Ontem foi dia 20 de janeiro e todos os dias 20 de janeiro, manda a tradição ou a promessa de seguir caminho em direção ao Barroso, até às localidades onde se celebra o São Sebastião. Claro que não havendo tempo/disponibilidade para irmos a todas, ficamo-nos pelo concelho de Boticas, mais propriamente pela Vila Grande, que vulgarmente e erradamente se vai conhecendo pelo Couto de Dornelas, quando muito, poder-se-ia dizer Dornelas, que esta sim existem como freguesia à qual pertence a Vila Grande. Mas não só, pois além da Vila Grande, onde iniciamos a peregrinação desta tradição, também vamos às Alturas do Barroso, onde terminamos a nossa “promessa”.
Vila Grande - Dornelas
Vila Grande - Dornelas
É assim uma tradição que nós vamos fazendo por momentos, vários, ao longo do dia e ao longo de cada uma das celebrações, na Vila Grande e nas Alturas do Barroso de Boticas, ficando de fora as outras para as quais não temos tempo, como a de Cerdedo, também em Boticas, ou a de Salto de Montalegre e ainda em terras barrosãs, e, mesmo que haja quem teime em dizer que não pertence ao Barroso, na Torre de Ervededo, do concelho de Chaves, onde este ano tivemos conhecimento que também celebraram honras ao Santo nesta data do 20 de janeiro.
Vila Grande - Dornelas
Durante muitos anos fomos adiando a nossa ida até estas festas comunitárias, mas em 2010 decidimos ir lá pela primeira vez, ao São Sebastião, pois á Vila Grande já lá tínhamos ido, a primeira vez logo após o 25 de abril de 74, mais precisamente em 1975, mas com tanto tempo passado já restam poucas memórias desse dia, apenas lembro que fui integrado num grupo estudantil, ao qual pertencia, o GIEC, que se bem me lembro eram as iniciais de Grupo de Intervenção Estudantil de Chaves, que tinha um grupo coral com músicas de intervenção, a maioria de Zeca Afonso e outras com quadras de António Aleixo.
Vila Grande - Dornelas
Vila Grande - Dornelas
Pois a partir dessa primeira vez de 2010 ficámos fãs desta tradição e lá vamos cumprir a promessa todos os anos, só falhámos em 2019, já nem sei porque, e mais recentemente em 2021 e 2022 porque não se realizou por causa da pandemia, e falhámos a de 2023 nas Alturas do Barroso porque também não se realizou, tendo sido cancelada à última hora por morte de uma pessoa da organização das celebrações.
O momento da Chegada
Serviu este pequeno introito para dizer que já começamos a ser veteranos nestas celebrações do São Sebastião e como tal já temos perfeitamente identificados alguns momentos importantes do São Sebastião, o primeiro é o de respirar o momento da chegada. Este é sempre um momento importante em todas as nossas viagens, a sensação do momento de chegar é sempre marcante e sempre diferente, onde todos os sentidos despertam, marcam e ficam registados. A luz, a temperatura do ar, os aromas, os sons e até o tato, este em sentido figurado, pois não vamos para lá apalpar nada, mas apalpamos o movimento e o ambiente. Este momento ficou registado nas primeiras imagens.
A tradição
Sem dúvida que os momentos da tradição da festa são os que nos levam até lá repetidamente, senão não seria tradição. A visita à “cozinha”, fazer a contabilidade dos potes, visitar a sala do pão, espreitar as cerimónias religiosas da missa, procissão e bênção dos “comer”, o desenrolar e estender da toalha de linho, o peditório e beijar do santo (este último cancelado desde a pandemia) a medida da vara, o pousar do pão a distribuição do arroz e da carne, a festa do convívio no comer e na partilha de espaços e outros comeres e beberes e a música das concertinas, acordéons e cantares que em continuo sempre pairam no ar, percorrem a festa e não se cansam…
Padre Lourenço Fontes
Momento do Padre António Lourenço Fontes
O Padre Fontes é um habitué na celebração do São Sebastião da Vila Grande, às vezes a participar na missa ou apenas entre a população peregrina, sendo também ele um peregrino que não passa indiferente, é o homem dos selfies e com quem toda a gente quer tirar fotografias, ganha ao Marcelo. Padre Fontes que há muito é um ícone e entidade do Barroso, que melhor que ninguém conhece a terra e região que habita, a sua história, os seus usos e costumes, as suas virtudes e defeitos. É o homem das Sextas-Feiras 13 de Montalegre e dos Congressos da Medicina Popular de Vilar de Perdizes, conotado com a bruxaria, que não pratica, mas que acredita nos efeitos da medicina popular e das mezinhas, como homem uma pessoa simples e amiga que em sua casa a todos diz – entre que é!
Eira do Pedro em Vilarinho Seco
da partida e da viagem até às alturas o
Momento de Vilarinho Seco
Temos sempre pressa em chegar, já quanto à partida, vamos adiando até que as ruas ficam despovoadas, só aí vamos andando em direção ao próximo destino, onde a festa comunitária do São Sebastião continua, nas Alturas do Barroso, mas antes temos algumas paragens ocasionais pelo caminho, e uma obrigatória em Vilarinho Seco, em casa do Pedro, para tomar café, beber um copo, conversar, ver passar quem passa, assistir ao engarrafar de trânsito e às manobras dos autocarros nas curvas e ruas apertadas da aldeia, e, como todos fazem questão de parar por lá, a festa dos cantares e concertinas continua na eira do Pedro. Mas mesmo sem pressas, chega sempre o momento da partida, e lá se parte em direção às Alturas do Barroso, aldeia já bem lá no alto da Serra do Barroso, mesmo encostada aos seus cornos que até lhe podem servir de abrigo aos ventos vindo das Galiza, mas que não a livre das neves e do frio, mas ontem, por acaso, até houve sol todo o dia, mas com o frio sempre presente.
Alturas do Barroso
O momento das Alturas do Barroso
Alturas do Barroso é o nome da freguesia e aldeia onde também todos os anos se celebra o São Sebastião. O topónimo não engana, Alturas do Barroso porque está mesmo nas alturas da Serra do Barroso, serra central do Barroso e desde onde as vistas alcançam todo o sistema montanhoso até ao Marão, todo o concelho de Boticas e concelhos vizinhos de Ribeira de Penas, terras minhotas de Basto e parte do Concelho de Chaves e deste só não se vê mais, porque a Serra do Leiranco lhe tapa parte das vistas.
Alturas do Barroso
A festa do São Sebastião nas Alturas do Barroso e quase em tudo igual à da Vila Grande, a diferença apenas está no servir do comer, no local e no próprio comer, e também na duração da festa, isto para os peregrinos. De resto, a tradição é idêntica.
Alturas do Barroso
Nas Alturas oferecem a cada peregrino um prato de feijoada, um pão (biju ou papo-seco) e um copo de vinho. O comer é servido no local onde é cozinhado, dentro de portas, onde é sempre habitual estar um grupo de concertinas e cantares à porta e outro, ou mais, dentro de portas, com a particularidade de aqui (na Alturas), os cantares virarem a desgarradas.
Alturas do Barroso
O momento da Despedida
Para nós a peregrinação pelo São Sebastião começa sempre de manhã, quase logo a partir do nascer do dia e, em geral é aqui, nas Alturas do Barroso, que terminamos a nossa peregrinação, com o cair da noite, mas antes, temos ainda sempre tempo para olhar e registar o anoitecer, coisa linda de se ver, mas sobretudo de se sentir, com um brilhozinho nos olhos, não pela emoção do momento, que a há, mas antes pelo ar frio que que em jeito de brisa nos chega mesmo a toldar o olhar. Só depois vem a partida de regresso a casa, com um até pro ano.
No “Barroso aqui tão perto de hoje”, vamos até à Vila de Boticas, a apenas 23 km de distância da cidade de Chaves, mais ou menos 20 minutos de viagem, ou seja, é mesmo perto de nós, mais perto que muitas das nossas aldeias do concelho de Chaves e a merecer sempre uma visita ou um passeio numa manhã ou tarde de fim-de-semana.
Tal como vem sendo habitual na abordagem que este blog tem feito ao concelho de Boticas, após passarem por aqui todas as aldeias de cada freguesia, fazemos um resumo para essa mesma freguesia. Hoje chegou a vez de fazermos o resumo da última freguesia do concelho de Boticas, que por sinal é a freguesia de Boticas e Granja.
Boticas e Granja que até há relativamente pouco tempo eram duas freguesias distintas, a primeira composta por Boticas, Eiró e Sangunhedo, e a segunda composta pela Granja e Ventuzelos. Ora já a pensar no post de hoje, isto para ele não ficasse tão longo e maçudo, na abordagem que fizemos à aldeia da Granja, a mesma foi feita como se a Granja ainda se tratasse de uma freguesia, deixando lá toda a informação que tínhamos disponível sobre a aldeia e a antiga freguesia. Assim hoje, embora a nível de imagens seja o resumo da atual freguesia de Boticas e Granja, ao nível da abordagem histórica será apenas abordada a antiga freguesia de Boticas, mesmo porque dada a juventude desta nova freguesia, a história que prevalece é a das duas freguesias separadas.
Também com este resumo da freguesia de Boticas e Granja pomos ponto final à abordagem das aldeias do concelho de Boticas, pois já todas passaram por este blog, mas embora a freguesia tenha hoje aqui o seu post e encerremos a abordagem das aldeias e freguesias do concelho, falta ainda o post dedicado à vila de Boticas, tal como faltou o da vila de Montalegre, isto porque queremos fazer essa abordagem a ambas as sedes de concelho quando terminarmos a abordagem de todas as aldeias do Barroso, e pese o facto de as aldeias de ambas as vilas já terem sido aqui abordadas, falta ainda abordar as aldeias barrosãs que pertencem ao concelho de Vieira do Minho e Ribeira que farão aqui entrada a partir do próximo domingo.
Vamos então ao resumo da freguesia de Boticas e Granja cuja abordagem histórica será feita com base naquilo que está expresso no caderno da freguesia de Boticas da monografia da “Preservação dos hábitos comunitários nas aldeias do concelho de Boticas” que desde já fica o aviso de que se trata de uma publicação datada de maio de 2006, pelo que alguns dados sobre a população, economia e sociedade poderão não corresponder à realidade atual.
E sem mais rodeios passamos já áquilo que se diz na “Preservação dos hábitos comunitários nas aldeias do concelho de Boticas” mais precisamente no Caderno da freguesia de Boticas. As imagens que vão ficando ao longo do texto resultam de uma seleção das que foram publicadas nas respetivas abordagens das aldeias da freguesia, para as quais ficará no final deste post um link para cada uma dessas abordagens.
A FREGUESIA DE BOTICAS: GEOGRAFIA E PERSPECTIVA HISTÓRICA
A freguesia de Boticas é constituída pela vila de Boticas, sede do concelho, à qual deu o nome, e as aldeias de Eiró e Sangunhedo.
Eiró e Sangunhedo encontram-se dispostas na encosta da serra do Leiranco, Boticas, encontra-se localizada na zona do vale. Confronta com quatro freguesias: a Norte com Cervos, do concelho de Montalegre, a Este com a Granja, a Sul com Pinho e a Sudoeste com Beça, todas do concelho de Boticas. Ocupa uma área total de 13,9 km”.
Eiró
1 – POPULAÇÃO, ECONOMIA E SOCIEDADE
Num concelho em que a evolução da população, nas diversas freguesias, se caracteriza por uma diminuição progressiva, com uma pirâmide etária invertida, onde os grupos etários mais baixos são diminutos e a população envelhecida aumenta, Boticas é a freguesia mais densamente povoada, actualmente conta com cerca de 1065 residentes, e aquela que ao longo dos últimos 40 anos menos população residente perdeu (apenas 1,5%).
Granja
Esta freguesia, em especial a vila de Boticas enquanto sede do concelho, afirma-se cada vez mais como um pólo urbano centralizador, concentrando serviços e investimentos. Funciona simultaneamente como pólo de atracção, quer em termos de investimentos públicos e privados, quer em termos de mão-de-obra das freguesias, atraída pelas oportunidades de emprego que esses investimentos suscitaram, captando assim uma parte significativa dos recursos humanos qualificados.
Criaram-se assim as condições propicias para que esta freguesia conseguisse manter a sua população, salvo O decréscimo que se registou nos anos 80 devido à intensificação dos fluxos migratórios. Nas décadas seguintes, contrariando a tendência regressiva da população, assistiu-se ao crescimento e manutenção da população, em parte devido a fixação de nova população atraída pelas ofertas de emprego, dado que grande parte das pessoas que trabalham nesta freguesia, especialmente as das aldeias mais distantes, optam por comprar casa nesta freguesia ou nas freguesias limítrofes, como por exemplo Beça.
No que se refere à idade dos residentes, esta freguesia, apesar de também registar uma gradual tendência para o envelhecimento, é aquela que concentra a maior percentagem de indivíduos em idade activa, 50% dos 1065 residentes têm 25 e 64 anos, e a mais baixa percentagem de idosos (22%). Relativamente aos níveis de instrução desta população, Boticas apresenta diferenças relativamente à generalidade das freguesias do concelho, registando uma menor taxa de residentes sem qualquer nível de instrução (14%), constituida essencialmente por idosos, bem como uma maior percentagem de pessoas com ensino universitário (8%), dados que indiciam uma cultura mais cosmopolita. Quando comparada com as restantes freguesias nota-se um claro investimento na educação.
Eiró
No que se refere à área de actividade económica da população local, esta divide-se entre o urbano, ao centro (na vila de Boticas) e o rural das localidades que lhe são periféricas (Eiró e Sangunhedo). Na vila de Boticas, as actividades económicas são predominantemente a área dos serviços, comércio e cafetaria e restauração, concentrando um grande número de mão-de-obra. A agricultura desempenha um papel secundário, como complemento para as economias familiares. Em Eiró e Sangunhedo, anexas à vila de Boticas, a população, beneficiando dessa proximidade, encontrou aí novas oportunidades de emprego. Todavia, uma parte da população local continua a dedicar-se à agricultura e à pecuária. Algumas famílias continuam a actividade tradicional de criação de gado, produção de batata, milho, e algum centeio, os produtos que melhor se desenvolvem e produzem nesta região de Barroso, com elevados níveis de qualidade e sabor. Também a produção artesanal de mel e fumeiro se encontra em franco desenvolvimento, funcionando como um complemento no rendimento das famílias. Esta freguesia é também conhecida pela produção do famoso “Vinho dos Mortos”, para o qual está a ser construído um repositório (em Granja), onde os visitantes poderão conhecer melhor a história deste afamado vinho.
