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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

26
Out19

Pedra de Toque


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O BAR AURORA

 

            Bem no centro da cidade, em pleno Largo das Freiras, localiza-se o Bar Aurora.

            Depois de alguns anos decadente e sem clientela, há pouco mais de um ano, com nova gerência, readquiriu algum movimento e retomou em parte a sua atividade.

            Não é, no entanto, deste Aurora que vos vou falar.

            O “meu Bar Aurora” que foi pujante nas décadas de 50 até à década de 90, foi uma referência, um ícone na cidade, um bar e pastelaria que se tornou conhecido em toda a região e quiçá em grande parte do país.

            Dirigido por um expert na matéria, o Sr. Avelino Castro, um espanhol que por cá se radicou durante muitos anos, pai de três filhas Flavienses amigas minhas, criou no Aurora uma pastelaria de excelência, tornando famosos bolos como as auroras, os éclaires, as línguas de bispo e demais doçaria que o pasteleiro Sr. Henrique, também espanhol, fabricava na cave.

 

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            A frequência do Bar Aurora era sobretudo da classe média e média alta.

            Os senhores maiores tomavam o seu café e o seu digestivo, depois de almoço na mesa junto ao balcão da pastelaria, aí larachavam e dissertavam sobre quase todos, sobre os benefícios do Estado Novo.

            À hora do lanche apareciam as senhoras que exibiam os seus trajes e com o chá degustavam os famosos pastéis.

            Os estudantes do Liceu defronte, sempre que as aulas o permitiam eram visitas contantes.

            Ao balcão ou nas mesas ao fundo, namoriscavam, catrapiscavam entre si e tantas vezes ali nasceram amores que tiveram futuro.

            Os bilhetinhos que se trocavam sorrateiramente na sala de aulas, aqui transformavam-se em conversas românticas mas fogazes.

            Os oficiais que vinham para o nosso quartel fazer a recruta ou formar batalhão, também pousavam no Aurora e alguns encetaram namoros que viraram casamentos.

            Os estudantes mais espigadotes que por aqui andavam ou vinham de férias das universidades, no café conversavam, trocavam cultura, conspiravam sempre apoiados por professores mais sábios (José Manuel Mendes, José Henrique Dias…) ou pela opinião experiente do Dom Avelino que lhes ensinou a apreciarem a boa música tanto ligeira como clássica e a saberem algumas notícias da Guerra Civil Espanhola.

 

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            O Bar Aurora era um lugar de referência na cidade (até no país), um ponto de encontro que ficou retido na memória de todos os que, como eu, o frequentaram.

 

            Sempre que por lá passo ainda “vejo” uns olhos negros numa tez morena salpicada de sardas.

            E ainda um sorriso mágico que retenho há mais de cinquenta anos e julgo que reterei para sempre.

            Mas não entro, porque a saudade é tanta que dói em demasia.

            O amor tem destas coisas.

            A vida é feita de memórias.

 

António Roque

 

17
Ago10

Pedra de Toque - O Avelino - Por António Roque


 

 

 

 

 

 

 

O AVELINO

 

 


 

 

 

 

 

Durante muitos anos o Avelino Sola Castro, mais conhecido por Avelino do Aurora ou Avelino Galego, foi uma figura da nossa cidade.

 

A terrível Guerra Civil de Espanha, obrigou-o a refugiar-se no Norte de Portugal, vindo depois a fixar-se em Chaves, onde, por amor se radicou, onde constituiu família, aqui lhe nascendo as suas adoradas filhas, aqui criando amigos.

 

Graças a ele e á sua reconhecida competência, o ramo de café, bar e hotelaria, foi modernizado e remodelado na nossa cidade.

 

Todos os empreendimentos naquele campo em que ele se empenhou, foram coroados de sucesso.

 

Fez escola, nos empregados que o serviram e, transformou o Ibéria e mais tarde o Aurora e a Estalagem Santiago, em unidades prestigiadas, pontos de referência em Chaves e no exterior.

 

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Mas por detrás do comerciante sabedor, e por vezes austero, estava o homem solidário, sensível e de vasta cultura.

 

Foram muitos os jovens daquela época que, por ele, conheceram Lorca, Unamuno, Picasso, Gardel, Dolores Pradera … e tantos outros.

 

Tive a sorte, o privilégio, com amigos, de o escutar noite dentro, fechadas as contas do bar, quando a cidade dormia.

 

Por vezes, no silencio do café, por vezes calcorreando a pé ou deslizando de carro, na frescura do verão ou nos frios do Inverno, pela velha, querida e bela urbe.

 

Então falava-nos da vida, narrava-nos entusiasmado as suas últimas experiências, contava-nos dos artistas e intelectuais fascinantes que tinha conhecido, com amargura narrava-nos factos trágicos da guerra que na pele sentira, profetizando sempre, sempre com inquebrantável fé, a queda fatal dos ditadores.

 

Nós ouvíamo-lo religiosamente.

 

Era o outro AVELINO que poucos conheciam.

 

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Um homem que amava Chaves, que acreditava na juventude, cujos ímpetos inteligentemente refreava, com o muito saber que a vida lhe transmitira.

 

Era o AVELINO da comoção fácil, com a palavra dos poetas, com o génio dos artistas, com a melodia dos músicos, com a generosidade dos homens bons.

 

Era o AVELINO de leitura atenta e actualizada, que digeria com raciocínio fácil e profundo.

 

Vi-o com lágrimas saltando dos olhos perspicazes, quando na radiosa manhã de Abril de 74, gozou a porta aberta para a democracia neste país, que também era o dele.

 

Vi-o emocionado no I Congresso do Partido Socialista, em Lisboa, onde estivera como convidado, quando escutou a voz embargada pela esperança na democracia possível dos representantes do seu PSOE e de outros partidos da área, da sua querida América Latina.

 

A memória do AVELINO foi evocada nas jornadas Intertâmega 91, quando alguns escutámos a interessantíssima locução do seu irmão Manuel, magistrado distinto, sobre as afinidades históricas de Verin e de Chaves.

 

Ao falarmos sobre estes dois povos, tão próximos e tão semelhantes, que as vicissitudes da história por vezes colocou de “espalda”, era da mais chocante injustiça não sublinhar o nome do AVELINO, o galego mais flaviense, com quem tive o enorme gosto e satisfação de conviver e de aprender.

 

Enquanto os seus amigos não contarem o muito que sabem da sua vida digna, da sua coerência intelectual, da sua paixão perene pela liberdade e das fascinantes estórias que lhe sorveram, a memória dele ficará para sempre, bem no caroço desta cidade, no velho Bar Aurora, ali no Largo das Freiras, que foi também o seu largo predilecto.

 

Para tantos que o estimaram, o AVELINO será recordado com a muita saudade que sempre fica quando parte um grande amigo.

 

 

António Roque

 

 


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