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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

26
Mai14

Quem conta um ponto...


 

191 - Pérolas e diamantes: não há acordos grátis

 

 

Era eu ainda miúdo quando ouvi falar pela primeira vez em altruísmo.

 

Lembro-me de escutar o reverendo a fazer o elogio a um senhor lá da terra, falecido recentemente, que, quando numa batalha qualquer foi ferido, não sei agora onde, e lhe foi oferecido um golinho de uma aguardente muito boa por parte de um camarada de armas, respondeu-lhe que nesse momento estava a rezar e que, por isso, o deixasse de fora da rodada e oferecesse a sua parte ao vizinho da maca ao lado, que estava bem mais necessitado do que ele.

 

“Esse espírito de sacrifício altruísta”, dizia o senhor abade, que gostava de molhar a palavra em boa aguardente velha, “era o que queria ver em vocês, meninos, especialmente em ti, João. E quantas vezes já te disse para não te pores a olhar para mim com esse ar emproado e averiguador.” Naquela altura limitei-me a engolir em seco.

 

A resposta encontrei-a apenas mais tarde, quando li a seguinte observação do imperador Marco Aurélio: “Acontece-te algo? É bom que assim seja. Faz parte do destino do universo que te está reservado desde o início. Tudo o que te acontece faz parte da grande teia.”

 

Diz-me a experiência que não adianta que nos tirem um peso de cima porque mal nos distraímos, logo outro peso, muitas das vezes um bocado maior, cai-nos logo em cima outra vez. Este é um jogo que não se pode ganhar.

 

Desta vez queria falar de realidades ligeiras, de coisas engraçadas. De episódios de sucesso. Por exemplo, do triunfo dos porcos no país. De facto, uma empresa de Rio Maior produz mais de 350 mil animais por ano, apenas em Portugal. É uma fartura de suínos. Em tempos de vacas magras medram, e multiplicam-se, os porcos.

 

De Boticas chegou-nos um aviso, e também um contributo, a bióloga Sónia Magalhães informa: “Os nossos cágados estão em perigo.” Ó pobres coitados! Mas também nos tranquiliza com o título da sua palestra: “Cágados, um Futuro a Construir.” E deixa um alerta: “É muito importante não largar espécies exóticas na natureza.” Quer sejam cágados ou animais de outras espécies, acrescentamos nós. É que as espécies exóticas devoram as autótones.

 

Estava eu nesta boa disposição, quando, ao abrir o jornal, dou de caras com a entrevista do senhor presidente da Câmara de Chaves.

 

Diz ele que se lembrou de fazer o balanço de meio ano de governação.

 

Todos os que por cá vivemos sabemos muito bem que nestes últimos seis meses nada na cidade foi feito que mereça, sequer, uma nota de rodapé. Mas o senhor presidente acha que não é bem assim. Por isso resolveu surpreender-nos com as suas boas intenções que, na sua douta opinião, passam por concluir obras, as tais da Santa Engrácia, e por consolidar as contas públicas, cujo défice já vai nos 60 milhões de euros. E a procissão dos números apenas ainda vai no adro.

 

Diz-nos o senhor presidente, com aquela carga de demagogia que lhe é muito caraterística e que nos intranquiliza a todos, que o concelho conseguiu captar algum investimento. Um na área da produção e armazenamento de cogumelos e outro na área da metalomecânica. Cá esperamos para ver. E sentados, como é prudente fazer-se.

 

Referiu que “os últimos 12 anos foram de investimento ímpar para a cidade” e afiançou que esse investimento foi “fundamental para o futuro”.

 

Concordamos que o “investimento” foi ímpar, já a dívida é par. O “investimento” foi realizado por políticos irresponsáveis e inconsequentes e a dívida galopante, que daí resultou, vai ser paga por todos nós.

 

O dito “investimento” criou um buraco de 60 milhões de euros. Essa é a realidade. Um buraco financeiro gigantesco. Já as obras apenas as conseguimos enxergar por um canudo.

 

Por isso é que refere que vai construir piscinas, reparar pavimentos, requalificar a rede viária municipal e os espaços verdes e promover o turismo.

 

A ser assim, afinal onde é que este poder autárquico gastou o nosso dinheiro? Onde estão as obras? Onde para o pilim?

 

Mas para palavras loucas orelhas moucas. Não é assim, senhor presidente?

 

Estamos em crer que foi por essas e por outras que resolveu afirmar que está bastante satisfeito com o acordo de governação estabelecido entre a Câmara de Chaves e o MAI. Só que isso que o senhor presidente afirma é falso. Rotundamente falso.

 

O único acordo que existe é uma atamancada combinação celebrada entre o senhor António Cabeleira, em nome de PSD local, e um senhor vereador, eleito em nome do MAI, que, nesta circunstância, apenas se representa a si próprio.

 

Nenhum eleito do Movimento, com a exceção de João Neves, participou em qualquer reunião com o PSD. Em nenhuma.

 

Não existe nenhum documento que fundamente, justifique ou esclareça em que consiste, ou se baseia, o enigmático acordo.

 

O putativo pacto é de conveniência. Apenas.

 

Serve, sobretudo, para estabilizar o instável poder de um e para outorgar um poleiro ao outro.

 

Pois que lhes faça bom proveito à barriguinha e ao peito. De uma coisa estamos certos: dali nada resultará de positivo, nem para o nosso concelho, nem para as nossas gentes.

 

O senhor presidente admitiu publicamente que o acordo deixou de imediato cair em saco roto a auditoria às contas da Câmara, proposta pelo eleito do MAI e aprovada por maioria.

 

Tal como os almoços, não há “acordos” grátis.

 

João Madureira

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