Granja
Todavia, a tendência aponta para a evolução do sector secundário e terciário. A concentração dos serviços públicos (Câmara Municipal, Escola EB 2/3, Cartório Notarial, Tribunal, Finanças, Centro de Saúde, RESAT, entre outros) e o crescente investimento privado na área da indústria (EURONETE, S.A.), serviços, comércio e restauração, tem desempenhado um papel preponderante nesta dinâmica. Assiste-se simultaneamente ao gradual abandono da agricultura como principal fonte de subsistência dos agregados familiares, passando a ser praticada a tempo parcial, cultivando-se pequenas parcelas, as que se encontra mais perto das localidades (hortas e nabais), como complemento de subsistência.
No que se refere à sociedade, esta comunidade caracteriza-se pela existência de alguns contrastes. A par das famílias de lavradores e pequenos proprietários de terras que (ainda) desenvolvem actividades agro-pecuárias, existem famílias de empresários, gestores, comerciantes e quadros médios que exercem actividade no ensino e na vida administrativa local.
Em termos associativos existem na freguesia de Boticas múltiplas e variadas associações, tais como: a Associação Recreativa e Cultural “Fórum Boticas”, à qual pertence o Grupo de Danças e Cantares Regionais de Boticas e a Rádio Fórum Boticas, o Agrupamento de Escuteiros 1148 Boticas e o Grupo Desportivo de Boticas.
Sangunhedo
A vila de Boticas dispõe dos mais diversos equipamentos culturais, educacionais e recreativos, entre os quais se destacam os seguintes: Auditório Municipal Dr. José S. Fernandes, Biblioteca Municipal, Museu Rural de Boticas, Escola Municipal de Educação Rodoviária, Complexo de Piscinas Municipais. Para além destes espaços, possui também os parques de lazer do Noro e da Presa do Padre Pedro.
Os visitantes dispõem ainda de uma variedade de espaços onde ficar. Dependendo dos gostos a oferta vai desde o Turismo Rural (TR), às residenciais e ao parque de campismo para os mais aventureiros, um parque bem equipado que para além dos espaços para as tendas e roulottes dispõe também de cinco Bungalows capazes de proporcionarem todo o conforto e comodidade, indispensáveis a umas agradáveis e reconfortantes férias.
Ventuzelos
Com o Verão, vêm as férias e os emigrantes e a vida das comunidades ganha um novo fulgor. As noites quentes convidam ao lazer e são vários os eventos culturais promovidos pela autarquia durante esta época. De Julho a Agosto decorrem as “Quintas-feiras Culturais” a cujo palco sobem os mais variados espectáculos, com especial destaque para o folclore e os cantares tradicionais, a cargo dos grupos culturais e recreativos do Concelho, o teatro, o fado e os arraiais populares.
Paralelamente, nas primeiras semanas de Agosto decorre também o Boticas Rock, no âmbito do qual se organizam múltiplos e variados espectáculos como o concurso de karaoke, música ao ar livre, animação de rua, desportos radicais, entre outros.
Granja
Mensalmente realizam-se duas feiras em Boticas, nos dias 10 e 20, excepto quando estes dias coincidem com o fimde-semana ou feriado, passando então a realizar-se no dia útil imediatamente a seguir. Existe um espaço criado para o efeito, localmente designado como “Campo da Feira”, de fáceis acessos e com variados locais de estacionamento nas zonas envolventes.
Para além das feiras mensais, realiza-se todos os anos, no dia 10 de Novembro, em Boticas, a Feira dos Santos. Esta é a maior feira do ano, quer em termos do número de comerciantes/vendedores que nela participam, quer em termos de afluência de pessoas.
Eiró
2 - MARCAS DO SEU PASSADO
Como já atrás referimos, muitas das aldeias e povoados do Norte de Portugal e também desta região de Barroso, tiveram origem muito antiga, como os inúmeros castros conhecidos o testemunham. Os castros de que hoje apenas encontramos vestígios de ruínas, são vulgarmente conhecidos por citânias, mas também castelos, cercas e cividades. É o caso do castro de Giestosa que é também conhecido e identificado como cividade da Giestosa.
Os castros conhecidos nesta região indicam ser do tempo da II Idade do Ferro isto é pelos séculos III e II antes de Cristo. Muitos deles foram abandonados com a invasão dos povos romanos sobretudo os feitos de uma nova civilização e desenvolvimento técnico.
Sangunhedo
São estes vestígios arqueológicos associados a coutos de mineração como é o caso bem conhecido do poço das Freitas que informam da presença de outras civilizações muito antigas. Sabemos que estes castros foram abandonados, mas é provável que a presença humana, designadamente a partir da invasão dos romanos tenha continuado. Certo é que, a partir da fundação de Portugal se dá um movimento de ocupação e povoamento como as inúmeras cartas de povoamento o revelam[i] .
Granja
2.1 - EIRÓ/BOTICAS NAS ORIGENS DO CONCELHO
Boticas ou Boticas de Barroso, era no passado, até há pelo menos 150 anos atrás, uma humilde povoação da paróquia de Eiró. Em 1530, no numeramento de D. João III, O seu topónimo nem aparece, talvez porque a aldeia ainda não existisse enquanto tal. De facto, neste documento que enumera todas as povoações de Barroso com os seus moradores, apenas Eiró e Sangunhedo vêm referidas com 32 moradores, cabeças de casal, isto é, perto de 130 pessoas. Mais tarde, no ano de 1758, já Boticas aparece no conjunto das três aldeias que compõem a paróquia de Eiró.
Ventuzelos
Ao tempo, a paróquia era conhecida por Eiró ou São Salvador de Eiró. Efectivamente, a igreja matriz encontrava-se dentro do lugar de Eiró, constituindo por isso a paróquia e dando nome ao conjunto das três povoações que a compunham - Eiró, Sangunhedo e Boticas de Barroso. A partir de 1836, com a constituição do concelho de Boticas a partir da desanexação de freguesias do concelho de Montalegre, da extinção do Couto de Dornelas e ainda de uma freguesia do concelho de Chaves, a freguesia de Eiró passou a designar-se por freguesia de Boticas, que deu o nome ao concelho, passando por isso a ser vila e sede do concelho de Boticas.
Granja
O concelho de Boticas é uma criação do Liberalismo Português do século XIX, surgindo no âmbito da reforma Liberal de 1836, na sequência das grandes reformas da administração e da divisão territorial portuguesa, delineadas por Mouzinho da Silveira, desencadeadas na chamada Segunda Revolução Liberal de 1832.
A reforma da administração local e municipal portuguesa é uma matéria que atravessa profundamente a Sociedade Portuguesa da última etapa da Monarquia absoluta e apresenta-se como uma forte aspiração dos administrados — descontentes e agravados com as instituições existentes — mas também de largos sectores da nossa administração pública e política, entre elas a própria Coroa que, como se referiu em 1790, desencadeia um programa de estudos com vista à reforma administrativa do reino[ii].
Boticas e Sangunhedo vistas desde Eiró
Tais estudos não resultaram na reforma pensada, ainda que aqui e acolá algumas propostas feitas para a reforma da divisão das novas comarcas e da nova carta de concelhos tivesse algum acolhimento e na prática fossem adoptadas algumas das medidas propostas pelos Juízes nomeados para essa tarefa, a nova demarcação das comarcas e concelhos.
A Revolução Liberal de 24 de Agosto de 1820 inscreverá como um dos seus principais objectivos à reforma administrativa, através da qual ela se propunha realizar o projecto político e social da instauração do novo governo, das novas instituições e da nova sociedade liberal.
Efectivamente, a Constituição de 1822 e a Carta Constitucional de 1826 inscrevem nos seus textos a necessidade de reformar a administração vinda do Antigo Regime, assim como promover um novo desenho dos concelhos.
Granja
Esta ideia de reforma do Estado não foi levada a cabo logo com a revolução de 1820 devido à forte movimentação e agitação política e social local e nacional em volta da instalação dos novos poderes das instituições e autoridades.
Foi mesmo interrompida e suspensa, anulando-se algumas das medidas com a reacção absolutista conduzida por D. Miguel desde 1823 instaladas as autoridades e as leis do Absolutismo em definitivo com o governo absolutista de D. Miguel desde 1826, após a morte de D. João VI, que suspende todo o ordenamento liberal e constitucional e a Constituição de 1822 e a Carta Constitucional de 1826.
Só no quadro da 2ª Revolução Liberal e da vitória definitiva do liberalismo sobre a Usurpação absolutista — D. Pedro contra D. Miguel — é que foi possível realizar com mais desenvolvimento e sem retomo a reforma da administração portuguesa, suas Instituições e carta territorial.
Após a tentativa de reforma seguindo o chamado modelo francês, aliás, de curta vigência, logo em 1833, Rodrigo da Fonseca Magalhães, introduz uma nova remodelação nesta organização administrativa, criando os Distritos, levando a cabo a mais drástica amputação dos concelhos portugueses que reduz a cerca de metade. É nesse contexto que virá a surgir o concelho de Boticas.
Sangunhedo
A reforma da carta concelhia e com ela a redefinição das áreas e limites dos concelhos reformados, extinção de muitos, cerca de metade das unidades existentes e criação de algumas novas unidades foi, de facto, uma decisão muito arrojada e a sua implementação revelar-se-ia, obviamente, muito difícil e penosa.
Na Província Transmontana, a nova legislação criará os Distritos de Vila Real e Bragança, divisão que em grande parte assume em termos territoriais o do ordenamento espacial que no Antigo Regime era desempenhado pelas comarcas.
Ventuzelos
A proposta de Columbano, de 1790, de criar uma nova comarca para à região presidida por Chaves — que corresponde, em grande medida, à parte ocidental da comarca de Bragança — não vingaria naquela proposta de reforma e também não vingará na criação de um distrito para Chaves, embora esta reivindicação estivesse então também presente e tivesse eco. Esta região transmontana ocidental viria a ser integrada no distrito de Vila Real.
Do ponto de vista da divisão concelhia, o facto mais assinalável na reformulação da casta dos concelhos desta banda da Província é, sem dúvida, a criação e institucionalização do concelho de Boticas, que vem no elenco do decreto de 6 de Novembro de 1536.
Eiró
Trata-se, em grande medica, de uma criação inesperada, pelo menos a quem acompanha a documentação e os projectos de reformas anteriores para esta orla transmontana. Com efeito, de um modo geral, a criação de novos concelhos em 1835/36 após o resultado de uma longa luta de reivindicação autonómica, assente em fundamentos que os mentores da criação sempre vão apresentando aos poderes políticos e assentes muitas vezes em actos de rebeldia mais ou menos activas ou positivas relativamente às unidades administrativas de que se querem separar. Nela emergirá o concelho de Boticas, com todas as instituições, poderes e competências que agora compõem e são entregues aos concelhos integrados no quadro das instituições distritais instituídas pela nova legislação e ordenamento administrativo, este sim destinado a ter uma larga longevidade.
Granja
Nos termos do novo mapa, Boticas integrar-se-á no recém-criado Distrito de Vila Real. O decreto de 6 de Novembro de 1836 que cria o concelho de Boticas integraria então as seguintes 17 paróquias: Eiró, Granja, Cervos, Anelhe, Pinho, Bobadela, Ardãos, Sapiãos, Beça, Vilar de Porro, Canedo, Codeçoso, Curros, Covas, Alturas, Dornelas e Cerdedo.
Depois disso muito mudou com a passagem de paróquias para outros concelhos e a criação de outras freguesias.
Actualmente, o concelho tem 16 freguesias, das quais se destacam Fiães do Tâmega e S. S. de Viveiro, a primeira criada em 1834 que pertenceu por um tempo ao concelho de Ribeira de Pena e a segunda apenas criada em 28 de Janeiro de 1967.
Sangunhedo
2.2 - UM DOCUMENTO DE 1758
No ano de 1758 o Rei D. José, através do seu ministro Marquês de Pombal, desenvolveu um inquérito a todas as paróquias do Reino de Portugal continental que hoje se encontram no IAN/TT.
Este inquérito que foi respondido pelos párocos das freguesias era composto de três partes: a primeira respeitante à paróquia onde se tratava de saber da sua história, produções agrícolas, população, instituições locais, igreja e capelas com suas devoções e romagens, a segunda tratava dos rios e ribeiros que nela existissem, assim como das levadas e represas, moinhos e pisões, e a terceira perguntava pela serra e por todas as suas características, se tinha lagoas e nascentes, monumentos, capelas, caça e árvores.
Ventuzelos
É graças a este inquérito que se pode obter uma visão mais ou menos completa de como era a freguesia de Eiró, nos meados do século XVIII como abaixo se vê. Para uma melhor compreensão o português foi actualizado e foi introduzida alguma pontuação.
Satisfazendo uma ordem que me foi enviada pelo muito Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral, que aceitei com o devido respeito que se lhe deve, fiz diligência cuja resposta dos interrogatórios é a seguinte:
Granja vista desde Ventuzelos
No que respeita à terra:
É província de Trás-os-Montes, comarca de Chaves, termo da vila de Montalegre, arcebispado de Braga Primaz das Hespanhas. É freguesia de São Salvador de Eiró.
É comenda do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Marquês de Marialva.
Tem cento e dois fogos ou vizinhos e trezentas e trinta e três pessoas pouco mais ou menos.
Está situada a igreja no lugar do Eiró, a ela pertencente em lajes quase todas fimes. Nela se não descobre povoação alguma.
Termo tem só o que ocupa a mesma freguesia.
