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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

25
Mai08

Abobeleira - Chaves - Portugal


 

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Então hoje vamos até mais uma aldeia, vamos até a Abobeleira.

 

Se não conhecer ou não conhecesse a Abobeleira e por uma razão qualquer acordasse no Largo do Cruzeiro, diria que estava numa daquelas aldeias rurais típicas do nosso concelho, lá para o meio de uma montanha qualquer, pois ainda é assim (felizmente) que ainda se vive e sente o seu núcleo. Mas tudo não passa de uma ilusão.

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Na realidade a Abobeleira fica a apenas três quilómetros de Chaves e, entre a aldeia e a cidade de Chaves já não há separação física, o mesmo acontece entre a aldeia e a sede de freguesia, Valdanta. A proximidade da cidade e a sua boa localização geográfica, tornaram-na apetecível para novas construções. Ainda bem que o apetite só deu para moradias e não para mamarrachos, para já, pois aos poucos a cidade vai crescendo e é para os lados da Abobeleira que a cidade do betão tem tendência a crescer. Posso estar enganado, mas pela certa que daqui a umas boas dezenas de anos, a continuar tudo como até aqui, a Abobeleira estará irreconhecível.

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Todos sabemos, ou melhor, alguns sabem, que toda a freguesia de Valdanta, histórica e arqueologicamente falando é rica em vestígios e mesmo ruínas de antigas construções romanas e não só. Começando pelos importantes vestígios romanos encontrados na Granjinha, para além da sua Igreja Românica, a mais antiga da região, passando para o Outeiro Machado, as antigas minas de ouro nas redondezas do Outeiro Machado, à barragem Romana da Abobeleira, entre outros, tudo indica que a freguesia se desenvolveu em cima de um autêntico tesouro arqueológico, algum já descoberto e muito dele (estou em crer) ainda por descobrir.

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Sei que alguns destes tesouros, pelo menos os que mencionei, são do conhecimento das entidades e de alguns flavienses, pelo menos dos habitantes naturais da freguesia. Apenas isso. Os habitantes da freguesia nada podem fazer por todo esse tesouro para além de o respeitarem e acarinharem como podem, mas as entidades interessadas (ou que deveriam ser) e as que tutelam todo este tipo de património têm responsabilidades e medidas (algumas urgentes) a tomar sobre todo o património histórico, cultural e arqueológico da freguesia de Valdanta, antes (como de costume) que seja tarde.

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A Câmara Municipal, a Região de Turismo e o IGESPAR ou seja lá quem for que tutela esta coisas, são algumas das entidades que pura e simplesmente (sem o ignorar) desprezam todo este património. Só a título de curiosidade, quando tomei estas fotos da Abobeleira lembrei-me de, mais uma vez, ir ao Outeiro Machado, e mais uma vez, andei aos papeis para o encontrar e chegado lá, para além de não haver qualquer tipo de referência ao seu valor histórico e patrimonial, encontrei-o envolto de vegetação selvagem algum lixo e até restos de uma barraca e fogueiras feitas em cima de tão valioso património. Garanto-vos que quem nunca lá foi e tome a iniciativa de ir até lá por conta própria, não encontra o Outeiro Machado e, até é bom que nem o encontre, pois é uma triste imagem daquilo a que se chama preservar, o que por lá se encontra. Admira-me até que ainda lá esteja e nunca nenhum empreiteiro se tivesse lembrado de o desfazer para fazer perpianho, cubos de calçada ou rachão para uma estrada qualquer. Já não seria a primeira vez, pois quando este blog for por Mairos, conto-vos de onde são algumas das “pedras” que ajudaram a fazer a barragem de Mairos ou o que aconteceu aos fornos romanos de Outeiro Seco. 

