Ontem foi dia 20 de janeiro e todos os dias 20 de janeiro, manda a tradição ou a promessa de seguir caminho em direção ao Barroso, até às localidades onde se celebra o São Sebastião. Claro que não havendo tempo/disponibilidade para irmos a todas, ficamo-nos pelo concelho de Boticas, mais propriamente pela Vila Grande, que vulgarmente e erradamente se vai conhecendo pelo Couto de Dornelas, quando muito, poder-se-ia dizer Dornelas, que esta sim existem como freguesia à qual pertence a Vila Grande. Mas não só, pois além da Vila Grande, onde iniciamos a peregrinação desta tradição, também vamos às Alturas do Barroso, onde terminamos a nossa “promessa”.
Vila Grande - Dornelas
Vila Grande - Dornelas
É assim uma tradição que nós vamos fazendo por momentos, vários, ao longo do dia e ao longo de cada uma das celebrações, na Vila Grande e nas Alturas do Barroso de Boticas, ficando de fora as outras para as quais não temos tempo, como a de Cerdedo, também em Boticas, ou a de Salto de Montalegre e ainda em terras barrosãs, e, mesmo que haja quem teime em dizer que não pertence ao Barroso, na Torre de Ervededo, do concelho de Chaves, onde este ano tivemos conhecimento que também celebraram honras ao Santo nesta data do 20 de janeiro.
Vila Grande - Dornelas
Durante muitos anos fomos adiando a nossa ida até estas festas comunitárias, mas em 2010 decidimos ir lá pela primeira vez, ao São Sebastião, pois á Vila Grande já lá tínhamos ido, a primeira vez logo após o 25 de abril de 74, mais precisamente em 1975, mas com tanto tempo passado já restam poucas memórias desse dia, apenas lembro que fui integrado num grupo estudantil, ao qual pertencia, o GIEC, que se bem me lembro eram as iniciais de Grupo de Intervenção Estudantil de Chaves, que tinha um grupo coral com músicas de intervenção, a maioria de Zeca Afonso e outras com quadras de António Aleixo.
Vila Grande - Dornelas
Vila Grande - Dornelas
Pois a partir dessa primeira vez de 2010 ficámos fãs desta tradição e lá vamos cumprir a promessa todos os anos, só falhámos em 2019, já nem sei porque, e mais recentemente em 2021 e 2022 porque não se realizou por causa da pandemia, e falhámos a de 2023 nas Alturas do Barroso porque também não se realizou, tendo sido cancelada à última hora por morte de uma pessoa da organização das celebrações.
O momento da Chegada
Serviu este pequeno introito para dizer que já começamos a ser veteranos nestas celebrações do São Sebastião e como tal já temos perfeitamente identificados alguns momentos importantes do São Sebastião, o primeiro é o de respirar o momento da chegada. Este é sempre um momento importante em todas as nossas viagens, a sensação do momento de chegar é sempre marcante e sempre diferente, onde todos os sentidos despertam, marcam e ficam registados. A luz, a temperatura do ar, os aromas, os sons e até o tato, este em sentido figurado, pois não vamos para lá apalpar nada, mas apalpamos o movimento e o ambiente. Este momento ficou registado nas primeiras imagens.
A tradição
Sem dúvida que os momentos da tradição da festa são os que nos levam até lá repetidamente, senão não seria tradição. A visita à “cozinha”, fazer a contabilidade dos potes, visitar a sala do pão, espreitar as cerimónias religiosas da missa, procissão e bênção dos “comer”, o desenrolar e estender da toalha de linho, o peditório e beijar do santo (este último cancelado desde a pandemia) a medida da vara, o pousar do pão a distribuição do arroz e da carne, a festa do convívio no comer e na partilha de espaços e outros comeres e beberes e a música das concertinas, acordéons e cantares que em continuo sempre pairam no ar, percorrem a festa e não se cansam…
Padre Lourenço Fontes
Momento do Padre António Lourenço Fontes
O Padre Fontes é um habitué na celebração do São Sebastião da Vila Grande, às vezes a participar na missa ou apenas entre a população peregrina, sendo também ele um peregrino que não passa indiferente, é o homem dos selfies e com quem toda a gente quer tirar fotografias, ganha ao Marcelo. Padre Fontes que há muito é um ícone e entidade do Barroso, que melhor que ninguém conhece a terra e região que habita, a sua história, os seus usos e costumes, as suas virtudes e defeitos. É o homem das Sextas-Feiras 13 de Montalegre e dos Congressos da Medicina Popular de Vilar de Perdizes, conotado com a bruxaria, que não pratica, mas que acredita nos efeitos da medicina popular e das mezinhas, como homem uma pessoa simples e amiga que em sua casa a todos diz – entre que é!
Eira do Pedro em Vilarinho Seco
da partida e da viagem até às alturas o
Momento de Vilarinho Seco
Temos sempre pressa em chegar, já quanto à partida, vamos adiando até que as ruas ficam despovoadas, só aí vamos andando em direção ao próximo destino, onde a festa comunitária do São Sebastião continua, nas Alturas do Barroso, mas antes temos algumas paragens ocasionais pelo caminho, e uma obrigatória em Vilarinho Seco, em casa do Pedro, para tomar café, beber um copo, conversar, ver passar quem passa, assistir ao engarrafar de trânsito e às manobras dos autocarros nas curvas e ruas apertadas da aldeia, e, como todos fazem questão de parar por lá, a festa dos cantares e concertinas continua na eira do Pedro. Mas mesmo sem pressas, chega sempre o momento da partida, e lá se parte em direção às Alturas do Barroso, aldeia já bem lá no alto da Serra do Barroso, mesmo encostada aos seus cornos que até lhe podem servir de abrigo aos ventos vindo das Galiza, mas que não a livre das neves e do frio, mas ontem, por acaso, até houve sol todo o dia, mas com o frio sempre presente.
Alturas do Barroso
O momento das Alturas do Barroso
Alturas do Barroso é o nome da freguesia e aldeia onde também todos os anos se celebra o São Sebastião. O topónimo não engana, Alturas do Barroso porque está mesmo nas alturas da Serra do Barroso, serra central do Barroso e desde onde as vistas alcançam todo o sistema montanhoso até ao Marão, todo o concelho de Boticas e concelhos vizinhos de Ribeira de Penas, terras minhotas de Basto e parte do Concelho de Chaves e deste só não se vê mais, porque a Serra do Leiranco lhe tapa parte das vistas.
Alturas do Barroso
A festa do São Sebastião nas Alturas do Barroso e quase em tudo igual à da Vila Grande, a diferença apenas está no servir do comer, no local e no próprio comer, e também na duração da festa, isto para os peregrinos. De resto, a tradição é idêntica.
Alturas do Barroso
Nas Alturas oferecem a cada peregrino um prato de feijoada, um pão (biju ou papo-seco) e um copo de vinho. O comer é servido no local onde é cozinhado, dentro de portas, onde é sempre habitual estar um grupo de concertinas e cantares à porta e outro, ou mais, dentro de portas, com a particularidade de aqui (na Alturas), os cantares virarem a desgarradas.
Alturas do Barroso
O momento da Despedida
Para nós a peregrinação pelo São Sebastião começa sempre de manhã, quase logo a partir do nascer do dia e, em geral é aqui, nas Alturas do Barroso, que terminamos a nossa peregrinação, com o cair da noite, mas antes, temos ainda sempre tempo para olhar e registar o anoitecer, coisa linda de se ver, mas sobretudo de se sentir, com um brilhozinho nos olhos, não pela emoção do momento, que a há, mas antes pelo ar frio que que em jeito de brisa nos chega mesmo a toldar o olhar. Só depois vem a partida de regresso a casa, com um até pro ano.
Nas Alturas do Barroso e na Vila Grande (Couto de Dornelas)
Alturas do Barroso
Já é sabido que dia 20 de janeiro todos os caminhos nos levam até às festas comunitárias do São Sebastião no Barroso, principalmente no concelho de Boticas, mas também no concelho de Montalegre, e são todas iguais e todas diferentes. Iguais na tradição, na celebração do São Sebastião e no comunitarismo da festa. Diferentes na forma como são celebradas e também nos timings, não do dia, porque em todas se celebra no dia 20 de janeiro, mas nas horas e tempo de duração das mesmas.
Alturas do Barroso
Pela nossa parte ainda não fomos a todas, mas já passámos pelo São Sebastião de Cerdedo e, mais habitualmente, pelo menos há uma dúzia de anos, com exceção dos dois anos anteriores devido à pandemia, em que não houve festa, nas festas de São Sebastião das Alturas do Barroso e da Vila Grande (Couto de Dornelas), todas do concelho de Boticas.
