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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

04
Jan20

Tresmundes - Chaves - Portugal

ALDEIAS DE CHAVES (COM VÍDEO)


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Hoje retomamos a nossa ronda pelas aldeias da forma que o vínhamos fazendo até que introduzimos aqui os vídeos das aldeias. Retomamos a forma antiga, mas as aldeias que já tiveram o seu post sem vídeo, também o vão ter, mas esse, passará a ser publicado às quartas-feiras.

 

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Pois nesta ronda, se bem se recordam, a ordem alfabética era que nos vinha ditando qual a aldeia a vir aqui. E assim vai continuar a ser. Tínhamos então ficado em Travancas, pelo que, logo a seguir seria Tresmundes, e cá está ela.

 

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Tresmundes que muito gostaria de saber qual a origem do seu topónimo. Aparentemente tudo nos leva a crer que seja uma variante de três mundos, não os da aldeia, mas talvez os que desde ela se avistam, dos quais um seria a Galiza, outro o Barroso e o outro, tudo o restante.

 

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Também, pela localização da aldeia, haveria outra forma de dividir esses três mundos, um o da Terra Fria (Barroso), outro o da Terra Quente e outro o da Galiza. Bem, mas isto sou apenas eu a supor, mas, seja ela qual for, o certo é que haverá uma razão para a aldeia se chamar Tresmundes, que é um topónimo pouco vulgar ou mesmo único, pois não tenho conhecimento de outra localidade com este topónimo.

 

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Localizada bem no alto da Serra do Brunheiro, mas já na vertente da serra que descai para a Veiga de Chaves, tendo a aldeia de Nantes nas faldas da serra. Tudo leva a crer que eram esses os caminhos que desde Tresmundes se tomavam antigamente para vir à cidade, via a aldeia de Nantes, mas também via as três Ribeiras (de Sampaio, do Pinheiro e das Avelãs, talvez um fosse o trajeto de verão (via Nantes) e de inverno (vias Ribeiras), e digo isto apenas pelas pontes que então haveria para atravessar a Ribeira do Caneiro. Aliás, deduzo isto, porque eu próprio, em criança, testemunhava a passagem das pessoas da serra (São Lourenço, Cela e Tresmundes) à porta de minha casa, quando então vivia na Casa Azul.

 

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Mas também sei que passavam por Nantes. Aliás havia a rota das tabernas que as pessoas da serra costumavam fazer, porque as antigas tabernas eram também pontos de apoio às pessoas das próprias aldeias onde elas existiam, mas estrategicamente localizadas e pontos de passagem de pessoas de outras aldeias. Em Nantes tenho conhecimento da existência de uma taberna que apenas fechou quando morreu o seu último proprietário, isto já em finais do século passado. Por sua vez. Na rota do caminho da Casa Azul, havia três tabernas, uma na Casa Azul, outra no cruzamento do Sr. da Boa Morte e outra, pouco mais à frente, na bifurcação da estrada para a Quinta da Condeixa e para o Prado. Repare-se que todas estas tabernas ficavam nas ruas principais e em cruzamentos/bifurcações de caminhos e estradas.

 

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E eram sim ponto de apoio às populações, pois além de terem os produtos de primeira necessidade à venda, não só para o lar como também para a agricultura, em geral serviam de comer e de beber, para além de darem algum descanso e abrigo aos caminhantes, nas torreiras do sol ou nas intempéries, nevadas, frio intensos, etc. Recorde-se que em geral eram também postos público de correios e telefones, locais de encontro e negócios, para além de terem sido também as primeiras casas das aldeias a terem televisão, que também se tornava pública nos festivais da canção, jogos de futebol, etc.

 

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Mas regressemos a Tresmundes, aldeia por onde vou passando com alguma frequência graças ao estradão que liga esta aldeia a Carvela, ou seja, ao planalto da Serra do Brunheiro, estradão que em alguns afazeres dá para poupar uns bons quilómetros de estrada, pena o seu piso nem sempre estar em boas condições para nele se poder transitar com alguma comodidade e segurança, principalmente em tempo de chuva, já nem falo em neve…

 

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E claro que nesta ronda pelas aldeias, a meio, introduzimos o vídeo com todas as imagens que já passaram aqui pelo blog, as de hoje, 9 novas imagens, mas também as de alguns posts anteriores. Talvez nem todas, pois nestes 15 anos de existência do blog, além de lhe perdermos a conta, tivemos alguns acidentes com o arquivo das fotos e também, às vezes, falta de referências ou tags para as encontrar. Tudo isto pode fazer com que algumas dessas fotografias não estejam no vídeo, mas fica o possível:

 

 

 

Para partilhar ou ver diretamente no YouTube, siga este link:

 

https://youtu.be/qkppMIeMis0

 

Para terminar, fica também o link para alguns posts que ao longo destes 15 anos a aldeia de Tresmundes teve neste blog:

 

https://chaves.blogs.sapo.pt/186059.html

https://chaves.blogs.sapo.pt/354674.html

 https://chaves.blogs.sapo.pt/um-passeio-pelo-sol-e-pelas-serras-e-1303272

https://chaves.blogs.sapo.pt/meia-duzia-de-olhares-sobre-a-nevoa-do-1472093

https://chaves.blogs.sapo.pt/368728.html

29
Jul17

Carvela - Chaves - Portugal


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Sempre tive um certo fascínio pela Serra do Brunheiro e este sempre é mesmo desde puto, penso mesmo que será desde que nasci, e a razão é muito simples, as janelas da minha casa davam diretamente para o Brunheiro, praticamente sem qualquer barreira física entre o meu olhar e a imponência da serra, não que ela seja muito alta, mas é a forma como se dá à apreciação para quem está na veiga de Chaves.

