Coisas simples e pequenas
Embora com a minha ausência devidamente justificada, não tenho estado bem comigo porque prometi trazer aqui algumas palavras de 15 em 15 dias e não consegui cumprir. Mesmos que os motivos que me levaram a tal possam servir de desculpa, nunca há desculpa para uma palavra dada. Fui educado assim e assim terei de morrer – a palavra vale tudo, ou seja a verdade, ou seja, o cumprir a promessa.
Mas mesmo havendo motivos para não poder ter estado aqui, também a actual situação de estarmos em plena campanha eleitoral me castrava a liberdade de dizer o que tenho a dizer sobre a cidade de Chaves, não vão as más línguas pensar que estou a apelar ao voto a um em detrimento de outros, logo eu que não voto em nenhum. Mas mesmo assim, não resisto a deixar aqui umas breves palavras, isentas, sobre a atual campanha e toda a propaganda que lhe está afecta, a que está visível nas ruas, e a que anda por aí espalhada em panfletos e revistas.
Comecemos pelas palavras que se vão vertendo nos panfletos e revistas, todos eles com a lengalenga do costume, de tudo prometer e reprometer aquilo que o povo quer ver prometido e que nunca foi nem será cumprido, porque já é mais que sabido e provado que promessa de político não é para cumprir. O que interessa é chegar lá, ao poder, depois logo se vê o que se poderá fazer de acordo com os interesses dominantes dos que verdadeiramente dominam porque têm dinheiro para comprar aquilo que querem e dominar. Claro que há excepções, mas em Chaves está à vista que não o tem sido.
Mas o que mais impressiona é a luta e ganância pelo poder. Vale de tudo para o alcançar. Despidos de pudor e moral, não há princípios ou doutrinas que sustentem a corrida ao poder. Com as ideologias perdidas nos fundos de uma gaveta qualquer que já nem se sabe qual é, os partidos servem apenas como o meio mais fácil de participar na corrida, principalmente os dois que vão alternado no poder, e se num não houver hipótese de se estar entre os que se impõem então despe-se a camisola e veste-se outra de outra cor, ou da mesma cor mas de outra equipa, que agora as cores já de pouco valem ou interessam. E quem diz mudar de equipa também diz mudar de terra, de concelho para poder continuar no poder que a Lei lhe veda, não fosse o tuga especialista em contornar tudo aquilo que parece incontornável – há sempre uma maneira de. E quando todas as equipas se esgotam, forma-se uma, só assim se explica a proliferação dos ditos Movimentos Independentes feito com gente filiada nos dois partidos do arco do poder e que não foram selecionados para a equipa do respectivo partido de filiação.
Mas também os candidatos parecem querer esconder as suas origens na propaganda eleitoral, fazendo impor a pessoa ao partido, gerando a confusão da identificação partidária, ou do símbolo partidário. Também já lá vai o tempo em que o símbolo e a cor identificavam a léguas os candidatos e os partidos. O vermelho para os partidos de esquerda, o laranja para o do centro e o azul para os de direita. Agora é tudo azul e quanto a esquerdas, centros e direitas, só os mais pequenos vão respeitando as tendências, e só porque lhes dá jeito. Tanto faz ser do PC, do CDS, do PSD, do PS ou Independente, o azul é a cor da moda propagandística e o símbolo do partido – a foice e o martelo (que raramente se vê), o punho fechado que já tentou ser rosa, as três setas viradas ao alto e a bola ao centro, aparecem bem pequenino, disfarçado atrás de sorrisos falsos e rostos (às vezes) atraentes de Photoshop. Quanto ao ovo kinder que o chefe do movimento independente já usou quando se candidatava pelo PSD, também vai aparecendo, mas esse tanto faz que apareça como não, não tem qualquer significado, quando muito poderá fazer crescer água na boca aos gulosos que gostam de chocolate.
Assim, em Chaves, vote em quem votar, vai votar no azul.
A.Adolfo