Alturas do Barroso
Pois hoje em imagem fica o São Sebastião das Alturas do Barroso, as três primeiras fotos, e da Vila Grande, as fotos seguintes. No entanto a nossa presença nestas duas aldeias não se faz obrigatoriamente por esta ordem, embora assim possa acontecer, desde que seja da parte da manhã, isto porque o grosso da festa com a presença de forasteiros (milhares) vindos de todo o lado, principalmente do Minho e do restante Barroso, na Vila grande, povoam as ruas no período da manhã, logo a partir do nascer do sol e até por volta das 2 da tarde. Já nas Alturas do Barroso, a festa acontece durante todo o dia e prolonga-se pela noite adentro. Isto a nível de festa popular, de rua, pois nas casas dos residentes, aí a coisa é diferente, mas essas só são para familiares, amigos e convidados, aliás como acontece em todas as festas populares.
Vila Grande - Couto de Dornelas
As imagens que hoje ficam são dos anos anteriores à pandemia, de vários anos, com vários momentos que pretendem demonstrar (para quem não conhece as festas e tradição) um pouco dos que elas são. Tal como já dissemos atrás ambas iguais, ambas diferentes e já agora, ambas e as duas bem interessantes, embora, na minha opinião, aquela que dá mais nas vistas e é mais frequentada em número de pessoas em simultâneo, é a da Vila Grande, mas também é a mais breve, só acontece de manhã. A festa das Alturas do Barroso aproxima-se mais das festas tradicionais, à exceção da parte comunitária em que recebem e oferecem a todos que passam por lá e queiram, a comida e bebida, enquanto que na Vila Grande, também oferecem comida, mas não a bebida, nem tem talheres, por isso, se quiser ir por lá, não se esqueça de levar o garfo e a faca, pois vão ser necessários, a não ser que queria fazer como os chineses e comer com dois pauzinhos.
Vila Grande - Couto de Dornelas
Outra diferença entre as duas festas aqui abordadas, nas Alturas do Barroso o comer e oferecido debaixo de telha, no local onde cozinham os alimento, já na Vila Grande, o comer é servido num longa mesa, contínua, com umas centenas de metros (penso que à volta dos setecentos metros) que se prolonga pela rua principal desde a entrada até ao centro da aldeia, a terminar no largo do cruzeiro, junto à igreja.
Vila Grande - Couto de Dornelas
E não digo mais, se quiserem vão lá ver como é, pois uma coisa são palavras e imagens, e outra é viver a festa in loco, e neste caso faz toda a diferença. Se for por lá não se esqueça também, de além dos talheres, levar roupinha no corpo, bem quente, pois por lá quando faz frio, é mesmo frio, tanto que se fosse em Lisboa disparava logo o alerta vermelho, no Barroso, como já estão habituados, basta uma capa de burel, pelo menos dizem, embora saibamos que não é bem assim, pois o frio, quando aparece, é como o sol, é para todos. A de estarem habituados, ou estarmos, pois, as minhas três terras também são frias e, embora o estarmos habituados seja verdade, também é uma treta, pois o frio sente-se na mesma… o hábito não aquece. E com esta me bou, já a caminho do São Sebastião… Até mais logo ao fim do dia, isto se chegar a tempo da edição da noite, senão, as imagens do São Sebastião 2023 ficam para amanhã. Logo se verá. Agora é que me bou mesmo!
Nas últimas semanas trouxemos aqui todas as aldeias da freguesia de Alturas do Barroso e Cerdedo, uma freguesia recente que resulta da união da antiga freguesia de Alturas do Barroso e a freguesia de Cerdedo, ambas extintas com a última reorganização administrativa do território, Lei n.º 11-A/2013 de 28 de janeiro. Assim os dados que possuímos, são os das antigas freguesias antes da sua união, pelo que, neste resumo, serão abordadas em separado. Mas para iniciar, fica o mapa da atual freguesia e o gráfico síntese com a população total da atual freguesia e das antigas fregiuesias.
Antiga freguesia de Alturas de Barroso
Localização geográfica: Situa-se em pleno coração da Serra do Barroso, na parte Noroeste do concelho.
Distância relativamente à sede do concelho: aproximadamente 18 km
Acesso viário: Pela ER 311, vira-se em direcção a Carvalhelhos e percorre-se a EM 520. Em alternativa, pode seguir-se pela ER 311, vira-se em direcção a Vilarinho Seco e percorre-se o CM 1035 até Alturas do Barroso.
Área total da freguesia: 32,8 km2
Localidades: Alturas do Barroso, sede de freguesia, Atilhó e Vilarinho Seco
População: 444 habitantes
Orago: Santa Maria Madalena
Festas e Romarias
São Sebastião, 20 de Janeiro, Alturas do Barroso.
São Sebastião, Domingo a seguir ao dia 20 de Janeiro, Atilhó.
Santa Cruz, 03 de Maio, Vilarinho Seco
Sto António,* 13 de Junho, Alturas do Barroso e Atilhó
Santa Maria Madalena,* 26 de Junho, Alturas do Barroso
São Paio,* 26 de Junho, Vilarinho Seco
Santa Ana, 26 de Julho* / inicio de Agosto, Alturas do Barroso
Santa Margarida, último domingo de Agosto, Atilhó
Santa Bárbara,* 04 de Dezembro, Atilhó
Santa Luzia,* 13 de Dezembro, Atilhó
(*) Apenas celebração religiosa.
Cruzeiro e tanque em Alturas do Barroso
Património Arqueológico
Castro de Vilarinho Seco / Couto dos Mouros
Castro do Côto dos Corvos
Mamoa da Pedra do Sono / Pedra do Sono
Mamoa de Chã do Seixal / Chã do Seixal
Alturas do Barroso
Património Edificado
Capela de Nossa Sra. de Fátima (Alturas do Barroso)
Capela de Sampaio (Vilarinho Seco)
Capela de Santa Margarida (Atilhó) – Património Classificado (IIM)
Casas de Vilarinho Seco
Forno do Povo de Alturas do Barroso
Forno do Povo de Atilhó
Forno do Povo de Vilarinho Seco
Igreja Paroquial de Santa Maria Madalena (Alturas do Barroso)
Relógio de Sol (Vilarinho Seco).
Vilarinho Seco
Outros locais de interesse turístico
Casas com cobertura de colmo
Miradouros Naturais da Serra do Barroso
Moinhos
Museu Rural de Alturas do Barroso
Parque de Lazer de Peade (Alturas do Barroso)
Aldeias da antiga freguesia de Alturas de Barroso
Alturas do Barroso
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Atilhó
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Vilarinho Seco
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Antiga freguesia de Cerdedo
Localização geográfica: A freguesia de Cerdedo situa-se no extremo Oeste do concelho de Boticas.
Distância relativamente à sede do concelho: aproximadamente 25 km
Acesso viário: Pela ER 311 até aparecer a indicação Cerdedo.
Área total da freguesia: 23,9 km2
Localidades: Casas da Serra, Cerdedo, sede de freguesia, Coimbró, Covêlo do Monte e Virtelo.
População: 176 habitantes
Orago: S. Tiago
Festas e Romarias:
Santo Amaro,* 15 de Janeiro, Coimbró
São Sebastião, 20 de Janeiro, Cerdedo
Santo António e S. Lourenço,* Terceiro Domingo de Agosto, Cerdedo
Nossa Senhora da Saúde, Agosto, Coimbró
Senhora do Monte, 08 de Setembro, Cerdedo
(*) Apenas celebração religiosa.
Igreja Paroquial de São Tiago - Cerdedo
Património Edificado
Assento de Lavoura
Capela da Senhora do Monte (Cerdedo)
Capela de N. Sr.ª da Ajuda (Virtelo)
Capela de Santo Amaro (Coimbró)
Casa do Morgado de Coimbró
Casario Tradicional de Coimbró - Património em vias de Classificação
Forno do Povo de Cerdedo
Forno do Povo de Coimbró
Igreja Paroquial de S. Tiago (Cerdedo)
Aldeias da antiga freguesia de Cerdedo
Casas da Serra
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Cerdedo
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Coimbró
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Covêlo do Monte
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Virtelo
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E por hoje é tudo. No próximo domingo iremos até à aldeia de Ardãos, iniciando assim a nossa ronda pelas aldeias da freguesia de Ardãos e Bobadela.
Já sabem que aos domingos o Barroso marca aqui presença, agora com o Barroso do Concelho de Boticas, e seguindo a nossa metodologia de agora trazer aqui as aldeias pela ordem alfabética das freguesias, hoje calha a vez a Alturas do Barros, ainda e só a aldeia, pois o post da freguesia só estará aqui quanto todas as aldeias da freguesia forem abordadas.
Freguesia das Alturas do Barroso que com a última reforma administrativa do território, passou a ter também anexada a freguesia de Cerdedo. Mas tal como disse atrás, hoje não estamos aqui para abordar a freguesia(s) mas sim a aldeia de Alturas de Barroso.
Para quem gosta de saber a origem das coisas, neste caso a origem do topónimo de Alturas de Barroso, esta é fácil, pois não estivesse a aldeia implantada quase na croa da Serra do Barroso, acima da aldeia, só estão mesmo os cornos do Barroso, dois que até são três picos da serra que se elevam, mas que vistos ao longe, apenas se veem dois, que tal como os cornos de um touro que os que atingem mais altura, também nesta serra assim. Então temos Alturas do Barroso por estar lá bem no alto da Serra do Barroso, mais precisamente na cota dos 1.100m. Saliente-se que a serra do Barroso atinge os 1279 metros, sendo a terceira serra mais alta do Barroso, logo a seguir à serra do Gerês e do Larouco.