 

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Pois desde miúdo que a Serra do Brunheiro tem sido também o meu barómetro. Digamos que ela é o meu boletim meteorológico diário, quando logo pela manhã abro a janela do quarto  e lhe lanço um olhar para fazer as previsões  do dia.  É, as minhas janelas continuam a ter o Brunheiro por companhia e agora muito mais do que em puto, pois com o tempo fui-me aproximando das suas faldas. Bem , mas tudo isto tem a ver com a nossa aldeia de hoje, Carvela, uma das três aldeias (conjuntamente com Maços e Santiago do Monte) que ficam logo após o dobrar da croa[i] da serra, mas sem vistas para a veiga.

 

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Esta localização das três aldeias mencionadas faz com que elas gozem, ou melhor – sofram, com um fenómeno meteorológico que se repete muitas vezes ao longo do ano. Ontem mesmo quando acordei esse fenómeno estava a acontecer, fenómeno esse  que faz com que essas aldeias fiquem mergulhadas num espesso nevoeiro, tudo acontece quando existe uma diferença de pressão atmosférica entre  o vale de Chaves e o planalto do Brunheiro, que faz com que as nuvens baixas ou nevoeiros e neblinas matinais subam a encosta da serra e estacionem no planalto. De verão e em dias quentes como os que estamos a atravessar, este fenómeno até talvez se agradeça, mas de inverno, dói a valer, principalmente quando as temperaturas lá no alto são negativas e os nevoeiros que sobem se convertem em gelo, criando um ambiente de uma beleza sem igual, mas que só se pode desfrutar desde dentro do carro com o aquecimento ligado ou desde as casas da aldeia com a lareira bem abastecida de lenha.

 

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Carvela é uma das onze aldeias a freguesia de Nogueira da Montanha e uma (freguesia) que mais tem sofrido com o despovoamento, em parte pelo rigor dos invernos mas também pela falta de políticas para a agricultura e floresta que façam com que a sua população possa fazer delas um modo de vida. E isto embora aconteça lá em cima a uma cota de 900 metros de altitude, a terra é generosa para como produtos agrícolas, pelo menos na qualidade daquilo que de lá sai, principalmente na produção de batata.

 

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Aliás é vergonho que na cidade de Chaves onde a batata da montanha é reconhecidamente de qualidade superior, tenhamos que comprar batata espanhola e francesa nas grandes superfícies. É como o presunto de Chaves, o famoso presunto de Chaves, tão falado por esse Portugal fora, mas são poucos os que o avezam.   

 

 

[i] Já sei que o termo croa não existe na língua oficial portuguesa, mas por cá é assim que se vai dizendo e pronuncia e não é mais que a palavra coroa abreviada.

 

 

22
Jul17

Carregal - Chaves - Portugal


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Hoje vamos mais uma vez até Carregal, uma das nossas aldeias limite de concelho, neste caso na fronteira com o concelho de Valpaços, como quem vai para Carrazedo de Montenegro ou mais além, até Murça.

 

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Hoje vamos até lá com quatro imagens e algumas, poucas, palavras, mas Carregal é das poucas aldeias que não se pode queixar deste blog, pois quase desde o início da nossa existência que tem tido aqui um embaixador e contador das suas estórias e das suas gentes, a par de outras aldeias vizinhas e de quase todo o planalto da Serra do Brunheiro, embaixador esse que dá pelo nome de Gil Santos que todas as últimas sextas-feiras de cada mês traz aqui um novo conto. Pena outras aldeias não terem outros Gil para contar as suas estórias que não são mais que a própria história mas também uma radiografia da cultura rural deste interior transmontano, muito idêntico no seu seio, mas com as suas singularidades que fazem de cada aldeia uma aldeia única.

 

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Claro que com o despovoamento rural também estas estórias se vão perdendo, tanto mais que a grande maioria têm a ver com a vida do dia a dia dos seus atores e personagens que mais não são que as pessoas que as habitam, estórias com dias felizes e outros nem tanto ou mesmo  nada, pois o contrário também fazem parte dessas estórias, com dias difíceis de muita pobreza à mistura, mas todas elas castiças.

 

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Assim, e mesmo sem imagens, as palavras também valem, e muito, pois aquela coisa que se costuma dizer que uma imagem vale mais que mil palavras, não é tão verdadeira assim,  há histórias de vida que nunca conseguirão ter tradução em imagem.

 

E se hoje ficamos com mais uma aldeia do concelho de Chaves, amanhã vamos até mais uma do Barroso.

 

Até amanhã!

 

 

 

21
Nov15

Stª Ovaia - Chaves - Portugal


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Hoje vamos mais uma vez até Stª Ovaia, uma pequena aldeia de montanha que por ser pequena fica mais exposta ao mal geral de todas as aldeias de montanha do concelho – o despovoamento e envelhecimento da população.

 

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Mas embora pequena há sempre alguém na rua com quem podemos conversar um bocadinho as conversas de sempre ou abordar um bocadinho os lamentos de sempre. Nem que fosse só por isso, gosto de passar por lá de vez em quando, não pelos lamentos mas pela conversa e também pela aldeia que tem sempre pormenores interessantes para registar, que nos falham sempre ou fazemos falhar nas visitas que fazemos para lá poder voltar.

 

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Hoje ficam três imagens, duas da aldeia e outra a caminho da aldeia, esta última num daqueles momentos mágicos do anoitecer em que o sol que resta se apresenta com todo o doirado como se debitasse poesia onde poisa.

 

 

 

08
Jan12

Momentos de um sábado a caçar imagens


Pareço regressado aos tempos antigos da caça à fotografia para o blog, ou seja, saía de casa com a intenção de fotografar uma aldeia que tinha em mente e acabava sempre por fotografar outras. Deve ser assim como ir à caça do coelho e trazer perdizes, digo eu que não sou caçador.