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Mas hoje é sobre a Abobeleira que se fala, e um dos tesouros que têm nas suas terras é a antiga Barragem Romana, onde camuflados por entre vegetação selvagem, ainda existem importantes vestígios da sua estrutura, e que tal como o Outeiro Machado, pouca gente conhece a sua localização ou até existência e, apenas se trata, da barragem que fazia o abastecimento de água à antiga cidade romana de Aquae Flaviae. Eu, embora nada perceba do assunto, penso que, o que ainda existe por lá, é importante demais para estar esquecido e desprezado.

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Tive esperanças, porque ouvi dizer que constava do projecto, que o Casino de Chaves iria tratar, revitalizar e honrar toda aquela zona da antiga barragem romana. Mas penso que apenas sonhei com isso, pois há dias quando passei pelo caminho que liga a Abobeleira à Fonte do Leite, reparei que toda a zona do casino está vedada e não há qualquer ligação ou tratamento dessa zona. Ou seja, continua ignorada e dotada ao desprezo natural dos dias, e esta, nem sequer tem uma plaquinha que seja nas redondezas a assinalar que por ali existiu ou ainda existem importantes vestígios romanos onde são ainda visíveis alguns dos muros. Os historiadores e arqueólogos (ao que parece serem os únicos interessados) dizem ser uma construção muito invulgar e que originariamente os muros da barragem teriam na base 5 metros de largura, atingindo cerca de 20 metros de altura e a sua albufeira definida ser consideravelmente grande, podendo ter-se estendido até à povoação de Sanjurge e a Outeiro Machado. Há quem defenda também que esta barragem serviu para fornecer água para lavagens nas  minas romanas que teriam existido em Outeiro Machado.

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Pois antes do grande betão ($) avançar por terras da Abobeleira seria bom delimitar estes tesouros e outros tesouros como ainda o é o núcleo histórico da própria aldeia que ainda matem a sua traça e as suas construções tradicionais quase invioláveis onde notei também algumas reconstruções que não destoam muito do conjunto.

 

A Abobeleira poderá fazer parte de um “Santuário” histórico, arqueológico e turístico, com turismo da especialidade e de qualidade.

 

Quanto a santuários religiosos e à margem da belíssima capela (embora humilde) e da igreja moderna e nobremente localizada Abobeleira tem também um pequeno santuário, fruto de uma promessa de um particular, com vistas privilegiadas para a tal barragem romana e porta aberta para o “pecado do jogo”, onde não falta um curioso jardim, muitas obras de arte de cantaria e até mesa de merendas, ao que apurei, tudo obra de um só habitante e construído às suas custas e que para ser um importante santuário, só lhe falta mesmo a dimensão e talvez um milagre. Mas bem poderia partir desde ali o caminho para a antiga barragem, tratada, com um pouco da sua história e até quem sabe para um futuro museu da barragem e da romanização. Talvez seja esse o milagre que falta a tão curioso santuário.

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E que mais há para dizer da Abobeleira!? Talvez que embora a proximidade da cidade, o atractivo tem sido apenas os seus terrenos circundantes que foram sendo invadidos por forasteiros, enquanto o seu núcleo sofre o mal das restantes aldeias, com o seu envelhecimento, degradação e abandono de algumas das suas casas tradicionais, ou seja, o despovoamento do seu núcleo histórico (embora pouco) também é visível.

 

Quanto ao Casino, implantado em terras da Abobeleira e paredes-meias com a aldeia, apenas tem vistas para ela e vice-versa. Parece mesmo que a ribeira de Sanjurge ou o nosso Ribelas (talvez alguém da freguesia ajude quanto ao nome da ribeira na sua passagem pela Abobeleira) divide fisicamente o poder, o dinheiro e as altas tecnologias de uma aldeia simples, rural e pobre que segundo sei e alguns se queixam, não tira qualquer dividendo por tão importante casa de fazer ou jogar dinheiro, enquanto que as rãs, nessa mesma divisória, no seu coaxar no pequeno lago de águas puras, vai debitando os sons de verão para delicia de todos, ou seja da aldeia rural da Abobeleira e do Hotel urbano de um casino com sons do campo.