Quanto à localização da aldeia de Anturas do Barroso, encontra-se no limite do concelho de Boticas, a noroeste de Boticas, a confrontar com o concelho de Montalegre, A serra do Barroso vai servindo de fronteira entre os dois concelhos. Aliás a encosta da serra oposta a Alturas do Barroso, confronta diretamente com a barragem do Alto Rabagão (Pisões).
Embora a aldeia já estivesse mais ou menos localizada, ficam atrás os nossos mapas para melhor localização, onde deixamos também um dos itinerários possíveis para lá chegar. Uma vez que se trata de uma aldeia do concelho de Boticas, privilegiamos o traçado maioritariamente por este concelho. Ah! Já sabem que o início do nosso itinerário é sempre na Cidade de Chaves, depois, como para a maioria das aldeias a passagem por boticas é obrigatória, e logo a seguir a Carreira da Lebre é também ponto de passagem para grande parte das aldeias, e hoje não é exceção, pois também temos de passar por lá, mas sem abandonar a ER311, mas logo a seguir à Carreira da Lebre, apenas a 100 metros, temos que fazer o desvio em direção a Carvalhelhos, mas sem chegar a entrar nesta aldeia. Vejam o mapa, e de resto, não há grandes problemas, pois em geral, quanto a localidades, as estradas de Boticas estão muito bem sinalizadas.
Mas entremos em Alturas do Barroso, uma velha conhecida nossa, principalmente desde que descobrimos as festas comunitárias do São Sebastião e fizemos promessa de lá ir todos os anos. Aqui por Chaves, quando se fala em festa comunitária de São Sebastião, quase todos conhecem, mesmo sem lá ter ido a de Dornelas, que por acaso até é na Vila Grande. Mas a festas comunitária do São Sebastião não é exclusiva da Vila Grande, antes pelo contrário, repete-se um pouco por muitas aldeias da região, não só do Barroso, como noutros concelhos vizinhos e igualmente com características comunitárias, mas, todas do São Sebastião, mas todas diferentes.
Sem dúvida alguma que as da Vila Grande, da freguesia de Dornelas, são muito conhecidas, principalmente pela mesinha de São Sebastião se estender ao longo do arruamento principal, mas é uma festa que tão depressa enche de gente, como se esvazia. Lá diz o ditado popular, merenda comida, companhia desfeita, e como o pessoal é aviado entre a 1 e as 2 horas da tarde, acaba de comer e vaza, mas não vão para casa, não senhor, vão todos direitinhos para as Alturas de Barroso, onde aí, sim, a festa dura toda a tarde e entra pela noite dentro.
Mas ainda antes de abordar a festa de São Sebastião das Alturas de Barroso, falta dizer ainda a respeito destas festas que, entre outras aldeias, em Cerdedo também se celebra o São Sebastião, logo pela manhã e ainda antes da Vila Grande, e também em Salto, este já do concelho de Montalegre também há São Sebastião. Cá por Chaves, noutros moldes, também é conhecida a festa do São Sebastião de Valdanta.
Já sabemos que quem descobre o Barroso descobre uma paixão. Os poetas, escritores e outros artistas, não são exceção, e alguns dos nomes mais sonantes da literatura portuguesa encontraram no Barroso a sua inspiração. Nomes como Camilo Castelo Branco, Ferreira de Castro, Miguel Torga e o poeta, escritor, político e flavienses António Granjo, são alguns dos exemplos
Ainda antes de passarmos às referências daquilo que encontrámos nos livros e documentos, e do vídeo, com que finalizaremos o post, queremos deixar aqui uns breves apontamentos. Um quanto às imagens de hoje em que se tentou dar a conhecer um pouco da aldeia, com as suas ruas no viver do dia a dia ou em dia de festa, igreja e capela, as pessoas, algumas em particular porque lhe prometemos estarem aqui hoje. Imagens dos seus verões quentes e soalheiros a contratar com imagens dos seus rigorosos invernos com a aldeia coberta de neve, imagens das paisagens verdes que rodeiam a aldeia e finalmente imagens do São Sebastião e da festa, sobretudo a dos homens das concertinas e do povo minhoto que os acompanha e vive intensamente estes momentos. Imagens estas da Festa do São Sebastião que continuaremos a deixar por aqui nas próximas edições da festa, que esperemos não sejam incomodadas com esta coisa do vírus Covid19. Por último, resta-nos dizer que Alturas do Barroso continuará a constar nos nossos roteiros pelo Barroso, que com frequência é por aí que fazemos a passagem para o Barroso de Montalegre ou vice-versa, nunca deixando de apreciar a paisagem que desde aí se vislumbra e nos apaixona. E embora este post ainda não tenha terminado, sabemos de antemão, estamos cientes disso, que muito mais haveria para dizer sobre esta aldeia, ainda cheia de vida e até de juventude.
Alturas do Barroso, 21 de Setembro de 1969
A paz destes barrosões, sentados no combro de uma lameira a guardar a junta de bois! Parecem sonâmbulos a apascentar a eternidade.
Miguel Torga in “Diário XI”
Alturas do Barroso, 1 de Setembro de 1991
Incansavelmente atento às lições do povo, venho, sempre que posso, a este tecto do mundo português, admirar no adro da igreja, calcetado de lousas tumulares, o harmonioso convívio da vida com a morte. Os cemitérios actuais são armazéns de cadáveres desterrados da nossa familiaridade, lacrimosamente repelidos do seio do clã mal arrefecem, cada dia menos necessários, no progressivo esquecimento, à salutar percepção do que significam na dobadoira do tempo. Ora, aqui, cada paroquiano pisa, pelo menos dominicalmente, a sepultura dos ancestrais, e se liga a eles, quase organicamente. Vive, numa palavra, referenciado. Sabe que tem presente porque houve passado, e que, mais cedo ou mais tarde, enterrado ali também, será para os descendentes consciência e justificação do futuro.
Miguel Torga, In Diário XVI
Alturas do Barroso, 27 de Junho de 1956
Entro nestas aldeias sagradas a tremer de vergonha. Não por mim, que venho cheio de boas intenções, mas por uma civilização de má-fé que nem ao menos lhe dá a simples proteção de as respeitar.
Miguel Torga, In Diário VIII
Quanto a António Granjo, temos vindo a publicar, na rubrica “Crónicas Estrambólicas” do Luís de Boticas, as 15 crónicas que António Granjo escreveu e publicou no jornal “A Capital”, em 1915. Uma delas, já publicada, relata a longa viagem de meio dia de jornada, que fez montado num garrano entre Boticas e a serra de Barroso. Crónica que poderá rever, ler ou ver aqui: https://chaves.blogs.sapo.pt/cronicas-estrambolicas-2012190 .
Na monografia de Boticas - Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas, pudemos apurar o seguinte:
Marcas da História Antiga
Côto dos Corvos
Designação: Castro do Côto dos Corvos
Localização: Alturas do Barroso
Descrição: No termo da aldeia de Alturas do Barroso, a cerca de 1km para Noroeste, há dois altos picotos graníticos designados como Cornos das Alturas do Barroso. O do lado Nascente, sobranceiro à estrada que desce para a barragem dos Pisões, é o Coto dos Corvos, e o outro que lhe fica pelo Poente, é o Coto do Sudra. No Coto dos Corvos existem escassos vestígios do castro, reduzidos aos alinhamentos das suas quatro muralhas, três na encosta voltada a Nascente e uma quase no alto da pedregosa encosta do Poente. A primeira muralha mede 255 m de comprimento, na maior parte da sua extensão segue quase a linha de nível, mas no extremo do lado Norte inflecte à esquerda e sobe até ao montão de penedos onde esbarra. A segunda muralha tem 105 m de comprimento, segue 56 m acima da anterior e a sua ponta setentorial termina no mesmo montão de penedia onde esbarra a primeira muralha e perto dela. A terceira muralha é a mais curta, mede apenas 40 m de comprimento, fica a 55 m acima da segunda e termina do lado Norte na penedia que se estende até à crista do monte. Nos escassos terraplanos, a que os quase apagados restos de muralhas fazem amparo, não se viram quaisquer restos de alinhamentos de pedras que sugerissem tratar-se de construções, especialmente de casas.
Ainda na monografia de Boticas:
Orago: Santa Maria Madalena
Festas e Romarias
Festas e Romarias S. Sebastião, 20 de Janeiro.
Sto António,* 13 de Junho.
