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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

22
Jul18

Pergaminho dobrado em dois


pergaminho

 

Uma breve irritação sobre a humanidade

 

Somos todos coleópteros rotos e repugnantes que necessitam de atenção, que arrotam egoísmo pelos sovacos, vaidade pelos inúmeros orifícios que restam e rastejam perante a terra destruindo-a com a sua existência de merda.

 

Saramago dizia que “nós, os seres humanos, matamos mais que a morte” e tal como em tudo o velho comunista e prémio nobel soltou uma bufa bem ao jeito de um materialista ciente da terra movediça que pisava e prevendo, digo eu, a hecatombe musical a que assistimos em pleno século XXI.

 

Temos que terminar com os queixumes e lamentos, ou porque a nossa vida vai de mal a pior uma vez que não sobrou dinheiro para pintar o cabelo de roxo e sendo assim temos que continuar com o amarelo oxigenado ou porque somos muito infelizes por não termos aquele smartphone da moda que precisávamos tanto como um cão ao dono.

 

Mudando de assunto que preciso de desabafar: de acordo com a RTP notícias, o Hospital de Chaves perdeu quarenta e oito camas, como se as camas fossem um elemento muito importante dentro do panorama hospitalar. Onde já se viu quererem que os doentes tenham toda uma panóplia de boas condições? Uma coisa é estar doente e ir ao Hospital para obter uma suposta cura, outra é fazer um retiro espiritual numa luxuosa pensão do estado onde existe, como todos sabemos, comida da boa, um mestre que às quintas faz workshop de yoga e a Nicole Kidman como terapeuta de spa. Em relação ainda ao tipo de decoração interior que são as camas, todos sabemos os gastos que elas acarretam para o governo, são inúmeras as queixas que têm recebido ou porque algum doente se lembra de começar a roer os pés da cama como se fossem os quadris da Fafá de Belém e estraga-as ou porque uma comunidade de doentes acha-se trapezistas do Cirque du Soleil e fazem piruetas perigosíssimas em cima da cama.

 

Na minha opinião, substituíam as quarenta e oito camas por catorze campas, seis velas a fazerem de candeeiros, três pneus só porque sim, uma biblioteca de livros do Gustavo Santos com tradução para todas as línguas berberes e uma sede da IMEL e tínhamos mais um bom e prestigiado cemitério público.

 

A razão pela qual isto tudo está a acontecer é derivado à nossa acarinhada humanidade que está de tal maneira lotada no departamento dos queixumes e da vaidade que o Hospital de Chaves cedeu as respetivas quarenta e oito camas para observação e internamento de rotos egoístas na Sibéria.

 

Mas não vamos dramatizar com isto e nem percamos o tema principal que guia esta belíssima e impactante crónica que visa a alertar a todos os leitores que somos, nada mais nada menos, uns animais asquerosos, indivíduos repletos de qualidades malfeitoras, isentos de qualquer bondade para com o próximo e isso é tão vergonhoso quanto em clima de verão usar aqueles calções até à canela com sandália e meia branca. Não merecemos o sol nem a vida. A existência da humanidade é uma paródia grotesca que Deus criou só para se poder lembrar que não é perfeito. Nós somos os outros e esse imaginário para alguns provoca um chavascal interior que só apetece falecer a ouvir Celine Dion.

 

Contudo, não há razões para ficarmos angustiados uma vez que sabemos que nada dura para sempre e tudo é finito. Um dia a luz apagar-se-á e não há nenhum IKEA que nos valha. Ficará tudo escuro e nessa altura penduramos as chuteiras da crueldade, do egoísmo e da vaidade. O jogo terminou. Até lá, procuremos cada vez mais o que é ser-se humano e corrijamos aos poucos as nossas atitudes de bichos solitários e imundos. Precisamos de ser úteis. No final, restar-nos-á cheirar o pó da eterna igualdade.

 

Herman JC

 

 

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