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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

02
Mai16

Quem conta um ponto...


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288 - Pérolas e diamantes: eu traidor me confesso

 

O “Livro de Ester”, um dos livros históricos do antigo testamento da Bíblia, diz-nos que a essência da tragédia dos seres humanos não reside no facto de os perseguidos e oprimidos aspirarem a libertar-se e a erguer-se.

O verdadeiro mal consiste em que, no fundo dos seus corações, os oprimidos sonham em tornar-se opressores daqueles que os oprimiram, os perseguidos aspiram a ser perseguidores e os escravos a serem senhores. Afinal isto já vem de longe.

Depois falam-nos dos traidores. Ou melhor, do traidor perpétuo Judas, que, segundo novas revelações históricas, não foi traidor nenhum, sendo até o discípulo preferido de Jesus.

Basta olhar para alguns atos de traição para o epíteto mudar de forma e sentido.

Em França, De Gaulle foi eleito presidente com os votos dos partidários da Argélia francesa. Depois foi capaz de acabar com a soberania francesa na Argélia e de conceder a independência total à maioria árabe. Os partidários de ontem apelidaram-no de traidor e tentaram mesmo matá-lo. Escapou por milagre a um atentado.

Abraham Lincoln, o libertador dos escravos na América, foi apelidado de traidor pelos seus adversários e acabou assassinado por um seu compatriota quando assistia a uma peça de teatro.

Os oficiais alemães que tentaram assassinar Hitler também foram acusados de traição e executados.

Amos Oz tem razão quando diz que na história surgem por vezes pessoas corajosas, avançadas ao seu tempo, que por isso mesmo foram chamadas de traidoras e mortas.

Aqueles que estão dispostos a mudar, que possuem a ousadia da mudança, serão sempre considerados traidores por aqueles que são incapazes de qualquer mudança, e lhe têm um medo de morte. Não a entendem e têm-lhe pavor.

Existem também os patrioteiros. Eça de Queirós dividiu-os em duas categorias: os defensores da “nação viva” e da “ciência justa” e aqueles para quem a “maneira de amar a pátria é tomar a lira e dar-lhe lânguidas serenatas”.

Os primeiros foram muitas vezes perseguidos, presos e mesmo executados. Muitos morreram no exílio, outros nas labaredas da inquisição e outros ainda nas prisões políticas do fascismo.

A maioria continua por aí a tanger a lira e a cantar modinhas ao jeito popular.

Atualmente quase nada distingue a burguesia do proletariado. O enquadramento cultural é muito semelhante. Leem as mesmas revistas do coração, folheiam o “Correio da Manhã” ou o “Jornal de Notícias”, entretêm-se com a mesma literatura de cordel, veem a mesma televisão e comovem-se sempre com as telenovelas ou com os programas de entretenimento. O fado e a música pimba embala-lhes os sonhos e abana-lhes o corpo. Tony Carreira aí está para o provar.

A cultura de massas triunfou. A burguesia e o proletariado distinguem-se apenas na capacidade de fazer e amealhar dinheiro.

Desculpam-se com a ideia de que a cultura é uma coisa pesada, que a vida tem de ser leve. Nivelou-se a inteligência e as ideias pelo mais baixo denominador comum.

Em vez de se discutirem as ideias, discute-se a comida, a bebida e a roupa.

Martin Amis tem razão: a brigada iletrada triunfou.

Experimento a mesma estranha sensação de Fernando Lopes Graça em 1937: “Apesar de nado e criado em Portugal, cada vez sinto mais a minha incapacidade para sentir e compreender as coisas portuguesas; e assim é que estou em me considerar uma monstruosíssima exceção àquela genial lei etnopsicológica, formulada por um conhecido jornalista português: de que para sentir e compreender as nossas coisas é absolutamente indispensável ter nascido em Portugal.”

 

João Madureira

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