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Como todos os Sábados, hoje vamos até mais uma aldeia: Anelhe.
Anelhe é sede de freguesia, à qual pertencem ainda as aldeias de Souto Velho e Rebordondo.
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Passemos então à sua ficha técnica.
Anelhe – Sede de freguesia
Dados da freguesia
Área:12.09Km2
População residente (Censos 2001) – 538
População residente (Censos 1981) – 601
Nº de Famílias (Censos 2001) – 177
Nº de Edifícios (Censos 2001) – 315
Nº de Eleitores (Legislativas 2005) – 501
Localização: A 15 quilómetros a Sul de Chaves (via E.N. 2) e a 3 a 4 quilómetros de Vidago, fica na margem direita do Rio Tâmega, com o qual a freguesia faz fronteira e ainda com as freguesias de Redondelo, Vilela do Tâmega, Vilarinho das Paranheiras e Arcossó (todas na margem esquerda do rio Tâmega à excepção de Redondelo)). Faz ainda fronteira com o concelho de Boticas.
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No entanto é rica em acessos, pois como já disse, a partir de Chaves, poder-se-á fazer o acesso a Anelhe (aldeia) via E.N.2, até à Ponte Seca, ou seja até ao desvio para Boticas. Também se poderá fazer o acesso via A24, até ao nó de Vidago, com saída em direcção a Chaves e de novo a Ponte Seca. Em alternativa (também a partir de Chaves) o acesso pode ser feito via E.N. 103 (Estrada Braga- Chaves), até Casas Novas, e a partir de aí (por estradas e caminhos municipais, todos pavimentados) toma-se o destino de Rebordondo (aldeia já da freguesia de Anelhe).
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Para os mais aventureiros e pessoal da canoagem, é só seguir a corrente do Tâmega e quando passar por baixo da ponte da A24, está em Anelhe.
Para os que gostam de passear de carro a 50 Km/h num qualquer Domingo, Sábado ou Feriado, recomendo um passeio (para uma tarde ou manhã), com alguns pontos de paragem obrigatória. O itinerário poderá começar no quilómetro 0 (zero) da E.N. 2 em Direcção a Vidago até à Ponte Seca, tomar a estrada de Boticas e logo a seguir primeira paragem obrigatória, a Praia de Vidago. Embora o espaço e a casa esteja abandonada, merece pela sua beleza uma paragem. Na praia abandonar a estrada de Boticas em direcção a Souto Velho, com uma visita ao Largo da Capela e logo a seguir temos Anelhe (paragem obrigatória) a seguir direcção a Redondelo pela estrada florestal (mas asfaltada) por entre um ainda denso pinhal que milagrosamente tem escapado aos incêndios. Em Redondelo a paragem é obrigatória para visita ao casario e ao Solar existente e ainda bem conservado (num post futuro, falaremos dele). A seguir Rebordondo e Casas Novas, também com paragem obrigatória para visita às duas aldeias que na prática é só uma, onde é obrigatório fazer visita demorada a todo o casario e aos os solares, um deles quase a abrir como Hotel Rural. A seguir tomar a E.E. 103 em direcção a Chaves, com paragem obrigatória em Curalha, visita ao Casario, Igreja, Castro, Antiga Estação da CP, moinhos, pontão e Ponte (da CP) sobre o Tâmega) e finalmente de novo a cidade de Chaves. É um dos meus passeios preferidos que recomendo a todos. Se não conseguir visitar tudo com olhos de ver num dia, volte mais tarde e faça o itinerário ao contrário, por exemplo.
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Mas vamos até Anelhe, pois é a nossa aldeia convidada de hoje.
Quando se fala em Anelhe vem logo à ideia os vinhos da terra. De facto Anelhe, bem como todas as encostas de Souto Velho, Vilarinho das Paranheiras e Arcossó, tem uma localização privilegiada para a produção de bons vinhos de qualidade. Dizem que o Branco é excelente. Pessoalmente, dos que conheço, não me importo nada se numa boa mesa começar nos brancos e acabar nos tintos, pois ambos são bons. Pena é que já comecem a aparecer vinhas abandonadas pela tal falta de mão de obra jovem.
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Além da produção de vinho, também é de referir a batata, o milho e o centeio. Mas a fama vai inteirinha para o vinho. É uma aldeia agrícola por excelência com a boa companhia do Rio Tâmega, que muito ajuda.