Santa Maria Madalena,* 26 de Junho
Santa Ana, 26 de Julho* / inicio de Agosto
Património Edificado
Capela de Nossa Sra. de Fátima
Forno do Povo de Alturas do Barroso
Igreja Paroquial de Santa Maria Madalena
Outros locais de interesse turístico
Casas com cobertura de colmo
Miradouros Naturais da Serra do Barroso
Moinhos
Museu Rural de Alturas do Barroso
Parque de Lazer de Peade
Percursos Pedestres
Ainda na monografia de Boticas:
Baldios
(…)
Cada uma das aldeias do concelho possui extensas áreas de baldios, cobertos de vegetação arbustiva espontânea (giesta, urze, carqueja, etc.). Estes espaços são propriedade de toda a comunidade aldeã, terrenos maninhos, indivisos, situados na parte mais distante da aldeia, em geral nos altos e nas encostas impróprias para a agricultura, e desempenham um papel importante na economia agro-pastoril. Tendo em conta que estas populações dependem das actividades agro-pastoris, e dada a limitação, quer em termos de área, quer em termos produtivos, das propriedades particulares, os baldios são fundamentais para a sobrevivência dos agregados domésticos. Enquanto terrenos comunais – logradouros comuns – são passíveis de serem utilizados de diversas formas: como área de pastagem para o pastoreio do gado ovino e caprino ao longo do ano e do gado bovino no Inverno; área de recolha de lenha e de mato (carqueja, giesta, tojo, urze, etc.) para a cama do gado e preparação do estrume. Algumas parcelas destes terrenos, as cavadas, também eram exploradas individualmente pelos aldeãos mais pobres, muitas vezes sem qualquer outro recurso fundiário para cultivo, de forma a mitigar um pouco a sua pobreza e garantir recursos mínimos de subsistência. Actualmente, ainda existem cavadas, na aldeia de Alturas do Barroso.
Ainda na monografia de Boticas:
Festa de S. Sebastião em Alturas de Barroso
Em Alturas do Barroso realiza-se anualmente, no dia 20 de Janeiro, a Festa em honra
de S. Sebastião. Reza a lenda que esta festa se começou a fazer por causa de uma peste que há muitos anos atrás matou muito gado. Prometeram então, os habitantes da aldeia, festejar anualmente o S. Sebastião, advogado contra a fome e a peste.
Esta festa é organizada por mordomos (4 ou 5 vizinhos) num sistema de rotatividade pelas casas da aldeia. Antigamente, era hábito darem pão e vinho para as pessoas comerem. Há, aproximadamente, 15 anos começaram também a oferecer feijoada ao final da tarde e desde então para cá a sua dimensão e a sua fama tem vindo a crescer.
Antes da realização da festa, os mordomos andam pela aldeia a recolher a contribuição que cada uma das casas queira oferecer, desde o fumeiro à carne de porco (pé e peito) e dinheiro com o qual se compram vários alimentos como arroz, feijão, pão e vinho.
Os preparativos para a festa começam uma semana antes. Preparam-se as loiças, o espaço, a lenha e a comida. No dia 20, ainda de madrugada, na ampla sala do edifício da sede de Junta de Freguesia, numa lareira construída para o efeito, começa a confeccionar-se a refeição comunitária que consistirá em feijoada, arroz, pão e vinho.
De manhã, por volta das 10:30h realiza-se uma missa em honra de S. Sebastião, no final da qual se faz uma procissão, com o andor de S. Sebastião a desfilar pelas principais ruas da aldeia até ao local da festa. Entoam-se cânticos e orações pedindo a protecção do Santo ou agradecendo pelas benesses concedidas. Chegados ao local da festa, o padre procede à bênção da comida, em especial do pão que mais tarde vai ser distribuído pelos fiéis “… que depois o comem ou o dão aos animais para ficarem livres de doenças”. O andor com o Santo é colocado numa mesa à entrada da sala, onde, como patrono, preside à refeição.
Depois inicia-se a refeição comunitária. À entrada da sala os mordomos pedem esmolas às pessoas que, em fila, aguardam a sua vez de entrar. Cada um que lá vai tem direito a um prato de feijoada, a pão e vinho. Também há broas a vender.
E vamos dando por terminado este post, passando de seguida ao vídeo resumo, onde inclui todas as imagens deste post, bem como outras imagens que fomos publicando por altura do São Sebastião dos últimos anos e ainda algumas fotografias não publicadas que farão parte do post final da freguesia de Alturas do Barros e Cerdedo.
Aqui fica, espero que gostem:
Post do blog Chaves dedicados às festas de S. Sebastião:
Como já vem sendo habitual nos últimos anos, o 20 de janeiro é dedicado às festas do S.Sebastião no Barroso, daí hoje incluirmos esta reportagem na habitual rubrica dos domingos de “O Barroso aqui tão perto…”, que até aqui tem sido dedicado ao Barroso do Concelho de Montalegre , mas hoje, excecionalmente, vamos até ao Barroso de Boticas com os festejos do S.Sebastião, antecipando um pouco a nossa entrada nas aldeias de Boticas. Assim, hoje, apresentamos também aquele que irá ser o cabeçalho de “O Barroso aqui tão perto…” com uma imagem do concelho de Boticas, para a abordagem que futuramente faremos a todas as suas aldeias.
Então hoje vamos até aos festejos do S.Sebastião da Vila Grande da freguesia de Dornelas e o S.Sebastião das Alturas do Barroso, mas também com uma abordagem à aldeia da Gestosa e Vilarinho Seco, como também um pouco da história do S.Sebastião (Santo) e da mesinha do S.Sebastião (lenda), por partes.
1 - S. SEBASTIÃO
São Sebastião nasceu em Narvonne, França, no final do século III, e desde muito cedo que os seus pais se mudaram para Milão, onde ele cresceu e foi educado. Seguindo o exemplo materno, desde criança São Sebastião sempre se mostrou forte e piedoso na fé.
Atingindo a idade adulta, alistou-se como militar, nas legiões do Imperador Diocleciano, que até então ignorava o facto de Sebastião ser um cristão de coração.
A figura imponente, a prudência e a bravura do jovem militar, tanto agradaram ao Imperador, que este o nomeou comandante de sua guarda pessoal.
Nessa destacada posição, Sebastião tornou-se no grande benfeitor dos cristãos encarcerados em Roma naquele tempo.
Visitava com frequência as pobres vítimas do ódio pagão, e, com palavras de dádiva, consolava e animava os candidatos ao martírio aqui na terra, que receberiam a coroa de glória no céu.
Enquanto o imperador empreendia a expulsão de todos os cristãos do seu exército, Sebastião foi denunciado por um soldado.
Diocleciano sentiu-se traído, e ficou perplexo ao ouvir do próprio Sebastião que era cristão. Tentou, em vão, fazer com que ele renunciasse ao cristianismo, mas Sebastião com firmeza defendeu-se, apresentando os motivos que o animava a seguir a fé cristã, e a socorrer os aflitos e perseguidos.
O Imperador, enraivecido ante os sólidos argumentos daquele cristão autêntico e decidido, deu ordem aos seus soldados para que o matassem a flechadas.
Tal ordem foi imediatamente cumprida: num descampado, os soldados despiram-no, amarraram-no a um tronco de árvore e atiraram contra ele uma chuva de flechas. Depois abandonaram-no para que sangrasse até a morte.
À noite, Irene, mulher do mártir Castulo, foi com algumas amigas ao lugar da execução, para tirar o corpo de Sebastião e dar-lhe sepultura. Com assombro, comprovaram que o mesmo ainda estava vivo. Desamarraram-no, e Irene escondeu-o na sua casa, cuidando das suas feridas.
Passado um tempo, já restabelecido, São Sebastião quis continuar o seu processo de evangelização e, em vez de se esconder, com valentia apresentou-se de novo ao imperador, censurando-o pelas injustiças cometidas contra os cristãos, acusados de inimigos do Estado.
Diocleciano ignorou os pedidos de Sebastião para que deixasse de perseguir os cristãos, e ordenou que fosse espancado até a morte, com pauladas e golpes de bolas de chumbo. E, para impedir que o corpo fosse venerado pelos cristãos, jogaram-no no esgoto público de Roma.
Uma piedosa mulher, Santa Luciana, sepultou-o nas catacumbas. Assim aconteceu no ano de 287. Mais tarde, no ano de 680, as suas relíquias foram solenemente transportados para uma basílica construída pelo Imperador Constantino, onde se encontram até hoje.
Naquela ocasião, uma terrível peste assolava Roma, vitimando muitas pessoas.
Entretanto, tal epidemia simplesmente desapareceu a partir do momento da transladação dos restos mortais desse mártir, que passou a ser venerado como o padroeiro contra a peste, fome e guerra.
As cidades de Milão, em 1575 e Lisboa, em 1599, acometidas por pestes epidêmicas, viram-se livres desses males, após atos públicos suplicando a intercessão deste grande santo.
2 - A LENDA DA MESINHA DE S.SEBASTIÃO
Reza a lenda, que há muitos, muitos anos, houve nesta região um ano de muita fome e peste, que também atingiu os habitantes do “COUTO”.