A paróquia está dentro do mesmo lugar de Eiró. Tem esta freguesia mais dois lugares que lhe pertencem: o lugar de Sangunhedo e o das Boticas de Barroso.
É orago o São Salvador do Eiró. [A igreja] tem três altares: o altar-mor onde está encerrado o Santíssimo Sacramento no Sacrário e dois colaterais, o da parte direita da invocação de Nossa Senhora das Candeias e o da parte esquerda do Santo Menino Deus. Não tem naves, a dita igreja, nem irmandades.
O pároco é vigário colado, é aprezentação in solidum do Reverendo Reitor de São Pedro de Sapiãos. Poderá render anualmente oitenta e tal mil réis.
Não tem beneficiado algum.
Não tem conventos alguns.
Não tem hospital nenhum.
Não tem casa de Misericórdia.
Tem esta freguesia três ermidas: uma no lugar de Sangunhedo dessa freguesia, tem a invocação de Santo Aleixo e é administrada pelos moradores do mesmo povo; outra nas Boticas, invocação de São Francisco, é particular, do Doutor João Batista e é administrada por ele. Outra no Eiró invocação de Nossa Senhora das Necessidades, é particular, de João Careiro Vieira é administrada por ele. Todas estão dentro dos ditos povos.
São romagens de pouca continuação excepto nos seus dias e [peracidens] em alguns mais dias festivos.
Os frutos que dá a terra são: centeio, milho, vinho verde, castanhas e centeio em mais abundância.
Tem somente juiz espadanio, que govena a mesma freguesia e está sob a alçada do juiz de fora e câmara da vila de Montalegre.
Não é couto, nem cabeça de concelho.
Não há memória de que nesta freguesia haja ou houvesse, homens com as qualidades que diz o interrogatório.
Não se faz nesta freguesia feira alguma.
Não há correio, servem-se do correio da vila de Chaves, que dista desta freguesia três léguas.
Dista esta freguesia da cidade de Lisboa, setenta e duas.
Tem esta freguesia o privilégio de reguengueiros.
Não há fonte nem lagoa célebre.
Não é porto marítimo.
Não é murada.
Não sofreu nenhuma ruína no terramto do ano de 1755.
Não há coisa alguma a que se possa fazer menção.
Sangunhedo
No que se respeita à serra é o seguinte:
Chama-se a serra do Fontão. Terá de comprimento três quartos de légua.
Em comprido no que pertence ao termo da freguesia, que a dita serra começa num lugar a que chamam Castelãos, da freguesia de Calvão onde se divide a Estremadura de Portugal e Galiza que é continuada; compreendendo várias freguesias que lhe ficam no circuito até chegar ao Douro ocupará uma extensão até vinte léguas.
Os nomes da dita serra, mais conhecidos, no termo desta freguesia são Fontão e as Escadas de baixo e de cima.
Dentro do circuito desta freguesia não nasce rio algum, apenas alguns regatos que vêm de fontes pequenas e todas juntas desaguam num rio chamado Terva, que passa pelo termo desta freguesia por onde discorre quase um quarto de légua.
Não há vila nem lugares na dita serra nem ao longo dela além dos da freguesia já nomeados.
Não há fonte alguma de propriedades especiais na área da dita serra.
Não há memória de que na dita serra tenha havido minas, nem canteiros de pedra, nem de outros materiais de que se possa fazer menção.
O fruto da dita serra são umas cepas que as suas plantas são urzes de que ela é bem povoada. Não consta que tenha ervas com virtudes particulares.
A dita serra não contém em si mosteiro, igreja de romagem nem imagens milagrosas.
A qualidade da sua temperatura é frigidíssima de tal maneira que este ano teve neve mais de trinta dias sem derreter.
Não há nela criação de gados, apenas algum que os mesmos moradores levam a pastar nela, tomando conta deles por temerem os lobos que nela muitas vezes se criam. Criam-se também nela coelhos, perdizes e raposas.
Não há na dita serra lagoa nem nenhum fojo notável.
Não tem mais coisa alguma de que se possa fazer memória.
Ventuzelos
No que respeita aos rios, é o seguinte:
O rio que discorre por esta freguesia chama-se rio Terva. É pequeno o sítio da sua origem, na freguesia de Calvão.
As suas nascentes são fontezinhas pequenas, corre todo o ano mas no Verão em pouca quantidade.
Não desagua nele nenhum rio até chegar ao sítio desta freguesia, apenas alguns regatozinhos sem importância.
Não é navegável, nem tem embarcações algumas.
Corre manso e pacificamente excepto em algumas cheias.
Corre do Norte para o Sul.
Criam-se nele peixes a que chamam trutas e outra espécie deles a que chamam bogas e também alguns eirozes, tudo em pequena quantidade.
Não há pescarias nele.
Não há pescarias no dito rio nem também senhorio delas.
Não tem margens que hajam de se cultivar. Tem algum arvoredo e em partes alguns castanheiros e outras silvestres.
Não consta que as suas águas tenham virtude alguma.
Tem conservado e conserva sempre o mesmo nome.
Desagua este rio no rio chamado Tâmega e nele se mete no termo de Mosteirão.
Não há nele cachoeira, represa nem levada, apenas alguns açudes de alguns moinhos, que nele há, que estas lhe embarace o ser navegável por não ser capaz disso.
Em todo este rio não há mais que uma ponte de cantaria que fica no distrito do lugar de Sapelos, na freguesia de São Pedro de Sapiãos, chamada a ponte Pedrinha e no distrito desta freguesia tem uma [ponte] de pau a que chamam Requeixo.
Não tem lagar de azeite, pisão, nem nora. Apenas alguns moinhos.
Não consta que em tempo algum se tirasse ouro das suas áreas.
Não me consta que esta freguesia, nem os povos que a ela comarcãos se sirvam das águas deste rio para a cultura dos seus campos.
Poderá ter o dito rio desde o seu nascente até onde finaliza mais de quatro léguas. É o seu curso por onde passe atravessando a freguesia de Alvão, Ardãos, Bobadela, Sapiãos e Granja, até criar nesta minha e dela para baixo a freguesia de Beça, Curros e Pinho.
Não há coisa mais notável de que se possa fazer apresentação que pertença à este interrogatório.
Muito Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral em cumprimento da ordem de vossemecê que aceitei com todo O devido respeito, fiz diligência respondendo aos interrogatórios que me mandava, para o que ainda perguntei algumas advertências a várias pessoas desta freguesia, que não sabia para melhor me capacitar. O que vai e tudo na verdade sem breve nem coisa que divida faça, o que juro in verbo sacerdotis e por verdade assino e o Reverendo Domingos Gonçalves, Reitor de São Pedro de Sapiãos e o Reverendo João Gonçalves Vigário de Santa Maria da Granja. Eiró, 11 de Março de 1758.
Reitor de Sapiãos Domingos Gonçalves
O Vigário João Gonçalves
O Vigário padre Manuel Diogo
Granja
E estamos a chegar ao final deste post, só falta mesmo deixar o vídeo resumo deste post com as imagens de hoje e mais algumas, após o qual deixaremos um link para todas as aldeias da freguesia cada uma também com o seu vídeo. Vídeos que também pode ver no nossa canal de MeoKanal e do YouTube, também com link no final do post .
Aqui fica o vídeo, espero que gostem:
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Links para as aldeias da freguesia de Boticas e Granja
[i] Ver BARREIROS, Fernando, 1919, Monumentos Históricos de Barroso, I, Montalegre, Tipografia Santos & Morais.
[ii] É neste âmbito que se deve observar o projecto de descrição de Trás-os-Montes nos finais do século XVIII levado a cabo pelo magistrado régio Columbano Pinto Ribeiro de Castro em 1796 onde faz um retrato da provícia transmontana nas suas vertentes económica, social e administrativa culminando com uma proposta de reforma territorial e administrativa onde se propõe a extinção de inúmeros concelhos e a reorganização territorial dos existentes com a consequente criação de outros. Ver José Maria Amado Mendes, Trás-os-Montes nos fins do séc. XVIII segundo um manuscrito de 1796, INIC, Coimbra, 1995, (2ª ed.)
Iniciamos hoje a abordagem da última aldeia da freguesia de Boticas-Granja, a aldeia de VENTUZELOS, que até a última reorganização de freguesias pertencia à freguesia da Granja.
Deslizemos então o garabelho e entremos em Ventuzelos.
Ao contrário do que nos aconteceu com duas das aldeias aqui abordadas, que também pertencem a esta freguesia, mais precisamente a aldeia de Eiró e Sangunhedo, que para as descobrirmos, ou melhor, para as distinguirmos da Vila de Boticas, tivemos de pedir ajuda, com Ventuzelos, depois de sabermos da sua existência, não tivemos qualquer problema com a sua localização, demos com ela à primeira… bastou seguir a placa indicativa que está na estrada, um pouco antes de se entrar em Boticas.
A descoberta não foi complicada porque sabíamos ser próxima da Granja e a aldeia está isolada de outras construções, ou seja, é uma pequena aldeia concentrada que não tem mais que vegetação à volta. Aliás no post que dedicámos à aldeia da Granja, na referência e transcrição que fizemos de um documento de 1758, um inquérito que Marques de Pombal enviou para todas as paróquias, já tínhamos abordado a sua localização, que é bem curiosa, pelo que a sito aqui de novo – “Está a igreja no meio do lugar e anexo a ela um lugarejo chamado Ventuzelos, que consta tão somente de oito fogos já supra numerados, e ficará a uma distância de um tiro de mosquete.”
Portanto já sabíamos que Ventuzelos ficava a um tiro de mosquete da Granja, o problema aqui apenas o de saber qual o alcance em metros de um tiro de mosquete. Claro que não há conversor de tiros de mosquete para metros, mas há a história do mosquete, e num documento que encontrei, dizia por lá que o alcance máximo de um tiro de mosquete era de 90 a 100m. Ora o vigário Manuel Dias que respondeu ao inquérito do Marques de Pombal não se enganou por muito, isto se considerarmos o mosquete original, e depois o vigário não o afirma com certeza, foi bem claro “ficará”, e para o entendimento comum, é bem mais fácil compreender uma distância dada por uma “imagem” do que a entender por uma distância em metros, ou km, que na altura até as distância até se mediam em léguas, que no Barroso tinha duas medidas, as das léguas, e as “léguas que a velha mediu” e que António Granjo ficou a conhecer bem na subida que fez de Boticas até à Serra das Alturas. Se tiver alguma curiosidade em conhecer a lenda das “léguas que a velha mediu” fica um link no final deste post para a crónica de António Granjo, em que a mesma é referida.
Ventuzelos já está mais que localizada, e em relação à aldeia da Granja, é só atravessar a estrada que liga Sapiãos a Boticas e do outro começa-se logo a subir para Ventuzelos, já agora, o tal tiro de mosquete, na realidade hoje medida, será de uns 400m (mais metro, menos metro) desde o largo da igreja da Granja até ao início da aldeia de Ventuzelos.
Como vem sendo habitual também hoje deixamos aqui o itinerário recomendado, o nosso mapa com a localização e os mapas e imagens do Google maps e earth. Desde já fica o aviso que o itinerário que recomendamos não é o mais rápido nem o de menor distância, mas é o mais interessante para quem vai de passeio, e no final, vistas bem as coisas, são apenas mais 4km, ou 10 minutos de viagem que valem bem pelo que recebe em troca.
Pois desta vez não vamos sair de Chaves pela N103, vamos antes sair por Casas dos Montes e depois seguimos por Valdanta, Soutelo, Seara Velha, Ardãos, Nogueira e Bobadela, depois sim, entramos na N103 até Sapiãos e logo a seguir a Granja, quando chegar a esta última, que fica ao lado esquerdo, fique atento a uma placa e saída que vai aparecer à direita, que diz precisamente Ventuzelos, é por aí que deve ir e logo a seguir encontrará a aldeia. Não estranhe se não vir desde a estrada ou desvio, pois ela só se deixa ver quando entramos mesmo nela.
E agora que já sabemos como chegar até Ventuzelos, entremos então na sua intimidade que, depois de termos percorrido todas as aldeias do Barroso, já vamos sabendo o que nos espera, o mesmo que acontece nas aldeias de Chaves e nas de Vila Pouca de Aguiar por onde temos andado ultimamente, mas o mesmo vai acontecendo por todas as aldeias de Trás-os-Montes, das Beiras e todo o interior, os números não mentem, basta ver para onde evoluem os números dos últimos CENSOS da população e a linha de tendência a partir dos CENSOS de 1960.
Visitámos Ventuzelos no feriado de 5 de outubro de 2018, segundo o calendário já em dia de outono, mas ainda a saber a verão, num dia lindo de sol e recordo que ainda quente, já passava do meio dia, mais próximo até da 1 da tarde, hora de almoço e má para conversas com quem quer que seja, pois o despertador da barriguinha já começou a tocar, mas também não encontrámos ninguém com quem conversar ou sequer, ó menos, para cumprimentar. Apenas um cão em jeito de sentinela se abeirou do que restava de uma construção, bem lá no alto, no sítio que costuma ser dos gatos, mas este era diferente, nem sequer ladrou, apenas nos observava com se fosse um sentinela verdadeiro, mas cá para mim estranhou apenas o ruido na rua e, apenas curioso, veio espreitar quem era, e eramos nós. E troco sempre umas palavras com eles porque sei que eles nos entendem, pelo menos entendem se vamos por bem ou por mal, e como nós vamos sempre por bem, não custa nada dar dois dedos de conversa, às vezes, depois, até nos acompanham na visita, outras vezes não. No caso, ficou onde estava, em silêncio e nós lá fomos, sempre com um olhar atento de encaixilhar momentos.
Sem conversas, fica mais tempo para os pormenores e embora não veja ninguém, vejo as coisas que fizeram, as casas que construíram com as próprias mãos, pedra sobre pedra, as ruas, os canastros, mas são os pormenores os que mais me atraem e as soluções construtivas que engendram, nos acrescentos das casas, nas curiosas soluções que encontram para resolver problemas, porque sempre houve artistas nas aldeias e até mestres, principalmente no que tocava a madeiras, pedra e ferro, saberes feitos de experiência que passavam de geração em geração, e às vezes, o mais estranho, é ver que estes engendros funcionam.
