Flavienses Ilustres - Artur Maria Afonso - Poeta mimoso -1
1ª Parte
Chaves - Canto do Rio - 1936 - Nadir Afonso
.
CHAVES
Certamente foi assim
Que Deus bom e poderoso
Fez este rincão formoso,
Fez este invulgar jardim:
O Sábio da Criação,
Nun dia d’ispiração
E graça omnipotente
Entendeu em seu juízo
Pôr na terra um paraíso
Ideal, surpreendente!
Seria ao formar os montes,
Que fitando os Horizontes
Disse consigo: - É ali…
É ali que vou fazer
Um paraíso a valer!
E com mão maravilhosa
Como igual outra não vi.
Traçou a Veiga formosa,
Desenhou CHAVES aqui!
Teve a ideia, o cuidado
De fazer brotar ao lado
Umas águas muito raras,
Muito quentes, alcalinas,
De qualidades divinas!
Deu-lhe mimosas searas
E mais fontes cristalinas.
Deu-lhe o Tâmega saudoso
Partindo Chaves ao meio
Para no Verão calmoso
Lhe beijar risonho o seio.
E para a resguardar bem
Lançou-lhe serra em roda
Que nenhuma terra tem.
Deu-lhe pombais, deu-lhe rosas,
Deu-lhe frutas saborosas
E o relevante condão
De ter fortes e muralhas
Para nas rudes batalhas
Conter alheia traição.
Deu-lhe capelas piedosas
Ungidas de devoção…
Deu-lhe moitas odorosas
De rosmaninho e serpão.
Deu-lhe fartos arredores,
Alegres, ao sol abertos
De mil tentações cobertos
Que fazem sonhar amores.
E dentre os prémios mais finos
Fez-lhe uma mercê louçã
Para adoçar seus destinos:
Deu-lhe rostos femininos
Rivais do sol da manhã!
Criou-lhe o matriz dos vales,
Deu-lhe paz e deu-lhe ainda
O doce canto das aves
P’rá fazer mais bela e linda!
Para fazer-te princesa
Deu-lhe brilhos…tantos…tantos,
Que não pôde concerteza
Legar-te maior beleza
Ó Éden dos meus encantos!
Depois da obra ridente
O construtor excelente
Regressou à concha astral,
Deixando entre estas serras
A mais formosa das terras
De quantas tem Portugal!
Chaves, 9.Set.1938
In o livro de poesias “Auras Perfumadas”
.
Artur Maria Afonso, Poeta
.
Sem dúvida alguma que nunca Chaves foi tão bem cantada como o é neste poema que, bem poderia ser a letra de um hino a Chaves.
É este poeta que tão bem cantou a cidade de Chaves neste e muitos mais poemas, o nosso convidado de hoje, poeta e ilustre flaviense que dá pelo nome de Artur Maria Afonso.
.
Palmira Rodrigues e Artur Maria Afonso
.
Artur Maria Afonso nasceu em Montalegre em 17 de Março de 1882, na casa da Crujeira. Era o filho mais velho de João Maria Afonso e de Orísia Ferreira da Silva. Quando era criança os pais mudaram-se para Lisboa (e em Lisboa faleceram) tendo ficado o pequeno Artur a viver em Montalegre com os tios António de Carvalho e Maria Ferreira da Silva, ambos professores de instrução primária e que se encarregaram de lhe ministrar uma educação condigna. Faleceu em Chaves na sua residência, em 2 de Julho de 1961. Casou em 1918 com Palmira Rodrigues, filha do Major Augusto Rodrigues e de Felisbina Rua, de Sapelos, Boticas.
.
Foto de casamento de Palmira Rodrigues com Artur Maria Afonso, tomada em casa de António Vilhena, Casas Novas, onde foi realizado o casamento. Na foto, além dos noivos e familiares estão na segunda fila o Dr. António Granjo, Nicolau mesquita e António Vilhena.
.
