Pergaminho dobrado em dois
Poema f-u-t-u-r-o
quando tiver a certeza biológica
que de alguma forma cresci
quero que me olhes com
as tuas pálpebras pisadas mortas
extremamente fatigadas
completamente destruídas
mas ainda brilhantes
inteiramente penetrantes
como um hieróglifo egípcio
a circundar entre o nervo ótico
e a iris mais distante.
quando tiver a certeza biológica
que de alguma forma cresci
quero olhar pela janela amarela da sala
uma floresta um campo
lá fora é tudo cinzento
inundada por felinos selvagens
Pantherinae e Felinae
empoleirados em troncos de eucaliptos e
rochas de papel antigo
envelhecido
manchado com café expresso
o tempo acabar-se-ia logo ali
num nevoeiro perdido a três
que só os pontos ligados
na rosa-dos-ventos
formar-se-iam um qualquer ser mitológico
que nos ajudasse a fugir dali
daqui
de qualquer parte fora dali
daqui
quando tiver a certeza biológica
que de alguma forma cresci
quero sentir o cheiro
no travesseiro pequeno
que a mamã comprou
é dia de passear com mamã
estás pronto
chocolates coisas moles que na boca
só pode ter o papá e a mamã
hoje foi dia de passear com a mamã
gostaste
quando tiver a certeza biológica
que de alguma forma cresci
quero sonhar que estou a sonhar
beijar-vos enquanto durmo na sensação
que estou a sonhar
que estou realmente a sonhar
meio olho aberto meio olho fechado
sobre uma escrivaninha velha que o avô me deu
acabei o próximo romance amor
a ver-te beijar outro
embalando-o como se fosse eu
há anos
esse outro
que dizem ter destruído a torre de babel
com um simples golpe de choro e chichi
que lindos estão vocês os dois
quando tiver a certeza biológica
que de alguma forma cresci
espero que não seja tarde
para vos adormecer –
o papá gosta muito de vocês.
Herman JC