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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

19
Dez13

Do livro " Chaves, Olhares Sobre a Cidade"


 

Ancestralidades

 

No adro da igreja românica de Santa Leocádia, ao remanso de um dos seus vetustos ciprestes, estendi as vistas pela Padrela. Depois mirei o Alvão, fronteira de um mundo outro. O Larouco, à direita, confesso que não me chaldrou! À esquerda, arroucei-me no eiteiro do Fecho e ideei.

 

Como foram sempre excomungados os corgos do Brunheiro! A neve e o sincelo tolheram-lhe as seivas, como os beiços de quem ateima em sorvê-las. O magro pão que o suor pare insiste num sabor acre a terra e a geada. Aos seus, jamais sobrarão ensejos para além do mourejar. Ócios e folganças são contas que desfiam os privilegiados da ribeira! O arrimo, no altiplano, continua a ter de ser varejado como a azeitona na Terra Quente. Na meseta é preciso empenhar mula e albarda para que o forno coza, o reco fuce e a pita ponha!.. De graça, só mesmo os pingarelhos do carambelo de janeiro. Mas não fartam barriga!..

 

Ai se a boa vida na Montanha arreganhasse, como arreganha o ouriço a dar castanha!..

 

Muitos não estiveram para esta penúria e desertaram. Outros, tantos, vergaram-se à crueza do destino, ditado por um Deus genioso. Pois se assim tinha de ser, que assim fosse! Restava apaziguar-lhe a ira. Sumindo à mó o pouco que já moía, desougaram-se cuidando da alma, já que da courela estavam escoucados. Assim cogitaram há 800 anos os homens rudes do Brunheiro. E assim fizeram! Todavia, para aquela lavoura, não serviria relha qualquer. Exigiram coisa fidalga, como fidalga era a determinação. Botaram pico à fraga e lavraram a pedra em veneranda obra!

 

Talvez por isso Santa Leocádia passasse a ser mais do que uma ignota aldeia, senhora de um monumento classificado. Passou a ser exemplo, lição de vida!

 

A igreja bem merece o epíteto de bastião do estoicismo e da abnegação de um povo quase tão duro como o granito que a erigiu!

 

E pese embora o pelourinho estar torto como um arrocho, mantém-se orgulhosamente em pé! Lampejo para a expi(r)ação! Sim, porque a minha gente morre de pé como o negrilho! A carcaça, depois, que ceve a terra. Assim com’ assim, nunca deixará de ser tísica!..

 

Mas o que de bérias importa é que a obra seja imortal!

 

De volta ao períbolo, interrogo-me:

 

─ Perante tanta exiguidade, porque não havemos nós de vingar também, se até nos corre nas veias do mesmo sangue?

 

Creio, firmemente, que não são os homens que fazem as obras, mas as obras que fazem os homens!..

Gil Santos

 

 

Muralha

 

Espera por mim deixa-me ir,

desde o passado ao porvir…

 

Muralha contas  história

De poderosos e de servos

Contas derrota e glória

De tempos frios e severos

 

Ah horizonte passado

De enigmas velados

Albergas tanto mau  olhado

E defendes tantos pecados…

 

Na pedra a autoridade

Dura mantém-se com firmeza

Almejando a liberdade

Não  esquece que é defesa

 

Imponente e majestosa

Altruísta para o seu povo

É  a bandeira corajosa

Com quem o velho se faz novo

 

História contas Muralha

De servos e ou poderosos

Ganhas sempre essa batalha

 Aos hereges  religiosos…

Deixa-me ir nesse  teu olhar

Dessa  guerra e paz  a pairar…

 

Isabel Seixas

 

 

07
Ago13

Foto do Dia - Três gerações de jogadores do Desportivo de Chaves


 

Eu avisei que nesta rubrica da foto do dia só iriam aparecer fotografias de exceção e eis a prova, numa só fotografia três gerações de jogadores do Desportivo de Chaves, e a foto é mesmo do dia de hoje.

 

Porque o respeitinho é muito lindo e a idade é um posto, aí vai: Ao cento – Albano; à esquerda – Carlos Branco; à direita – Chabila. Isto é tudo rapaziada do tempo em que a equipa do Grupo Despotivo de Chaves era feito quase e só  por rapazes da terra.



07
Jun13

Discursos Sobre a Cidade - Por Francisco Chaves de Melo


 

Um verdadeiro “paisagista”.

 

A qualificação estética e ambiental dos espaços ribeirinhos do Tâmega, pode afirmar-se hoje, foi o maior legado que o Presidente da Câmara, Altamiro Claro, ofereceu à cidade de Chaves e aos seus moradores. Felizmente, durante o Governo de José Sócrates, foi possível ver a Cidade engalanar-se como nunca. Na altura, recuperar a urbanidade com intervenções estruturantes no tecido urbano consolidado mostrou-se um caminho que hoje os cidadãos não se cansam de percorrer.


