Abobeleira - Chaves - Portugal
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Então hoje vamos até mais uma aldeia, vamos até a Abobeleira.
Se não conhecer ou não conhecesse a Abobeleira e por uma razão qualquer acordasse no Largo do Cruzeiro, diria que estava numa daquelas aldeias rurais típicas do nosso concelho, lá para o meio de uma montanha qualquer, pois ainda é assim (felizmente) que ainda se vive e sente o seu núcleo. Mas tudo não passa de uma ilusão.
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Na realidade a Abobeleira fica a apenas três quilómetros de Chaves e, entre a aldeia e a cidade de Chaves já não há separação física, o mesmo acontece entre a aldeia e a sede de freguesia, Valdanta. A proximidade da cidade e a sua boa localização geográfica, tornaram-na apetecível para novas construções. Ainda bem que o apetite só deu para moradias e não para mamarrachos, para já, pois aos poucos a cidade vai crescendo e é para os lados da Abobeleira que a cidade do betão tem tendência a crescer. Posso estar enganado, mas pela certa que daqui a umas boas dezenas de anos, a continuar tudo como até aqui, a Abobeleira estará irreconhecível.
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Todos sabemos, ou melhor, alguns sabem, que toda a freguesia de Valdanta, histórica e arqueologicamente falando é rica em vestígios e mesmo ruínas de antigas construções romanas e não só. Começando pelos importantes vestígios romanos encontrados na Granjinha, para além da sua Igreja Românica, a mais antiga da região, passando para o Outeiro Machado, as antigas minas de ouro nas redondezas do Outeiro Machado, à barragem Romana da Abobeleira, entre outros, tudo indica que a freguesia se desenvolveu em cima de um autêntico tesouro arqueológico, algum já descoberto e muito dele (estou em crer) ainda por descobrir.
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Sei que alguns destes tesouros, pelo menos os que mencionei, são do conhecimento das entidades e de alguns flavienses, pelo menos dos habitantes naturais da freguesia. Apenas isso. Os habitantes da freguesia nada podem fazer por todo esse tesouro para além de o respeitarem e acarinharem como podem, mas as entidades interessadas (ou que deveriam ser) e as que tutelam todo este tipo de património têm responsabilidades e medidas (algumas urgentes) a tomar sobre todo o património histórico, cultural e arqueológico da freguesia de Valdanta, antes (como de costume) que seja tarde.
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A Câmara Municipal, a Região de Turismo e o IGESPAR ou seja lá quem for que tutela esta coisas, são algumas das entidades que pura e simplesmente (sem o ignorar) desprezam todo este património. Só a título de curiosidade, quando tomei estas fotos da Abobeleira lembrei-me de, mais uma vez, ir ao Outeiro Machado, e mais uma vez, andei aos papeis para o encontrar e chegado lá, para além de não haver qualquer tipo de referência ao seu valor histórico e patrimonial, encontrei-o envolto de vegetação selvagem algum lixo e até restos de uma barraca e fogueiras feitas em cima de tão valioso património. Garanto-vos que quem nunca lá foi e tome a iniciativa de ir até lá por conta própria, não encontra o Outeiro Machado e, até é bom que nem o encontre, pois é uma triste imagem daquilo a que se chama preservar, o que por lá se encontra. Admira-me até que ainda lá esteja e nunca nenhum empreiteiro se tivesse lembrado de o desfazer para fazer perpianho, cubos de calçada ou rachão para uma estrada qualquer. Já não seria a primeira vez, pois quando este blog for por Mairos, conto-vos de onde são algumas das “pedras” que ajudaram a fazer a barragem de Mairos ou o que aconteceu aos fornos romanos de Outeiro Seco.
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Mas hoje é sobre a Abobeleira que se fala, e um dos tesouros que têm nas suas terras é a antiga Barragem Romana, onde camuflados por entre vegetação selvagem, ainda existem importantes vestígios da sua estrutura, e que tal como o Outeiro Machado, pouca gente conhece a sua localização ou até existência e, apenas se trata, da barragem que fazia o abastecimento de água à antiga cidade romana de Aquae Flaviae. Eu, embora nada perceba do assunto, penso que, o que ainda existe por lá, é importante demais para estar esquecido e desprezado.
