Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

04
Ago14

Quem conta um ponto...


 

 

201 - Pérolas e diamantes: de joelhos

 

Cresci a ver beijar o pão e a adorar os livros e a leitura.

 

Em casa da minha avó, sempre que um pão caía ao chão, era de imediato apanhado, beijado e benzido. O distraído pecador fazia ainda o mea culpa em sinal de respeito.

 

Eu também assim procedia. No entanto, juntei a benquerença e o respeito quase religioso pelo pão, ao amor pelos livros. 

 

No fundo, o pão é a comida para o corpo e os livros são o alimento da alma.

 

Ainda hoje me choca conhecer pessoas que troçam do ato de ler. Isto para não falar dessa coisa bizarra que é escrever.

 

A todos eles lembro que a revolução democrática checa começou nos teatros e foi liderada por um escritor.

 

Foi com a literatura que me habituei a compreender o absurdo da vida em sociedade. Foi lendo Moby Dick, de Herman Melville, que dei de caras com a parábola do homem moderno. E que continua tão real que até dói. O capitão Ahab, arreigado ao seu fascínio, morre; enquanto Ismael, um homem despojado de sentimentos e de convicções, sobrevive.

 

Ou seja, o homem egoísta moderno, centrado apenas na sua vida, é o único que consegue sobreviver. Os que buscam um ideal morrem por ele e desaparecem nesse mar de indiferença que é a memória dos homens.

 

O Bom Déspota, de José Eduardo Agualusa, bem nos ensina: “Nunca fales tão bem de uma pessoa, que não possas falar mal mais tarde. Nunca fales mal de alguém, que não possas falar bem mais tarde.”

 

Numa leitura próxima da realidade, o que ele nos quer dizer resume-se a duas palavras: “Nunca fales.”

 

Diz também o Bom Déspota que o silêncio desorienta os adversários. Concluindo que “no inconstante mundo da política só existem adversários”.

 

De seguida até nos oferece um ensinamento: “Aqueles a quem chamamos carinhosamente camaradas, ou partidários, não são outra coisa senão adversários que, num determinado instante, estão do nosso lado. Quase sempre são muito mais perigosos quando estão do nosso lado.”

 

Winston Churchill ensinou que o segredo da longevidade, sobretudo na política, está na poupança de energia. Ou seja: para quê estar em pé quando podemos estar sentados? Para quê estar sentados quando podemos estar deitados?

 

Por cá, essa dita longevidade vai numa dívida que anda à volta dos 60 milhões de euros e encobre-se em palavras tais como, e passo a citar o senhor presidente da Câmara: “Queremos continuar a ter condições para fazer os investimentos necessários para o desenvolvimento do concelho.”

 

Após ler estas lindas palavras de circunstância lembro que Winston Churchill se esqueceu de uma postura intermédia: a posição de joelhos.

 

Daí talvez o mote do 31º aniversário do Hospital de Chaves, este ano coincidente com a perda de mais valências, ter sido: “Estética do Silêncio em Ambiente Hospitalar”.

 

Em casa da minha avó também se espargia o sal para afastar os bruxedos, o mau olhado e o demónio.

 

Parece que finalmente o Museu Nadir Afonso se libertou das maldições. Se foi com sal ou sem ele, não sabemos. Mas com alguma coisa terá sido. Talvez uma ida à bruxa de Verin, que é perita nesse tipo de assuntos. E agora com a Eurocidade, talvez o trabalho fique ao preço do estudo para posterior restruturação da dívida camarária, uns míseros 30 mil euros.

 

Álvaro Siza Vieira descansou-nos: as obras do Museu Nadir Afonso estarão concluídas em Setembro.

 

Mas o senhor arquiteto, o das construções, não o da política, nada disse sobre o total do custo da obra. Nem tinha nada que dizer. Os serviços camarários fizeram-nos esse favor, pois para isso é que existem: 10 milhões de euros.

 

Nós, por causa das coisas, até nos atrevemos a ir um pouco mais longe. O custo inicial previsto do dito museu orçava os 5 milhões de euros. Mas o preço final previsto é de apenas 10 milhões de euros. O desvio é, num cálculo simpático, de somente 100%. Ou seja, fez-se um Museu pelo preço de dois. Esta é a excelente gestão de António Cabeleira e dos seus vereadores. A obra foi custeada exclusivamente pelo setor público nacional e comunitário.

 

Sobre a gestão futura do equipamento nada se disse. É segredo.

João Madureira

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.

Sobre mim

foto do autor

320-meokanal 895607.jpg

Pesquisar

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

 

 

19-anos(34848)-1600

Links

As minhas páginas e blogs

  •  
  • FOTOGRAFIA

  •  
  • Flavienses Ilustres

  •  
  • Animação Sociocultural

  •  
  • Cidade de Chaves

  •  
  • De interesse

  •  
  • GALEGOS

  •  
  • Imprensa

  •  
  • Aldeias de Barroso

  •  
  • Páginas e Blogs

    A

    B

    C

    D

    E

    F

    G

    H

    I

    J

    L

    M

    N

    O

    P

    Q

    R

    S

    T

    U

    V

    X

    Z

    capa-livro-p-blog blog-logo

    Comentários recentes

    • FJR

      Esta foto maravilhosa é uma lição de história. Par...

    • Ana Afonso

      Obrigado por este trabalho que fez da minha aldeia...

    • FJR

      Rua Verde a rua da familia Xanato!!!!

    • Anónimo

      Obrigado pela gentileza. Forte abraço.João Madurei...

    • Cid Simões

      Boa crónica.

    FB