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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

13
Abr09

Flavienses Ilustres - Artur Maria Afonso - Poeta mimoso -1


1ª Parte

 

Chaves - Canto do Rio - 1936 - Nadir Afonso

 

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CHAVES

 

Certamente foi assim

Que Deus bom e poderoso

Fez este rincão formoso,

Fez este invulgar jardim:

 

O Sábio da Criação,

Nun dia d’ispiração

E graça omnipotente

Entendeu em seu juízo

Pôr na terra um paraíso

Ideal, surpreendente!

 

Seria ao formar os montes,

Que fitando os Horizontes

Disse consigo: - É ali…

É ali que vou fazer

Um paraíso a valer!

E com mão maravilhosa

Como igual outra não vi.

Traçou a Veiga formosa,

Desenhou CHAVES aqui!

 

Teve a ideia, o cuidado

De fazer brotar ao lado

Umas águas muito raras,

Muito quentes, alcalinas,

De qualidades divinas!

Deu-lhe mimosas searas

E mais fontes cristalinas.

 

Deu-lhe o Tâmega saudoso

Partindo Chaves ao meio

Para no Verão calmoso

Lhe beijar risonho o seio.

E para a resguardar bem

Lançou-lhe serra em roda

Que nenhuma terra tem.

 

Deu-lhe pombais, deu-lhe rosas,

Deu-lhe frutas saborosas

E o relevante condão

De ter fortes e muralhas

Para nas rudes batalhas

Conter alheia traição.

 

Deu-lhe capelas piedosas

Ungidas de devoção…

Deu-lhe moitas odorosas

De rosmaninho e serpão.

Deu-lhe fartos arredores,

Alegres, ao sol abertos

De mil tentações cobertos

Que fazem sonhar amores.

 

E dentre os prémios mais finos

Fez-lhe uma mercê louçã

Para adoçar seus destinos:

Deu-lhe rostos femininos

Rivais do sol da manhã!

 

Criou-lhe o matriz dos vales,

Deu-lhe paz e deu-lhe ainda

O doce canto das aves

P’rá fazer mais bela e linda!

 

Para fazer-te princesa

Deu-lhe brilhos…tantos…tantos,

Que não pôde concerteza

Legar-te maior beleza

Ó Éden dos meus encantos!

 

Depois da obra ridente

O construtor excelente

Regressou à concha astral,

Deixando entre estas serras

A mais formosa das terras

De quantas tem Portugal!

 

Chaves, 9.Set.1938

In o livro de poesias “Auras Perfumadas”

 

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Artur Maria Afonso, Poeta

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Sem dúvida alguma que nunca Chaves foi tão bem cantada como o é neste poema que,  bem poderia ser a letra de um hino a Chaves.

 

É este poeta que tão bem cantou a cidade de Chaves neste e muitos mais poemas, o nosso convidado de hoje, poeta e ilustre flaviense que dá pelo nome de Artur Maria Afonso.

 

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Palmira Rodrigues e Artur Maria Afonso

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Artur Maria Afonso nasceu em Montalegre em 17 de Março de 1882, na casa da Crujeira. Era o filho mais velho de João Maria Afonso e de Orísia Ferreira da Silva. Quando era criança os pais mudaram-se para Lisboa (e em Lisboa faleceram) tendo ficado o pequeno Artur a viver em Montalegre com os tios António de Carvalho e Maria Ferreira da Silva, ambos professores de instrução primária e que se encarregaram de lhe ministrar uma educação condigna. Faleceu em Chaves na sua residência,  em 2 de Julho de 1961. Casou em 1918 com Palmira Rodrigues, filha do Major Augusto Rodrigues e de Felisbina Rua, de Sapelos, Boticas.

 

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Foto de casamento de Palmira Rodrigues com Artur Maria Afonso, tomada em casa de António Vilhena, Casas Novas, onde foi realizado o casamento. Na foto, além dos noivos e familiares estão na segunda fila o Dr. António Granjo, Nicolau mesquita e António Vilhena.

 

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Artur Maria Afonso trabalhou como aspirante de Finanças na vila de Montalegre e mestre-escola em Cambezes do Rio.  Desde muito novo que se dedicou às letras, tendo fundado e dirigido, com apenas 18 anos e ainda em Montalegre, o jornal “ O Barrosão”.  

 

 Antes de se fixar definitivamente em Chaves trabalhou na Repartição de finanças em Odmira e Murça e regressou a Chaves.