Foram tantos os mortos, que os mais crentes apelaram a S. Sebastião para que os protegesse de tal flagelo:
“Se a doença se afastasse, se os doentes melhorassem e os animais escapassem, prometiam realizar anualmente, a 20 de Janeiro, uma festa onde não faltasse carne e pão para quantos a ela comparecessem.”
Como o Santo não faltou, cumpriu-se o prometido e assim se fez ao longo dos tempos, mas, com o passar dos anos, o povo foi ficando esquecido, desleixado e possivelmente mal agradecido. Um ano, não se sabe por que motivo, a festa não se realizou. O povo ficou assim, sem a proteção do santo, advogado da fome, da peste e da guerra registando-se graves problemas nesta localidade.
Conta ainda a lenda, que em 1809 (ano em que Napoleão, imperador de França, mandou invadir pela segunda vez Portugal) as tropas entraram por Chaves, a caminho do Porto, passando pelas terras do “Couto”. A má fama dos invasores já tinha chegado às nossas gentes, que atemorizadas pela eminente invasão e suas consequências (pilhagens, mortes, violações, etc.) saíram às ruas com a imagem de S. Sebastião e acolhendo-se à sua proteção, renovaram a promessa: «… Se os invasores não entrarem no Couto faremos todos os anos, dia 20 de Janeiro, uma festa em tua honra, onde não faltará comida a toda a gente que a ela vier…»
Diz a lenda que caiu tal nevão à volta do Couto, que obrigou os invasores a desviarem-se do seu caminho deixando em paz estas “gentes”.
3 - Mesinha de S.Sebastião na Vila Grande
As fotos que têm ficado até aqui são da mesinha de S.Sebastião da Vila Grande, da freguesia de Dronelas. A introdução com a história do Santo e da Lenda apenas se deve a que muitos populares, incluindo da Vila Grande, associam o início destes festejos às segundas invasões francesas. Ora na deslocação deste ano um natural da aldeia puxava o assunto à baila, onde afirmava que teve acesso a documentos em que provavam que os festejos da Vila Grande já se realizavam muito antes das Invasões Francesas. Dada a história do santo, a sua data de nascimento e ao ser venerado como padroeiro contra a peste, a fome e a guerra, entre outros, é natural que os festejos já venham de há longa data, como também é natural que lhe dessem mais significado e importância a partir das segundas invasões francesas.
Quanto à mesinha de S.Sebastião da Vila Grande já nos anos anteriores deixei por aqui o seu funcionamento, mas eu volto a repetir num breve apontamento.
Ao longo da rua principal da aldeia é colocada uma mesa com mais de 500 metros de comprimento, que é coberta com uma toalha de linho onde são colocados um pão, uma caçarola de arroz e um naco de carne de porco, distanciados de aproximadamente um metro. Antes da distribuição há uma missa, depois a bênção do pão e só depois começa a distribuição da comida, antecedida pelo pedido de “esmola” ou ajuda para as despesas (cada um dá o que quer) e o beijar do S.Sebastião.
No entanto o preparar da festa pelas gentes da aldeia começa muito antes. O Pão começa a ser cozido no forno com 4 dias de antecedência, cozendo ininterruptamente durante esses 4 dias fornadas de 35 a 40 pães de cada vez até atingirem os 1200 pães necessários para a festa, dos quais 400 pães são para colocar na mesinha de S.Sebastião e os restantes para vender aos visitantes, pão esse que é composto por uma mistura de milho, centeio e trigo. . Quanto ao arroz, 110 Kg, e à carne, mais de 400 postas, são cozinhados durante toda a noite para começarem a ser distribuídos a partir do meio-dia. A cozedura do pão é feito por turnos de 7 a 8 pessoas durante os 4 dias.
Claro que na noite que antecede a mesinha de S.Sebastião, grande parte da população da Vila Grande envolve-se com os trabalhos da festa para logo de madrugada começar a receber os primeiros peregrinos.
Peregrinos que vêm de todo o lado, principalmente do Norte de Portugal, com maior participação da gente do Barroso e do Minho, individualmente, em grupos de amigos ou mesmo em excursões que aos poucos vão enchendo toda a rua ao longo da Mesinha de S.Sebastião, ao longo da qual vão reservando lugar e petiscando nas merendas que vão trazendo.
Também o pessoal da imprensa nacional e estrangeira (jornais e televisões) não são alheios à festa, mas também um elevado número de fotógrafos amadores individuais ou de associações, como é o caso do nosso grupo de Associados Lumbudus que marcámos sempre presença ou elementos da Associação Portografia do Porto, este ano com pelo menos 5 associados.
Quanto aos preparativos da festa, tal como dissemos, começa pelo menos com 4 dias de antecedência com o cozer do pão. Quanto à Mesinha do S.Sebastião, comido o pão, o arroz e as postas de carne, o pessoal destroça e quase como num milagre, desaparece num instante, tanto que por volta das 2 da tarde a mesa está completamente vazia, mas claro que há uma razão para tal, é que o S.Sebastião não se comemora só na Vila Grande, pois na aldeia vizinha das Alturas do Barroso também há festa e em Salto, um pouco mais à frente, idem aspas. Mas estas com características diferentes. Claro que nós também não somos exceção e acabada a festa na Vila Grande também rumámos os nossos destinos até as alturas do Barroso, mas por etapas.
4 – Gestosa
A caminho das Alturas do Barroso passa-se ao lado da Gestosa. Todos os anos parámos lá num alto onde a aldeia se vê juntinha ao lado de um verdejante vale. Todos os anos ficamos com o apetite de a visitar, mas este ano não resistimos e fizemos o desvio para uma visita breve mas também para ir adiantando trabalho de levantamento fotográfico da aldeia como memória futura para um devido post dedicado à aldeia.
Para já fica a informação de que gostámos daquilo que vimos, pois se lá de cima é interessante, o seu interesse aumenta quando lhe entramos na intimidade, mas descrições ficam para o tal post futuro. Mas gostámos tanto que lhe dedicamos a nossa imagem de arte digital
5 - Vilarinho Seco
Vilarinho Seco é de paragem obrigatória para repor forças, nem que seja só com um café que é sempre bem acompanhado, quer pelos amigos do costume quer pelos improvisados concertos de cantares acompanhados pelas concertinas dos vários grupos minhotos que invadem estas festas.
Mas claro que não resistimos a tomar mais umas fotos daquelas que é uma das aldeias mais interessantes de todo o Barroso, também para memória futura de um post que surgirá quando passarmos definitivamente para o Barroso do Concelho de Boticas. Mas desta vez, além das imagens registámos também em vídeo a improvisada atuação de um duo que tanto quanto entendi era a primeira vez que tocavam juntos.
Claro que a paragem por Vilarinho Seco é sempre breve pois o destino é mesmo Alturas do Barroso par terminar o dia, que ainda só vai a meio.
6 – Alturas do Barroso
Aqui os festejos em honra do S.Sebastião são outros. Em conversa com uma natural das alturas, perguntava-me de qual das festas gostava mais, se a da Vila Grande ou das Alturas. A resposta foi a politicamente correta – Gosto das duas. Mas além de politicamente correta também foi sincera, pois ambas as festas são interessantes, apenas são diferentes, mas há sempre coisas que gostámos mais numa festa do que na outra, mas já lá vamos.
Desde criança que oiço falar das Alturas do Barroso e dos Cornos do Barroso, curiosamente só há anos soube que a aldeia das Alturas está juntinha aos Cornos do Barroso e daí, suponho, a proveniência do topónimo, pois de facto, a aldeia implantada a quase 1200 metros de altitude é a mais alta que se localiza na Serra do Barroso.
Mas como se não bastasse ouvir falar da aldeia desde miúdo, quando comecei a ler a obra de Miguel Torga tropeço com dois momentos registados por torga nessa aldeia, o primeiro data de 1956 que passo a transcrever:
Alturas do Barroso, 27 de Junho de 1956
Entro nestas aldeias sagradas a tremer de vergonha. Não por mim, que venho cheio de boas intenções, mas por uma civilização de má-fé que nem ao menos lhe dá a simples proteção de as respeitar.
Miguel Torga in “Diário XI”
O segundo momento de Torga, mais recente, data de 1991:
Alturas do Barroso, 1 de Setembro de 1991
Incansavelmente atento às lições do povo, venho, sempre que posso, a este tecto do mundo português, admirar no adro da Igreja, calcetado de lousas tumulares, o harmonioso convívio da vida com a morte. Os cemitérios actuais são armazéns de cadáveres desterrados da nossa familiaridade, lacrimosamente repetidos do seio do clã mal arrefecem, cada dia menos necessários, no progressivo esquecimento, à salutar percepção do que significam na dobadoira do tempo. Ora, aqui, cada paroquiano pisa, pelo menos dominicalmente, a sepultura dos ancestrais, e se liga a eles, quase organicamente. Vive, numa palavra, referenciado. Sabe que tem presente porque houve passado, e que, mais cedo ou mais tarde, enterrado ali também, será para os descendentes consciência e justificação do futuro.
