04
Nov09
Já não há respeito... em Chaves, Portugal
Casa Mortuária nº1 de Chaves
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Fernando Pessoa (Álvaro de Campos) dizia a respeito dos mortos, que apenas eram lembrados, “… em duas datas aniversarialmente:/quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste,/ mais nada,…” pois eu, acrescentaria mais uma data: O Dia dos Fiéis Defuntos, Dia dos Mortos ou Dia dos Finados, e, se não é regra, não deixa de ser verdade, aliás, a Igreja instituiu no Século V, o Dia dos Fiéis Defuntos, precisamente para se rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém lembrava.
Cá pela terra, aliás como na grande maioria das terras de interior, do norte, na província, o Dia dos Fiéis Defuntos é um dia sagrado em que a grande maioria trata e embeleza as campas dos seus mortos, por convicção, por respeito, por amor, mas também porque por cá, ainda se vai muito nas duas leis fundamentais da vivência do quotidiano em que as coisas se fazem ou podem fazer porque fica ou parece bem, ou não se fazem nem se devem fazer porque fica ou parece mal fazê-las. Duas leis tão simples e primárias que afinal se resumem no respeito que devemos ter uns pelos outros e que chegavam e sobravam para que todos pudéssemos viver em harmonia. Mas respeito, é coisa que hoje não abunda muito, começando precisamente pela falta de respeito aos mortos.
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Casa Mortuária nº 2 de Chaves
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Mário de Sá Carneiro, também poeta, dizia em poesia que “a um morto nada se recusa”. Também eu assim o entendo, principalmente naquilo que diz respeito a ter uma morte e um funeral digno da sua condição de humano. Mas por cá, assim não acontece, e, numa terra em que tanto se apregoa a modernidade, os nossos mortos continuam a ser tratados como, ou pior que nos séculos passados. Pecados de quem deveria ter no mínimo a preocupação de tratar das coisas da morte com o mínimo de respeito e dignidade.
Começo pelo negócio da morte e da falta de profissionalismo de quem dela faz um negócio, e aqui não ficamos limitados às Agências Funerárias, mas a todos que num momento de dor das famílias, tentam tirar delas alguns cobres… e fico-me por aqui, pois a culpa até nem é dos negociantes da morte, mas de quem tem conhecimento e continua a permitir que tais coisas aconteçam.
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Casa Mortuária nº2 de Chaves
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Pior que o negócio, é a falta de um espaço com o mínimo de dignidade onde se possam velar os nossos mortos. Gastam-se rios de dinheiro em aspectos decorativos, as fazer e desfazer praças e jardins, em equipamentos desportivos para serem utilizados uma vez por ano, em parques industriais onde nem as moscas poisam, em pontes de puro luxo, em equipamentos construídos há anos e que continuam fechados, em festas e publicidade, etc., coisa e tal, e, não há uns míseros euros para construir uma casa mortuária na cidade.
Excepção para as freguesias, que, como costumo dizer, as Juntas de Freguesia e os seus Presidentes e restantes elementos das juntas, ainda vão sendo os únicos “políticos” que nos merecem algum respeito, pois são os únicos que fazendo coisas conforme as necessidades das populações e, nos últimos anos, com o êxodo da população das aldeias, a sua preocupação tem sido os cemitérios e as casas mortuárias para poderem tratar com dignidade os resistentes.
Em Chaves as casas mortuárias existentes são a Capela da Lapa, a Capela de Stª Catarina e a Igreja da Misericórdia e, misericórdia para todas elas, nenhuma tem o mínimo de condições para um velório… a modernidade ainda não contempla uma das fases mais nobres da vida – a morte.
Blá, blá, blá - vão dizer! - que coisa e tal, já está pensada, prometida e (talvez até) em fase de negociações e projecto (talvez, não sei), mas há dezenas de anos que a cantilena e a mesma, que a necessidade de uma casa mortuária é uma realidade e, não há raio de ser construída.
Quanto a cemitérios, o novo, há anos que pede uma entrada digna e um parque de estacionamento também digno, mas tal como o burro do parque de divertimentos Polis continua enterrado no pântano, também o lamaçal da entrada do cemitério veio para ficar…
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Igrejas das Cerimónias 2 em 1
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Por último a Igreja, que esta sim parece ter aderido à modernidade do 2 em 1, pelo menos a julgar pelos últimos meses em que funerais distintos se fazem à mesma hora e numa só cerimónia. Modernidades de conveniências da Igreja e do padre que pouco os dignifica e que pouco respeito demonstram pelos mortos, pelos familiares e amigos dos defuntos e depois, ainda ficam indignados quando os seus actos são criticados…
RESPEITO, é coisa que já não faz parte dos bons costumes e de quem o deveria ter. Finalmente e graças aos “responsáveis” que temos, a apregoada juventude rasca, contaminou a sociedade com um vírus bem pior e mais rasca que o da gripe A (H1N1), também esta mais um negócio bem sustentado pelos “responsáveis”. È caso para dizer “Já não há respeito” e já nada parece mal. Lá foram para o galheiro as Leis fundamentais da dignidade e agora a parecer mal, é só e mesmo falar e denunciar o que esta mal – isso sim, parece mal.