 

 

Pois a primeira ideia era sair de Chaves e ir mais uma vez até terras de S. Vicente da Raia, mas como as tardes ainda são pequenas e as terras de  S.Vicente não ficam propriamente aqui ao lado, decidi-me por terras mais próximas. O Planalto do Brunheiro serve sempre para uns cliques, além disso há em mim um certo prazer em fazer frente ao frio. É certo que dói, mas não me vence. Também sempre fui um bocadinho teimoso.

 

Hora de ponta entre Adães e Santa Leocádia

 

Pois lá fui eu pela famosa EN 314 acima. No Peto de Lagarelhos temos sempre outra decisão a tomar, ou continuamos a subir, ou descemos para o vale de Loivos. Mas ia mesmo decidido a subir até às terras das estórias do Gil Santos. Em France, um presépio chamou a minha atenção. Fiz o registo mas quase nem parei. Ia com ganas de continuar a subir e finalmente cheguei à primeira croa da Serra. Ali mesmo onde Carregal decidiu ficar e lançar olhares para o Brunheiro e para a Padrela (claro que falo das serras). Repeti por lá umas voltas, fiz novos registos, não muitos, pois a aldeia também é pequena e ainda dei dois dedos de conversa com uma senhora cujo rosto quase não se via, protegido que estava dos ares da serra com um lenço de lã a cobrir-lhe toda a cabeça. Em tom de provocação ainda perguntei pela gente da terra. – Há poucos, só quase velhos e todos doentes, ainda agora venho de ver um… disse-me. E verdade seja dita, nos 15 ou 20 minutos que andei por lá, só vi mais duas pessoas no amanho de uma horta por trás da Capela. Já não há gente para fazer mais estórias para o Gil nos contar.

 

 

Já que ali estava, toca até Fornelos. É só descer da croa do monte, descer um bocadinho e subir até outra croa que se transforma em planalto. Tudo pela EN 314. Bem, em Fornelos bem tento sacar mais umas fotos, e saco sempre, mas ando sempre à volta sem conseguir o que quero. Desta vez até entrei no concelho de Valpaços sem me aperceber mas cheirou-me logo que aquilo já não eram terras de Chaves. Nem parei. Não que tenha alguma coisa contra o concelho de Valpaços, antes pelo contrário, mas foi só por uma questão de território. E foi a pisar sempre a fronteira que atravessei a 314 e fui até Vale do Galo. Nesta, idem Fornelos. Para além das fotos que tenho em arquivo, da aldeia propriamente dita, não consigo sacar mais nenhuma. Mas na envolvente, aí já a cantiga é outra e há sempre motivos que encantam. Olhem só para a foto que a seguir vos deixo se não parece mesmo uma alameda de um parque de cidade em pleno outono e sem bancos como o Jardim Público. Mas não é, pois esta alameda é às portas de Vale do Galo e é de um souto que se trata.

 

 

Os dias são pequenos e as tardes, então, quando se vai a dar conta já a noite está a bater à porta. Descida apressada para Santa Ovaia com intenção de apanhar novamente a 314 no Carregal, mas ao passar a ribeira o murmúrio das águas convidaram-me a parar, e parei. Também nunca resisto a estes momentos de pura poesia onde tudo é puro e simples. A água é cristalina, o ar é frio mas absorve-se com odores de perfume e os sons são sinfonias. Não sei se os conseguem ver na primeira foto de hoje. Demorei mais do que tinha previsto, pois o aproveitei para fazer e testar uns registos que há muito tinha em mente. Mas não foi tudo, pois chegado a Adães lembrei-me de passar pelo seu miolo e veio-me à lembrança a luz doirada a iluminar a Igreja Românica de Santa Leocádia (terceira foto de hoje). Não podia perder esse momento, mas com jeito, conseguiria ainda o por do sol visto na descida do Carregal para France. Claro que o atraso ia sendo fatal para poder ver ainda a magia do por do sol por entre um avolumado mar de montanhas que lá de cima se avistam. Nas croas dos montes o sol estava naquele momento mágico de pedir um clique fotográfico, mas o raio da 314 não nos deixa encostar em nenhum desses miradouros naturais e havia que descer à pressa até Lagarelhos, pois dali as vistas também encantam, mas tarde de mais, o sol já estava por trás da última serra. Só havia mais uma oportunidade – a de subir o Brunheiro, pois antes mesmo de se chegar a Santiago do Monte, há por lá um sítio já meu conhecido destas contemplações da despedida do sol, e ontem, os tons do céu estavam imperdíveis.

 

 

Como podem ver pela foto que atrás vos deixo, cheguei mesmo na hora H para conseguir os segundos mágicos em que o sol se deixa ver pela última vez, já meio comido pela última serra. Após este momento apenas me restava descer novamente ao vale com espírito de missão cumprida e esperar pelo nevoeiro que vem sempre com a noite, mas desse, hoje não tenho registos.

 

Até logo, ao meio dia, com o nosso Léxico-Glossário.  

 

 

 

 

30
Mai10

Guerrilheiros resistentes


As imagens de hoje bem poderiam ser uma descrição do Portugal actual: Enferrujado, roto, mal remendado e com  bicas e bebedouros secos… mas não, é uma pura coincidência…

 

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Ou talvez a coincidência não seja tão pura assim, pois se as imagens até podem transmitir um pouco de romantismo e o bucólico que as nossas aldeias têm, também transmitem dificuldades, vidas difíceis, a velhice e o abandono. Realidades bem reais de hoje mas também de sempre que convidaram (para ser brando) ou obrigou (para ser real) os seus filhos a abandonar a terra mãe.

 

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Resistem apenas os resistentes, autênticos guerrilheiros numa luta desigual contra tudo e contra todos, contra um poder distante que tanto os oprime como ignora, numa luta que sabem nunca vencer,  porque a única arma que têm, é o amor à terra pela qual irão morrer para nela serem sepultados.