Tinha-se na altura a perfeita consciência de que a gestão do PPD, que antecedeu a Câmara socialista, não ligava aos aspectos essenciais como a qualidade de vida dos flavienses, nomeadamente, a valorização de percursos pedonais e a implementação de espaços verdes para descanso e defesa ambiental adequadas à exigente população de Chaves. Sem dúvida que este investimento contribuiu para um engrandecimento da Cidade, pois, para além da valorização estética, não deixou de ter em atenção a articulação funcional do conjunto das estruturas da cidade.


Está agora à vista de todos que a dinâmica daqueles tempos foi sendo consecutivamente desbaratada pela nova gestão camarária. Esta, sabemos agora, foi perdulária com a herança recebida, gastou, voltou a gastar e, hoje, pode dizer-se, como o povo diz “passaram tudo a tabaco”.


O resultado está à vista: o centro histórico caminha para o esvaziamento e a degradação; o já romano “centro cívico” está a perder conteúdo urbano, o cineteatro, alvo de promessa política fantástica na última campanha eleitoral do PPD, não arrancou. Como o povo diz, gastaram em projetos, mas não conseguiram arranjar um cêntimo para iniciar a obra. É caso para dizer que a mentira tem as pernas curtas. Contudo, como todos sabemos, ela regressa! Claro que travestida!


Afirma-se “ a Verdade”! E praticar, pratica-se?


Ninguém consegue agora negar que o centro tradicional perdeu importância (e os comerciantes o seu ganha pão), o que sob o ponto de vista económico e social é uma catástrofe para a cidade.


Falta à gestão autárquica projecto, visão de futuro, arrojo, capacidade negocial, no sentido de reforçar a nossa Cidade como espaço de vida comercial, lúdica e cultural. Estão, ou não, os dirigentes autárquicos parados no tempo, fora da realidade?


Trata-se agora de preconizar intervenções prioritárias de requalificação do tecido comercial da cidade, de dotar o espaço público de atratividade para os negócios e a criação de emprego associada.

Se assim não for, mais vale que a Câmara se prepare para o contínuo decréscimo de residentes. Isso sim, será motivo de preocupação para todos pois. Com as despesas que acumularam, com os juros e as amortizações das várias dívidas, os poucos que cá ficarem que se preparem pois, o preço da água, do IMI, da recolha dos lixos, entre outros, será um inferno. Mas sobre isso, que não é “paisagismo”, não dizem nada.

 

 

Francisco Chaves de Melo

 

 

21
Mar12

Palavras colhidas do vento... por Mário Esteves


 

Desafortunadamente, a minha tia Estrelita, à qual me referi na última crónica faleceu, após tenaz resistência contra a doença que, como um raio a varou. Durante a primeira semana deu esperanças de vir a sobreviver, mas a morte inexorável que nunca deixou de ensombrar a cama de hospital onde jazia, acabou por vencer.

 

Fica a memória da sua existência à família e amigos, e permita-se-me destacar a companhia permanente até ao seu decesso, na vida dos sobrinhos, talvez mais na minha e de meus irmãos. De tal forma que, muitas vezes a minha mãe dizia, com alguma indisfarçável contrariedade:

 

- “ O vosso pai tem duas casas, esta e a das irmãs…”

 

As irmãs, eram as tias Estrelita e Maria.

 

Fotografia prop. de Mário Esteves - Direitos Reservados

Traseiras do Palace Hotel de Vidago

Ao centro a Tia Estrelinha, ladeada do lado esquerdo pela minha mãe

e do lado direito pela minha tia Lina (materna), ainda viva e residente em São Paulo, Brasil.

 

Não recordo umas férias estivais de infância e até de adolescência, que não nos acompanhasse.

 

Leça da Palmeira ou a Costa da Caparica, na desaparecida FNAT, são testemunhos visíveis nas amarelecidas fotografias do álbum familiar.

 

E não posso esquecer, que, após o falecimento de meu pai, praticamente adoptou o meu irmão mais novo, que de resto, antes peregrinava entre a casa dos pais e das tias.

 

Muito haveria a dizer de minha tia; sobejam nas minhas reminiscências, além da saudade e o afecto que perdurarão, o arquivo oral da genealogia familiar, histórias próximas e alheias e um exemplo de tenacidade.

 

Quando faleceu o meu avô paterno, sob a direcção esforçada e atenta de minha avó, foi ela e os irmãos - adolescentes, quase umas crianças -, que assumiram o negócio familiar de armador, percorrendo os caminhos poeirentos a pé ou em azémolas - já por si carregadas com as tralhas do ofício e caixas com os forros das charolas, cetim, luzideiras, flores de papel apergaminhado, de várias cores… -, postas à sua disposição  pelos mordomos, até às aldeias festivas, para ornamentar os andores com uma maestria insuperável, que lhes granjeou amizades e merecida fama.

