Já o disse aqui várias vezes que as minhas ligações ao Barroso acontecem desde criança. De início as minhas idas a Montalegre eram feitas via Estrada Nacional 103 e só mais tarde, anos oitenta, a opção passou a ser via Soutelinho da Raia. Pensava eu que entre ambos os trajetos pouco ou nada existiria para além de montes, serras e planaltos.
Na minha curiosidade de jovem nunca tive os mapas e cartas geográficas na agenda, então havia outras descobertas mais interessantes a fazer e depois tudo tem o seu tempo nos nossos interesses. O meu/nosso território, o nosso passado e a nossa história só em adulto é que começou a despertar interesse. Primeiro por aquilo que me estava mais próximo, depois, naturalmente comecei a alargar os territórios de descoberta.
Primeiro com cartas militares e outras cartas mais ou menos rigorosas, mais ou menos interessantes. Com o boom da informação disponível na internet tudo se tornou mais fácil e a nossa curiosidade foi-se aguçando e refinando, passando a andar por terras nunca antes vistas, visíveis quase ao pormenor com a disponibilização de fotografia aérea de todo o planeta. Se inicialmente andámos perdidos noutros continentes e noutras paragens, depressa passámos à descoberta do desconhecido mais próximo. Nesse desconhecido estava o tal território Barrosão e em especial aquele que mais curiosidade nos despertava.
Como disse no início, pensava eu que entre os meus dois trajetos conhecidos para Montalegre pouco ou nada existiria, mas graças à fotografia aérea fui-me dando conta de como estava enganado e se de facto os montes, serras e planalto estavam lá, também havia alguns aglomerados de casas, aldeias, caminhos e estradas que as interligavam.
Mas mesmo com todo o pormenor da fotografia aérea, a realidade apresenta-se bem diferente. Certo que as imagens digitais nos podem indicar alguns pontos de interesse e a localização dos aglomerados, mas para os conhecer verdadeiramente há que ir lá, sentir as sensações in loco, fazer parte das três dimensões, sentir a sombra das fachadas das casas, o vento a bater-nos nas faces, o frio ou calor a invadi-nos os corpos, desfrutar das melodias dos sons da natureza ou dos chocalhos dos animais domésticos, falar com os residentes, descobrir as suas tradições, apreciar a arquitetura tradicional, eu sei lá, um montão de coisas onde tudo é possível, sobretudo sermos constantemente surpreendidos.
Felizmente temos sido surpreendidos muitas vezes com agradáveis descobertas e nesse tal território que eu pensava ser apenas de montes, serras e planaltos, aconteceram algumas das descobertas mais surpreendentes e a nossa aldeia de hoje, Arcos, foi uma delas. Passemos então a arcos, iniciando pela sua localização e pela forma de chegarmos até lá, como sempre a partir de Chaves.
Iniciemos pelas coordenadas que são 41º 35’ 38.02” N e 7º 40’ 22.86” O, a uma altitude de 900 m a aldeia, mas mesmo ao lado a Srª do Campo a 970m de altura. Para chegarmos até Arcos a partir de Chaves podemos utilizar a Nacional 103 ou a Municipal via Soutelinho da Raia. Se a opção for a Nacional 103, poucos quilómetros a seguir à entrada no concelho de Montalegre e antes do Barracão, quando aparecer a indicação à direita de Vilarinho de Arcos, devemos tomar essa estrada e logo a seguir a Vilarinho temos a aldeia de Arcos.
Se a opção for via Soutelinho, logo após a primeira aldeia de Montalegre, Meixide, devemos optar pela estrada da esquerda em direção a Sarraquinhos e nesta aldeia fazer o desvio para o Antigo de Sarraquinhos e a seguir a esta é Arcos. Mas como sempre aqui fica o nosso mapa com a localização.
E a partir de hoje vamos deixar aqui, sempre, alguma coisa sobre o topónimo da aldeia convidada, tudo graças a uma edição do Ecomuseu – Associação de Barroso, intitulada “Toponímia de Barroso”, de autoria de José Dias Baptista, com um agradecimento especial a Sofia Dias, sem a qual não teríamos chegado ao conhecimento desta importante obra.
