Vilar de Perdizes e os Congressos de Medicina Popular
Como convive o sagrado com o profano, o sacro profano, numa aldeia de Trás-os-Montes, em Barroso? – Bem e até se recomenda. Tudo graças a um padre, que não é um padre qualquer, pois dá pelo nome de Padre Lourenço Fontes que teve a coragem de “desafiar” a igreja mas também a medicina académica dando voz à medicina popular, a bruxas, curandeiras, médiuns, videntes, mezinhas e ervas medicinais, a quem o povo sempre recorreu para cura das suas maleitas e aflições da alma.
Poder-se-á pensar que tudo isto foi devido à coragem, abuso e provocação por parte de um representante da igreja católica. Coragem talvez tivesse havido uma pouca, mas sobretudo houve realismo e o admitir de uma verdade que sempre existiu e com a qual o povo sempre conviveu e a ela recorreu e, é por estas e pelo Padre Lourenço Fontes ser um homem do povo, que hoje já faz parte da história é um digno e merecedor embaixador do Barroso e de Trás-os-Montes. Montalegre (Vila e Concelho), incluindo Vilar de Perdizes deve-lhe toda, ou quase toda a fama que se iniciou há 25 anos com os Congressos de Medicina Popular e ultimamente com as sextas-feiras 13, ou noite das bruxas de Montalegre, que já leva até lá milhares de pessoas de todo o país, da Galiza àquela, que este ano já foi considerada pela imprensa, a melhor festa de rua de Portugal.
No Diário Atual, Sandra Pereira faz a notícia com as seguintes palavras:
“Ninguém é obrigado a acreditar em aparições. Ninguém na Igreja Católica obriga ninguém a aceitá-las, sejam elas mais ou menos famosas. Ninguém é obrigado a acreditar em Fátima e, na minha opinião pessoal, Fátima pode ter sido como outra qualquer visão e um pretexto para desenvolver o aspecto religioso e a exploração comercial que pode acontecer à volta de qualquer santuário”, avançou à Voz de Chaves o Padre Fontes. A obra de João Sanches, amigo e vizinho do pároco há 40 anos, recorda ainda que, 80 anos antes das aparições de Fátima, surgiram relatos que a Virgem Maria apareceu a três pastores na aldeia de Calvão, no concelho de Chaves, e que o padre que paroquiava a freguesia viria a ser transferido para Fátima, podendo ter originado novas crenças. Na biografia, são também abordadas as quezílias com o antigo bispo de Vila Real, D. Joaquim Gonçalves, que vieram a dar fama ao Congresso de Vilar de Perdizes, após este ter proibido o padre de o organizar por profanar contra a Igreja."
Lourenço Fontes continua em forma ao trazer a lume outras verdades que podem ferir a sensibilidade de alguns, mas que é uma verdade do tamanho deste mundo, pois quer se acredite ou não, a igreja tem feito da fé um grande negócio e lucrativo.
Assim, porque não fazer do sacro profano também um negócio, mas aqui, com todo o Barroso a tirar dele proveito e as sextas-feiras 13 parece-me ser já um exemplo disso. Claro que há que admitir que a autarquia, nas sextas-feiras 13 tem um papel importante, pois como já em tempos disse por aqui, a ideia só por si de pouco vale se não for apoiada e financiada. E embora reconheça a importância que estes congressos de Medicina Popular de Vilar de Perdizes têm, parece-me (é a minha opinião) que precisam de uma mãozinha de apoio por parte da autarquia. Não é por nada mas este ano já foi a XXV edição do congresso e embora a documentação produzida em congresso continue a ser valiosa, parece-me que a festa à volta do congresso está a definhar um bocadinho, mesmo com um programa cheio de atrativos. Mas isto é apenas a minha opinião, que vale o que vale. Por mim, continuo a ir por lá.