Chá de Urze com Flores de Torga - 133
Alturas do Barroso, 1 de Setembro de 1991
Incansavelmente atento às lições do povo, venho, sempre que posso, a este tecto do mundo português, admirar no adro da igreja, calcetado de lousas tumulares, o harmonioso convívio da vida com a morte. Os cemitérios actuais são armazéns de cadáveres desterrados da nossa familiaridade, lacrimosamente repelidos do seio do clã mal arrefecem, cada dia menos necessários, no progressivo esquecimento, à salutar percepção do que significam na dobadoira do tempo. Ora, aqui, cada paroquiano pisa, pelo menos dominicalmente, a sepultura dos ancestrais, e se liga a eles, quase organicamente. Vive, numa palavra, referenciado. Sabe que tem presente porque houve passado, e que, mais cedo ou mais tarde, enterrado ali também, será para os descendentes consciência e justificação do futuro.
Miguel Torga, In Diário XVI
E terminam aqui as referências às terras de Barroso, concelho de Boticas e Montalegre. Concluídas que estão as referências ao Barroso e Chaves, a partir de hoje a rubrica “Chá de Urze com Flores de Torga” deixará de estar aqui no blog todas as quartas-feiras. Mas continuará, ocasionalmente, sem dia certo, não só com trechos dos diários, mas também outros textos e notícias, de preferência com referências transmontanas e com o sentir transmontano como Torga o sabia fazer tão bem.
As próximas quartas-feiras darão lugar a uma nova rubrica, ainda em preparação, mas até que surja aqui, não faltarão motivos flavienses para preencher o espaço dos dias de feira em Chaves.