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Ainda a respeito do casino. Nada tenho contra a sua existência, penso que é até uma mais valia para a cidade e para a região que atrai muita gente de fora (e também de dentro) que poderá (assim o saibam aproveitar) contribuir para a riqueza turística da região, mas penso também, que a freguesia que o acolhe, deveria beneficiar directamente com a sua implantação, como, não o sei, mas poderia muito bem passar por financiar, tratar e promover os tais tesouros históricos que a freguesia tem e que lhe ficam mesmo ao lado. É apenas uma ideia, e se, tanto quanto sei os concelhos vizinhos recebem dividendos pela implantação do casino em Chaves, porque é que a freguesia não os recebe. Se por acaso os recebe, peço desculpas pela minha distracção e ignorância.

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E penso que sobre a Abobeleira é tudo. Gosto do seu interessante núcleo histórico e de toda a paisagem campestre entre a aldeia e Sanjurge, mesmo tendo a modernidade de uma auto-estrada pelo meio. Do que é novo e se foi construindo entre a aldeia e a cidade ou Valdanta, é o banal, das novas moradias com muros altos e com pessoas lá dentro, uns sentados no sofá em frente à televisão enquanto os putos se vão entretendo no computador a teclar nos chats, a viajar pela Internet ou nos jogos online.

 

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Por falar em online, a votação sobre a ponta romana, continua à espera do seu voto, aqui ao lado, na barra lateral.

 

Até amanhã, com mais Chaves em movimento.

 

Sensatez irá prevalecer

05
Abr08

Anelhe - Chaves - Portugal




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Como todos os Sábados, hoje vamos até mais uma aldeia: Anelhe.

 

Anelhe é sede de freguesia, à qual pertencem ainda as aldeias de Souto Velho e Rebordondo.

 

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Passemos então à sua ficha técnica.

 

Anelhe – Sede de freguesia

Dados da freguesia

Área:12.09Km2

População residente (Censos 2001) – 538

População residente (Censos 1981) – 601

Nº de Famílias (Censos 2001) – 177

Nº de Edifícios (Censos 2001) – 315

Nº de Eleitores (Legislativas 2005) – 501

Localização: A 15 quilómetros a Sul de Chaves (via E.N. 2) e a 3 a 4 quilómetros de Vidago,  fica na margem direita do Rio Tâmega, com o qual a freguesia faz fronteira e ainda com as freguesias de Redondelo, Vilela do Tâmega, Vilarinho das Paranheiras e Arcossó (todas na margem esquerda do rio Tâmega à excepção de Redondelo)). Faz ainda fronteira com o concelho de Boticas.

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No entanto é rica em acessos, pois como já disse, a partir de Chaves, poder-se-á fazer o acesso a Anelhe (aldeia) via E.N.2, até à Ponte Seca, ou seja até ao desvio para Boticas. Também se poderá fazer o acesso via A24, até ao nó de Vidago, com saída em direcção a Chaves e de novo a Ponte Seca. Em alternativa (também a partir de Chaves) o acesso pode ser feito via E.N. 103 (Estrada Braga- Chaves), até Casas Novas, e a partir de aí (por estradas e caminhos municipais, todos pavimentados) toma-se o destino de Rebordondo (aldeia já da freguesia de Anelhe).

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Para os mais aventureiros e pessoal da canoagem, é só seguir a corrente do Tâmega e quando passar por baixo da ponte da A24, está em Anelhe.

