Quem conta um ponto...
457 - Pérolas e Diamantes: É costume...
É costume ouvirmos falar os presidentes dos EUA em nome de Deus. O que nenhum deles revelou ainda é a forma como costumam eles comunicar com Ele. Se por processos tecnológicos ou por telepatia. Em 2006, mesmo sem sabermos da Sua concordância, ou da falta dela, Deus foi proclamado presidente do Partido Republicano do Texas.
Ao que se sabe, o Todo-Poderoso primou mesmo pela ausência na época da independência. A primeira Constituição nem sequer o mencionava. Perguntaram a Alexander Hamilton qual a razão para tal esquecimento. Explicou que não necessitavam de “ajuda externa”.
George Washington, no seu leito de morte, não quis orações, nem sacerdote, nem pastor nem outra coisa parecida.
Benjamim Franklin afirmava que as revelações divinas eram pura superstição. Thomas Paine gostava de dizer que a sua mente era a sua igreja, já o presidente John Adams considerava que “este seria o melhor dos mundos possíveis se não houvesse religião”.
Tomas Jefferson considerava os sacerdotes católicos e pastores protestantes como “adivinhos e necromantes” que tinham dividido a humanidade em dois: uma metade de tontos e outra metade de hipócritas.
A Enciclopédia francesa (l’Encyclopedie), marcou com a sua sabedoria o “Século das Luzes” que, de alguma forma, lhe ficou a dever esse nome. O papa de Roma mandou queimá-la e determinou a excomunhão de quem quer que tivesse um exemplar de obra tão blasfema.
Diderot, d’Alembert, Jaucourt, Rousseau, Voltaire e mais alguns dos seus autores, arriscaram ou sofreram mesmo prisão e o exílio para que este trabalho coletivo pudesse influenciar, como influenciou, a história futura das nações europeias.
Passados que são dois séculos aqui ficam, por sugestão de Eduardo Galeano, algumas definições que são um convite ao pensamento.
Autoridade: “Nenhum homem recebeu da natureza o direito de mandar nos outros.”
Censura: “Não há nada mais perigoso para a fé do que fazê-la depender de uma opinião humana.”
Clitóris: “Centro do prazer sexual da mulher.”
Cortesãos: “Aplica-se àqueles que foram colocados entre os reis e a verdade, com o fim de impedirem que a verdade chegue aos reis.”
Homem: “O homem não vale nada sem a terra. A terra não vale nada sem o homem.”
Inquisição: “Moctezuma foi condenado por sacrificar prisioneiros aos seus deuses. Que teria dito se visse alguma vez um auto de fé?”
Escravidão: “Comércio odioso, contra a lei natural, no qual alguns homens compram e vendem outros como se fossem animais.”
Orgasmo: “Existe alguma coisa que mereça tanto ser conseguida?”
Usura: “Os judeus não praticavam a usura. Foi a opressão cristã que forçou os judeus a transformar-se em prestamistas”.
Nessa altura, os judeus não possuíam pátria. Também não tinham hino. Os alemães entoavam um que colocava a Alemanha uber alles, acima de todos.
Regra geral, os hinos foram compostos para confirmarem a identidade de cada nação através de ameaças, de insultos, de autoelogio, da glorificação da guerra e do dever honroso de matar e morrer.
Raramente falam de mulheres. Mas, como todos sabemos, são femininos os símbolos da Revolução Francesa: mulheres de mármore ou bronze, belos seios nus, com barretes frígios e empunhando bandeiras ao vento.
Também sabemos que a Revolução Francesa proclamou a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”. O que pouca gente sabe é que uma militante revolucionária, de seu nome Olympe de Gouges, propôs a “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”. Pela ousadia, foi presa. O Tribunal instituído pela revolução que ela ajudou a triunfar julgou-a e condenou-a à guilhotina.
Junto ao cadafalso onde foi executada, Olympe perguntou: “Se nós, as mulheres, podemos subir ao patíbulo, por que razão não podemos subir às tribunas públicas.”
O parlamento revolucionário decidiu mesmo fechar todas as associações políticas femininas e proibiu que as mulheres discutissem com os homens em pé de igualdade.
As companheiras de luta de Olympe de Gouges foram fechadas em manicómios pois só podiam estar doidas.
Nem a mulher do ministro do Interior se conseguiu salvar. Manon Roland foi condenada pela sua “tendência contranatura para a atividade política”. Tinha traído a sua natureza feminina, que lhe mandava cuidar do lar e parir filhos valentes.
A guilhotina acabou-lhe com o desvario.
João Madureira