Artur Maria Afonso trabalhou como aspirante de Finanças na vila de Montalegre e mestre-escola em Cambezes do Rio. Desde muito novo que se dedicou às letras, tendo fundado e dirigido, com apenas 18 anos e ainda em Montalegre, o jornal “ O Barrosão”.
Antes de se fixar definitivamente em Chaves trabalhou na Repartição de finanças em Odmira e Murça e regressou a Chaves.
.
Veiga de Chaves - 1946 - Nadir Afonso
.
Ao longo da sua vida desenvolveu uma vasta actividade literária, tendo já em Chaves, colaborado com todos os jornais que por cá se publicaram, como o “Intansigente”, o “Aquae Flaviae”, “O comércio de Chaves”, o “Ecos de Chaves” e a “A Voz de Trás-os-Montes” de Vila Real.
.
Foto tomada nas escadas do então Hotel Flávia (Junto ao Jardim Publico e actualmente propriedade do Dr.Pinheiro). Em primeiro plano estão Artur Maria Afonso e os seus filhos Lereno e Nadir Afonso e ainda o filho do Dr. José Lino. Ao centro da foto, o proprietário do Hotel, o Sr. Pão Alvo.
.
Em 1909 publicou o seu primeiro livro de poesias “Alvoradas”; em 1942 “Boninas de Chaves”. Poesia que Artur Maria Afonso reuniu e publicou em livro ainda em vida, para além de toda a poesia que deixou publicada nos jornais atrás mencionados e de muita mais poesia inédita que nunca chegaria a publicar em vida, mas que viria a acontecer postumamente.
.
Artur Maria Afonso à varanda da sua casa na Rua de Stº António (ainda existente) cuja entrada principal era feita pela então Rua da Cadeia, hoje Bispo Idácio.
.
Assim, em 1982 por altura do primeiro centenário do nascimento do poeta, os seus filhos Lereno, Nadir e Fátima publicavam o seu terceiro livro de poesias intitulado “Orações ao Vento”, onde reuniam um centena de poemas inéditos.
Ainda no ano de 1982 a Câmara Municipal de Chaves prestava-lhe uma homenagem póstuma dando o seu nome a uma das principais ruas da cidade e anuncia-se o seu 4º livro de poesias “Auras Perfumadas”.
Em 1993 uma nova homenagem ao poeta por parte da Câmara Municpal de Chaves, com a publicação do seu 5º livro de poesias “ A Terra dos Meus Amores”, com a compilação de muitos dos seus poemas já publicados em edições anteriores mas agora com ilustrações do Mestre Nadir Afonso, seu filho. Livro onde se enaltece toda a obra poética de Artur Maria Afonso, sempre actual e que reflecte os seus estados de alma, o seu carácter e personalidade numa obra multifacetada com poemas todos esculpidos com arte, simplicidade e harmonia.
.
.
“A força das ideias soltas, organizadas na emoção da escrita, distingue os poetas. A forma sentida de dizer de Artur Maria Afonso elevou-o ao Olimpo, razão de sobra para a sua Autarquia o divulgar” – referia-se-lhe assim o então presidente da Câmara de Chaves, Dr. Alexandre Chaves, na introdução da “A Terra dos Meus Amores” onde o seu filho Lereno Afonso Rodrigues, também em jeito de introdução deixava no mesmo livro: “ Através dos tempos muitos foram aqueles que, com a vernaculidade da sua prosa, intransigentemente defenderam e enalteceram as belexas naturais destas paragens e suas gentes.
Em verso porém, talvez ninguém o teria feito tão digna e ardorosamente como Artur Maria Afonso.
As estrofes aqui condensadas que são uma parte da sua obra e que consubstanciam cânticos e uma mensagem ao porvir, assim inegavelmente o testemunham.