 

Para os que gostam de passear de carro a 50 Km/h num qualquer Domingo, Sábado ou Feriado, recomendo um passeio (para uma tarde ou manhã), com alguns pontos de paragem obrigatória. O itinerário poderá começar no quilómetro 0 (zero) da E.N. 2 em Direcção a Vidago até à Ponte Seca, tomar a estrada de Boticas e logo a seguir primeira paragem obrigatória, a Praia de Vidago. Embora o espaço e a casa esteja abandonada, merece pela sua beleza uma paragem. Na praia abandonar a estrada de Boticas em direcção a Souto Velho, com uma visita ao Largo da Capela e logo a seguir temos Anelhe (paragem obrigatória) a seguir direcção a Redondelo pela estrada florestal (mas asfaltada) por entre um ainda denso pinhal que milagrosamente tem escapado aos incêndios. Em Redondelo a paragem é obrigatória para visita ao casario e ao Solar existente e ainda bem conservado (num post futuro, falaremos dele). A seguir Rebordondo e Casas Novas, também com paragem obrigatória para visita às duas aldeias que na prática é só uma, onde é obrigatório fazer visita demorada a todo o casario e aos os solares, um deles quase a abrir como Hotel Rural. A seguir tomar a E.E. 103 em direcção a Chaves, com paragem obrigatória em Curalha, visita ao Casario, Igreja, Castro, Antiga Estação da CP, moinhos, pontão e Ponte (da CP) sobre o Tâmega) e finalmente de novo a cidade de Chaves. É um dos meus passeios preferidos que recomendo a todos. Se não conseguir visitar tudo com olhos de ver num dia, volte mais tarde e faça o itinerário ao contrário, por exemplo.

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Mas vamos até Anelhe, pois é a nossa aldeia convidada de hoje.

 

Quando se fala em Anelhe vem logo à ideia os vinhos da terra. De facto Anelhe, bem como todas as encostas de Souto Velho, Vilarinho das Paranheiras e Arcossó,  tem uma localização privilegiada para a produção de bons vinhos de qualidade. Dizem que o Branco é excelente. Pessoalmente, dos que conheço, não me importo nada se numa boa mesa começar nos brancos e acabar nos tintos, pois ambos são bons. Pena é que já comecem a aparecer vinhas abandonadas pela tal falta de mão de obra jovem.

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Além da produção de vinho,  também é de referir a batata, o milho e o centeio. Mas a fama vai inteirinha para o vinho. É uma aldeia agrícola por excelência com a boa companhia do Rio Tâmega, que muito ajuda.

 

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Quanto a história, Anelhe serviu  de habitat a um povo castrejo, que edificou o seu castro na serra, em terreno xistoso, a uma altitude de cerca de quinhentos metros. Este castro é delimitado pela Geia e pelas Muradelhas, topónimos de sabor muito antigo e possível traçado de uma via romana. Bem próximo da povoação e da nova ponte da A24, encontram-se duas sepulturas antropomórficas (e que segundo o assessor cultural deste blog – piada séria) provavelmente serão do Século III ou IV (D.C.). Se quiser visitá-las, embora o acesso não seja complicado, há que arranjar um guia na aldeia. Para quem gosta, é visita obrigatória. Curiosamente, estas sepulturas não constam de qualquer roteiro e penso mesmo que não estão referenciadas ou protegidas, ou seja, é como se não existissem. Mas disseram-me os meus guias que aquilo é importante e vale muito. Vá lá, que ao menos o povo, ainda lhe dá valor.

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No centro da aldeia, em plano mais elevado que a rua, ergue-se a igreja barroca cuja padroeira é Santa Eulália. Curiosamente (e não é caso único) a festa da aldeia realiza-se dia 3 de Abril se calha num Domingo, ou então no Domingo seguinte a esta data, mas em honra de S. Brás.

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Quase em frente à igreja, do lado oposto da rua, sobre um portal apoia-se um castiço espigueiro em madeira. Aliás Anelhe, de entre as 150 aldeias do concelho, é das poucas que têm espigueiros ou canastros, alguns já fora de uso (claro, o tal mal da falta de gente para a agricultura).

 

 

 

Os famosos de Anelhe

Em Anelhe nasceram e viveram homens notáveis e famosos.

