Pedra de Toque - O Bando dos Cabotinos
.
O Bando dos Cabotinos
As pessoas conhecem-nos.
São maus actores no teatro da vida, onde representam cobertos de ridículo.
A vaidade que vestem reflecte a cabeça que, sobranceiros erguem, cheia de nada.
Passeiam cachimbos ou charutos, enchem currículos de coisa nenhuma, mentem, perdem a noção da conveniência.
Tornam-se chatos, maçadores, indesejáveis.
Os que os cercam, alimentam-lhes a prosápia, aplaudem-lhes a bazófia, por oportunismo, para entrarem no salão social, que as revistas fotografam.
Normalmente circulam em bandos e, com jactância e orgulho, deleitam-se nas coisas vãs, nas coisas fúteis.
São muito atreitos às obras de caridade.
E nas épocas festivas, do pedestal, sempre na presença dos média, distribuem presentes aos pobrezinhos, que no próximo ano continuarão na miséria disponíveis para a cerimónia.
Os cargos, os títulos estão sempre no seu horizonte.
E trepam, abrem-se para a escalada que às vezes conseguem.
Quando lá chegam, cortam fitas e discursam improvisos escritos por outros.
Porque, quando da sua lavra abrem a boca, forma-se uma corrente de ar que arrepia o bom senso e a inteligência mais comedida.
Rebuscados nas palavras são, por sistema, terrivelmente ignorantes.
No chique das festas e recepções, pavoneiam-se no luxo das fatiotas e perfumes enquanto as máquinas de milhões luzem nos estacionamentos.
São uma espécie que ainda prolifera e daí, não tão rara como seria de desejar.
Uns são maus, outros perigosos porque se imiscuem, se intrometem, se fazem escutar.
Alguns, talvez a maioria, são imbecis.
Uns pobres diabos que é preciso tolerar, mesmo com esforço.
António Roque