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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

28
Out18

Pergaminho dobrado em dois


pergaminho

 

 

ENTREVISTA COM UM VETERANO DA PRAXE

 

Joaquim Maria, o aluno mais antigo da Escola Superior de Tecnologia do Sabugal. Tem 46 anos. Está ligado às praxes desde os seus 18 anos.

 

P. -  Boa tarde, Joaquim Maria. Diga-me lá: sempre foi muito ativo nas praxes?

R. - Não. Apenas desde os dezoito anos.

P. – O que foi que o levou a seguir esta atividade? Humilhar os seus parentes mais próximos? Uma vocação irresistível para ser idiota? Talvez a ânsia de ser idolatrado por meninas dos 13 aos 18 anos? Queria ser uma celebridade para a caloirada, era isso.

R. – Não. Nada disso.

P. – Já sei. Ausência de autoestima?

R.– Errado.

P.– Frustração sexual?

R. – Tenho.

P. – Mas foi isso que o levou a ser bastante ativo na praxe?

R. – Não. Vi na praxe uma solução para deixar de ter azar com o sexo feminino.

P. – Então é mais ou menos frustração sexual, Joaquim Maria. É virgem?

R. – Peixes.

P. – Fale-me então do entusiamo exacerbado dos caloiros pela praxe. Porque é que faltam às aulas para serem praxados?

R. – A universidade é praxe, sabe? Eles sabem que em primeiro lugar está a praxe e depois o resto. Sabem que se faltarem enchem cinquenta e mais três linguadões aqui ao Joaquim Maria.

P. – Está a falar a sério?

R. – Não. Enchem vinte. Não queremos roturas musculares nem caloiros descontentes.

P. – Mas os pais pagam as propinas para os filhos frequentarem as aulas, percebe?

R. – Nunca entendi isso.

P. – Qual foi o momento mais infeliz que teve na praxe?

R. – Lembro-me de uma caloira pedir-me para ser padrinho dela.

P. – Isso não é bom?

R. – Eu queria era que me pedisse em namoro.

P. – E o mais feliz?

R. – Foi quando me pediu em namoro.

P. – Afinal, chegou a pedir?

R. – Não.

P. – Diga-me: que pensa dos miúdos que entraram este ano para o ensino superior?

R. – A essa resposta vou tentar responder com o maior entusiasmo.

P. – Muito bem. E em relação à falta de inteligência destes?

R. – Está a insultá-los? Dez de braços, já!

P. – Joaquim Maria, isto é uma entrevista. Vá, componha-se.

R. – Desculpe. É o hábito. Sabe que o monge faz o hábito.

P. – O hábito faz o monge, Joaquim Maria! Avançando: acha fundamental a praxe para a integração dos novos alunos?

R. – Tenho a certeza que faz bem a nós que praxamos. A praxe, aqui só para nós, tem o intuito de nos fazer sentir um Mussolini ou um Cristian Grey do mundo académico. Aquele poderzinho militarista e falta de confiança em nós mesmos são o orgasmo de quem praxa. Já que não conseguimos ter orgasmos de outra maneira. Quanto aos caloiros... já para o chão: quinze saltos a pé coxinho enquanto grita “O doutor Júlio tem um tarolo assimétrico”.

P. – Joaquim Maria, já lhe disse que isto é uma entrevista. Vista-se lá.

R. – Desculpe.

P. – Outra pergunta: em seu entender, o que é que acontece em terra de cego?

R. – Quem tem olho é rei.

P. – Bravo. Vejo que é dotado de rara perspicácia. Agora, uma pergunta de faculdade: onde tem o seu diploma?

R. – Na faculdade.

P. – Outra coisa: o que acha da entrada de alunos ainda menores no ensino superior?

R. – Acho bem, na medida do facilitismo que temos na atividade do engate.

P. – Acha que a praxe tem pernas para andar, depois deste tumulto de notícias que surgiram?

R. – Não estou a par da situação. Acho que a praxe nunca irá acabar. Da mesma maneira que existirá sempre a falta de autoestima de quem praxa.

P. – Para terminar: acha que a coercividade de beijos de crianças aos seus avós é violência?

R. – Isso vem a propósito do professor Daniel Cardoso, não é?

P. – É.

R. – Pensei que era para falar de assuntos sérios. Sobre esse assunto, só tenho a dizer o seguinte.

P. – Muito obrigado.

 

Herman JC

 

 

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