É terra natal do reverendo Joaquim Marcelino da Fontoura, que em 1893 fundou o colégio de S. Joaquim em Chaves, entre tantas outras obras, dignas de registo, que realizou.

 

Outro notável homem, pelas inúmeras atitudes de benemerência, foi seu sobrinho e comendador Abílio Brenha da Fontoura que embora nascido em Chaves, foi baptizado em Anelhe e fez parte da sua vida no Brasil. Entre outras benfeitorias, mandou edificar uma bela casa em granito, uma escola e um ramal de estrada desde Anelhe à Praia de Vidago, além de uma vivenda construída em meados do Século passado, de autoria do Arq. Anselmo Gomes Teixeira e Arq. Manuel Nunes de Almeida, tão interessante como ousada para a época e ainda perfeitamente actual. Dela dominava as vistas de toda a aldeia e do pequeno vale que se desenvolve junto ao Tâmega.

 

De relevo nas letras e na defesa do património regional, merece também um destaque especial na galeria de homens notáveis, o Padre João Vaz de Amorim que paroquiou Anelhe.

Outra figura de relevo é ainda Cândido Rodrigues Álvares de Figueiredo e Lima. A escola do primeiro ciclo do ensino básico é frequentada por 13 alunos. Funciona na aldeia a Associação Recreativa e Cultural de Anelhe.

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Mais recentes, vivos e com ligação ainda à aldeia, com casa e muitas visitas, temos o Pintor João Vieira, cujo curriculum e obra por tão extensa, não os vou transcrever, mas antes deixar um link para o ficar a conhecer melhor:

 

 

aqui

 

e também  aqui

 

É o presidente da Associação de Anelhe e pai de outro Vieira, também famoso e popular, nem que seja apenas pelas suas célebres candidaturas a Presidente da República (para ver aqui). Trata-se do Manuel João Vieira, um homem espectáculo e do espectáculo, músico dos  Ena Pá 2000 , também com ligações à Pintura e ao Teatro. Também deste são frequentes as aparições por Anelhe.

 

Disseram-me em tempos, mas nunca o pude comprovar, nem é do conhecimento da aldeia, que a famosa pintora portuguesa (já falecida) Vieira da Silva, também teria origens em Anelhe.

 

Digamos que de vinho e famosos, Anelhe está muito bem servida.

 

E para terminar, só falta mesmo abordar o seu símbolo oficial:

 

 

Ordenação heráldica do brasão e bandeira
Publicada no Diário da República III Série de 23/07/2003



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Armas - Escudo de verde, palma de ouro posta em pala, entre dois cachos de uvas de ouro, folhados de prata; em campanha, uma lira de ouro. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: “ ANELHE”
03
Jul07

7 Maravilhas de Chaves - Vestígios de Aquae Flaviae


 

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Como sabem esta semana andamos à volta das 7 Maravilhas de Chaves.
 
Em Março passado, quando o blog lançou a ideia das 7 Maravilhas, um dos nossos visitantes votou nos “vestígios de Aquae Flaviae que ainda se encontram por escavar”. Pois hoje vamos  “escavar” ou pouco dessa Aquae Flaviae.
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Já várias vezes o disse aqui, que em Chaves, basta dobrar uma esquina ou abrir um buraco e encontramos logo um “pedaço” de história com pelo menos umas centenas ou milhares de anos. A prova disso mesmo está nas obras recentes levadas a efeito no Largo do Arrabalde, no Jardim Público e na Rua Bispo Idácio (no futuro arquivo municipal). No largo do Arrabalde ficou a descoberto parte do baluarte da muralha seiscentista, mas as escavações ainda estão a decorrer e já se sabe que também há construções romanas. No Jardim Público, além de vestígios da muralha seiscentista foram encontradas várias ossadas humanas, ao que parece numa vala comum, talvez relacionada com as invasões francesas, a julgar pelos botões encontrados na vala e que tudo leva a crer serem de fardas militares. Na Rua Bispo Idácio, onde as escavações estão quase concluídas, aos olhos de um leigo como eu, penso que foi encontrado um autêntico tesouro, ou vários tesouros arqueológicos e históricos desde a época romana até aos tempos mais recentes.
 
