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Há dois dias atrás falei aqui da rapaziada das causas, porque ainda há gente que luta pelas causas, aliás toda a gente luta por uma causa qualquer, mas geralmente, a grande maioria, luta por aquelas que tem a ver com os seus próprios interesses e de onde podem tirar algum proveito. Pois quando há dois dias falava da rapaziada das causas, não era daqueles que apenas se dedicam às suas (deles), mas também às dos outros. Estas causas trazem-me sempre à lembrança um poema de Bertold Brecht [1]
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho emprego
Também não me importei
Agora estão-me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
E já que estou em maré de citações e também porque tem tudo o ver com a rapaziada das causas, deixo mais uma, esta atribuída a Martin Luther King:
“ O que mais me preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem carácter, dos sem ética… o que mais me preocupa é o silêncio dos bons!”
Embora haja por aí quem pense que estas lutas não dão em nada, que é tudo uma macacada ou até quem não concorde com a forma como esta rapaziada se manifesta pelas causas que levam a peito, eu, desde que concorde com aquilo pelo que lutam, não sou dos que se acomodam ao silêncio e, se não estiver fisicamente entre eles, há sempre uma forma de estar com eles e com a causa, nem que seja apenas com uma imagem, como esta que hoje vos deixo de um momento do fim de tarde de ontem, no Monumento em Chaves, em que o Núcleo de Chaves da Amnistia Internacional levou a efeito mais uma ação contra a tortura.
[1] Nunca li o poema editado em livro, no entanto já me cruzei com ele em vários documentos e citado por muita gente como sendo de Brecht. Também há (documentos) em que se insinua ser uma adaptação de um poema de Maiakovski ou de Martin Miemoller, no entanto para o caso o poema até poderia ser do Joaquim dos Plásticos ou do Zé Padeiro (sejam eles quem forem), pois aqui o que interessa mesmo é o poema, que no entanto acredito ser do Brecht mesmo que tivesse bebido alguma inspiração em Maiakovski – e que venha daí o poeta que nunca bebeu inspiração noutro ou outros poetas.