 

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Veiga de Chaves - 1946 - Nadir Afonso

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Ao longo da sua vida desenvolveu uma vasta actividade literária, tendo já em Chaves, colaborado com todos os jornais que por cá se publicaram, como o “Intansigente”, o “Aquae Flaviae”, “O comércio de Chaves”, o “Ecos de Chaves” e a “A Voz de Trás-os-Montes” de Vila Real.

 

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Foto tomada nas escadas do então Hotel Flávia (Junto ao Jardim Publico e actualmente propriedade do Dr.Pinheiro). Em primeiro plano estão Artur Maria Afonso e os seus filhos Lereno e Nadir Afonso e ainda o filho do Dr. José Lino. Ao centro da foto, o proprietário do Hotel, o Sr. Pão Alvo.

 

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Em 1909 publicou o seu primeiro livro de poesias “Alvoradas”; em 1942 “Boninas de Chaves”. Poesia que Artur Maria Afonso reuniu e publicou em livro ainda em vida, para além de toda a poesia que deixou publicada nos jornais atrás mencionados e de muita mais poesia inédita que nunca chegaria a publicar em vida, mas que viria a acontecer postumamente.

 

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Artur Maria Afonso à varanda da sua casa na Rua de Stº António (ainda existente) cuja entrada principal era feita pela então Rua da Cadeia, hoje Bispo Idácio.

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Assim, em 1982 por altura do primeiro centenário do nascimento do poeta, os seus filhos Lereno, Nadir e Fátima publicavam o seu terceiro livro de poesias intitulado “Orações ao Vento”, onde reuniam um centena de poemas inéditos.

 

Ainda no ano de 1982 a Câmara Municipal de Chaves prestava-lhe uma homenagem póstuma dando o seu nome a uma das principais ruas da cidade e anuncia-se o seu 4º livro de poesias “Auras Perfumadas”.

 

Em 1993 uma nova homenagem ao poeta por parte da Câmara Municpal de Chaves, com a publicação do seu 5º livro de poesias “ A Terra dos Meus Amores”, com a compilação de muitos dos seus poemas já publicados em edições anteriores mas agora com ilustrações do Mestre Nadir Afonso, seu filho. Livro onde se enaltece toda a obra poética de Artur Maria Afonso, sempre actual e que reflecte os seus estados de alma, o seu carácter e personalidade numa obra multifacetada com poemas todos esculpidos com arte, simplicidade e harmonia.

 

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“A força das ideias soltas, organizadas na emoção da escrita, distingue os poetas. A forma sentida de dizer de Artur Maria Afonso elevou-o ao Olimpo, razão de sobra para a sua Autarquia o divulgar” – referia-se-lhe assim o então presidente da Câmara de Chaves, Dr. Alexandre Chaves, na introdução da “A Terra dos Meus Amores” onde o seu filho Lereno Afonso Rodrigues, também em jeito de introdução deixava no mesmo livro: “ Através dos tempos muitos foram aqueles que, com a vernaculidade da sua prosa, intransigentemente defenderam e enalteceram as belexas naturais destas paragens e suas gentes.

Em verso porém, talvez ninguém o teria feito tão digna e ardorosamente como Artur Maria Afonso.

 

As estrofes aqui condensadas que são uma parte da sua obra e que consubstanciam cânticos e uma mensagem ao porvir, assim inegavelmente o testemunham.

 

Este poeta, que muito amou este rincão flaviense do qual ele se considerava um filho adoptivo, aqui viveu durante cerca de sessenta anos e onde viria a falecer em 2 de Julho de 1961”

 

Um poeta que tão bem cantou Chaves em poesia como nunca ninguém o fez, concerteza que não é apenas um filho adoptivo de Chaves, mas um legítimo filho desta cidade.

 

 

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AQUAE FLAVIAE

 

AQUAE FLAVIAE és no Mundo

Uma estrela rutilante!

Teu ar alegre e jocundo

Cantasse-o Camões sou Dante

 

De graça e sonho me inundo

Ao contemplar teu semblante.

Teu valor não tem segundo

Por toda a terra adiante

 

Eu ando Enamorado

Há Muito, desde o passado,

Por ti, Princesa d’Honor!

 

Faz espelho do teu rio,

Penteia as tranças com brio,

E dá-me um beijo d’amor.