 

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Pelos guerrilheiros resistentes, pelo carinho que lhes tenho, ficam três imagens em jeito de homenagem. Esqueço e nego-me a ver a ferrugem das placas, o reboco quebrado, as paredes descoradas e os seus remendos, as bicas e bebedouros secos. Em seu lugar, vejo as rugas de rostos envelhecidos que impõem o respeito da idade, os momentos de toda uma vida e olhos cansados que sem força para chorar, resistem, apenas… em suma, vejo a arte com que os guerrilheiros resistentes enganam e ultrapassam os dias.


 

As imagens de hoje são de S.Vicente da Raia, a descrição e texto, são de uma qualquer aldeia de montanha do nosso concelho de Chaves ou, se quisermos alargar o território, são do interior Norte e transmontano de um país que se chama Portugal Desigual.

 

 

 


17
Out09

Santa Marinha - Chaves - Portugal


 

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Ainda ontem passava por aqui mais uma estória do planalto do Brunheiro, daquelas que só o Gil Santos nos sabe contar. Pois hoje vamos até uma dessas aldeias do planalto do Brunheiro, uma das muitas aldeias do planalto todas diferentes, mas todas iguais na sua condição de montanha, dos tais Invernos rigorosos e difíceis que só, mesmo, os habitantes do planalto sabem vencer.

 

Vamos até Santa Marinha, uma das muitas aldeias do planalto do Brunheiro, quase todas elas pertencentes à mesma freguesia de Nogueira da Montanha, onde podemos encontrar as verdadeiras aldeias de montanha, lá bem no alto onde, imaginadas desde a cidade (porque não são visíveis) parecem estar naquela parte para lá da serra, onde a terra toca o céu.

 

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Mas só na nossa imaginação isso será possível, pois chegados ao planalto, se de verão, damos com toda a luminosidade de um céu azul bem distante e, se de Inverno, geralmente esbarramos com os ventos frios, nuvens que lá são nevoeiro ou então gelo de cortar e neve de encantar, más só para os que a vivem por breves instantes, pois para os habitantes do planalto, é uma neve que tanto tolhe os ossos, como os dias, que, obrigatoriamente se têm de viver junto à lareira.

 

Pois hoje é por Santa Marinha que vamos andar, a última das 11 aldeias de Nogueira da Montanha a passar aqui pelo blog, com o seu post alargado, pois já por cá tinha passado antes, com breves passagens.

 

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Santa Marinha fica a 17 quilómetros de Chaves e pertence à freguesia de Nogueira da Montanha. O acesso é feito a partir da já nossa bem conhecida E.N. 314 uma das três estradas nacionais que a partir de Chaves nos levam até outras terras e concelhos, neste caso, a 314 é a que nos leva até terras de Montenegro, não as de Chaves, mas as de Valpaços.

 

Pois partindo de Chaves no quilómetro zero da 314, mesmo naquela rotunda que não é rotunda, a tal polémica rotunda que não foi contemplada nas vergonhosas e dispendiosas obras que ligam Chaves a Valpaços para tudo ficar na mesma, avançamos para terras do planalto do Brunheiro (entre outras paragens). Chegados ao Peto de Lagarelhos, há que nos decidirmos por continuar na 314 ou descer para Loivos e Vidago. Continuamos a subida, passamos Lagarelhos e logo a seguir podemos virar à esquerda, em direcção a Santiago do Monte e aí optarmos pela estrada que nos levará até Santa Marinha, mas este não é o melhor caminho, não pelos medos ao “Pita” que o Gil Santos às vezes nos traz nas suas estórias, mas porque o caminho é mais longo.

 

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Há que seguir em direcção a France, e aí sim, antes ou depois desta aldeia (tanto faz) viramos à esquerda e penetramos em pleno planalto do Brunheiro. Para quem não tem GPS (físico ou mental), o melhor mesmo é virar à esquerda depois de France, que aí sim, logo a seguir temos Santa Marinha.

 

Chegado lá, não irão dar com uma grande aldeia, antes pelo contrário, pois é uma das aldeias mais pequenas da freguesia e do planalto, mas pela certa encontrarão uma grande aldeia em tudo que diz respeito ao verdadeiro espírito de uma aldeia de montanha.

 

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Meia dúzia de casas tipicamente de montanha, com o seu granito à vista, poucas aberturas que a pedra nem o frio consentem, uma pequena capela quase que escondida pelo pequeno núcleo e para além da estrada que atravessa a aldeia, existe praticamente uma só rua, mas não é uma rua qualquer, pois trata-se da Rua do Rei. Rei que pela certa não será monárquico em pessoa, mas talvez e, fica-lhe bem, o Rei Brunheiro, o Rei planalto, O Rei das Serras e Montanhas, o Rei das alturas, eu sei lá… sei que seria uma terra difícil para um Rei qualquer, terra onde só os resistentes sabem viver.

 

E chegado a Santa Marinha, as primeiras casas, novas, algumas ainda em conclusão, são mesmo de resistentes que, pela certa amam muito a terra mãe e não embarcaram no êxodo e no abandono duma terra que se tornou madrasta para quem dela tem de viver. Enfim, pelas políticas de Lisboa e por outras que por cá se praticam, vais continuar a ser uma aldeia que, infelizmente, convida mais à partida que ao regresso. Já vamos estando habituados a ser a paisagem de Portugal, onde quem por cá passa gosta do que vê, do que come, das gentes e dos ares, mas passada a breve passagem, não deixamos de ser um povo, como sempre, esquecido pelos ilustres senhores de Lisboa.