Já atrás dissemos que a nossa visita foi em hora imprópria para conversas e a certo momento a barriguinha também começou a falar mais alto que a nossa curiosidade e olhares, depois os parceiros que me acompanham, nestas horas, também começam a reclamar, por tudo e por nada, assim , mais vale ficarmos pelo suficiente desde que nele tenhamos o essencial, o resto são pormenores que até podem dar jeito e servir de desculpa para um dia, com tempo, passarmos por lá com outro olhar e com sorte, até com outra luz, que parecendo que não, até pode fazer a diferença.
E chegou a hora de partir, deixar a aldeia, fechar as cancelas das hortas e as portas, só nos resta deixar por aqui o nosso vídeo resumo com todas as imagens que hoje aqui foram publicadas, vídeo que agora também podem ver no MeoKanal e no nosso canal do YouTube.
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Fica também o link para a lenda das léguas que a velha mediu e que atrás referimos: aqui
No próximo domingo teremos aqui o resumo da freguesia de Boticas-Granja.
Continuamos na freguesia de Boticas/Granja, com a terceira das suas cinco povoações – Sangunhedo, ficando por abordar apenas a aldeia de Ventuzelos, uma vez que e a vila de Boticas, será abordada em tempo oportuno, quando todas as aldeias do Barroso tiverem passado por aqui.
Tal como aconteceu com a povoação de Eiró, também Sangunhedo foi absorvida pelo crescimento da Vila de Boticas, sendo hoje um todo, no entanto ainda existem algumas das antigas construções deixando ver um pouco daquilo que era a sua identidade original.
Vamos então até Sangunhedo, iniciando pelo itinerário para chegar até lá, como sempre a partir da cidade de Chaves e a sua localização, que como já atrás dissemos, hoje em dia, já fica dentro da vila de Boticas.
Quanto ao itinerário basta seguir em direção a Boticas, como quem diz, saída de Chaves pela N103 (estrada de Braga) até Sapiãos, aí deixa-se a N103 em direção a Boticas que será um pouco mais à frente, a menos de 3Km e imediatamente a seguir à Granja
Já em Boticas, o melhor é seguir até a R311, estrada que nos leva até a Carreira da Lebre, Carvalhelhos, Salto, Ribeira de Pena, entre outras, e após a rotunda localizada junto ao Centro de Artes Nadir Afonso, sair na 3ª saída à direita da R311, ou seja pela Rua João de Deus até passar as instalações da Santa Casa da Misericórdia, aí já estará em Sangunhedo. É um bocado confuso conseguir distinguir a povoação da vila de Boticas, mas o casario mais antigo pode ajudar, tal como a capela de Santo Aleixo, cuja imagem ficou atrás, bem como as restantes imagens que aqui deixamos.
Dadas as circunstâncias, de Sangunhedo atual pouco há a dizer, mas mesmo assim podemos realçar o casario antigo sobrevivente, com alguns exemplares ainda dignos de registo, como uma casa mais senhorial com jardins anexos e uma outra recuperada para alojamento local
Outra construção a realçar, esta de cariz religioso, é a capela de Santo aleixo, que segundo reza em alguns documentos, foi construída nos princípios do século XVII e restaurada em 1758, estando esta última data inscrita na padieira da porta de entrada.
Mais dois edifícios a merecerem destaque, um com uma inscrição de 1792 na padieira de uma porta carral e o destaque não é pela sua arquitetura exterior ( a única que vimos) mas pelo que a construção contém no seu interior, a julgar pela placa colocada junto à entrada, uma “Adega de Vinho dos Mortos”.
A segunda construção a merecer destaque, este sim pela sua arquitetura mas também pela sua utilização como EcoMuseu do Barroso – Museu Rural, que não visitámos o seu interior porque na altura do nosso levantamento fotográfico estava fechado, mas a visitar numa próxima oportunidade.
Não conhecemos a história deste edifício que hoje se destina ao EcoMuseu do Barroso, notoriamente uma construção antiga que em tempos nos parece-nos ter tido outras funções, provavelmente de habitação, mas não temos qualquer documento que o comprovem, embora não deva ser difícil apurar qual o seu passado. Quando formo por lá de visita vamos tentar saber.
E é tudo que podemos dizer sobre Sangunhedo embora seja uma povoação secular, tal como o testemunham alguns inscrições de datas nas padieiras das portas de algumas construções, incluindo a da capela que como já atrás de mencionou foi construída nos inícios do século XVII, mas também porque a povoação é também mencionada como no inquérito paroquial de 1758 como sendo uma povoação da freguesia de Eiró.
E estamos mesmo no final deste post, só falta mesmo o vídeo final com todas as imagens hoje aqui publicadas, ao qual passamos de seguida. Espero que gostem.
Aqui fica:
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No próximo domingo teremos aqui a aldeia da Ventuzelos.
Tal como prometido cá estamos com mais uma aldeia de “O Barroso aqui tão perto”, no caso com a aldeia da Granja, a 21 km da cidade de Chaves e praticamente colada à sua sede de concelho, a vila de Boticas.
Aldeia da Granja que até à última reorganização administrativa de freguesias era sede de freguesia à qual, além da própria aldeia, pertencia também a aldeia de Ventuzelos.
Iniciemos então este post dedicado à Granja com a sua localização e itinerário para lá chegar, como sempre a partir da cidade de Chaves. Quanto ao itinerário, é muito fácil. Saída de Chaves pela N103 (estrada de Braga) até Sapiãos, aí sai-se da N103 em direção a Boticas e a próxima aldeia é a Granja, imediatamente antes da Vila de Boticas, cuja rotunda de entrada fica a apenas 500 metros, ou seja, está praticamente colada a Boticas. Mas ficam os nossos mapas para ilustrar o itinerário e localização. Fica só uma nota, para quem não sair de Chaves e venha do Sul pela autoestrada que poderá sair no nó de Vidago ( e depois N311 até Boticas) ou nó de Chaves Sul, neste a saída é para o itinerário que recomendamos (N103) mas já a meio do caminho.
Ao contrário da maioria das aldeias em que temos pouca documentação e informação disponível, no caso da Granja, graças a sua condição de ter sido sede de freguesia, existe alguma informação em documentos publicados, tal como na monografia “Preservação dos Hábitos Comunitário nas Aldeias do Concelho de Boticas” e na respetiva separata que é dedicada à antiga freguesia, que de seguida passaremos a transcrever o mais importante sobre a aldeia. Mas antes disso, apenas umas palavrinhas nossas sobre a aldeia, como o agradável que foi descobrir a aldeia, depois de tantas vezes lhe passar ao lado, pois de passagem não se pode respirar a sua intimidade e a sua vida, nem ver o largo da igreja com uma singular torre sineira, quase no meio do largo e separada da igreja e um pouco mais abaixo uma belíssima fonte de 1932, com inscrição CMB – Construída Durante a Ditadura Nacional”, fonte esta de duas bicas e bebedouro que ainda dá de beber às vacas a caminho do pasto, tal como tivemos a sorte de testemunhar. Também sem entrar na Granja perdemos o andar nas suas rua, o calvário que se desenvolve em cima de um enorme rochedo, o cavalinho e a égua com que um puto fez para a fotografia, e um antigo “palacete” com capela interessantíssima com servidão pela rua, que ao que parece se destina(ria) a um Núcleo Museológico Cistercience, apoiado pelo Programa de Desenvolvimento Rural 2007-2013, mas parece-me que com as obras paradas e por último, ter a honra de andar nas ruas e respirar os mesmos ares que o José Carlos Barros pisou e pisa, respirou e respira sempre que regressa à sua terrinha, o mesmo José Carlos Barros, Poeta e Escritor, o das “Pessoas Invisíveis” que foi prémio Leya 2021 e um autêntico embaixador do Barroso, e já agora, do Alto Tâmega… e com esta me bou até aquilo que se diz na separata “Preservação dos Hábitos Comunitário nas Aldeias do Concelho de Boticas”, com duas notas prévias, a primeira lembrar que o texto se refere à antiga freguesia da Granja (atualmente freguesia de Boticas e Granja) e a segunda a de o texto ser do ano de 2006, pelo que alguns dos dados daquilo que então era atual, hoje já estão naturalmente desatualizados. Vamos lá então, e passamos a citar (para descansar a vista da leitura, metemos umas imagens nossas pelo meio):
Preservação dos Hábitos Comunitário nas Aldeias do Concelho de Boticas
A FREGUESIA DA GRANJA: GEOGRAFIA E PERSPECTIVA HISTÓRICA
A freguesia de Granja é uma das freguesias mais próximas de Boticas. Localizada a Este da vila de Boticas, confronta com várias freguesias: a Norte e a Este com Sapiãos, a Sul com Pinho e a Oeste com Boticas e Cervos do concelho de Montalegre.
É constituída pela aldeia de Granja, sede de freguesia, e anexo a ela tem o lugar de Ventuzelos, disposto paredes-meias com a vila de Boticas. O acesso viário faz-se pela EN 312. Dada a sua proximidade em relação à sede do concelho percorrem-se poucos metros até aparecer a indicação Granja.
As localidades de Granja e Ventuzelos encontram-se dispostas num vale, na parte sul da Serra do Leiranco. Protegidas a toda à volta por serras e montes, os seus pastos e campos de cultivo estendem-se ao longo da planície do Rio Terva. É a segunda freguesia mais pequena do concelho, ocupando uma área total de apenas 8,8 Km2.
POPULAÇÃO, ECONOMIA E SOCIEDADE
O desenvolvimento da população da freguesia da Granja acompanhou o movimento demográfico que caracteriza toda a região de montanha no Norte de Portugal, tipificada por uma diminuição progressiva da população, com uma pirâmide etária invertida, onde os grupos etários mais baixos são diminutos e a população envelhecida aumenta.
Atualmente, tem, aproximadamente, 266habitantes, sendo uma das freguesias com menos população, o que em parte se deve a sua pequena dimensão. Contrariando um pouco a tendência registada na maior parte das freguesias do concelho, até à década de 70 verificou-se um aumento significativo da população. No entanto, a partir dos anos 70, e à semelhança do que se verifica na generalidade das freguesias do concelho, também esta freguesia perdeu muita da sua população residente, aproximadamente 40,2%. Todavia, foi das freguesias do concelho, com excepção da freguesia de Boticas, aquela que menos população perdeu, facto que em parte se justifica pela proximidade da vila e sede do concelho, onde há uma maior oferta de emprego, não implicando a mudança de residência. O gradual decréscimo da população, que entretanto se registou, deveu-se, essencialmente, à intensificação dos fluxos migratórios que se verificaram desde os anos 70, para além dos factores gerais que caracterizam o actual movimento demográfico em Portugal. Muitos foram os que partiram para o estrangeiro, para países como França, Estados Unidos e Suíça, e para outras regiões do país, em busca de melhores condições de vida.
Assim, quem permanece nas aldeias é, essencialmente, uma população marcadamente envelhecida, sendo que apenas um quarto dos 266 residentes têm menos de 25 anos e a grande maioria (55%) têm entre 25 e 64 anos.
Os níveis de alfabetização desta população residente são baixos, acompanhando o seu nível de envelhecimento, destacando-se o número elevado de pessoas sem nenhuma qualificação académica. Esta situação excepcional é suportada pelo elevado número de idosos, alguns deles regressados da (e)migração, em situação de aposentados.
No que se refere à área de actividade, a maior parte da população local continua a dedicar-se à agricultura, essencialmente de subsistência, e à pecuária. Alguns trabalham na construção civil e no pequeno comércio e outros na área da indústria (Euronete) e Serviços em instituições do concelho (Município de Boticas, Santa Casa da Misericórdia, Resat, etc.).
Na freguesia existem três cafés com um pequeno salão de jogos onde os mais jovens se distraem.
Nas horas de ócio e sempre que o tempo permite, as pessoas, especialmente as mais idosas, juntam-se nos largos da aldeia a conversar.
MARCAS DO SEU PASSADO
Não é fácil conhecer o dia primeiro da origem da maioria das paróquias e freguesias. Excluindo a ou outra que vem identificada nos documentos antigos, a maioria das aldeias têm origem desconhecida no tempo. Umas mais antigas, outras de origem mais recente, sabe-se que a maioria destas aldeias são formadas a partir do agrupamento de famílias, unidas por laços de parentesco ou afinidades económicas e profissionais, que se organizaram em comunidade. Muitas das aldeias de Barroso têm a sua origem histórica no movimento de reconquista e povoamento do território, iniciado com a formação do Reino de Portugal em 1143 e posterior fixação de uma ou mais famílias de povoadores. Teve particular desenvolvimento a partir dos finais do século XIII. Estes povoadores eram atraídos por contratos de aforamento cujos termos do contrato eram favoráveis à sua fixação, traduzidos em pagamentos de foros de valor acessível. Estes contratos são conhecidos como o processo de enfiteuse e eram promovidos indistintamente pela Coroa e/ou pelas Casas Nobres e Senhorios Eclesiásticos.
São conhecidos alguns contratos de enfiteuse para as terras de Barroso o que nos permite pensar que a grande maioria das suas aldeias e povoados tiveram origem neste modo de povoamento[i].
Alguns contratos de aforamento são disso testemunho como é o caso do aforamento da "Póvoa" de Lavradas, feito nos finais do século XIII (1288 da Era Cristã), no tempo do Rei D. Dinis, e que, tudo o indica, está na origem da actual aldeia de Lavradas14, ou a carta de foral outorgada a Sapiãos dos meados do século XIII. Quer o primeiro, quer o segundo foram passados tendo em vista o desenvolvimento da terra, como prescreve a carta de Lavradas que diz: pobrem e lavem e fruteviguem, isto é, que povoas sem com mais gente, que lavrassem a terra e dela produzissem frutos para o seu sustento.