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Quanto a história, Anelhe serviu de habitat a um povo castrejo, que edificou o seu castro na serra, em terreno xistoso, a uma altitude de cerca de quinhentos metros. Este castro é delimitado pela Geia e pelas Muradelhas, topónimos de sabor muito antigo e possível traçado de uma via romana. Bem próximo da povoação e da nova ponte da A24, encontram-se duas sepulturas antropomórficas (e que segundo o assessor cultural deste blog – piada séria) provavelmente serão do Século III ou IV (D.C.). Se quiser visitá-las, embora o acesso não seja complicado, há que arranjar um guia na aldeia. Para quem gosta, é visita obrigatória. Curiosamente, estas sepulturas não constam de qualquer roteiro e penso mesmo que não estão referenciadas ou protegidas, ou seja, é como se não existissem. Mas disseram-me os meus guias que aquilo é importante e vale muito. Vá lá, que ao menos o povo, ainda lhe dá valor.
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No centro da aldeia, em plano mais elevado que a rua, ergue-se a igreja barroca cuja padroeira é Santa Eulália. Curiosamente (e não é caso único) a festa da aldeia realiza-se dia 3 de Abril se calha num Domingo, ou então no Domingo seguinte a esta data, mas em honra de S. Brás.
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Quase em frente à igreja, do lado oposto da rua, sobre um portal apoia-se um castiço espigueiro em madeira. Aliás Anelhe, de entre as 150 aldeias do concelho, é das poucas que têm espigueiros ou canastros, alguns já fora de uso (claro, o tal mal da falta de gente para a agricultura).
Os famosos de Anelhe
Em Anelhe nasceram e viveram homens notáveis e famosos.
É terra natal do reverendo Joaquim Marcelino da Fontoura, que em 1893 fundou o colégio de S. Joaquim em Chaves, entre tantas outras obras, dignas de registo, que realizou.
Outro notável homem, pelas inúmeras atitudes de benemerência, foi seu sobrinho e comendador Abílio Brenha da Fontoura que embora nascido em Chaves, foi baptizado em Anelhe e fez parte da sua vida no Brasil. Entre outras benfeitorias, mandou edificar uma bela casa em granito, uma escola e um ramal de estrada desde Anelhe à Praia de Vidago, além de uma vivenda construída em meados do Século passado, de autoria do Arq. Anselmo Gomes Teixeira e Arq. Manuel Nunes de Almeida, tão interessante como ousada para a época e ainda perfeitamente actual. Dela dominava as vistas de toda a aldeia e do pequeno vale que se desenvolve junto ao Tâmega.
De relevo nas letras e na defesa do património regional, merece também um destaque especial na galeria de homens notáveis, o Padre João Vaz de Amorim que paroquiou Anelhe.
Outra figura de relevo é ainda Cândido Rodrigues Álvares de Figueiredo e Lima. A escola do primeiro ciclo do ensino básico é frequentada por 13 alunos. Funciona na aldeia a Associação Recreativa e Cultural de Anelhe.
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Mais recentes, vivos e com ligação ainda à aldeia, com casa e muitas visitas, temos o Pintor João Vieira, cujo curriculum e obra por tão extensa, não os vou transcrever, mas antes deixar um link para o ficar a conhecer melhor:
aqui
e também aqui
É o presidente da Associação de Anelhe e pai de outro Vieira, também famoso e popular, nem que seja apenas pelas suas célebres candidaturas a Presidente da República (para ver aqui). Trata-se do Manuel João Vieira, um homem espectáculo e do espectáculo, músico dos Ena Pá 2000 , também com ligações à Pintura e ao Teatro. Também deste são frequentes as aparições por Anelhe.
Disseram-me em tempos, mas nunca o pude comprovar, nem é do conhecimento da aldeia, que a famosa pintora portuguesa (já falecida) Vieira da Silva, também teria origens em Anelhe.
Digamos que de vinho e famosos, Anelhe está muito bem servida.
E para terminar, só falta mesmo abordar o seu símbolo oficial:
Ordenação heráldica do brasão e bandeira
Publicada no Diário da República III Série de 23/07/2003
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Armas - Escudo de verde, palma de ouro posta em pala, entre dois cachos de uvas de ouro, folhados de prata; em campanha, uma lira de ouro. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: “ ANELHE”