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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

05
Ago24

Quem conta um ponto...


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Portanto... seguido de Epístola (reservas)

 

Portanto...

Hoje acordei tarde. Mas não era isso que eu tinha programado. Por isso estou um pouco chateado. Eu chateio-me por tudo e por nada. Tenho de reconhecer. Mas também gosto de cumprir com aquilo que programo. E se eu programei acordar hoje cedo tinha de acordar cedo. Só que acordei tarde. Não foi muito mais tarde do que aquilo que tinha programado, mas foi mais tarde e isso é que me está a incomodar. É que eu se programo uma coisa gosto de a cumprir à risca. Mesmo que isso pouco afete a minha vida diária. Não gosto de me desleixar, nem nos horários. A culpa não foi do despertador, que é coisa que eu não uso. A culpa é minha. Eu se programo acordar a uma determinada hora, acordo a essa hora e mais nada. Eu sou assim. O que programo gosto de cumprir. E se eu programei acordar cedo, tinha de acordar cedo. E acordei tarde. Por isso estou chateado. Eu também me chateio por tudo e por nada. Mas como sou assim, não tenho desculpa. Não é que eu goste de me chatear. Acho mesmo que ninguém gosta. Mas aquilo que tem de ser tem muita força. E aquilo que uma pessoa decide tem também de ter muita força. Portanto, se eu programei acordar cedo tinha de acordar cedo. E mais nada. Podem pensar que sou uma pessoa obcecada, mas pouco me importa. O que eu gosto é de cumprir com aquilo que programo. Eu devo obediência aos meus princípios. Para mim os princípios são tudo. É como a moral. Ou há moralidade ou comem todos. Pois bem, se cada um cumprir com aquilo que determina a mais não é obrigado. E isso é muito importante numa sociedade. Especialmente se ela for desenvolvida e democrática. Ou democrática e desenvolvida, que é o mesmo mas com as palavras trocadas. Trocar as palavras também é muito democrático e até se pode considerar um sintoma de desenvolvimento. Por isso Portugal é um país tão desenvolvido. Fora de brincadeiras. Os portugueses gostam muito de trocar as palavras. Gostam até de trocar a palavra. Palavras leva-as o vento, mas a palavra só a leva o dinheiro. O dinheiro é sagrado. Bem assim como a palavra dada. Só que se for dada também pode ser arregaçada. Mas palavra arregaçada é chão que já deu uvas. Agora já ninguém dá uvas. Só os bons dias. E isso se o passeante estiver de bom humor. Está cara a palavra. É como a gasolina. Mas a gasolina serve para fazer andar os carros e as palavras não fazem andar nada. Pelo menos à primeira vista. Porque até há palavras que fazem andar, especialmente os animais. Bem, não são bem palavras, são a modos que onomatopeias. As onomatopeias são engraçadas. Eu gosto muito de onomatopeias e de outras coisas. Gosto de andar de comboio. Gosto de acordar cedo quando programo acordar cedo. E mais vale cedo que tarde. E mais vale tarde que nunca. E gosto de cumprir com a palavra dada. Mas é vício, porque agora já ninguém cumpre nada. E também para que serve cumprir com a palavra dada. Palavras leva-as o vento e o vento nada me traz, o vento é pensamento e voa com ele próprio. Isto quando há vento, porque se não houver vento as palavras ficam no mesmo lugar e o pensamento fica a modos que congestionado como o trânsito nas entradas das grandes cidades. O problema do trânsito nas estradas das grandes cidades é uma coisa muito séria. Por vezes apetece-me rir quando oiço essa informação na rádio. E penso: porque raio é que as pessoas só querem ir para as grandes cidades? As cidades grandes são também um assunto muito sério. Muito sério mesmo. Penso até que é um dos assuntos mais sérios que há. Mas a cavalo dado não se olha o dente. E por hoje é tudo.

 

Epístola quinta

Escrevo-te daqui de baixo. Escrevo-te daqui de baixo, das terras de C. esperando que estejas bem. Eu cá estou a gozar os rendimentos com muito entusiasmo e dedicação.


Com mais dedicação que entusiasmo, para ser rigoroso e sincero. Levanto-me logo de manhã cedo, corro junto ao rio, depois tomo banho, volto à rua e sorrio para quem passa. Depois passeio um pouco e vou tomar o pequeno-almoço. Bebo muito leite e muita água e como muita fruta fresca. Também leio os jornais no café ou nos bancos do jardim. A seguir passeio um bocado pelas ruas da cidade e, por vezes, paro para ouvir um pouco da música com que graciosamente nos brindam muitos músicos de Leste que por aqui passam. Cerca da uma da tarde vou almoçar a um restaurante pequenino que mais parece uma gruta. Mas a comida que servem é de boa qualidade. E bem sabes que isso para mim é que é importante. Depois desço mais algumas ruas, subo algumas vielas, percorro alguns recantos, visito alguns bairros e medito junto aos templos.


Posteriormente, vou outra vez até ao café ler revistas científicas. Entretanto bebo mais leite e água, como mais alguma fruta fresca e sorrio para as pessoas que sorriem para mim. É muito frequente parar outra vez para ouvir mais música. Eu sou um rapaz simpático e educado, o que implica que por vezes compre um cêdê para dar de comer a quem toca e dar de beber a quem canta. É esta a minha obrigação. Também observo montras, varandas, janelas, portas, os desenhos dos passeios, os declives dos telhados, o empedrado das ruas da zona velha, os olhares dos gatos e dos velhos que se sentam junto à porta das suas casas para observar quem passa. Têm olhos tristes, os velhos. Olham para mim como quem olha para uma sombra. E isso dói-me muito. Dói-me mesmo muito. À noite, vou jantar a outro restaurante que mais parece o museu da casa da moeda. Tem um ar decadente e um pouco descuidado, mas a comida é boa e, como tu bem sabes, isso para mim é que é importante. Depois passeio mais um bocado junto às margens do rio e fico em paz com o mundo. Por vezes passam por mim pares de namorados sorridentes e eu sorrio também com muita satisfação. Eles quase sempre retribuem o sorriso. E eu torno a sorrir. Em certas alturas volto à rua principal e lá encontro novamente mais músicos a tanger os seus instrumentos. Então paro um pouco e escuto mais uma pequena modinha. Assim a modos que bem-disposto, ou vou para o meu quarto ler algum livro, ou dois, ou três, com intervalos regulares entre eles, ou, então, vou ao cinema, mas quase sempre saio de lá melancólico. Os filmes são de uma qualidade mais que desprezível. Mas eu gosto de ir ao cinema. Para mim é um ritual. Mais do que um filme, o que busco são lembranças e sensações dos meus tempos de cineclubista. Bons tempos. Por hoje é tudo. Um abraço.

João Madureira

PS - Não te esqueças de dar os três porquinhos-da-índia à cascavel (Crolatus durissus).

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