Em 1527 já Granja aparece identificada no "Numeramento" mandado fazer por D. João III, com 27 moradores ou fogos, o que perfaz um número aproximado de 120 pessoas[ii]. Ventuzelos não vem referido neste documento, mas já é identificado em 1758 como um lugarejo com oito fogos, isto é, com cerca de 30 a 40 pessoas, e Granja aparece já com 77 fogos e 254 habitantes.
OS CASTROS DA GRANJA
No território desta freguesia encontram-se vestígios arqueológicos que testemunham a presença humana desde épocas remotas. Exemplo disso são o Castro do Cabeço e o Castro do Couto dos Mouros.
O Castro do Cabeço esta localizado num morro cónico, a cerca de 300m da EN 103, entre Sapiãos e o Alto do Fontão. O acesso a esse local faz-se seguindo por um carreiro através dos pinhais. Trata-se de um antigo povoado fortificado onde ainda são visíveis duas muralhas em ruínas, fossos e vestígios de casas circulares. Nas cercanias foram encontradas escórias (parecendo ser de ferro), partes de uma mó, pedaços de bronze e uma pequena moeda.
À esquerda da EN 311, que liga Boticas a Vidago, fica o Couto dos Mouros, cabeço pedregoso com grandes fragas de granito. Fica sobranceiro ao rio Terva, que a uns 200m lhe corre pelo Poente. Do lado Norte há um pequeno troço de muralha com 10m de comprimento, assinalado em parte por uma fiada de pedras em montão linear caótico. Há outro troço do lado poente com 12m de comprimento. No alto há uma casa circular com 2,7m de diâmetro, feita de pedra tosca, onde foi encontrada metade de uma mó circular de moinho.
UM DOCUMENTO DE 1758
No ano de 1758 o Rei D. José, através de seu ministro Marquês de Pombal, desenvolveu um inquérito a todas as paróquias do Reino de Portugal continental que hoje se encontram no lAN/TT.
Este inquérito, que foi respondido pelos párocos das freguesias, era composto de três partes: a primeira respeitante à paróquia, onde se tratava de saber da sua história, produções agrícolas, população, instituições locais, igreja e capelas com suas devoções e romagens; a segunda tratava da serra e das suas características, se tinha lagoas e nascentes, monumentos, capelas, caça e árvores; a terceira perguntava sobre os rios e ribeiros que nela existissem, assim como as levadas, represas, moinhos, pisões e culturas nas suas margens. É graças a este inquérito que se pode obter uma visão mais ou menos completa de como era a freguesia da Granja nos meados do século XVIII como a seguir se pode ver.
É a resposta dada pelo pároco da freguesia da Granja nesse ano, o Vigário João Gonçalves, que adiante apresentamos. Para uma melhor leitura foi actualizado o Português naquelas palavras que consideramos necessário, introduzindo-se-lhe pontuação e parágrafos.
"Como sempre foi o meu ânimo observar as ordens dos meus excelentíssimos e reverendíssimos Senhores Prelados e como no presente se me apresentasse uma do Muito Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral desta comarca, reduzida por artigos que no caso deste transunto apresento e para resposta ofereço o seguinte:
Granja vista desde Ventuzelos
Terra
É província de Trás-os-Montes, termo de Montalegre, comarca de Chaves, do Arcebispado de Braga Primaz das Hespanhas.
É igreja apresentada pelo Reverendíssimo padre Dom Abade do Real Mosteiro de Santa Maria de Bouro dos religiosos Bemardos que atualmente é Dom Abade Frei José de Melo.
Tem esta freguesia setenta e sete fogos, e neles pessoas de maior idade duzentas e trinta e nove e de menor idade catorze. Acham-se absentas quarenta e três.
Está situada quase toda em lajes bem firmes que várias vezes me tem ainda de dia batido. Nas costas dela se descobre tão somente parte de dois povos que são Quintas da freguesia de S. Bartolomeu de Beça e Boticas da freguesia de S. Salvador de Eiró. Este a uma distância de muito menos de meio quarto de légua e aquele será um quarto.
Tem o seu termo bem demarcado a respeito dos dízimos e postos bem limitado parecido a um barco.
Está a igreja no meio do lugar e anexo a ela um lugarejo chamado Ventuzelos, que consta tão somente de oito fogos já supra numerados, e ficará a uma distância de um tiro de mosquete.
É Santa Maria da Granja das Boticas de Barroso. Tem três altares: no altar-mor o orago Nossa Senhora da Assunção e dois colaterais, da parte direita Nossa Senhora do Rosário e da esquerda S. Sebastião. Não tem naves nem tem casa de Misericórdia.
É vigaria colada apresentação, poderá render anualmente de setenta a oitenta mil réis, renderá algum anos cem mil reis.
Tem uma ermida com a invocação da Senhora da Conceição e Santa Bárbara que fica no fim do povo para poente. É do Reverendo Domingos dos Santos Abade de S. Pedro de Gerez, Covelo. Como sua ele administrador não sei que para ela haja renda alguma, so que ele a paramenta.
Não tenho visto que a ela acuda gente em romagem excepto dois anos primeiros que houve jubileu por breve de sete anos que se tem já findou e não se cuida em reforma.
Os frutos que se colhem são: milho, vinho, castanhas e centeio, este em maior quantidade. Mas todos tem limitados que os mais dos fregueses quando chegam a meio do ano, já um bicho a que chama gorgulho não acha em que se dê vista em casa deles por mais que dele delegencie.
Tem esta freguesia o seu juiz, a que chamam espadanio, que rege os mais e está sujeito ao juiz de fora da vila de Montalegre.
Por não haver correio, valemo-nos do de Chaves que fica pouco mais ou menos a uma distância de três léguas.
Dista esta freguesia da cidade de Braga, capital deste Arcebispado, doze léguas, e da cidade de Lisboa, capital deste Reino, setenta e duas.
Está nos tombos antigos que esta freguesia foi nos seus princípios Abadia e ouvi dizer que fora Couto privilegiado.
Há neste lugar da Granja duas fontes públicas excepto algumas particulares. Neles se não tem experimentado virtude mais que a de se beber e para os usos necessários. E provaram de fontes que nos anos antecedentes de esterelidades ainda que alguma coisa temerata, sempre conservaram as suas torrentes.
Não é porto marítimo por Viana ficar a uma distância de dezassete légua e o Porto a vinte. E por isso as mais das vezes temos peixe só na aptencia e quando chega a todos tira a vontade.
Não padeceu ruína alguma durante o terramoto de mil setecentos e cinquenta e cinco, só o grande tremor e zunido.
Respectiva à Serra
Não tem o termo desta freguesia mais do que um pedaço dessa (serra) da parte do norte chamada Chão Longo, que parte com Santa Cristina de Cervos e do nascente com São Pedro de Sapiãos e do poente com o Salvador de Eiró e vem acabar onde chamam o Outeiro do Cabeço onde se vêem vestígios de muros que dizem que foram casas de mouros.
Tem outro pedaço dela por ficar a freguesia no meio a onde chamam Pedrica e Val de Giestoso que parte com Valdegas, freguesia de Pinho, ao nascente com S. Pedro de Sapiãos e do poente com o Salvador do Eiró. Há entre ela alguns castanheiros. E não há mais coisas que possa relatar aos artigos que da serra tratam, Só o podem fazer os meus vizinhos de Sapiãos e Eiró por terem largos distritos e cobrirem o termo desta freguesia.
Rio
Pelo distrito desta freguesia passa, à distância de quase meio quarto de légua, de norte para sul, um regato a que chamam Terva. Tem a sua origem na freguesia de Calvão onde se divide a do Couto de Ervededo da Mitra Primaz.
Desde o seu nascimento até se meter no rio Tâmega haverá uma distância de quatro léguas. O seu nascente são só umas fontezinhas pequenas. Corre todo o ano, ainda que no Estio em muito pouca quantidade. Não entram nele rios que se possam mencionar.
Criam-se no seu (leito) pequenas trutas e algumas de bom tamanho, essas nem os fregueses quando as apanham gostam que os párocos o saibam pelo gosto que lhe acham. Criam-se mais bogas que estas por mais miúda que seja a rede passam sem lesão alguma e destas em maior abundância.
Como seja diminuto não tem margens. Estão em pastos à beira dele alguns castanheiros se no destrito desta freguesia é bem provido de lagens.
Não tenho notícia que desde o seu princípio tivesse outro nome.
Tinha a sua corrente no rio Tâmega já confrontado no lugar de Mosteirão, que o mesmo Tâmega divide a comarca de Chaves da de Vila Real.
Encontram-se no tal regato um pontilhão dito de pedra e outra de cantaria, que está na estrada que do Porto, Viana e praças do Minho vai para Chaves, ambas no distrito de Sapelos, freguesia de S. Pedro de Sapiãos. Tem mais outra ponte de pau e pedra bruta no sítio a que chamam Requeixo, freguesia de S. Salvador do Eiró.
Tem no distrito desta freguesia oito moinhos para moer pão.
Não faça dúvida o não falar a todos os artigos que não apontei é que não achei, nem havia o que a eles dizer, e por essa razão os deixei. Tudo o mais vai conforme a verdade, o que juro in sachris e comigo assinaram o Reverendo Domingos Gonçalves, Reitor de S. Pedro de Sapiãos e Manuel Dias, Vigário do Salvador do Eiró.
Granja, vinte e quatro de Março ano de mil setecentos e cinquenta e oito.
Vigário se São Salvador do Eiró, Manuel Dias.
Reitor, Domingos Gonçalves
O Vigário, João Gonçalves
E estamos quase a chegar ao fim da abordagem de mais uma aldeia do concelho de Boticas e do Barroso, só falta mesmo deixar aqui o vídeo com todas as imagens hoje aqui publicadas. Espero que gostem.
Aqui fica:
Também podem ver este e outros vídeos do Barroso no MEO KANAL Nº 895 607
e
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No próximo domingo, dado estarmos em plena Feira dos Santos, não vai haver aldeias do Barroso, mas fica prometido para o domingo seguinte com a aldeia de Sanguinhedo, ainda na freguesia de Boticas e Granja.
[i] (13) BORRALHEIRO, Rogério, 2005, Montalegre, Memórias e História, Ed. Câmara Municipal de Montalegre, pp. 80-87.
[ii] Tendo por base o índice de 4 a 5 pessoas por fogo. Arquivo Histórico Português, Vol. VII, n° 7, Julho de 1909, p. 272
Iniciamos hoje a abordagem da última freguesia de Boticas, a freguesia de Boticas/Granja composta pela Vila de Boticas e sede de concelho, e as aldeias de Eiró, Granja, Sangunhedo e Ventuzelos.
Seguindo a metodologia que temos utilizado até aqui, ou seja fazer a abordagem das povoações pela ordem alfabética, hoje deveríamos abordar a Vila de Boticas, no entanto vamos passar à frente e seguimos para a que se perfila em segundo lugar, Eiró, isto porque para as sedes de concelho teremos uma abordagem final quando terminarmos a abordagem de todas as aldeias do Barroso, mas para isso ainda falta abordar a presente freguesia e uma freguesia do concelho de Ribeira de Pena e outra de Vieira do Minho.
Ora vamos lá até Eiró, a qual, para a trazemos aqui tivemos que pedir ajuda a um amigo e colaborador do nosso blog, natural de Boticas, o Luís de Boticas, sem a colaboração do qual não teríamos este post, bem como o que iremos dedicar a Sangunhedo, tudo porque após algumas tentativas de identificarmos o povoado de Eiró e Sanguinhedo, não conseguimos perceber onde terminava a Vila de Boticas e onde se iniciavam estas duas povoações, e vamos ser sinceros, estivemos até para as ignorar, ou melhor, apenas mencionar a sua existência no post que irá ser dedicado a Boticas, o que, como veremos à frente, seria de uma grande injustiça.
Aparentemente e na realidade atual também assim acontece, estas duas povoações foram absorvidas pelo crescimento da Vila de Boticas, sendo hoje um só aglomerado, isto a nível físico, pois ambas as povoações ainda mantêm um bocadinho da sua identidade inicial, principalmente a aldeia de Eiró, o problema estava mesmo em saber onde começava e terminava cada uma delas, mas tudo deveria ser ao contrário.
Então é assim, no diz que diz do dizem que…, já tinha ouvido dizer que a existência do Eiró era muito anterior a Boticas, mas uma coisa é o que se diz e outra, é haver documentos para a confirmar, e no caso existem, mas também falta deles, isto é, nos documentos mais antigos Boticas nunca é mencionada, apenas o Eiró e Sangunhedo, ou seja, por dedução, se não é mencionada é porque não existia. Na separata da “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas” dedicada à antiga freguesia de Boticas isso mesmo se confirma, senão vejamos o que se diz por lá:
“Boticas ou Boticas do Barroso, era no passado, até pelo menos 150 anos atrás, uma humilde povoação da paróquia de Eiró. Em 1530, no numeramento de D.João III, o seu topónimo não aparece, talvez porque a aldeia ainda não existisse como tal (…)”
Já num documento de 1758, um inquérito que Marques de Pombal envia para todas as paróquias a mando do Rei D. José, cujas respostas eram dadas pelos párocos das freguesias, o Reitor de Sapiãos Domingos Gonçalves, o Vigário João Gonçalves e o Vigário padre Manuel Diogo, respondem ao mesmo inquérito, à 3ª questão do inquérito respondem: “Tem cento e dois fogos ou vizinhos e trezentas e trinta e três pessoas pouco mais ou menos”. à 6ª questão reponde que: “A paróquia está dentro do mesmo lugar de Eiró. Tem esta freguesia mais dois lugares que lhe pertencem: o lugar de Sangunhedo e o das Boticas do Barroso”
Ainda na mesma separata da “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas” e referido o documento anterior de 1758 diz-se o seguinte:
“Ao tempo, a paróquia era conhecida por Eiró ou São Salvador de Eiró. Efectivamente, a igreja matriz encontrava-se dentro do lugar de Eiró, constituindo por isso a paróquia e dando nome ao conjunto das três povoações que a compunham – Eiró, Sangunhedo e Boticas do Barroso. A partir de 1836, com a constituição do concelho de Boticas a partir da desanexação de freguesias do concelho de Montalegre, da extinção do Couto de Dornelas e ainda de uma freguesia do concelho de Chaves a freguesia de Eiró passou a designar-se por freguesia de Boticas, que deu nome ao concelho, passando por isso a ser vila e sede do concelho de Boticas."
