Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

05
Nov15

Ocasionais - “Ali, no Castro de CURALHA”


ocasionais

 

Ali, no Castro de CURALHA”

 

Quem viaja pela Auto-estrada A24, em direcção à Galiza, passados os pórticos à frente de Vidago, oferece-se-lhe a indicação da “Saída” para BOTICAS e MONTALEGRE.

 

Até parece que há uma esquerda para BOTICAS e uma direita para a capital barrosã!

 

Mas essa “Saída” é bem mais uma envergonhada “ENTRADA” para CHAVES!

 

Feitos os cem metros curvos e inclinados, vira-se, à esquerda, para BOTICAS, CARVALHELHOS e MONTALEGRE; à direita, para CHAVES.

 

Afinal, aí já se está em CURALHA!

 

Sobranceiro, dá nas vistas um frondoso pinheiro manso.

 

Tem um ar misterioso.

1600-CURALHA (199)

E se, quando chegarmos logo à frente, ao “Café FRADE”, dobrarmos a esquina, sentimo-nos como que puxados pelo mistério que o pinheiro manso sugere esconder.

 

Dois, três coelhos-do-monte e uma lebre vêm espreitar-nos à beira do estreito carreiro que nos conduz às ruínas de um interessante castro   -   O CASTRO de CURALHA!

 

Saído do automóvel, apeteceu-nos muito respirar aquele ar, leve, misterioso, e olhar em redor, numa volta perfeita.

 

Bebemos um gole d’água numa torneira pública.

 

Olhámos o céu, como que a pedir-lhe licença para entrar na fortaleza.

1600-CURALHA (200)

Um coelhito-do-monte júnior resolveu vir mordiscar umas ervas, ali à nossa frente, olhar-nos com algum atrevimento e fazer umas olímpicas habilidades em salto e em corrida.

 

Achámos-lhe graça, e seguimo-lo com o olhar até desaparecer entre o mato.

 

No chão não se viam pègadas de homem, nem vestígios de visitas.

 

Uma folha de papel voou quando o coelhito-do-monte júnior fez o último zig-zag antes de desaparecer.

 

Afinal, a mão do homem deixara uma impressão.

 

Apanhámos a folha.

 

Estava escrita numa caligrafia a lembrar o «bastardinho» que, noutros tempos, tinha que se aprender na Escola Comercial e Industrial.

 

Dizia:

- “Por aqui vou andando.

Sem horizontes, sem sonhos, sem esperanças.

Vejo-me à beira do fim, da meta, do abismo. Mas não lhes topo o fio ou sinal do limite.

De que me valeu a vida?!

 

Neruda, no poema «el barco», diz que todos nós pagamos, entendo-lhe eu, a nossa passagem por este mundo!

E pergunta, com espanto, entendo eu: -“Porquê, por que é que não nos deixam sentarmo-nos e comer?/ Queremos olhar as nuvens/ queremos apanhar sol e sentir o cheiro a sal/ francamente, não se trata de fazer mal a ninguém/ é tão simples quanto isto: somos passageiros”!

 

Oh! Mas não me diz, e eu não sei, quem me pagou o bilhete!

 

Chegar ao fim da vida será, como a ancoragem de um navio, um «tocar terra» em porto seguro, uma «morte afortunada» …. depois de uma boa travessia pela existência, e “entrar serenamente na eternidade”.

 

Ou será como o naufrágio em mar revolto e tempestuoso?!

1600-CURALHA (204)

Nesta travessia, já com mais de setenta mil léguas cumpridas, raramente conheci outro mar que não encapelado, atalhado por Cabos e Cabos de Tormentas!

 

E porque nunca fui capaz de deitar borda fora as «cargas de trabalhos» que fui carregando às costas, do corpo e da alma, o lastro da barca da minha vida foi ficando cada vez mais pesado.

 

E eu afundando-me cada vez mais, atirado de um lado para o outro pelas vagas tenebrosas que me batiam e abatiam!

 

Os deuses são mesmo insaciáveis!

 

Não me concederam bonança que tranquilizasse!

 

Não me concederam vento que me entusiasmasse!

 

E, aqui chegado, a estas letras, não vislumbro ainda o horizonte da minha chegada, nem tampouco, olhando para trás, encontro o lugar e o momento em que fiquei perdido.

 

A morte não é a sorte legítima da vida!”.

 

Um murmúrio de queixume fez soluçar os ramos das giestas e as agulhetas das galhas do pinheiro manso, ali, no CASTRO de CURALHA!

 

M., 13 de Fevereiro de 2015

Luís Henrique Fernandes

 

 

Sobre mim

foto do autor

320-meokanal 895607.jpg

Pesquisar

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

 

 

20-anos(60378)

Links

As minhas páginas e blogs

  •  
  • FOTOGRAFIA

  •  
  • Flavienses Ilustres

  •  
  • Animação Sociocultural

  •  
  • Cidade de Chaves

  •  
  • De interesse

  •  
  • GALEGOS

  •  
  • Imprensa

  •  
  • Aldeias de Barroso

  •  
  • Páginas e Blogs

    A

    B

    C

    D

    E

    F

    G

    H

    I

    J

    L

    M

    N

    O

    P

    Q

    R

    S

    T

    U

    V

    X

    Z

    capa-livro-p-blog blog-logo

    Comentários recentes

    • LUÍS HENRIQUE FERNANDES

      *Jardim das Freiras*- De regresso à cidade-Faltam ...

    • Anónimo

      Foto interessante e a preservar! Parabéns.

    • Anónimo

      Muito obrigado pela gentileza.Forte abraço.João Ma...

    • Anónimo

      O mundo que desejamos. O endereço sff.saúde!

    • Anónimo

      Um excelente texto, amigo João Madureira. Os meus ...

    FB