 

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Pena que as gentes desta, como quase todas as aldeias da montanha e do planalto, fossem e sejam obrigadas a partir para outras paragens, quando estas aldeias têm tudo que há de bom naquilo que a terra dá. Batata, centeio, castanho, floresta, pastorícia, tradição, e mesmo o frio, embora difícil, é sempre bem vindo para curar as carnes do porco que tão boas e únicas iguarias irão proporcionar ao longo do ano, onde até ainda existe o Presunto de Chaves, do famoso e genuíno, que cada vez é mais raro e tudo indica que é mais uma “espécie” em vias de extinção, um dos produtos que as gentes do planalto tão bem sabem fazer, que até já nem precisa de apresentação ou recomendação, pois já é famoso, mas que nada se faz para o salvar e lhe dar a sua verdadeira dimensão. Mas não tardará aí uma feira de sabores e saberes cá da terra, onde pela certa o genuíno presunto de Chaves marcará a sua ausência, mas continuarão a vir especialidades de outras paragens.

 

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Mais uma vez peço desculpa à aldeia convidada, mas sempre que vou por aldeias da montanha e se conhecem as suas potencialidades e realidades, só podemos ficar revoltados pela forma como são tratadas. Ainda um dia se irá lamentar verdadeiramente aquilo que estamos a deixar morrer, mas esse dia, já será de não retorno.

 

E por Santa Marinha é tudo e com esta aldeia o blog marca também o regresso às aldeias que ainda não passaram por aqui.

 

Até amanhã, com mais uma aldeia de Chaves.

11
Abr09

Mosaico (completo) da Freguesia de Moreiras


 

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Localização:

A 16 km da cidade de Chaves, a Sul desta, no limite do concelho, onde a Serra da Padrela se começa a desfazer para a Serra do Brunheiro situa-se a freguesia de Moreiras, em plena montanha a tocar já terras de Valpaços, mas próxima também de terras de Vila Pouca de Aguiar.

 

Confrontações:

Confronta com as freguesias de Loivos, S.Pedro de Agostém, Nogueira da Montanha, Serapicos (Valpaços) e Stº Leocádia.

 

Coordenadas: (Largo do Cruzeiro)

41º 38’ 25.88”N

7º 28’ 39.95”W

 

Altitude:

Variável – Entre os 750m e os 850m

 

Orago da freguesia:

Santa Maria

 

Área:

11,61 km2

 

Acessos (a partir de Chaves):

– Estrada Nacional 314

 

Acessos (a partir de Vidago):

– Estrada Nacional 311-3

 

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Aldeias da freguesia:

            - Moreiras

            - Almorfe

            - France

            - Torre de Moreiras

 

População Residente:

            Em 1900 – 514 hab.

            Em 1920 – 535 hab.

Em 1940 – 635 hab.

            Em 1950 – 797 hab.

            Em 1960 – 789 hab.

Em 1981 – 511 hab.

            Em 2001 – 308 hab.

 

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Principal actividade:

- A agricultura.

 

Particularidades e Pontos de Interesse:

Vulgarmente conhecida por Moreiras, o topónimo da aldeia e freguesia é no entanto Santa Maria de Moreiras, sendo uma freguesia rica em história e arqueologia onde se incluem o alto dos Crastos ou Outeiro dos Mouros, que segundo J.B.Martins seria assento de um antigo povoado castrejo da idade do ferro. Mesmo ao lado de Moreiras e bem próxima localiza-se a aldeia da freguesia de Torre (de Moreiras), cujo topónimo os historiadores locais dizem ter origem numa edificação senhorial fortificada da Baixa Idade Média.

 

France e Almorfe são as outras duas aldeias da freguesia que segundo os historiadores apontam, os topónimos terão origem em raízes etimológicas alti-medievais, relacionadas com a reconquista e influência árabe.

 

Na proximidade do Monte Crasto, ou Castra, dizem existir uma velha calçada que dizem romana.

 

Quanto ao topónimo Moreiras, uma das origens apontadas é a de derivar do “moraria”, termo arcaico ligado à amoreira (do latim “morus”), a árvore de fruto que dizem, outrora, era vegetação com abundância na freguesia e que a ser verdade estariam ligadas à seda, talvez como aconteceu e é conhecido o mesmo fenómeno no “Couto de Ervededo”.

 

Santa Maria de Moreiras teria sido um importante centro da Ordem dos Templários que daria origem à Ordem de Cristo numa região que se prolongaroa desde Arcossó até S.Julião de Montenegro onde o símbolo utilizado por estas ordens se repete em marcos, cruzeiros e cruzes dos templos religiosos existentes nesta região, onde se encontram imóveis com valor patrimonial, como o é a Igreja Paroquial de Moreiras que invoca Santa Maria, os cruzeiros bem próximos destas ou ainda as capelas de S.Vicente da Torre em France e de Almorfe.

 

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Do casario e arquitectura civil, há a realçar o existente em Moreiras com a Casa das Bravas e a Fonte do Cruzeiro, a imponente chaminé de uma das construções bem próxima da igreja mas também alguns atentados recentes numa das suas casas senhoriais com brasão e que atenta no seu interesse.

 

Quanto a festas religiosas destacam-se as que se levam a efeito em honra do Espírito Santo sete semanas após a Páscoa, as festividades de Nossa Senhora dos Favores (a 15 de Agosto), de Nossa Senhora do Rosário (em 7 de Outubro) e Santa Luzia (a 13 de Dezembro).

 

É sem dúvida alguma mais uma das freguesias que se tem de ter em conta nos itinerários de interesse do concelho, com passagem obrigatória por France (curiosamente às vezes também designada por França), uma breve vista de olhos à pequena povoação de Almorfe e vistas mais demoradas sobre Moreiras e todo o conjunto do Largo da Igreja, cruzeiros e fonte, sem esquecer dar um pulo a Torre de Moreiras. Quanto à chaminé que me referi atrás em Moreiras, não é necessário fazer-lhe referência à localização, pois pela certa será onde a sua vista se vai prender quando chegar a Moreiras.

 

Freguesia também conhecida pelos rigorosos e frios invernos onde raro é o ano em que a neve não brinda a freguesia com um pintura a branco. Bonito de ver, mas frio e difícil de suportar, talvez por isso, a tendência, seja a de mais uma freguesia onde se conjuga o verbo do despovoamento, aliás bem visível no gráfico que atrás se apresenta.