 

Maio de 1957 in o livro de poesias “Orações ao Vento”

 

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Chaves - Rua da Cadeia - 1936 - Nadir Afonso

Foi ao fundo desta rua, hoje denominada de Dispo Idácio, no nº12, que Artur Maria Afonso  viveu e morreu.

 

 

Cidade de Chaves que Artur Maria Afonso cantou em poesia mas que também viveu durante os sessenta anos em que a povoou, tendo privado de perto com outros ilustres flavienses como o Dr.José Timóteo Montalvão Machado, que é autor do prefácio do seu livro “Boninas de Chaves”, ou com o Dr. António Granjo, chegando a ter com este negócios na exploração de umas minas de volfrâmio nas proximidades do S.Caetano. Privou também com Nicolau Mesquita, outro ilustre flaviense e conjuntamente com mais dois sócios fundou a primeira fabriqueta de tijolos em Chaves, no Campo da Roda.

 

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Embora esta singela homenagem do blog Chaves  a Artur Maria Afonso já há muito estivesse pensada, hoje sai reforçada com mais uma homenagem recente, agora por mãos da Fundação Nadir Afonso, com a coordenação de Laura Afonso na recente publicação de luxo do livro “Artur Maria Afonso – Poesia”, com Ilustrações e pinturas de Nadir Afonso e poesia de Artur Afonso, o primeiro 3 em 1, onde se juntam três gerações de Afonsos, o poeta Artur Maria Afonso, o Pintor e Arquitecto Mestre Nadir Afonso e o Arquitecto Artur Afonso (filho de Laura Afonso e Nadir Afonso).

 

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Capa do último livro publicado com poemas de Artur Maria Afonso, com ilustrações de seu filho, Mestre Nadir Afonso e um poema de seu neto Artur Afonso. A imagem da capa, também de autoria de Nadir Afonso, intitula-se Apolo e é datada com o ano de 2007.

 

 

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Um belíssimo livro em edição de luxo onde em simultâneo se mostra a poesia de Artur Maria Afonso ao longo da sua vida poética ilustrados por seu filho  Mestre Nadir Afonso com pinturas que ilustram também a sua vida artística ao longo dos tempos e que no final das 120 páginas do livro remata com um poema de Artur Afonso (filho de Laura e Nadir), poema sentido dedicado a seu pai e com o qual também terminamos este post. Mas antes, tempo ainda para aqui deixar a importância de outro nome flaviense na divulgação também destas gerações de Afonsos, na importância também da Fundação Nadir Afonso, na importância desta publicação dedicada a Artur M. Afonso e na importância de partilhar com Chaves e fazer de Chaves a sede onde se quer centrar a arte de Nadir Afonso. Um nome que muitas vezes não é visível mas que tem acompanhado todos os passos do mestre Nadir Afonso nas últimas dezenas de anos – Laura Afonso para quem deixo também o meu bem haja por elogiar a cidade de Chaves e tê-la no coração como só os verdadeiros flavienses o sabem fazer.

 

(por problemas alheios à minha vontade e que se prendem com o tamanho do post, o mesmo é publicado em duas partes, ficando na 2ª parte apenas uma imagem e o mencionado poema de Artur Afonso)

 

 

13
Abr09

Flavienses Ilustres - Artur Maria Afonso - Poeta mimoso -2


2ª  e última parte.

 

 

 

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Oh meu velho pai

 

Oh meu bom velho pai

Que olhar cabisbaixo é esse que te acompanha?

Homem de perseverança errante,

Homem grande.

 

Carregas contigo o percurso pando

E agora?

 

Tantas histórias,

Tantos acontecimentos passados,

Tanta desaventurança!

 

Penaste nessa errância

Com pobres de espírito te invejando

Com gente te silenciando…

(E só porque lhes fazias sombra…)

 

Apodera-se de mim uma enorme fúria

Não pai, não vou esquecer…

Não pai, como poderei esquecer?

Não me peçam que deixe de sentir essa dor,

Esse desassossego!

 

Vale-te a pintura, a escrita,

E o conforto de saber que a tua obra, essa, fica!

Porque estás cabisbaixo meu velho pai?

Sossega meu pai…

 

Poema de Artur Afonso

 

 

Agradecimentos: Fundação Nadir Afonso (fotografias), Dinis Ponteira (fotografias).

 

Notas: Os poemas publicados são retirados de obras publicadas de Artur Maria Afonso. As ilustrações de Nadir Afonso são retiradas do livro “Artur Maria Afonso – Poesias” publicado pela Fundação Nadir Afonso.

 

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