Pois na “Toponímia de Barroso”, sobre Arcos, encontrámos o seguinte:
“ Do nome comum latino arcu < arco a que se prendem vários significados e que tem dilatado campo semântico. Todavia, o sentido mais corrente alia-se a objectos arqueados, arredondados, normalmente arcos de pontes, de portas de homenagens, de túmulos. Ora, em Barroso temos arcos de tudo isso: temos o arco do túmulo (arco bem mais recente que este topónimo, na Igreja de Covas do Barroso); de homenagem como é passadiço de Vilarinho Seco (neste caso ao santinho predilecto de quem o erigiu) e eram os arcos que os romanos levantavam mas mais vistos nas praças das cidades aos seus deuses de pés de barro como foram os seus imperadores; de portas, como foi o arco de volta inteira; e arcos de pontes das mais diversas formas. “
E continua:
“Em Arcos não há arcos nenhuns. Mas há um topónimo, não longe da povoação que terá deixado atónitos os primeiros invasores do sítio. Foram os Miomentos, palavra que nos chega pelo latino Monimentu (monumento) e que só pode ser referido a uma quantidade de túmulos. Os romanos gostavam de ser lembrados depois de mortos e, por isso, levantavam os seus túmulos junto das principais vias para que os viandantes os recordassem. Acredito piamente nesta hipótese visto que ali passava a Via Romana. Com o determinativo de Arcos houve mais duas povoações, Vilarinho de Arcos (que ainda existe) e Antigo de Arcos que foi Antigo de Espinho (…) e agora é Antigo de Sarraquinhos por ter mudado da freguesia de Cervos para a de Sarraquinhos.”
E a “Toponímia de Barroso”, conclui:
“- Em 1258 « de villa de Arcos est medietas Domini Regi» INQ 1524. Aparece três vezes nessa forma, como topónimo perfeitamente estabelecido.
Da citação se conclui que metade de Arcos era do rei no princípio da nossa monarquia”
Pois quanto às nossas impressões pessoais sobre esta aldeia, como já atrás o dissemos, foi uma das que nos surpreendeu pela positiva. Primeiro pela sua localização arrumadinha por baixo de uma pequena montanha na croa da qual existe uma capela, como se fosse a cereja em cima do bolo.
Surpreendeu-nos também o conjunto da aldeia e as suas construções típicas transmontanas e barrosas, com o largo da fonte de mergulho/tanque/forno e restante casario a provocarem-nos com tanta beleza, principalmente a fonte e o forno típico do Alto-Barroso com a sua cobertura em grandes lajes de granito e os seus arcos estruturantes interiores com prolongamento saliente nos alçados laterais.
Por último as vistas que desde a aldeia se alcançam e que quase alcançam todo o Barroso, pelo menos vão além da Barragem dos Pisões, chegam até ao Larouco e atingem os concelhos de Chaves e de Boticas. Olhares que se alcançam desde a aldeia, sim, mas é necessário subir até à Capela da Srª do Campo.
E por hoje é tudo. Em palavras e informações sobre a aldeia fomos um pouco parcos mas em compensação fomos generosos na quantidade de imagens, mas o mais impressionante desta aldeia é a de que poderíamos ainda duplicar as imagens e continuariam a ser interessantes. Há aldeias assim, aldeias maravilha aqui tão perto e poucos dão por elas.
Ficam as habituais referências para as nossas consultas e os links para os posts anteriores com aldeias ou temas do Barroso.
Bibliografia
BAPTISTA, José Dias, (2014), Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso
Links para anteriores abordagens ao Barroso:
A
A Água - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-a-agua-1371257
Algures no Barroso: http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-1533459
Amial - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-ameal-1484516
Amiar - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-amiar-1395724
B
Bagulhão - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-bagulhao-1469670
Bustelo - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-bustelo-1505379
C
Castanheira da Chã - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-castanheira-1526991
Cepeda - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-cepeda-1406958
Cervos - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-cervos-1473196
Cortiço - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-1490249
Corva - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-corva-1499531
D
Donões - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-donoes-1446125
F
Fervidelas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-fervidelas-1429294
Fiães do Rio - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-fiaes-do-1432619
Fírvidas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-firvidas-1466833
Frades do Rio - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-frades-do-1440288
G
Gralhas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-gralhas-1374100
Gralhós - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-gralhos-1531210
L
Ladrugães - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-ladrugaes-1520004
Lapela - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-lapela-1435209
M
Meixedo - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-meixedo-1377262
Meixide - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-meixide-1496229
N
Negrões - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-negroes-1511302
O
O colorido selvagem da primavera http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-o-colorido-1390557
Olhando para e desde o Larouco - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-olhando-1426886
Ormeche - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-ormeche-1540443
P
Padornelos - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-padornelos-1381152
Padroso - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-padroso-1384428
Paio Afonso - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-paio-afonso-1451464
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R
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T
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U
Um olhar sobre o Larouco - http://chaves.blogs.sapo.pt/2016/06/19/
V
Vilar de Perdizes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1360900
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Vilarinho de Arcos - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilarinho-1508489
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Vilaça - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilaca-1493232
Vilar de Perdizes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1360900
Vilar de Perdizes /Padre Fontes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1358489
Vilarinho de Negrões - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilarinho-1393643
X
Xertelo - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-xertelo-1458784
Z
Zebral - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-zebral-1503453