Este caso de Eiró/Boticas e da “importância” de uma povoação passar para outra com desenvolvimento assimétrico, repete-se um pouco por muitas localidades. No concelho de Chaves, por exemplo, aconteceu o mesmo com Arcossó e atual Vila de Vidago, às vezes é só uma questão de “sorte” na sua localização, e de infraestruturas que chamam a esses lugares mais população, como a passagem de uma estrada principal, de se um cruzamento de estradas ou caminhos ou de uma riqueza natural local tornar-se necessária ou pegar em moda, tal como aconteceu em Vidago nos finais do Século XIX/inícios do Século XX com a exploração das suas águas minerais naturais e o termalismo.
E sobre o Eiró pouco mais há a dizer, mantém a sua belíssima igreja, com a grandeza de uma igreja de freguesia, um cruzeiro, um interessante calvário todo em cima de um rochedo e algumas construções antigas, mas a modernidade também já lá chegou, era inevitável dada a proximidade da que passou a ser sede de freguesia, que na realidade entre o centro histórico de Eiró e o “menos” histórico de Boticas distam apenas cerca de 800 metros.
Vista parcial de Boticas e Sangunhedo desde Eiró
Só nos resta deixar aqui o mapa com a localização de Eiró e os mapa com o itinerário para lá chegar, que resumido, a partir de Chaves é Chaves-Sapiãos via N103, em Sapiãos vira-se em direção a Boticas e mesmo na entrada de Boticas, imediatamente antes da primeira rotunda e logo a seguir à placa de trânsito indicativa da entrada em Boticas, vira-se à direita e 500 metros à frente, encontrará um núcleo de casas mais antigas – aí já estará em Eiró.
E agora chegamos àquela altura em que nos despedimos e anunciamos o vídeo resumo com todas as imagens que hoje aqui foram publicadas, vídeo que também podem ver no MeoKanal e no nosso canal do YouTube.
Aqui fica:
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No próximo domingo teremos aqui a aldeia da Granja.
Como vem sendo habitual, a seguir à abordagem das aldeias de uma freguesia do concelhio de Boticas, deixamos aqui um resumo da freguesia, com alguns dados respeitantes à freguesia que não foram abordados nas suas aldeias. Assim como as duas últimas publicações diziam respeito às aldeias de Sapiãos e Sapelos, cuja sede de freguesia é a aldeia de Sapiãos, aqui fica o resumo dessa freguesia.
Neste resumo, as imagens já foram todas publicadas nos artigos dedicados a cada uma das aldeias. Hoje fica apenas uma seleção com imagens das duas aldeias, Já os mapas, embora também tivessem sido publicados, têm algumas alterações de modo a adaptá-los à freguesia, nomeadamente o itinerário para chegar até à freguesia de Sapiãos, sempre a partir da cidade de Chaves, que, uma vez que Sapelos fica a caminho de Sapiãos, será apenas um.
Claro que quando abordamos uma aldeia, em geral, deixamos aqui imagens das paisagens das aldeias/freguesia, do seu casario, de alguns pormenores de ruas e alguns dos seus motivos de interesse, mas as aldeias são feitas à imagem das pessoas que a habitam, a sua população. Mas hoje em dia essa imagem está um bocadinho deturpada, pois quase sempre a imagem da aldeia no seu conjunto, não corresponde à da sua população, isto é, ao contrário do que acontecia há umas dezenas de anos atrás, em que havia menos habitações, mas muitos habitantes, hoje, relativamente, acontece o contrário, há mais habitações, mas menos habitantes.
E esta freguesia de Sapiãos até tem sido um bocadinho atípica em relação ao comportamento da população das restantes freguesias, isto porque entre os anos de 1864 e 1950 manteve mais ou menos a mesma população residente, mesmo nos Censos de 1920 em que quase todas as freguesias viram a sua população residente a diminuir consideravelmente, isto devido a três fatores, I Grande Guerra, emigração e a pandemia da gripe espanhola ou pandemónica, na freguesia de Sapiãos apenas perdeu 100 habitantes. No único Censos em que o comportamento é idêntico ao das restantes freguesias, é no de 1960, em que a população cresce em mais de 300 habitantes em relação aos Censos de 1950, atingindo um total de 1.286 habitantes. Já o comportamento pós 1960, embora com uma descida de população considerável, visto que atualmente a população da freguesia é de apenas 488 habitantes, graficamente desceu a pique de 1960 para 1970, mas a partir de aí a descida tem sido suave, ao contrário da maioria das freguesias (do concelho, do Barroso e da região) em que a descida é constante e muito mais acentuada, exceção para as sedes de concelho, vilas e cidades e, um ou outro caso isolado. Os porquês desta descida constante nos últimos 50 anos são conhecidos de todos, primeiro pela emigração para o estrangeiro ou migração das populações rurais para as sedes do concelho e outros grandes centros. Segundo, ainda a ver com a emigração, porque grande parte dos nossos emigrantes atuais já não regressam à sua aldeia de origem, ou simplesmente não regressam, terceiro, o não regresso da maioria dos nossos jovens, e não jovens, com formação académica superior, por não encontrarem na sua aldeia ou mesmo na sede de concelho trabalho compatível com a sua formação. Por último a redução drástica da taxa de natalidade. E sobre o assunto, ficamo-nos por aqui, pois hoje o tema é a freguesia de Sapiãos.
Sapiãos
Sapelos
Quanto às nossas considerações pessoais sobre Sapiãos e Sapelos, bem como outras características próprias de cada uma das aldeias, já as fomos deixando nas publicações que fizemos para cada uma das aldeias, daí, chegamos àquela parte em que passamos a transcrever o que se diz na “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas” - separata da freguesia de Sapiãos. Desde já fica o aviso que se trata de uma edição da Câmara Municipal de Boticas do ano do mês de maio de 2006, pelo que há informação que poderá não estar atualizada, nomeadamente no que respeita a associações existentes e população atual. Só uma nota explicativa para a localização/itinerário que se vai fazer para as duas aldeias, pois enquanto que a nossa (que ficou atrás) é feita com o ponto de partida desde a cidade de Chaves, no texto que se vai seguir, o ponto de partida é a feito desde a vila de Boticas.
Sapiãos
Sapelos
Freguesia de Sapiãos
A freguesia de Sapiãos, localizada a Este da vila de Boticas, confronta com várias freguesias: a Norte com Bobadela e Ardãos, a Este com Redondelo do concelho de Chaves, a Sul com Pinho e a Oeste com Granja e Cervos do concelho de Montalegre.
É constituída pelas aldeias de Sapiãos, sede de freguesia, e Sapelos, o acesso viário faz-se seguindo pela EN 312 até aparecer a indicação Sapiãos, por seu lado, para Sapelos segue-se pela EN 103 em direcção a Chaves.
A aldeia de Sapiãos encontra-se disposta na encosta Sul da Serra do Leiranco e a aldeia de Sapelos junto à encosta Norte da Serra do Facho. Protegidas a toda à volta por serras e montes, os seus pastos e campos de cultivo estendem-se ao longo da planície do Terva.
A freguesia ocupa uma área total de 21,1 Km2.
Sapiãos
Sapelos
O desenvolvimento da população desta freguesia de Sapiãos acompanhou o movimento demográfico que caracteriza toda a região de montanha no Norte de Portugal tipificada por uma diminuição progressiva da população, com uma pirâmide etária invertida, onde os grupos etários mais baixos são diminutos e a população envelhecida aumenta.
Actualmente, tem aproximadamente 526 habitantes, sendo uma das freguesias com mais população o que em parte se explica dada a proximidade relativamente à sede do concelho. Todavia, seguindo a tendência que se verifica na generalidade das freguesias do concelho, esta freguesia tem vindo a assistir ao decréscimo da sua população, sendo que nos últimos 40 anos perdeu aproximadamente 59,1% da sua população residente. O gradual decréscimo da população que se registou, deve-se essencialmente à intensificação dos fluxos migratórios que se verificaram a partir os anos 60. Muitos foram os que partiram para o estrangeiro, para países como os Estados Unidos, Brasil, França e para outras regiões do país, em busca de melhores condições de vida. (E) migrar continua a ser uma opção para a população mais jovem dada a limitação local de ofertas de emprego.
Sapiãos
Sapelos
Assim, quem permanece nas aldeias é essencialmente uma população marcadamente envelhecida, apenas um quarto dos 526 residentes tem menos de 25 anos.
Os níveis de alfabetização desta população residente são baixos, acompanhando o seu nível de envelhecimento, destacando-se o número elevado de pessoas sem nenhuma qualificação académica. Esta situação excepcional é suportada pelo elevado número de idosos, alguns deles regressados da (e)migração, em situação de aposentados.
No que se refere à área de actividade, a maior parte da população local, continua a dedicar-se à agricultura, essencialmente te de subsistência e à pecuária. Alguns trabalham na construção civil e no pequeno comércio local e outros na área dos serviços em instituições do concelho (Município de Boticas, Euronet, Santa Casa da Misericórdia etc.).
Sapiãos
Sapelos
Na freguesia existem vários restaurantes, mini-mercados, cafés e pequenos salões de jogos onde os mais jovens se distraem.
Nas horas de ócio e sempre que o tempo permite as pessoas, especialmente os mais idosos, ainda têm o hábito de se juntarem nos principais largos das aldeias e junto aos cafés a conversar.
Em termos associativos existem na freguesia a Associação Cultural, Recreativa e Desportiva da Serra do Leiranco - Sapiãos, o Sporting Club de Sapiãos, a Associação Filarmónica, Cultural e Recreativa de Sapiãos e o Motoclube Unidos do Barroso.
Sapiãos
Sapelos
MARCAS DO SEU PASSADO
Não é fácil conhecer o dia primeiro da origem da maioria das paróquias e freguesias. Excluindo uma ou outra que vem identificada nos documentos antigos, a maioria das aldeias têm origem desconhecida no tempo. Umas mais antigas outras de origem mais recente, sabe-se que a maioria destas aldeias são formadas a partir do agrupamento de famílias unidas por laços de parentesco ou afinidades económicas e profissionais que se organizaram em comunidade. Muitas das aldeias de Barroso têm a sua origem histórica no movimento de reconquista e povoamento do território iniciado com a formação do Reino de Portugal em 1143 e posterior fixação de uma ou mais famílias de povoadores. Teve particular desenvolvimento a partir dos finais do século XIII. Estes povoadores eram atraídos por contratos de aforamento cujos termos eram favoráveis à sua fixação, traduzidos em pagamentos de foros de valor acessível. Estes contratos são conhecidos como o processo de enfiteuse e eram promovidos indistinta mente pela Coroa e/ou pelas Casas Nobres e Senhorios Eclesiásticos.
Sapiãos
Sapelos
São conhecidos alguns contratos de aforamento para as terras de Barroso o que nos permite pensar que a grande maioria das suas aldeias e povoados tiveram origem neste modo de povoamento[i]. Alguns contratos de aforamento são disso testemunho como é o caso do aforamento da "Póvoa" de Lavradas, feito nos finais do século XIII (1288 da era Cristā), no tempo do Rei D. Dinis, e que, tudo o indica, está na origem da actual aldeia de Lavradas[ii].
Sapiãos parece enquadrar-se neste modelo de ocupação e povoamento do território embora haja vestígios de ocupação civilizacional mais remota. Perto de Sapelos, entre esta aldeia e a de Nogueira, da freguesia de Bobadela existem vestígios de uma extensa escavacão mineira de ouro levada a cabo pelos povos árabes e romanos - O Poço das Freitas - que, certamente, deu lugar a determinadas formas de povoamento entretanto extintas. A doação do foral de Sapiãos em 1251 configura uma região. então despovoada, que era preciso ocupar e desenvolver como nele determina: que vós e toda a vossa posteridade tenhais a dita herdade e a povoeis[iii].
Em 1527 aparecem identificadas no “Numeramento” mandado fazer por D. João III, as povoações de Sapelos com 13 moradores, isto é fogos, e a de Sapiãos com 42 o que dá um número aproxima do de duzentas pessoas[iv].
Sapiãos
Sapelos
OS CASTROS DE SAPIÃOS E OUTROS VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS
No termo da freguesia de Sapiãos existem monumentos proto-históricos, romanos e medievais.
Os Castros do Muro (Casas dos Mouros) junto à EN 103 (Chaves-Braga) e o Castro da Cerca (Sapelos) com as mu ralhas ainda bem visíveis, são um testemunho da ancestralidade daquela aldeia. Dos romanos chegam-nos as pequenas vias de acesso à grande Via Romana, que ligava Bracara Augusta a Aquae Flaviae, seguindo depois para Asturica Augusta, em Espanha.
A atestar a antiguidade da povoação estão ainda as várias sepulturas antropomórficas escavadas na rocha e a sua igreja românica datada do século XIII.
Sapiãos
Sapelos
O FORAL DE SAPIÃOS
Algumas comunidades rurais tinham o reconhecimento régio ou senhorial de escolherem os seus próprios governantes através da carta de foral que lhes concedia o privilégio de constituírem os órgãos do seu governo. Daí sobrevieram várias formas de autonomia mais ou menos amplas. Eram expressas em cartas de foral ou outras formas de reconhecimento como os concelhos, que tomavam o nome de honras, coutos, concelhos, vilas e cidades, correspondendo a cada uma destas designações uma determinada dignidade municipal normalmente expressa na composição dos órgãos e corpos municipais. Mais simples nas primeiras e mais complexos nas últimas embora com estrutura e organização diversifica da de concelho para concelho[v].
Por concelho deve entender-se uma comunidade de moradores vizinhos dotados de autonomia administrativa, uma identidade colectiva de população e território. Uma ou mais aldeias e freguesias que juntas se governam por um conjunto de acórdãos, que comprometem e integram toda a actividade da população nos dominios económico, judicial, religioso e administrativo.