Miguel Torga, in Diário XVI
E faço minhas as palavras de Torga, principalmente estas: - “Entro nestas aldeias sagradas a tremer de vergonha”, sim, é verdade e tal como Torga – “Não por mim, que venho cheio de boas intenções,” mas por medo a que as pessoas pensem que as minha intenções não são boas, mas ainda – “Incansavelmente atento às lições do povo, venho, sempre que posso” o que também é verdade, pelo menos desde que descobri esta aldeia, é sempre com gosto que regresso a ela, nem que seja e só por altura do S.Sebastião, mas passo por lá mais vezes.
Pois além da curiosidade que tinha desde miúdo, Torga aguçou-me o interesse em conhecer também esta aldeia e também como ele apreciei a aldeia, o seu povo, o casario e a festa do S.Sebastião.
Pois quanto à festa só lhe conheço o lado profano, aquele do comer e beber, pois nunca tive a honra de assistir à parte religiosa, que suponho que obrigatoriamente existira. Tudo porque os da Vila Grande, como já atrás referi, só têm festa da parte da manhã e assim vamos deixando as Alturas para a parte da tarde, mas fica a promessa que numa das próximas vezes invertemos a ordem.
Pois quanto à parte que assistimos, é em quase tudo diferente da festa da Vila Grande. Começando que a das Alturas é feita debaixo de teto e a ementa é servida em prato. Uma feijoada da boa, um copo de vinho e um pão. Segundo consta, pois nunca estivemos até ao fecho, a festa prolonga-se pela noite adentro, enquanto houver peregrinos com vontade de comer.
Mas claro que a parte do comer é só um breve momento, pois a festa esta lá dentro mas também à porta ou nas ruas da aldeia. Os improvisados concertos de cantares ao som da concertina são uma constante onde menos se espera ou melhor, em todos os lugares.
Uma visita, passeio, pelas ruas da aldeia também é obrigatório e se houver um pouco de conversa com as suas gentes, tanto melhor, e desta vez até fomos felizes nesta parte, pois além de fotos consentidas ainda tivemos direito a uma demonstração de como se lança o peão e uma história das antigas, também com direito a imagens, mas também estas ficam para um post futuro dedicado à aldeia, com o S.Sebastião de parte, embora a referência seja obrigatória.
E quase a terminar há que referir a simpatia das pessoas das Alturas, não só as que estão envolvidas no trabalho de dar de comer e beber a tanta gente mas também da aldeia em geral.
E não só, pois a aldeia também surpreende pela gente jovem, coisa que já vai sendo raro nas aldeias barrosãs e em geral do interior transmontano. Pelo menos do dia de S.Sebastião assim é.
E por fim, ficam as fotos prometidas e consentidas, ah! e já ia esquecendo, este ano o S.Sebastião aconteceu em plena vaga de frio polar, talvez por isso não havia neve como em alguns dos anos anteriores e o sol apareceu com a sua alegria do costume…
Aos sábados aqui no blog é dia da nossa ruralidade, daquela que vai além da cidade e das vilas, a ruralidade mais rural, a das nossas aldeias, não só as de Chaves, mas de toda a região envolvente, incluindo todo o Barroso onde o comunitarismo desde sempre fez parte da sua força para vencer os trabalhos de uma terra quase sempre ingrata. Comunitarismo que se reflete também nas celebrações religiosas e que se transforma em festa envolvendo toda a aldeia e comunidade. Mas há festas comunitárias e festas comunitárias que o são mesmo, abertas a toda a comunidade que nela queira participar. São assim as de S.Sebastião no Couto de Dornelas e das Alturas do Barroso, ambas do concelho de Boticas. Festa que desde que a descobrimos fizemos promessa de lá voltar todos os anos.
As imagens de hoje são dessas mesmas festas comunitárias que vão sendo apresentadas pela sua ordem cronológica, em que a primeira imagem que vos deixo coincide com a nossa chegada ao Couto de Dornelas à Mesinha de S.Sebastião. E assim vai sendo, com o decorrer da manhã e do dia até entrarmos na noite, já noutra aldeia. Mas lá chegaremos.
Comecemos então pelo Couto de Dornelas, topónimo pelo qual é vulgarmente conhecida a aldeia, mas penso que não é bem este o seu topónimo, pois o oficial é mesmo a Vila Grande de Dornelas.
Mas falemos da festa onde gostamos de chegar logo pela manhã para não perder pitada, ou quase, pois para por lá a festa começar logo de manhã, grande parte dos seus habitantes já anda há dias a trabalhar para ela. Então na noite que antecede a manhã da festa, nem se fala, é que dar de comer a milhares de pessoas, não é pera doce.
Mas passemos a explicar as imagens. A primeira é da nossa chegada onde a mesinha do S.Sebastião já estava montada na rua principal, mais coisa menos coisa são 400 metros de mesa. Logo pela manhã começam a chegar as pessoas das aldeias vizinhas, mas também os residentes da aldeia marcam presença nas ruas, algumas vestindo ainda as tradicionais capas de burel. Na cozinha comunitária ultima-se a confeção das últimas carnes e arroz em mais de vinte potes dos grandes. Ao lado, o pão já cozido, aguarda a distribuição pela mesa, tal como as gigas de vime cheias de pratos e malgas de madeira.
A visita à cozinha é obrigatória, embora à área de trabalha o acesso seja restrito, pois é apenas para quem trabalha ou para quem como nós blogers e fotógrafos, jornalistas e televisões querem fazer a reportagem e captar outras imagens que só lá dentro são possíveis. Entretanto pela manhã a cozinha serve algumas sopas em malgas para os primeiros forasteiros, e gente que trabalha, consolar os estômagos, pois a comida só sai para a mesinha (a tal dos 400 m) depois da missa e de benzido o pão. Coisa que só acontece por volta do meio dia. Assim, até lá, há tempo de dar uma volta pela aldeia e de apreciar o seu casario mais típico.
Entretanto a mesinha, que pela manhã estava vazia (veja-se a primeira foto), ao meio dia está repleta com milhares de pessoas a aguardar que de vara a vara (a medida) caia um pão, uma caçarola de arroz e um naco de carne sobre uma toalha de linho que previamente cobriu a mesinha de madeira.
Mas ainda antes de a comida chegar à mesa, há o ritual do peditório para ajudar a festa e o desfilar da imagem do S.Sebastião, que os crentes, um a um, vão beijando à sua passagem.
Depois sim, a comida. Pão caseio mistura de centeio e milho, arroz e o naco de carne de porco. É tudo bom, com o sabor que só os potes lhe sabem dar, mas quem vem de fora vai acrescentando sempre qualquer coisinha à mesa, como bolos de bacalhau, linguiças e salpicões, presunto, vinho entre outras coisas, que os estômagos agradecem sempre.
Nós marcamos sempre lugar no final da mesa. Assim podemos ir fazendo as fotos ao longo dos 400m de mesa e no final também saborear a oferenda. É ponto também de reunião de outros amigos fotógrafos ou não, como no caso da última foto com o nosso amigo A. Tedim, Luís Alves e um “cerdedense” vizinho do Couto de Dornelas que de tanto nos falar da sua terra resolvemos passar por lá para a conhecer, e em boa hora, pois foi a surpresa do dia, que o resto já conhecíamos. As próximas seis imagens são de lá, de Cerdedo.
Lembram-se de há dias eu dizer por aqui que havia dois Barrosos, o agreste e o verde. Pois por aqui misturam-se os dois, ou seja, nas terras mais baixas o verde é tão intenso que parece ter luz própria mas, mesmo ao lado, começa a subir-se à croa das montanhas, a luz apaga-se e o agreste predomina.
Então em dia de chuva com neblinas altas, Cerdedo apresentou-se como uma revelação desenhada com a mestria de um artista, daqueles mesmo artistas, verdadeiros. Nada ficou ao acaso, o desenho dos caminhos, os recortes dos muros, a colocação dos canastros, os tons da pintura dos verdes nos lameiros salpicados de amarelos torrados de bois e vacas, os sépias das folhas secas que teimam não soltar-se das árvores.
Até o casario parece ter sido arrumado de modo a não incomodar a harmonia da restante composição, fundindo-se com ela, fazendo parte dela.
Este encanto podia ter sido magia do momento, com as neblinas altas que mais não eram que nuvens de chuva a apagar por completo o azul do céu e a intensidade da luz do sol para que as sombras não apagassem o brilho da chuva caída sobre o todo de uma paisagem que mais parecia uma tela roubada do caixilho de uma pintura para não quebrar a coerência da composição.
Por último, ainda em Cerdedo e ainda as pinturas, agora numa tela de Silva Porto, “Guardando o rebanho” que recordo desde miúdo por ter uma reprodução pendurada numa das paredes da sala de casa dos meus pais, só que, o pastor de Silva Porto caminhava para nós, e o pastor do Cerdedo, como cena final, afasta-se de nós.
Poderia terminar aqui o post que já ficavam bem servidos, mas hoje estou generoso e quero contar-vos, sobretudo em imagem, o resto do dia, pois embora a última imagem seja de Cerdedo, quase não tínhamos saído, ainda, de Couto de Dornelas, e o nosso destino nesse momento era mesmo Alturas do Barroso.