 

Referência também para a gente amiga que por lá se granjeia, que após se conseguir a amizade, é como se fossem da família.

 

 

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Linck para os posts neste blog dedicados às aldeias da freguesia:

 

            - Almorfe - http://chaves.blogs.sapo.pt/217663.html

 

            - France - http://chaves.blogs.sapo.pt/221519.html

 

            - Moreiras - http://chaves.blogs.sapo.pt/305322.html

 

            - Torre de Moreiras –  http://chaves.blogs.sapo.pt/219324.html

 

 

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29
Mar09

São Julião de Montenegro - Chaves - Portugal


 

Hoje vamos até S.Julião de Montenegro,


S.Julião de Montenegro, fica a 12 quilómetros de Chaves, o principal acesso à freguesia é feito pela E.N. 213 (Chaves-Valpaços) é sede de freguesia, à qual pertencem as povoações de Limãos e Mosteiró de Baixo, confronta com as freguesias das Eiras, Faiões, Águas Frias, Oucidres, Nogueira da Montanha e Cela e ainda com as freguesias de Alvarelhos, Ervões e Friões, estas últimas do Concelho de Valpaços.

 

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São Julião, freguesia com a área de 15,29 km2 e 293 habitantes residentes, dados para a freguesia, pois para a aldeia propriamente dita, os números resumem-se a 113 habitantes, com 6 crianças com menos de 10 anos, 5 entre os 10 e os 20 anos e 44 habitantes com mais de 65 anos. Números do ano de 2001 do Censos que como em todas as aldeias demonstram bem a tendência do despovoamento do mundo rural, principalmente o mundo rural de montanha o mundo dos resistentes, embora por S.Julião até ainda haja alguns casais novos que vão dando alguma vida à aldeia que fazem esquecer um pouco o abandono da sua velha rua principal.

 

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A agricultura é a principal actividade da aldeia e da freguesia, embora com os seus terrenos essencialmente de natureza granítica a altitudes acima dos 700m, no entanto como são terras com abundância de água, são também terras férteis. Se cultivadas, produzem centeio, milho, trigo, batata, toda a espécie de legumes e variadas frutas, com especial destaque para a castanha.

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Se hoje a agricultura é a principal actividade da aldeia, nem sempre foi assim, pois tempos houve em que para além da agricultura havia outras actividades mais rentáveis, como uma importante exploração mineira com muita actividade no período da 2ª Guerra Mundial, exploração essa que se fazia num local a que hoje ainda chamam estanheira, por ter sido jazida de umas importantes minas de estanho.

 

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E embora possa parecer estranho, principalmente pela sua distância até à raia, S.Julião ficava também nas rotas e caminhos do contrabando, com os fardos a mudar de mãos precisamente no troço de estrada nacional que passa junto à aldeia. Pela certa que desde as minas ao contrabando passando pelo tempo do “pulo” para outras paragens, haverá muitas estórias perdidas e por contar.

 

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S.Julião de Montenegro, assume como topónimo o nome de S.Julião + Montenegro com origem no antigo julgado de Montenegro, aquando a aldeia gozava de grande importância que ainda está patente em algumas tradições fidalgas e na sua Igreja Matriz, um templo românico, que data dos princípios da nacionalidade, com uma traça arquitectónica que foi suportando como pode os atentados do tempo e até os do homem.

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A igreja matriz de São Julião de Montenegro é um templo de traça românica onde ainda persistem muitos dos elementos arquitectónicos originais. Só a fachada principal, com uma orientação a Oeste, é que se encontra completamente descaracterizada por obras de restauro mais recentes, aliás obras a que tem estado mais ou menos sujeita ao longo dos tempos e ligadas a estragos causados por causas naturais, como o terramoto de 1755 (segundo alguns documentos) ou mais recentemente, atribuídas a um ciclone do início do século passado que muitas vezes é referido pela população mais idosa, ou mais recentes ainda, nos anos 80, por iniciativa do então padre da freguesia. Obras mais ou menos felizes que lá foram mantendo a cachorarrada  que testemunha a sua origem românica, bem como uma pequena porta que se rasga na parede norte do edifico e que curiosamente podemos ver repetida em desenho na Igreja de Moreiras, desenho onde se encontra reproduzida a famosa cruz usada pela Ordem dos Templários que neste caso seria já da Comenda da Ordem de Cristo, à qual pertenceu S.Julião.

 

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No interior da Igreja revela-se um importante testemunho de pintura mural, surgindo ainda alguns fragmentos a forrar as superfícies das paredes internas do templo. Os vestígios concentram-se junto do arco triunfal e em toda a sua superfície, constituindo-se assim como um dos raros exemplares que testemunham a riqueza e a temática pictórica que de uma forma geral existia no interior das igrejas medievais.

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Igreja românica, no entanto e aquando das obras de restauro já aludidas, o tempo regressou até à época romana com a descoberta de três marcos miliários pertencentes à via augusta XVII. O primeiro é atribuído a Macrino, datável de 217-218 e surgiu debaixo de um dos altares juntamente com um outro exemplar, encontrando-se actualmente no interior da igreja, junto da porta principal. Possui a seguinte inscrição: [OPLL]IV[S] MACRI[NVS] / NOB(ilissimus) C[A]ESAR.

