenças, é vantajoso sobretudo para as pessoas terem pena de mim, e facilita a procura de estacionamento quando vou a um centro comercial.

 

Voltamos às recomendações culturais, no meu ponto de vista, mais ou menos egrégias:

 

            - Livros - Para Aquela Que Está Sentada À Minha Espera, de António Lobo Antunes Como seria de esperar mais um grande livro. O melhor escritor de sempre, vivo, em Portugal e mesmo assim vende menos que o José Rodrigues dos Santos. É uma pena literatura, é uma pena…

 

            - Cinema/Serie - O Alienista, realizado por Cary Fukunaga Recomendo vivamente. A série tem como premissa inicial: “O que leva um homem a fazer mal?”

 

            - Política - Campanha do CDS-PP de Almada contra eutanásia Já estamos habituados à politica de direita hitleriana, de não deixar as pessoas decidirem por elas próprias, quererem ter o controlo de tudo. Lembram-se, quando eram crianças, daqueles desenhos animados em que a personagem principal tinha sempre um diabo num ombro e um anjo no outro? Agora imaginem ter um deputado do CDS, mas sem anjo.

Herman JC

 

 

 

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