Sapiãos
Sapelos
Ainda que tenhamos feito uma pesquisa não exaustiva do foral de Sapiãos não parece ter resultado uma autonomia municipal como vulgarmente se julga em relação à outorga de uma carta de foral. A verdade é que o Foral de Sapiãos tem o título de "foral que el rei D. Afonso concedeu ao concelho de Sapiães" o que prefigura a existência de concelho. Os documentos posteriores é que não confirmam a existência de uma comunidade com governo próprio e órgãos municipais constituídos. O referido Numeramento de 1527 é disso testemunho pois na descrição do “titulo da vila de Mõte Alegre de Barroso não refere a existência do concelho de Sapiãos ainda que o faça para os então existentes concelhos de Vilar de Vacas ( que mais tarde toma o nome de Ruivães), e o couto de Dornelas[vi]. Situação que se verifica também nos meados do século XVIII quando Sapiãos é referida como estando sob a autoridade do juiz de fora de Montalegre..
Alexandre Herculano verificou efetivamente que muitas cartas de aforamento de herdades reais a um ou mais foreiros, passadas por D. Afonso III, se transformaram em povoações. Parece ser o caso de Sapiãos que, como o foral prescreve, consta de uma herdade que o rei doa a um casal com a obrigação de a conservar e a povoar tendo por recompensa a protecção real[vii].
Sapiãos
Sapelos
UM DOCUMENTO DE 1758
No ano de 1758 o Rei D. José através do seu ministro Marquês de Pombal desenvolveu um inquérito a todas as paróquias do Reino de Portugal continental que hoje se encontram no IAN/TT. Este inquérito que foi respondido pelos párocos das freguesias era composto de três partes. A primeira respeitante à paróquia onde se tratava de saber da sua história, produções agrícolas, população, instituições locais, igreja e capelas com suas devoções e romagens, a segunda tratava da serra e das suas características, se tinha lagoas e nascentes, monumentos, capelas, caça e a terceira perguntava sobre os rios e ribeiros que nela existissem assim como das levadas, represas, moinhos, pisões e culturas nas suas margens. É graças a este inquérito que se pode obter uma visão mais ou menos completa de como era a freguesia de Sapiãos nos meados do século XVIII como abaixo se pode ver. Esta memória paroquial é particularmente rica de informação o que nos permite até imaginar como seria a vida desta comunidade paroquial.
É a resposta dada pelo pároco da freguesia de Sapiãos nesse ano o Padre Domingos Gonçalves que adiante apresentamos. Para melhor leitura foi actualizado o Português naquelas palavras que consideramos necessário, introduzindo-se-lhe pontuação e parágrafos.
Sapiãos
Sapelos
Padre Domingos Gonçalves, Reitor da Paroquial Igreja de São Pedro de Sapiãos, termo da vila de Montalegre.comarca de Chaves, Arcebispado de Braga Primaz. Em virtude de uma ordem correr que do Reverendo Senhor - Doutor Bento Carvalho de Faria, Vigário Geral desta comarca de Chaves, - me foi apresentada com o edital dos - interrogatórios juntos, para lhes responder.
Faço certo constar esta freguesia de - São Pedro de Sapiãos de dois lugares: Sapiãos um e Sapelos outro, situados ambos num vale. Conta toda esta freguesia, de cento e sessenta e cinco fogos e pessoas nela existentes quinhentas e oitentae três pessoas mais ou menos.
É do termo de Montalegre e sujeita à justiça do juiz de fora dessa vila e da Sereníssima Casa de Bragança, Provincia de Trás-os-Montes.
A paróquia desta freguesia, cujo orago e e o Apóstolo São Pedro, está situada naestrada da Veiga que fica entre os ditos dois lugares. Tem três altares: um nacapela-mor do dito Santo Apóstolo e dois colaterais, um da Senhora do Rosário e outro do Santissimo Nome de Deus. Noaltar da Senhora do Rosário está a irmandade da mesma Senhora. Não tem naves- algumas.
O pároco desta igreja é Reitor e de colação ordinária provida por concurso.
Sapiãos
Sapelos
Poderá render de um ano para o outro cento e quarenta mil réis de certos e incertos, pouco mais ou menos. Não há conventos, beneficiados, hospitais, nem casa de Misericórdia nesta freguesia.
Nesta freguesia há quatro capelas. Uma no lugar de Sapelos, da invocação de Santo Amaro, fabricada pelos moradores do mesmo lugar. Tem a mesma capela três altares: um de Santo Amaro, da Senhora do Amparo um e de S. João Batista outro. No lugar de Sapiãos há três capelas. Uma do Senhor, onde está o tabernáculo do Santíssimo Sacramento, é fabricada pelos fregueses excepto o azeite para a lâmpada que alumia o sacrário, que se dá pelos frutos da comenda, de que é comendador o ilustrissimo e excelentissimo senhor Marquês de Marialva. Tem a dita capela três altares: um do Senhor, outro do São Caetano e outro das Almas. Nesta há irmandade das mesmas almas, instituída autoridade ordinária. Há outra capela da invocação da Senho ra dos Anjos e de São Domingos, com um só altar, administrada pelo Reverendo António Alves Monteiro, Reitor da igreja de São Miguel de Bobadela. A outra capela, com um só altar, é da invocação da Nossa Senhora da Conceição, é administrada pelos herdeiros de Gonçalo Monteiro deste mesmo lugar e freguesia. Não há romagens nesta freguesia nem outras coisas dignas de especial memória.
Sapiãos
Sapelos
Os frutos que nesta freguesia se colhem em mais abundância são o centeio, milho, castanha e algum vinho. Fica distante da cidade de Braga, capital do Arcebispado, doze léguas e meia, e da de Lisboa, capital do Reino, setenta e duas léguas. Utiliza o correio de Chaves distante desta freguesia duas léguas e meia.
Até ao vigésimo sétimo interrogatório não há nesta mais que responder por já estar respondido.
No distrito desta freguesia de São Pedro de Sapiãos há a norte uma serra chamada Leiranco, que terá duas léguas de comprido e, em algumas partes, uma de largo. Confina a norte com a freguesia de Santa Cristina de Cervos. Não há nela coisa alguma digna de memória das que se perguntam nos treze interrogatórios. Como apenas tem muitos penedos e pedras com algum mato de carqueja, ervideiros e urzes; é muito agreste, nela se criam alguns coelhos e perdizes.
Sapiãos
Sapelos
Pelo distrito desta freguesia de São Pedro de Sapiãos corre um rio do nascente para o poente, um rio que nasce na freguesia de Santa Maria de Calvão, desta comarca de Chaves e se chama rio Terva. Não corre caudaloso, por ser a terra plana, e pequeno, quase seca no Verão. Vai desaguar no rio Tâmega por baixo de Mosteirão, freguesia de Santa Maria de Curros. Há no dito rio uma ponte de pedra de cantaria que fica na estrada pública que vem da província do Minho para a praça de Chaves, desta província de Trás-os-Montes, essa ponte fica entre Sapiãos e Sapelos, lugares que compõem esta freguesia de Sapiãos.
No termo desta freguesia não há moinhos no dito rio. Os peixes que cria são algumas bogas pequenas. Ao que se pergunta nos vinte interrogatórios não tenho mais que responder por não haver no tal rio coisa notável de que se possa dar notícia.
Por ser verdade passei esta que assinei com os Reverendos António Dias Monteiro, vigário da paroquial igreja de Santa Marta de Pinho, e Manuel Dias, Vigário da paroquial igreja de São Salvador do Eiró. Ambas anexas desta matriz de São Pedro de Sapiãos e na forma dita a juro in verbo sacerdotis.
Sapiãos, 9 de Março de 1758.
Domingos Gonçalves
O Vigário de Santa Marta de Pinho António Dias Monteiro
O Vigário de São Salvador do Eiró Manuel Dias
Sapiãos
Sapelos
E por hoje é tudo, apenas nos falta deixar o vídeo que também será resumo, com as imagens de hoje e os links para os posts dedicados a Sapiãos e Sapelos.
Aqui fica, espero que gostem:
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[iii] COUTO, Artur Monteiro do, 1998, Património histórico de uma aldeia transmontana, Boticas, p. 32.
[iv] Tendo por base o índice de 4 a 5 pessoas por fogo. Arquivo Histórico Português. Vol. nº7, Julho de 1909, p. 272
[v] A título de exemplo veia-se que até 1834 a Câmara de Montalegre era composta por 3 vereadores e um procurador já a câmara de Tourém era composta por um juiz ordinário e 2 vereadores a do Couto de Dornelas por um juiz ordinário por 1 vereador e 1 procurador.
[vi] Arquivo Histórico Português, Vol. VII, no 7, Julho de 1909, p. 272.
[vii] Este foral esta publicado por COUTO, Artur Monteiro do, 1998, Património histórico de uma aldeia transmontana. Sapiãos Ed. Câmara Municipal de Boticas, pp 31-33.
No último domingo iniciámos a abordagem da freguesia de Sapiãos, precisamente com a aldeia do mesmo nome. Assim hoje passamos para a segunda e última aldeia da freguesia, a aldeia de Sapelos.
Sapelos que por sinal é a aldeia barrosã mais próxima da cidade de Chaves, a apena 9km da cidade, isto em linha reta, mas por estrada (N103) pouco mais é, pois fica logo a seguir a casas Novas/S. Domingos, ou seja a 14,4Km, 15 minutos de viagem, esta vai mesmo de encontro a esta rubrica de “O Barroso aqui tão perto” e também de encontro àquilo que muitos dizem, e eu também defendo, quanto aos limites do Barroso, um em particular, o rio Tâmega. Mas isso são contas de outro rosário, pois hoje o que interessa é a aldeia de Sapelos, aqui tão perto. Ficam os nossos habituais mapas e hoje também uma foto tomada desde a Serra do Leiranco.
Não sei se repararam nas primeiras imagens que são de uma capela, um nicho e umas alminhas, que estão no recinto da capela. Todas elas estão na entrada de Sapelos, de ambos os lados da N103. Descendo à aldeia, temos uma igreja e um cruzeiro no centro da aldeia, um conjunto de cruzes do calvário e na saída para as minas romanas do Poça das Freitas/aldeia de Bobadela temos mais três alminhas à beira da estrada, distanciadas por umas centenas de metros.
Não deixa de impressionar que na freguesia, apenas com duas aldeias, haja 6 igrejas/capelas, 4 cruzeiros, 8 alminhas, 2 calvários e um nicho, isto que eu tivesse visto, pois pode ser que ainda falte mais qualquer coisa, mas só por isto, vale a pena uma visita à freguesia, pois todas são interessantes e dignas de serem apreciadas.
Mas voltemos a Sapelos, por onde passamos muitas vezes na estrada, mas que para se conhecer, tal como acontece em Sapiãos, é preciso descer até à intimidade da aldeia, e esta ainda tem muita vida e pessoas que gostam de conversar, pelo menos na nossa primeira passagem por lá para recolha de imagens, estivemos mais tempo a conversar do que a fotografar, e nunca é uma perda de tempo, antes pelo contrário, pois estamos sempre a aprender, principalmente com os mais idosos e com eles, vale mais uma conversa que uma imagem.
Quanto à aldeia de Sapelos, mais uma do vale do rio Terva com bons terrenos agrícolas e já longe, ou melhor, já fora dos frios rigorosos das terras mais altas do Barroso, mesmo porque o vale do rio Terva está mais ou menos numa cota a rondar os 500m de altitude, tem dois núcleos de construções, o mais antigo na parte de baixo da N103, a cerca de 600 metros desta, onde as casas mais antigas se vão misturando com alguma mais recentes e recuperadas, num tipo de aldeamento concentrado, e um segundo núcleo, de construções mais recentes, compostas de moradias isoladas junto à N103 e ao nicho da entrada da aldeia.
Quanto aos motivos mais interessantes da aldeia, alguns, os religiosos já os mencionámos atrás, mas a aldeia também é rica na sua história mais antiga, pelos menos assim os testemunham as marcas que ainda por lá existem, para isso e para não estarmos para aqui a inventar, vamos àquilo que nos dizem os documentos existentes, que, como já vem sendo hábito, lançamos mão ao que vem na publicação da “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas” que passamos a citar:
Marcas da História Antiga
Castro do Muro ou da Cerca
Designação: Castro do Muro ou da Cerca
Localização: Sapelos (Sapiãos)
Descrição: O castro da Cerca ou Muro localiza-se a Nordeste de Sapelos, freguesia de Sapiãos. É um castro de situação baixa assente na encosta pendente pelo lado poente sobre o rio Terva, que lhe corre na base, ao fundo da encosta, e a cerca de 100 m da muralha fundeira. O castro é elíptico de eixo SW/NE, com um comprimento de 122 m e largura máxima de 47 m. Tem duas muralhas. A muralha cimeira tem patente e relativamente conservado o seu paramento interno, mas do lado do fosso a maior parte do paramento foi derruído. O paramento interno é de pequenas pedras de granito e o externo de pedras de quartzo, também pequenas. A segunda muralha está praticamente toda derruída, no entanto no topo do lado Sudeste e num comprimento de cerca de 60 m, ainda se patenteiam algumas pedras de granito da base dos paramentos, sobretudo do interno. Do lado Nascente há dois fossos, com largo lombo de separação, que seguem na base do talude e depois afastam-se da base da muralha e vão direitos à ribeira que desce a encosta e vai desaguar no Terva. Os castrejos podiam abastecer-se de água quer da ribeira, quer do rio Terva.
Castro de Sapelos
Designação: Castro de Sapelos (Sapiãos)
Localização: Sapelos
Descrição: o castro de Sapelos fica junto à EN 103, ao km 151, no alinhamento da ponte pedrinha, assenta na crista do monte que lhe fica fronteiro pelo Nascente. Subindo pelo lado Norte deparamo-nos com um fosso com 3m de boca a rodear a fraga, que marca o início de um longo patamar com 155 m de comprimento e 40 a 45 metros de largura.