E tínhamos ainda pela frente que subir quase toda a Serra do Barroso e fazer uma passagem com paragem obrigatória em Vilarinho Seco, mas antes, ainda havia tempo de parar no meio da serra para apanhar umas imagens, nem que fossem apenas as dos tais devaneios.
E depois sim, Vilarinho Seco que tal como o Cerdedo foi uma agradável descoberta de há anos atrás e por isso temos de parar sempre por lá para ver se continua tudo lugar e não houve qualquer doidice que estragasse a composição, mas há também o Pedro, onde é também obrigatório parar para botar um copo, mesmo que seja um café.
Por último as Alturas do Barroso onde se celebra com festa, também comunitária, o S.Sebastião, mas aqui de forma diferente. Infelizmente chegamos lá sempre tarde, já quase em hora de termos que regressar, mas cumprimos sempre a promessa. Fotograficamente falando é que as coisas se complicam, pois se em Cerdedo até deu jeito a luz não estar muito intensa, aqui, dava-nos jeito haver mais alguma, mas enfim, não se pode ter tudo. Assim, fica uma imagem noturna.
E com isto ficam aqui vinte imagens sobre o Barroso, que temos aqui tão perto e que é sempre tão interessante ir por lá para recordar o que conhecemos e descobrir novas pérolas, quase sempre com o atrativo da sua simplicidade ou mesmo virgindade.
Apresentamos em duas partes o S.Sebastião do Barroso porque de facto é assim que acontece por lá, ou seja, a primeira parte em Couto de Dornelas e a segunda em Alturas do Barroso, mas entre as duas aldeias há ainda a paragem obrigatória em Vilarinho Seco onde sem festa, a festa continua.
Do Couto de Dornelas às Alturas do Barroso pouco mais são de 10 quilómetros e Vilarinho Seco fica sensivelmente a meio do trajeto, assim a paragem obrigatória nesta aldeia não se deve à distância, mas antes pela necessária hidratação ou mesmo um simples café, mas também pela festa que sempre acontece e pela beleza da aldeia.
Toda esta região do Barroso tem uma beleza singular devido a ainda ir mantendo a sua integridade de um núcleo de construções que mantém as características das construções típicas do Barroso. A não ser um ou outro caso isolado as coberturas de colmo já fazem parte da história, apenas a estrutura dos beirais testemunham que um dia existiram. Penso que poderia e ainda pode haver uma solução interessante uma sobrecoberta, mas isso ao S.Sebastião até pouco interessa. Resumindo, queria eu dizer que é sempre interessante parar em Vilarinho Seco nem que seja para tomar meia-dúzia de imagens que são sempre interessantes.
Mas o nosso destino é mesmo Alturas do Barroso. A saída de Couto de Dornelas acaba por acontecer quase sempre depois das duas da tarde, pelo caminho além da paragem obrigatória em Vilarinho Seco há sempre outras paragens ocasionais. Ora aqui porque há que tomar umas fotos às vacas a pastar, ora ali porque há neve, ora acoli por outra coisa qualquer, às vezes até por um chichi dum mais apertado é preciso parar e assim, quando se chega a Alturas do Barroso já a tarde está mais pra lá do que pra cá, então se o céu está encoberto com nuvens a tarde chega mesmo a cheirar a anoitecer.
Claro que nós vamos lá pela festa da festa, pela festa da fotografia , mas também pela feijoada do S.Sebastião. às vezes é complicado conciliar tudo mas descomplica-se, pois a missão tem de ser cumprida e cumpre-se.
Claro está que com tantos afazeres o regresso à terrinha já é feito noite escura, via Montalegre. Éh! É aquela tal noia de nunca regressar pelo mesmo caminho ou então apenas o pretexto para passar por Montalegre, para ver se o castelo está no sítio e se a Vila e a Portela continuam no seu lugar.
E assim vai sendo o cumprir da promessa do 20 de janeiro.
Lá fui eu pagar a promessa ao S.Sebastião barrosão, das terras altas e frias de Boticas.
Esperava-se neve, mas em Couto de Dornelas só frio, mas não o suficiente para calar a festa da música enquanto se espera pela mesa completa.
Depois sim, pão, arroz e carne de porco oferecido pelo S.Sebastião, o resto e por conta de cada um, incluindo os talheres, mas se não os houver, também não há problema – o vizinho do lado desenrasca.
Vilarinho Seco
Mas o S.Sebastião não se fica por Couto de Dornelas. Um pouco mais acima, em Alturas do Barroso, também espera pelos peregrinos, mas antes há a passagem obrigatória com paragem em Vilarinho Seco onde mesmo sem S.Sebastião a festa continua.
E por fim Alturas do Barroso que para fazer jus ao nome conserva a neves dos últimos dias para visitante ver e até brincar. Claro que o frio continua, não estivéssemos nós em plena terra fria, mas também não era nada do outro mundo, era frio apenas.
E por hoje fica esta breve passagem, no próximo sábado deixamos por aqui mais algumas imagens do S.Sebastião barrosão e da festa comunitária das suas aldeias.
Há dois dias atrás o S.Sebastião levou-me até ao Barroso e, passei ou estive em algumas terras que Torga trilhou ainda eu não tinha nascido. Conforme ia passando ou estando nalgumas dessas terras, iam-me vindo à lembrança algumas palavras escritas nos Diários de Torga, inspiradas em, ou nessas mesmas terras. Uma delas foi Alturas do Barroso, palavras que, algumas, já passaram neste blog e que as tenho sempre presentes quando entro numa aldeia, principalmente naquelas em que entro pela primeira vez ou que não conheço tão bem como outras.
Alturas do Barroso, 27 de Junho de 1956
Entro nestas aldeias sagradas a tremer de vergonha. Não por mim, que venho cheio de boas intenções, mas por uma civilização de má-fé que nem ao menos lhe dá a simples proteção de as respeitar.
Miguel Torga, In Diário VIII
E relembrando as palavras de Torga os meus olhares tentam adivinhar, olhar aquilo que Torga olhou e o levou ao registo, pois uma coisa é ler as suas palavras e outra é, in loco, vivê-las e senti-las. Claro, se a sensibilidade do momento ou do olhar o permitirem, só assim entenderemos a plenitude das suas palavras.
Alturas do Barroso, 21 de Setembro de 1969
A paz destes barrosões, sentados no combro de uma lameira a guardar a junta de bois! Parecem sonâmbulos a apascentar a eternidade.
Miguel Torga, In Diário XI
Há dois dias atrás, também eu em Alturas do Barroso, subi com os passos pesados a que a neve obrigava até ao alto onde foi erigida uma capela e de onde se vê toda a aldeia. Penso ser aí o “tecto do mundo português” a que Torga se referia em 1991 nos seu Diário XVI, no mesmo registo onde Torga aborda a relação, a referência e proximidade “quase orgânica” que este povo tem com os seus mortos. Ao descer do alto da capela, entrei na aldeia com a avidez de caçar imagens em dia de celebração de S.Sebastião. Numa das ruas, ainda muito antes de me cruzar com uma velhota totalmente vestida de preto, ao ver-me de câmara fotográfica na mão, muito antes de a levantar à posição de mira, foi-me avisando que não queria fotografias porque estava de luto. Mais uma vez vieram-me à memória as palavras de Torga e fiquei a “tremer de vergonha”.
Alturas do Barroso, 1 de Setembro de 1991
Incansavelmente atento às lições do povo, venho, sempre que posso, a este tecto do mundo português, admirar no adro da Igreja, calcetado de lousas tumulares, o harmonioso convívio da vida com a morte. Os cemitérios actuais são armazéns de cadáveres desterrados da nossa familiaridade, lacrimosamente repetidos do seio do clã mal arrefecem, cada dia menos necessários, no progressivo esquecimento, à salutar percepção do que significam na dobadoira do tempo. Ora, aqui, cada paroquiano pisa, pelo menos dominicalmente, a sepultura dos ancestrais, e se liga a eles, quase organicamente. Vive, numa palavra, referenciado. Sabe que tem presente porque houve passado, e que, mais cedo ou mais tarde, enterrado ali também, será para os descendentes consciência e justificação do futuro.
Tal como prometi, este blog vai começar a andar por aí a olhar também as festas, tradições, saberes e pontos de interesse da região do Alto Tâmega e Barroso.
No ano passado fomos à tradicional festa de São Sebastião ou “Mesinha de São Sebastião” na freguesia de Couto de Dornelas. Já lhe conhecíamos a fama de festa comunitária há muitos anos, mas uma coisa é aquilo que nos contam e outra é estar na festa e ver com os próprios olhos. Vi e gostei tanto que fiz promessa de ir lá sempre que puder.
Durante dias cozeu-se o pão que irá ser servido à mesa
As imagens de hoje vão tentar mostrar um pouco da tradição. As palavras também vão tentar ajudar a compreender esta festa, a tradição e a lenda.