Este poeta, que muito amou este rincão flaviense do qual ele se considerava um filho adoptivo, aqui viveu durante cerca de sessenta anos e onde viria a falecer em 2 de Julho de 1961”
Um poeta que tão bem cantou Chaves em poesia como nunca ninguém o fez, concerteza que não é apenas um filho adoptivo de Chaves, mas um legítimo filho desta cidade.
.
.
AQUAE FLAVIAE
AQUAE FLAVIAE és no Mundo
Uma estrela rutilante!
Teu ar alegre e jocundo
Cantasse-o Camões sou Dante
De graça e sonho me inundo
Ao contemplar teu semblante.
Teu valor não tem segundo
Por toda a terra adiante
Eu ando Enamorado
Há Muito, desde o passado,
Por ti, Princesa d’Honor!
Faz espelho do teu rio,
Penteia as tranças com brio,
E dá-me um beijo d’amor.
Maio de 1957 in o livro de poesias “Orações ao Vento”
.
Chaves - Rua da Cadeia - 1936 - Nadir Afonso
Foi ao fundo desta rua, hoje denominada de Dispo Idácio, no nº12, que Artur Maria Afonso viveu e morreu.
Cidade de Chaves que Artur Maria Afonso cantou em poesia mas que também viveu durante os sessenta anos em que a povoou, tendo privado de perto com outros ilustres flavienses como o Dr.José Timóteo Montalvão Machado, que é autor do prefácio do seu livro “Boninas de Chaves”, ou com o Dr. António Granjo, chegando a ter com este negócios na exploração de umas minas de volfrâmio nas proximidades do S.Caetano. Privou também com Nicolau Mesquita, outro ilustre flaviense e conjuntamente com mais dois sócios fundou a primeira fabriqueta de tijolos em Chaves, no Campo da Roda.
.
.
Embora esta singela homenagem do blog Chaves a Artur Maria Afonso já há muito estivesse pensada, hoje sai reforçada com mais uma homenagem recente, agora por mãos da Fundação Nadir Afonso, com a coordenação de Laura Afonso na recente publicação de luxo do livro “Artur Maria Afonso – Poesia”, com Ilustrações e pinturas de Nadir Afonso e poesia de Artur Afonso, o primeiro 3 em 1, onde se juntam três gerações de Afonsos, o poeta Artur Maria Afonso, o Pintor e Arquitecto Mestre Nadir Afonso e o Arquitecto Artur Afonso (filho de Laura Afonso e Nadir Afonso).
.
Capa do último livro publicado com poemas de Artur Maria Afonso, com ilustrações de seu filho, Mestre Nadir Afonso e um poema de seu neto Artur Afonso. A imagem da capa, também de autoria de Nadir Afonso, intitula-se Apolo e é datada com o ano de 2007.
.
Um belíssimo livro em edição de luxo onde em simultâneo se mostra a poesia de Artur Maria Afonso ao longo da sua vida poética ilustrados por seu filho Mestre Nadir Afonso com pinturas que ilustram também a sua vida artística ao longo dos tempos e que no final das 120 páginas do livro remata com um poema de Artur Afonso (filho de Laura e Nadir), poema sentido dedicado a seu pai e com o qual também terminamos este post. Mas antes, tempo ainda para aqui deixar a importância de outro nome flaviense na divulgação também destas gerações de Afonsos, na importância também da Fundação Nadir Afonso, na importância desta publicação dedicada a Artur M. Afonso e na importância de partilhar com Chaves e fazer de Chaves a sede onde se quer centrar a arte de Nadir Afonso. Um nome que muitas vezes não é visível mas que tem acompanhado todos os passos do mestre Nadir Afonso nas últimas dezenas de anos – Laura Afonso para quem deixo também o meu bem haja por elogiar a cidade de Chaves e tê-la no coração como só os verdadeiros flavienses o sabem fazer.
(por problemas alheios à minha vontade e que se prendem com o tamanho do post, o mesmo é publicado em duas partes, ficando na 2ª parte apenas uma imagem e o mencionado poema de Artur Afonso)