Flavienses por outras terras
Carmen Antunes
Nesta crónica do espaço “Flavienses por outras terras” continuamos pela Suíça. No cantão de Valais, mais concretamente em Ardon, nos Alpes centrais, vamos encontrar a Carmen Antunes.
Onde nasceu, concretamente?
Nasci num dia de grande cheia, no Campo da Fonte, a um passo do jardim público e do famoso Km 0 da Estrada Nacional n° 2.
Nos tempos de estudante, em Chaves, que escolas frequentou?
A minha primeira escola foi a Escola Primária da Lapa. Após o 25 de abril, todos os alunos foram transferidos para a Escola da Estação. Frequentei depois os dois ciclos na cidade. Por último, frequentei o Liceu, ou seja, a Escola Secundária Fernão de Magalhães, onde terminei o 12° ano, em Humanísticas.
Em que ano e por que motivo saiu de Chaves?
Em 1984, os estudos levaram-me, uma primeira vez, a trocar Chaves pela periferia de Londres, em Inglaterra. Em 1988, foi o casamento que me levou para longe, e desta vez definitivamente, para a Suíça, país onde já vivia o meu marido.
Em que locais já viveu ou trabalhou?
Vivi em Chaves, onde nasci e cresci. Também em Iver, Buckinghamshire, Inglaterra, onde estudei, e em Ardon, Valais, Alpes centrais, onde formei o meu lar e criei raízes, adotando a nacionalidade suíça.
Diga-nos duas recordações dos tempos passados em Chaves:
A recordação de uma infância feliz, a brincar na rua, a nadar no rio e a subir às árvores é-me preciosa e ficará para sempre gravada. Lembro, com saudades, as noites de verão passadas à frescura do luar, os adultos sentados a conversar, a criançada a brincar e os jovens a escapar-se às escondidas, atraídos pela música das verbenas no jardim público. Veio depois a adolescência e os tempos de Liceu onde se criaram amizades para a vida. E, por último, a família do Karaté, no seio do Karaté Club Alto Tâmega, onde mais do que simplesmente Karaté se aprendia, sobretudo, a firmeza de caráter e a nobreza do espírito e da mente.
Proponha duas sugestões para um turista de visita a Chaves:
Duas sugestões sabe a pouco, pois Chaves é uma autêntica joia em termos de património histórico, cultural, gastronómico, e sobretudo humano. Estou convicta que cada turista, segundo os seus próprios interesses, encontrará atividades ao seu gosto e medida. Sugiro começar o dia com um passeio histórico - Ponte Romana, Castelo - prosseguir com um passeio cultural - Museu, Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso - e terminar em grande, gastronomicamente, claro está: presunto, folar, Pastéis de Chaves, e tudo o que vier de bom, rodeado de preferência de bons amigos Flavienses que nos levem, no final do dia, a beber um copinho de água às Termas para ajudar a digerir…
Estando longe de Chaves, do que é que sente mais saudades?
Passear nas ruas, simplesmente. Caminhar nas calçadas que já conhecem os nossos passos. Dizer alegremente “Bom dia” e sorrir a quem nos viu nascer e crescer. Só quando abandonamos o berço damos conta da tranquilidade, da riqueza familiar e social que significa viver numa cidade onde todos sabem quem somos.
Com que frequência regressa a Chaves?
Tento regressar uma vez por ano, no mínimo, mas, para minha grande tristeza, nem sempre tem sido possível.
O que gostaria de encontrar de diferente na cidade?
Gostaria muito, mesmo muito, que a autoridade competente revigorasse o centro histórico, avivando-lhe a alma, e que todos os esforços fossem feitos para que não se deixe esmorecer o coração da nossa bela cidade. Dá dó ver as lojas de proximidade encerrarem as portas, umas após as outras, dá dó ver a desertificação populacional, dá dó ver casas tão representativas da nossa identidade caírem em ruínas. Salvar o que é nosso não é saudosismo, é sabedoria. Apostar no futuro não pressupõe desprezar o passado.
Gostaria de voltar para Chaves para viver?
Todo o Português que se preze, por muitos que sejam os mares navegados, sonha em voltar à terra. Penso que os Flavienses não fogem à regra. Se a vida me permitir, voltarei.
O espaço “Flavienses por outras terras” é feito por todos aqueles que um dia deixaram a sua cidade para prosseguir vida noutras terras, mas que não esqueceram as suas raízes.
Se está interessado em apresentar o seu testemunho ou contar a sua história envie um e-mail para flavienses@outlook.pt e será contactado.