Mas a César o que é de César e melhor que as palavras de um leigo, são mesmo as palavras de um especialista na matéria, do arqueólogo responsável pelas escavações, o Dr. César Guedes, que gentilmente nos cedeu algumas fotos e algumas notas sobre a escavação em curso.
 
Intervenção arqueológica na Rua do Bispo Idácio
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  • Os trabalhos de arqueologia foram adjudicados à empresa Arqueologia & Património, Lda.

  • A fachada posterior do edifício assenta integralmente nos alicerces da Muralha Medieval que defendia a Cidade de Chaves tendo este facto condicionado a obra (futuro Arquivo Histórico de Chaves) à execução de trabalhos arqueológicos.
 
  • Os trabalhos arqueológicos iniciaram-se em Janeiro de 2007 com a abertura de cinco sondagens no interior do edifício. Neste momento decorre a escavação em área do logradouro.

  • Das sondagens efectuadas no interior do edifício, resultou o aparecimento de diversos muros, entre os quais um que apresentava ainda a soleira de uma porta, com os respectivos gonzos. (Foto 1)

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  • Do espólio exumado devemos salientar o aparecimento de inúmeros fragmentos de cerâmica, vidro e sobretudo de várias moedas de diferentes cronologias de entre as quais destacamos uma moeda visigótica em ouro cunhada em Mérida durante o reinado de Égica (687-702). (Foto 2  e 3)

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  • A escavação integral do logradouro deste edifício revelou-nos uma série de estruturas de diferentes cronologias que atestam a intensa ocupação deste espaço desde época Romana até aos nossos dias.

  • De época medieval observamos o alicerce da muralha à qual, com o decorrer da escavação arqueológica, se veio associar um grande fosso que impediria o acesso à muralha complementado assim as estruturas defensivas da Cidade. (Foto 4)

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  • Anterior à construção da muralha medieval, observamos uma pequena necrópole, onde se encontravam sepultados cinco indivíduos. O estudo antropológico efectuado permitiu identificar um indivíduo do sexo feminino e uma criança, sendo inconclusivas as análises efectuadas aos outros indivíduos devido à má conservação dos restos osteológicos. As sepulturas apresentavam contornos antropomórficos. (Foto 5e 6).

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  • Dos vários muros que surgiram no decorrer da intervenção arqueológica no logradouro, destacamos o que acompanha a orientação da fachada posterior do edifício. É um muro com aparelho cuidado de fiadas regulares e que atinge cerca de 2 m de altura. Este muro relaciona-se com os muros expostos pelas sondagens efectuadas no interior do actual edifício.

  • A área do logradouro é compartimentada por vários muros de fraco aparelho construtivo com uma orientação Este – Oeste.

  • Devemos referir ainda o aparecimento de um pequeno lanço de três degraus associado a uma pequena cloaca. (Foto 7)

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  • Do espólio exumado destacamos a grande quantidade de cerâmica (comum, paredes finas, terra sigillata, fragmentos de lucernas etç…); vidros; moedas romanas e fragmentos de fíbulas etç…
E por hoje vai sendo tudo neste já longo post, só resta mesmo agradecer a Empresa Arqueologia & Património Ldª e ao Dr. César Guedes, sem os quais este post não seria possível e lembrar mais uma vez, que até dia 07/07/07 estão em votação as nossas maravilhas flavienses.
 
Se ainda não votou, aproveite para faze-lo agora, deixando o seu comentário com as suas 7 maravilhas flavienses, cuja listagem está disponível nos post’s anteriores.
 
Até amanhã

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