O patamar, ligeiramente ascendente, estende-se até ao cabeço onde assenta propriamente o castro, rodeado da muralha e fossos. O topo Sul do terreiro tem um combro de terra com o comprimento de 10 m e em média com 1 m de altura, que será resto da muralha de terra. O castro deve ter sido muralhado a toda a volta, do lado Nascente vê-se pedaços de muralha com 1 m e com apenas 3 fiadas de pedra de granito; do lado Poente, há uma fiada de pedra de granito em montão caótico, numa extensão de 50 a 70 metros, fiada que deve corresponder à segunda muralha. Muitas das pedras da muralha foram retiradas pelas pessoas para a construção de casas na aldeia. Não foram descobertos restos de construções no local, apenas dois pedaços de cerâmica.
Quanto a festas e romarias temos sinalizadas:
Santo Amaro, 15 de Janeiro, e o Senhor dos Milagres, no 1º domingo de Setembro.
Como Património arqueológico, para além dos castros atrás mencionados, há a referência à ara de Sapelos e às minas, que supomos serem as romanas do Poço das Freitas. Quanto ao património edificado as referências vão para o cruzeiro (já mencionado), para a Capela de Santo Amaro (na aldeia junto ao cemitério), Santuário de Santo Amaro (junto à N103) e para o Forno do Povo, no centro da aldeia.
Ainda em relação aos castros, que têm sempre o seu interesse arqueológico, mas que, quando existem apenas vestígios, já não são tão interessantes para a fotografia, mas o Castro de Sapelos, por cima da N103, vale a pena visitar, não apenas pelo castro mas também pela “varanda” miradouro que lá foi construído desde onde se pode lançar um olhar para todo o vale do Terva e para as suas aldeias, bem como para a Serra do Leiranco, embora esta se possa avistar desde a estrada e ao longe, até da cidade de Chaves se pode avistar (e o contrário também é verdade), a mesma que nos anuncia sempre as primeiras e restantes nevadas da temporada barrosã.
E agora chegamos àquela altura em que nos despedimos e anunciamos o vídeo resumo com todas as imagens que hoje aqui foram publicadas, vídeo que também podem ver no MeoKanal e no nosso canal do YouTube.
Aqui fica, espero que gostem:
Agora também pode ver este e outros vídeos no:
MEO KANAL Nº 895 607
E no YouTube, onde podem subscrever o nosso canal para serem avisados de todas as publicações que lá fizermos, e nós agradecemos. Pode passar por lá e subscrevê-lo aqui
E quanto às aldeias da freguesia de Sapiãos é tudo, pois não há mais, assim, no próximo domingo, teremos aqui o resumo da freguesia de Sapiãos.
Iniciamos hoje a abordagem de mais uma freguesia do concelho de Boticas, a freguesia de Sapiãos, constituída por duas aldeias, a de Sapiãos que é sede de freguesia e a de Sapelos, ambas localizadas no vale do Rio Terva, a primeira na sua margem direita e a segunda na sua margem esquerda do rio que no vale vai descendo a caminho do Rio Tâmega, entre as serras do Leiranco à qual Sapiãos se encosta, e a serra do Facho encostada a Sapelos.
Iniciemos já pelo resto da localização de Sapiãos e o melhor itinerário para lá chegar. E tal como vai sendo habitual para irmos à descoberta de terras de Boticas, exceto paras as freguesias de Ardãos/Bobadela e Pinho, a estrada a seguir para sair de Chaves é a EN103 (Estrada de Braga), e no presente caso não há nada a saber, pois a freguesia de Sapiãos é atravessada a meio por esta estrada, tendo logo à saída do concelho de Chaves (entrada no de Boticas) a aldeia de Sapelos, sendo a aldeia seguinte a de Sapiãos, o nosso destino de hoje. Sapiãos que fica precisamente no entroncamento da N103 com a N312, ou seja onde se saí da N103 para ir em direção a Boticas. Em contas redondas, de Chaves até Sapiãos são 20 Km ou, se preferir, 20 minutos de viagem. Fica o nosso mapa e os da goolge para melhor se entenderem as palavras.
E agora chegamos àquela parte em que os flavienses estão a dizer – "Ah! Sapiãos, conheço, já passei por lá…”. Pois, também eu passei por lá muitas vezes e também conhecia assim Sapiãos, ou seja, conhecia a aldeia, apenas pela sua aparência, por aquilo que se via da estrada, e também pensava conhecê-la, mas estava bem longe de a conhecer e só dei conta disso quando desci à sua intimidade, aí sim, posso dizer que a conheci e que fiquei agradavelmente agradado com o que, mas já lá vamos.
Vamos então até Sapiãos que podemos dividir em três partes:
- Uma com um núcleo antigo composto de casario concentrado, ganhando uma forma arredondada, atravessado por uma rua principal para onde convergem as ruas secundárias, que foi crescendo naturalmente do centro para a periferia conforme as necessidades de crescimento.
- Outra parte com um povoamento disperso, mais recente, que nasceu ao longo das estradas N103 e N312 e também entre elas, é a aldeia que ficamos a conhecer quando passamos nessas duas estradas.
- Por último, uma parte nova, aparentemente loteada e infraestruturada, com vivendas unifamiliares construídas em lotes, esta parte toda acima da N103, já na encosta da serra.
Pois sem desprezarmos a aldeia mais recente, vamos realçar em imagens a aldeia mais antiga, aquela com o casario mais antigo, onde temos a igreja paroquial e as capelas, os cruzeiros e a alma da aldeia, ficando de fora deste conjunto apenas três apontamentos dignos de realce, como o é a Igreja do Cemitério, o Calvário e as sepulturas Antropomórficas, estas três fora do perímetro da aldeia mais antiga.
Os dois cruzeiros da aldeia, o do largo do cruzeiro mais imponente e o outro um pouco menos e muito mal-acompanhado. Aliás já é costume as companhias de eletricidade e telecomunicações não terem nenhum respeito por aquilo que as rodeia, às vezes era só um jeitinho em afastar os seus postes destes motivos de interesse, mas pelo que nós pagamos e pelos lucos que essas companhias têm, vem podiam nestes núcleos históricos das aldeias com interesse público e turístico, fazer estas infraestruturas enterradas. Fica uma imagem com o que temos e, com um pouco de Photoshop, como deveria ser e gostaria de ver.
Claro que os nossos olhos ficaram deliciados com as duas capelas, a capela de Nossa Senhora dos Anjos e ainda mais com a da Nossa Senhora da Conceição, pena esta última estar tão degradada. A Igreja Paroquial de São Pedro também mereceu a nossa atenção, não só pela própria igreja e torre sineira, mas também pelo arranjo feliz do largo onde se encontra implantada. Também o casario em geral e algum em particular mereceu a nossa atenção, tal como aconteceu com Casa dos Queirogas.
Assim, e ainda antes de passarmos ao que se diz na documentação disponível dobre a aldeia, fica a nossa apreciação geral sobre a mesma. Uma aldeia que manteve o seu núcleo antigo sem grandes disparates pelo meio, e com muitos pormenores e motivos de interesse, com as partes novas que cresceram para onde tinham de crescer, sem interferir com o núcleo antigo. Uma aldeia ainda com muita vida e movimento e que, sem qualquer dúvida, é de visita obrigatória porque é uma das mais interessantes do concelho de Boticas.
E agora vamos ao que nos dizem os documentos sobre a aldeia de Sapiãos, nomeadamente os que vêm na “Preservação doa Hábitos Comunitários das Aldeias do Concelho de Boticas”, uma edição da Câmara Municipal de Boticas de 2006, e aqui a data é importante porque passados 16 anos da sua edição, embora seja pouco tempo, pode significar muito em termos de perdas de hábitos comunitários e outras tradições, principalmente devido ao sucessivo despovoamento das nossas aldeias por parte da população mais jovem, que afinal são os que cumprem hábitos e tradições e lhes dão continuidade. Daí, que alguns dos hábitos comunitários de Sapiãos que a seguir serão transcritos, poderão não existir atualmente.
Assim, segundo o que consta no documento atrás referenciado temos quanto a:
Património Arqueológico
- Castro do Muro ou Casas dos Mouros (Sapiãos)
- Povoado do Cemitério de Sapiãos
- Sepulturas Antropomórficas
- Sepulturas de Pássaros (Necrópole)
Património Edificado
- Alminhas
- Cruzeiros (Sapiãos)
- Forno do Povo de Sapiãos
- Igreja Paroquial de São Pedro
- Igreja Românica de Sapiãos - Património Classificado
- Capela particular do séc. XVIII
Marcas da História Antiga
Castro do Muro ou Casas dos Mouros
Designação: Castro do Muro / Casas dos Mouros/ Muro
Localização: Sapiãos
Descrição: o Castro do Muro fica ao lado e acima da EN 103, sentido Braga a Chaves, cerca de 400 m adiante de Sapiãos.
O “Muro” de Sapiãos é um castro de encosta, quase assente na base da ladeira do monte fundeiro do Leiranco. O perímetro da muralha é de 270 m. Nalguns sítios vêem-se os paramentos externo e interno da muralha que tem 3,50 m de largura. Na sua maior parte está derruida e é assinalada por fiada de pedras em amontoado caótico. A maior parte do recinto intra muralha é, por assim dizer, penedia. Distinguem-se dois pequenos terreiros sem penedia, um na base e outro a meio. A eira dos mouros é um espaço quadrilátero com quase 40 m de comprimento na linha E/W, e de contorno subtrapeziodal, que vai alargando de cima para baixo. No alto tem 16 m de largura, a meio 21 m e quase no fundo 26 m de largura. No local do castro foram encontrados restos de cerâmica.
Em geral, a população rural ainda é muito religiosa e crente, e a julgar pelo número de capelas, igrejas, cruzeiros e calvário que existe em Sapiãos, esta aldeia não será uma exceção e é na fé e as crenças que muitas vezes se apoiam na sua proteção mas também para a proteção das suas colheitas agrícolas e animais, assim acontece com o Porquinho de Santo António, que em Sapiãos é (ou era), alimentado por toda a aldeia, inicialmente andava de casa em casa, mais tarde passou a ter uma corte própria e era alimentado por todos os agregados familiares, num sistema de rotatividade pelas casas da aldeia. Por altura das matanças, era vendido e o dinheiro revertia para a Igreja, a favor do Santo António, para que protegesse os gados da aldeia.
Em Sapiãos, as pessoas ainda têm o hábito de colocar um lareiro junto à fornalha do forno, sinal que indica que alguém vai aquecer o forno e cozer. Normalmente, quando alguém coze, as outras pessoas aproveitam a quentura do forno e cozem a seguir, pois desta forma já não gastam tanta lenha
O Cantar dos Reis, dia 5 de janeiro à noite
Em Sapiãos, costumam cantar:
Aqui estão os Reis à porta
Dispostos p’ra se cantar
Se o Senhor nos der licença
Os Reis vamos começar
Aqui vimos, aqui estamos
Hoje é dia de alegria
Viva o senhor desta casa
E a sua companhia
Se nos querem dar os Reis
Venham-nos os dar com tempo
Estamos com os pés à geada
Corre um arzinho de vento
Se nos querem dar os Reis
Não nos mande a sua criada
Qu’ela tem a mão pequena
Parte pequena talhada
Se o presunto está duro
E a faca não quer cortar
Faça-lhe um frrum, frrum, frrum
Nas beiças do alguidar
As Festas do Corpo de Deus
O Corpo de Deus em Sapiãos
Nesse dia, as mulheres enfeitam as principais ruas da aldeia, onde mais tarde irá passar a procissão, com um tapete formado por rosmaninho, giestas e pétalas de flores.
Assinala-se este dia com uma missa, sermão e procissão com o “Corpo de Deus”, acompanhada por uma banda de música.
Para além desta componente religiosa, a festa tem também uma componente profana com conjuntos que animam a noite num arraial popular, a que não falta também o tradicional festival de fogo de artifício.
Casamento
Em Sapiãos, onde, no dia antes do casamento, o noivo ia com os seus amigos fazer uma serenata à noiva:
(…)
S’estás a dormir, acorda
Vem ouvir a serenata
Guitarras com cordas d’ouro
Trilhadas por mãos de prata
Dáva-te o meu coração
Se o pudesse arrancar
Arrancando sei que morro
Morto não te posso amar
(…)
No dia do casamento as famílias iam ter a casa de cada um dos noivos. Depois, o noivo e a sua família iam a casa da noiva buscá-la para irem para a igreja. As raparigas que fossem ainda virgens para o casamento, consideradas pela comunidade como puras, levavam nesse dia um arco branco a acompanhá-las, os rapazes eram acompanhados por arcos de folhas verdes. Colocavam-se também arcos pela rua, desde a casa da noiva até à entrada da igreja. Depois, seguiam em cortejo pela rua até à igreja, como nos descreveu um informante: “À frente ia a noiva com o padrinho debaixo do arco de flores brancas. A seguir, ia o noivo com a madrinha debaixo de um arco verde feito de arbustos e flores e atrás iam os restantes convidados. Entravam na igreja também por essa ordem, a noiva primeiro.”
E como não há casamentos sem namoro
O Namoro
Quando um rapaz de fora namorava com uma rapariga da aldeia tinha que pagar o vinho aos da terra, como indemnização simbólica por “roubar” a rapariga, considerada “propriedade” da aldeia. Se em algumas aldeias apenas pagavam remeias de vinho, noutras além do vinho tinham que pagar também o equivalente à sua altura em pão e bacalhau; ou então, em vez de pagar o vinho, levavam-no até junto de um tanque e obrigavam-no a beber sete chapéus de água. Quem se recusasse a pagar o vinho, metiam-no na corte com o Boi do Povo como castigo, ou atiravam-no a um tanque da aldeia.
E com estas de casamentos e namoros, vamos dando por terminado este post, apenas nos falta deixar aqui o vídeo com todas as imagens publicadas neste post.
Aqui fica, espero que gostem:
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E quanto a aldeias de Boticas, despedimo-nos até ao próximo domingo em que teremos aqui a aldeia de Sapelos.