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Um segundo marco é atribuído a Décio, apresenta a indicação da milha (VI) e é datável do ano de 250. Apresenta a seguinte inscrição: IMP(eratori) [G]AIO TRA / IANO DECIO IN / VICTO AVG(usto) TR(ibunicia) P(otestate) / II CO(n)[S](uli) III PRO / CO(n)S(uli) / RE[ST(ituit) V(iam) A A(qvis) F(lavis) / M(ilia) P(asum) VI [HE / RENNI] OETRVS / [CIO M]ES[IO NOBI / LISSIMO CAESARE]

 

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O terceiro exemplar encontra-se no adro da igreja, ao lado do portão de ferro que permite acesso ao terreiro do templo. Trata-se de um grande fragmento da secção inferior que termina num espigão quadrangular. Não possui epigrafe. António Rodriguez Colmenero (RODIGEZ COLMENERO,1997: 333, nº 426) refere ainda um quarto fragmento de miliário, também procedente da igreja de S. Julião e que na altura se encontrava no domicilio do Pe. Fernando Pereira. O autor consegue recuperar a inscrição ---]FLAVIO DALMACIO[---

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Importantes testemunhos dessa importante via romana da qual ainda hoje se podem ver alguns fragmentos na freguesia das Eiras, mesmo por baixo do Miradouro de S.Lourenço e que facilmente se adivinha a passagem por terras de S.Julião de Montenegro.

 

Voltando à igreja de S.Julião, ainda é um bonito exemplar a apreciar quer pelos modilhões da cornija e as pinturas a fresco que apresentam algumas alfaias e paramentos religiosos de grande valor artístico. Interiormente possui uma só nave, a qual, no seu conjunto com a abside e dois altares laterais, representa uma cruz, formato de igreja mais usado nos séculos XI e XII em toda a cristandade. O altar principal e o seu retábulo são lavrados em talha simples do segundo período da renascença. No tecto da capela-mor, está pintado o apóstolo S.Pedro no acto que se seguiu à negação.

 

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Continuando ainda com a igreja e para um último apontamento e, um alerta para quem de direito. A população lamenta não ter dinheiro para recuperar o tecto da capela-mor e as suas pinturas. De facto é lamentável que o nosso mais rico património, neste caso o religioso ligado ao românico, tenha que depender da vontade e das expensas da população. Património cultural que é de todos e até da humanidade, mas que em termos de preservação e custos cai sempre sobre a população. Pois acontece que a população de S.Julião está envelhecida e não tem dinheiro para mandar recuperar as pinturas do tecto da igreja que entretanto se vão deteriorando cada vez mais. Património cultural, histórico e artístico que se poderá perder e pela certa que não será por culpa da população, mas talvez por culpa da própria entidade que é a Igreja Católica que deveria cuidar dos seus templos (em vez de os “roubar” como parece já ter acontecido em tempos nesta igreja de S.Julião), por culpa da Junta de Freguesia (que já sabemos que também não tem meios), por culpa da Câmara Municipal (que se põe à margem destas questões) e por parte do Estado, “IPA’s”, “IGESPARES” ou seja lá o que for ou quem seja. Ninguém tem responsabilidades e a realidade repete-se não só aqui em S.Julião, mas também na Granjinha e noutros templos que embora não tão antigos como os românicos, não deixam de ter interesse e em todos eles, a não ser os cuidados da população, ficam abandonados e entregues ao seu próprio destino.

 

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Foi demorada esta abordagem à Igreja de S.Julião porque sem dúvida é também um dos templos mais importantes que testemunham o românico no nosso concelho.

 

S.Julião, bispo de Toledo, que foi coevo dos reis Vamba e Ervígio, soberanos godos é também o santo que dá nome à aldeia e que é também o seu padroeiro, celebrado em 11 de Março, no entanto a verdadeira festa da aldeia (um pouco e tal como acontece em todas as aldeias de montanha) é o mês de Agosto, em que as ruas se enchem de gente com os regressos à terrinha dos seus filhos.

 

Para a feitura deste post, foram recolhidos dados do INE (censos 2001), ANAFRE e IPA.

01
Fev09

 

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Ontem passei a tarde no grande planalto do Brunheiro em terras da freguesia de Nogueira da Montanha, onde as sombras de Inverno são sempre brancas, das neves que não derretem e das geadas que se acumulam. Estive em algumas casas em que as paredes dos compartimentos interiores não habitados, estão brilhantes com o revestimento de uma camada de gelo. Os produtos agrícolas que guardam nas despensas e anexos exteriores, como as batatas e as cebolas, congelam.

 

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Uma das aldeias que ontem visitei foi Capeludos, um bom exemplo de aldeia de montanha, onde o frio é a constante de Outono/Inverno e onde as sombras são sempre brancas. Mas antes as sombras brancas, os frios intensos, as geadas e a neve do que a chuva, pois essa além de fria, entra nos ossos tolhidos por reumatismos.

 

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Capeludos é uma pequena aldeia que fica a 15 quilómetros de Chaves e é uma das onze aldeias da freguesia de Nogueira da Montanha. Situa-se em pleno planalto do Brunheiro a uma altitude acima dos 825m.

 

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Mesmo ao lado e ligada fisicamente por construções está a aldeia de Sandamil, aliás a Rua Central é comum às duas aldeias e, sinceramente, não compreendo a razão pela qual oficialmente existem duas aldeias, pois uma mais parece ser um bairro da outra. Mas pela certa que haverá razões e tradições que as separam e dão a cada uma o seu topónimo e em coisas de tradições não me meto, antes, respeito-as.

 

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Falar de despovoamento nesta freguesia de Nogueira da Montanha já não é novidade …

 

Bem poderia continuar por aqui fora com as palavras que dediquei ao post de Sandamil, que ninguém se daria conta da diferença entre Capeludos e Sandamil. Não por distracção, mas porque a realidade e a identidade das aldeias de montanha é em quase tudo idêntica e então entre estas duas aldeias, apenas um cruzamento das mesma rua as divide.

 

 

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Mas claro que no meio de tanta identidade algumas diferenças haverá, e começa pelas escolas, a antiga no meio do largo, abandona e a nova, à na entrada da aldeia, mas abandonada também. Afinal as duas aldeias diferem no ter ou não edifícios escolares, mas apenas isso, pois são escolas sem alunos e sem professores.