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Tive esperanças, porque ouvi dizer que constava do projecto, que o Casino de Chaves iria tratar, revitalizar e honrar toda aquela zona da antiga barragem romana. Mas penso que apenas sonhei com isso, pois há dias quando passei pelo caminho que liga a Abobeleira à Fonte do Leite, reparei que toda a zona do casino está vedada e não há qualquer ligação ou tratamento dessa zona. Ou seja, continua ignorada e dotada ao desprezo natural dos dias, e esta, nem sequer tem uma plaquinha que seja nas redondezas a assinalar que por ali existiu ou ainda existem importantes vestígios romanos onde são ainda visíveis alguns dos muros. Os historiadores e arqueólogos (ao que parece serem os únicos interessados) dizem ser uma construção muito invulgar e que originariamente os muros da barragem teriam na base
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Pois antes do grande betão ($) avançar por terras da Abobeleira seria bom delimitar estes tesouros e outros tesouros como ainda o é o núcleo histórico da própria aldeia que ainda matem a sua traça e as suas construções tradicionais quase invioláveis onde notei também algumas reconstruções que não destoam muito do conjunto.
A Abobeleira poderá fazer parte de um “Santuário” histórico, arqueológico e turístico, com turismo da especialidade e de qualidade.
Quanto a santuários religiosos e à margem da belíssima capela (embora humilde) e da igreja moderna e nobremente localizada Abobeleira tem também um pequeno santuário, fruto de uma promessa de um particular, com vistas privilegiadas para a tal barragem romana e porta aberta para o “pecado do jogo”, onde não falta um curioso jardim, muitas obras de arte de cantaria e até mesa de merendas, ao que apurei, tudo obra de um só habitante e construído às suas custas e que para ser um importante santuário, só lhe falta mesmo a dimensão e talvez um milagre. Mas bem poderia partir desde ali o caminho para a antiga barragem, tratada, com um pouco da sua história e até quem sabe para um futuro museu da barragem e da romanização. Talvez seja esse o milagre que falta a tão curioso santuário.
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E que mais há para dizer da Abobeleira!? Talvez que embora a proximidade da cidade, o atractivo tem sido apenas os seus terrenos circundantes que foram sendo invadidos por forasteiros, enquanto o seu núcleo sofre o mal das restantes aldeias, com o seu envelhecimento, degradação e abandono de algumas das suas casas tradicionais, ou seja, o despovoamento do seu núcleo histórico (embora pouco) também é visível.
Quanto ao Casino, implantado em terras da Abobeleira e paredes-meias com a aldeia, apenas tem vistas para ela e vice-versa. Parece mesmo que a ribeira de Sanjurge ou o nosso Ribelas (talvez alguém da freguesia ajude quanto ao nome da ribeira na sua passagem pela Abobeleira) divide fisicamente o poder, o dinheiro e as altas tecnologias de uma aldeia simples, rural e pobre que segundo sei e alguns se queixam, não tira qualquer dividendo por tão importante casa de fazer ou jogar dinheiro, enquanto que as rãs, nessa mesma divisória, no seu coaxar no pequeno lago de águas puras, vai debitando os sons de verão para delicia de todos, ou seja da aldeia rural da Abobeleira e do Hotel urbano de um casino com sons do campo.
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Ainda a respeito do casino. Nada tenho contra a sua existência, penso que é até uma mais valia para a cidade e para a região que atrai muita gente de fora (e também de dentro) que poderá (assim o saibam aproveitar) contribuir para a riqueza turística da região, mas penso também, que a freguesia que o acolhe, deveria beneficiar directamente com a sua implantação, como, não o sei, mas poderia muito bem passar por financiar, tratar e promover os tais tesouros históricos que a freguesia tem e que lhe ficam mesmo ao lado. É apenas uma ideia, e se, tanto quanto sei os concelhos vizinhos recebem dividendos pela implantação do casino em Chaves, porque é que a freguesia não os recebe. Se por acaso os recebe, peço desculpas pela minha distracção e ignorância.
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E penso que sobre a Abobeleira é tudo. Gosto do seu interessante núcleo histórico e de toda a paisagem campestre entre a aldeia e Sanjurge, mesmo tendo a modernidade de uma auto-estrada pelo meio. Do que é novo e se foi construindo entre a aldeia e a cidade ou Valdanta, é o banal, das novas moradias com muros altos e com pessoas lá dentro, uns sentados no sofá em frente à televisão enquanto os putos se vão entretendo no computador a teclar nos chats, a viajar pela Internet ou nos jogos online.
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Por falar em online, a votação sobre a ponta romana, continua à espera do seu voto, aqui ao lado, na barra lateral.
Até amanhã, com mais Chaves em movimento.
Sensatez irá prevalecer