Comecemos pela lenda:
A Lenda
REZA A LENDA, ... que há muitos, muitos anos...
Houve nesta região um ano de muita fome e peste, que também atingiu os habitantes do “COUTO”.
É destes potes que sai o arroz e a carne de porco para todos os visitantes
Foram tantos os mortos, que os mais crentes apelaram a S. Sebastião para que os protegesse de tal flagelo: “Se a doença se afastasse, se os doentes melhorassem e os animais escapassem, prometiam realizar anualmente, a 20 de Janeiro, uma festa onde não faltasse carne e pão para quantos a ela comparecessem.”
Como o Santo não faltou, cumpriu-se o prometido e assim se fez ao longo dos tempos...
Antes de comer há que agradecer ao santo
...Mas, com o passar dos anos, o povo foi ficando esquecido, desleixado e possivelmente mal agradecido. Um ano, não se sabe por que motivo, a festa não se realizou. O povo ficou assim, sem a protecção do santo, advogado da fome, da peste e da guerra registando-se graves problemas nesta localidade...
O peditório não faz a festa, mas ajuda
...Conta ainda a lenda, que em 1809 (ano em que Napoleão, imperador de França, mandou invadir pela segunda vez Portugal) as tropas entraram por Chaves, a caminho do Porto, passando pelas terras do “Couto”. A má fama dos invasores já tinha chegado às nossas gentes, que atemorizadas pela eminente invasão e suas consequências (pilhagens, mortes, violações, etc.) saíram às ruas com a imagem de S. Sebastião e acolhendo-se à sua protecção, renovaram a promessa:
O Sol tem ajudado à festa, mas é traiçoeiro
«… Se os invasores não entrarem no Couto faremos todos os anos, dia 20 de Janeiro, uma festa em tua honra, onde não faltará comida a toda a gente que a ela vier…»
Diz a lenda que caiu tal nevão à volta do Couto, que obrigou os invasores a desviarem-se do seu caminho deixando em paz estas “gentes”.
Lenda ou não, a verdade é que se tem mantido a tradição e todos os anos, dia 20 de Janeiro, os habitantes do COUTO de DORNELAS renovam a promessa cada vez mais convictos do amparo do Mártir São Sebastião.
A festa faz-se ao longo de toda a rua
Pois não sei se é por São Sebastião estar grato por manterem-lhe a gratidão que o dia de ontem, tal como o do ano passado, lá pelo Barroso mais alto o dia parecia de verão.
Mas passemos à descrição da festa.
A toalha de linho cobre toda a mesa
Durante uns dias coze-se o pão milho e armazena-se numa sala para que no dia da festa não falte pão para todos os visitantes. São umas centenas de pães. Na madrugada do dia 20 acende-se a fogueira, poem-se os potes ao lume (23 conto-os na foto) e coze-se a carne de porco e mais tarde o arroz que depois de prontos e devidamente benzidos serão servidos à ora do almoço a todos os visitantes. Para tal é disposta uma mesa ao longo da rua principal da aldeia – a Vila Grande.
Há que aproveite para vender os produtos da terra e quem compra, agradece
Saliente-se que esta festa é festa da freguesia de Couto de Dornelas do concelho de Boticas, à qual pertencem, além da Vila Grande, as aldeias de Gestosa, Vila Pequena, Espertina, Antigo, Lousas e Casal.
Mas íamos na mesa ao longo da rua principal da aldeia, que atinge um comprimento de cerca de 400m onde é colocado, de vara em vara (é esta a medida), um pão milho, uma caçarola com arroz e um pedaço de carne de porco. O resto fica por conta dos visitantes, ou sejam os talheres e as bebidas.
O vai e vem de tabuleiros de arroz e gigas de pão
A montagem e o serviço desta mesa não é tão simples assim como atrás é descrito, pois durante a noite são montadas as pranchas de madeira ao longo da rua e, se pela manhã, de manhãzinha, as ruas e as mesas se encontram despovoadas de gente, por volta das 8 da manhã começam a compor-se com os visitantes vindos da freguesia mas também um pouco de todo o lado, com muita gente do Minho, da região do grande Porto, de Chaves também há fiéis seguidores, entre outros locais que não pude apurar. Apurei os companheiros do lado aos quais agradeço, pois desprevenido fui só armado com câmara fotográfica e eles dispensaram-me os talheres, um prato e o vinho. A festa é comunitária e como tal ninguém sai de lá sem comer e beber. Obrigado companheiros de Stº Tirso que também têm promessa de vir a esta festa todos os anos.
Os companheiros de Santo Tirso fizeram promessa de vir todos os anos
Voltemos à mesa. Coladas as pranchas, chegado o pessoal, começam a marcar lugar ao longo da mesa e se de manhazinha a rua e a mesa estão despovoadas, ao meio dia estão repletas de gente, mas há sempre lugar para mais um.
Uma vara de medida
Benzida a comida, começa-se a servir, mas antes há que por a toalha de linho que irá cobrir todos os 400 metros de mesa que é seguido do beijar do São Sebastião, o peditório para o santo, um pão, uma caçarola de arroz, um pedaço de carne, mais uma vara de medida (que tem cerca de 1,20m) e mais um pão, uma caçarola de arroz e um pedaço de carne e assim sucessivamente até se chegar ao fim da mesa. O abastecimento é feito com corridas sucessivas de vai e vem à “cozinha” com grandes tabuleiros de arroz, uma caçarola enorme de cobre cheia de carne e gigas de pão. Em menos de uma hora todos os visitantes são servidos e, segundo as minhas contas, estimo que sejam cerca de 15.000 os que comunga desta refeição. Basta olhar para o preencher das ruas, saber o comprimento da mesa e fazer as contas.
400 metros de mesa para 15 mil pessoas
Claro que festa é festa e quem vem de excursão à festa, e são muitos, faz-se acompanhar de outras iguarias e manjares para acrescentar à mesa, mas não só, pois não faltam as concertinas, danças e cantares que se vão servindo também ao longo da rua, com os grupos que vêm de fora e começam logo a atuar à saída dos autocarros.
Excursões da gente do minho alegram a festa
Quanto à iguaria, há que prová-la para se poder deliciar. Garanto-vos que é coisa boa, com sabor à tradição da carne curada e fumada, com um arroz que é único acompanhado de pão milho caseiro…que mais dizer!? Talvez que falta o copito de vinho, mas esse aparece sempre.
Lumbudos barrosões em ação
Claro que há quem vá lá não só pelas iguarias e pela festa mas também para o registo da tradição. As televisões e a imprensa escrita costumam marcar presença, mas as câmaras fotográficas e de filmar também se vão repetindo nas mãos dos visitantes mas também as de outros fotógrafos, que embora amadores, vão fazendo da fotografia uma arte de mostrar e registar, como as de alguns Lumbudus da Associação de fotografia com sede em Chaves ou da Associação de Fotografia do Porto – Portografia, e alguns autores de blogs que se iam acotovelando amistosamente com um “desculpa” constante para não perder nenhuma cena e registo.
Em alturas do Barroso ninguém sai sem comer
Sai-se sempre de lá com espirito de festa cumprida e com vontade de voltar para o próximo ano, mas a festa não acaba ali na Vila Grande, pois esta tradição comunitária do São Sebastião não é exclusiva da Vila Grande da freguesia de Couto de Dornelas. Uns quilómetros mais à frente ou ao lado, conforme se aborde, há outra festa comunitária de São Sebastião, esta na aldeia de Alturas do Barroso, que, feita em moldes diferentes e sem o aparato da mesa ao longo da rua, não deixa que nenhum visitante saia de lá sem comer um prato de feijoada, um pão e um copo de vinho. Dizem que só fecham a cozinha quando já não houver mais nenhum visitante sem comer e assim, a “mesa”, prolonga-se por toda a tarde e entra pela noite dentro.
Em Alturas do Barroso um prato de feijoada, um pão e um copo de vinho é a dose
Bem, se a iguaria da Vila Grande era um petisco apreciado por todos, a pratada das Alturas de Barroso conforta qualquer estomago e, não pensem que é uma feijoada onde os feijões são reis e senhores, nada disso, vêm com todos os pertences e não são de plástico como os dos restaurantes da cidade, pois por lá têm os sabores do Barroso. Claro que embora tivesse sido a primeira vez que fui ao São Sebastião de Alturas do Barroso também fiz promessa de voltar lá sempre que puder.
O São Sebastião dá as boas vindas à entrada - Alturas do Barroso
A juntar a isto tudo há o apreciar único da paisagem e temas barrosões e a visita a algumas aldeias e locais que não se podem perder, como Vilarinho Seco, os Cornos do Barroso e um passeio de regresso ao longo da Barragem dos Pisões e das suas povoações, já por terras de Montalegre.
Fica-se sempre à espera que o 20 de Janeiro surja de novo no calendário. São aquelas datas fixas que a juntar às Sextas-Feiras 13 de Montalegre devem constar obrigatoriamente na nossa agenda.