 

Capeludos tem Capela, pequena, simples e bonita, localizada também na entrada da aldeia, entre a escola nova abandonada e a escola velha abandonada. Um grande largo, separa a Capela do núcleo antigo da aldeia. Largo que em tempo de intervalo da escola (de uma aldeia próxima ou da cidade) se transforma em campo de futebol dos putos que por lá há, mas como o tempo é de crise, os putos também são poucos e o jogo compõe-se com dois jogadores para cada lado e sem respeitar escalões etários, senão não havia jogo.

 

 

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Alheios aos putos, está o burro que pasta junto à escola nova abandonada, um cão que por ali anda às voltas ou o cavalo que pasta no mesmo largo em que os putos jogam à bola, ou as cabras que partilham pasto com outro burro, ou até a senhora que vergada pelos anos mas também pelo frio a rondar os zero graus, seguia o seu caminho e lá ia à sua vida, atravessando o largo junto à escola velha abandonada, entre o cavalo que pastava e os putos, que dois de cada lado, jogavam à bola e nas suas corridas para lá e para cá, entre pontapés atraiçoados pela irregularidade do campo, se iam divertindo e combatendo o frio, mesmo que mãos e caras já estivessem roxas de tanto ar gelado.

 

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E eu por ali perdido no meio do largo lá ia apontando a objectiva para mais um fio azul, para a capela, registei a passagem da senhora, o jogo dos putos, o cavalo, os burros e cabras e eis que “apita” para intervalo do jogo, é tempo de voltar ao balneários, reduzido a um tanque junto à escola velha abandonada, com meia torneira presa por um fio azul e água do tanque congelada que os putos à força de pedrada, lá foram partindo, para com os pedaços de gelo, entre mãos roxas de frio, começarem um novo jogo e uma nova brincadeira, mas agora com gelo, enquanto a bola, pasmada no meio do largo, lá vai esperando por novos toques e pontapés, com dois jogadores de cada lado.

 

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Podem não acreditar, mas deliciei-me com aqueles momentos ao reviver brincadeiras e jogos passados como os da minha infância, também com o jogar da bola num largo qualquer ou no meio da rua e com o quebrar do gelo, em que o seu brilho e transparência impressionavam mais que o frio que nos deixava as mãos roxas de dor.

 

Ali, também no meio do largo como se invisível fosse, fiz os meus regressos no tempo, os meus registos fotográficos, deliciei-me e além dos putos, que não me ligaram nenhum, ninguém deu por mim, mas dava eu conta do frio que me convidava mais uma vez a entrar para o quente do carro.

 

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Elogio ao fio azul

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E agora vamos lá inventar mais um bocadinho que até ausência de melhor, é a minha opinião sobre o assunto. Vamos falar do topónimo Capeludos, que à primeira vista, o termo poderia derivar de capelas, mas embora até capeludos (termo) tenha alguma ligação indirecta a capelas, o termo provém de capelo + udo. Ora sabemos que capelo era o nome que se dava ao antigo capuz dos frades, ou à touca das freiras ou viúvas. Udo penso que sozinho não tem qualquer significado, mas acrescentado a certas palavras, reforça-as e dá-lhe um significado  mais rude (tromb(udo), carranc(udo), abelh(udo) e por aí fora (continuo a inventar, pois nada percebo destas coisas). Mas então Capelo+udo – Capeludo – Capeludos, é o topónimo da nossa aldeia… e para que servia o capelo dos frades? Entre outras funções, para proteger as cabeças, sobretudo do frio. Coisa que em Capeludos (aldeia) é bem necessária, pois frio por lá não falta. Estamos chegados então ao topónimo Capeludos, onde dadas as alturas seriam necessários capelos para as pessoas antigamente abrigarem as cabeças, mas também os corpos. E fico-me por aqui até alguém contrariar a minha teoria.

 

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Quanto à população de Capeludos, segundo o Censos de 2001, tinha 68 residentes, dos quais 10 tinham menos de 10 anos, 4 residentes entre os 10 e os 20 anos e 18 com mais de 65 anos. Passados 9 anos sobre os censos, não sei como andará agora de população, sei que pelo menos 4 jogadores de bola rondam os 10 anos, ou seja, para uma aldeia pequena, (também aqui é semelhante a Sandamil), para a totalidade de população, ainda vai havendo crianças, numa aldeia que até tem duas escolas (a velha e a nova) mas abandonadas.

 

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E hoje não apresento os meus habituais lamentos sobre o despovoamento e os maus tratos a que as aldeias de montanha e do interior estão sujeitas, pois também aqui são semelhantes aos de Sandamil, aos de Nogueira da Montanha, aos de Alanhosa, aos da Amoinha Velha, aos de Carvela, aos de Gondar, aos de Maços, aos de Santa Marinha, aos de Santiago e aos do Sobrado, ou seja iguais a todas as aldeias do Planalto do Brunheiro, terras que estão lá bem no alto, para além da serra que todos avistamos aqui de baixo desde o vale, terras onde dói viver os invernos, mas também dói aos resistentes verem os seus filhos partirem para paragens longínquas à procura de uma vida mais digna  que aquela que não encontram no grande planalto, e mais não digo, porque hoje não me lamento.

 

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E vai estando tudo dito sobre Capeludos, uma pequena aldeia, pouco povoada e cujo casario se resume a um pequeno núcleo de casario tradicional com casas em granito (muitas abandonadas e/ou em ruínas), um grande largo, duas escolas abandonadas, uma capela e meia dúzia de casas mais recentes que foram surgindo ao longo da na Rua da Capela.

 

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E sobre Capeludos é mesmo tudo. Por terras de Nogueira da Montanha, falta-nos apenas uma abordagem mais alargada de Santa Marinha. Alargada dentro do possível, pois é mais uma das pequenas aldeias de montanha. Fica a promessa que um dia destes vamos por lá.

 

Até amanhã!

 

 

 

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