 

Que descanse em paz!

 

Fotografia prop. de Mário Esteves - Direitos Reservados

 

Não se pretende que estas crónicas que vou debitando e nos últimos tempos de forma errante se transformem em obituários. No entanto, creio que os leitores compreenderão a sua razão de ser.

 

Assim como a evocação do falecimento recente e inesperado da D. Quinhas. Pessoa afável, com quem me cruzava diariamente junto à porta de sua humilde morada, na Rua do Sal, às horas das refeições e a caminho da pensão onde me amesendo ou na frutaria da esquina da mesma rua ou próximo da Igreja Matriz.

 

Inevitável falar da sua bonomia, dos breves momentos de cavaqueio sobre o quotidiano, quando nos encontrávamos e do fiel companheiro Ruca, um rafeiro de pelo acastanhado e ocre, que tratava com desvelo e que não acede a deixar de permanecer em frente à porta da casa da bondosa dona.

 

Com alguma relação ao que escrevi na crónica na qual falava da doença de minha tia e da qual veio a falecer - custa a crer e rememorar a forma sentida e comovente como a D. Quinhas me deu os pêsames pelo passamento de minha tia e pensar que, também ela e de forma brutal, pouco tempo decorrido, perderia a vida -, vou passar de largo sobre a polémica que, entretanto a sua morte gerou, com declarações do Presidente da Câmara Municipal de Chaves, do Ministro da Saúde e que opõe os Hospitais de Chaves e o de Vila Real.

 

Chaves, Rua do Sal - D. Quinhas à porta de Casa (25.Fev.2012)

 

E como me foi dado a conhecer, que a razão desse litígio é alheia aos familiares da saudosa finada, não posso deixar de lamentar que a política se faça sobre o irremediável, embora respeite a legitimidade das entidades no apuramento de responsabilidades, a existirem, sejam elas quais forem. A isso estão obrigadas.

 

Mas, como diz uma minha amiga:

 

-“ As desculpas não se pedem, evitam-se.”

 

 

Por parecer inoportuno, atendendo ao teor desta crónica, não vou repetir o que se passa na Rua Bispo Idácio, perto da confluência desta rua com a Ladeira da Brecha, nas noites de sábado para domingo, e que motivou mais uma participação na PSP.

 

No entanto não poderia deixar de me congratular com o artigo de Sandra Pereira, também colaboradora deste blogue, na “Voz de Chaves”.

 

Os sofridos moradores agradecem.

 

Assim tivessem motivos para agradecer às autoridades que poderiam pôr termo a este massacre.

 

Mário Esteves

03
Ago11

Palavras colhidas do vento... por Mário Esteves


 

O Ary regressou do Rio Grande do Sul para os tachos de um dos muitos restaurantes e casas de pasto de Chaves, nesta época a mudarem a cor da contabilidade, que desceu dos falsos onde no resto do ano vivem ou subiu da cave onde sobrevivem.

 

Nos dias de feira disputam-se lugares, como no casino, sítios às mesas ou às máquinas de tavolagem.

 

Casino que é agora o mesmo que a torre da igreja da paróquia ou a torre de menagem do castelo de Chaves ou de Santo Estêvão, omnipresentes no passado, e também guias de romeiros ou viajantes.

 

De tal modo, se o nobre fidalgo, D. Quixote, e o seu celebrado companheiro de andanças, Sancho Pança, trocassem os páramos de Castela e a Mancha, ou as terras de Extremadura, e campeassem pelo veiga de Chaves, na vez do célebre: “… con la iglesia hemos topado, Sancho…”; exclamaria: “…con el casino hemos dado…” 

 

O nosso amigo Ary, a par das panelas e se dedicar à generosa obra de recompor estômagos alheios, faz férias na terra natal, descansa a legítima, vigia mais de perto a administração de uns apartamentos no Algarve e quando a saudade gaúcha lhe oprime o peito, obriga o patrão a comprar carne de vitela de primeira e faz um assado…

 

Só falta o chimarrão!

 

Pelo meio ainda tem tempo, para debitar solenes brocardos, réstias de uma licenciatura em direito, inacabada, e uns tímidos trinados, temperos que pairam das comidas fumegantes, cibos de um afecto antigo e sempre presente pela música, que o levou a ter aulas de canto e gravar um CD, que empresta, entre tímido e orgulhoso, a quem mais dele se aproxima e tem trato amistoso.

 

Apesar da aparente desfeita de não poder usar a beca ou a toga doutoral, ganhou foros na cozinha, património quanto baste, um lindo lugar para viver em boa parte do ano, e no resto, entre as gentes das caldas, o regozijo, de verem melhoras na saúde e o apetite recobrado.

 

Bem-vindo Ary!

 

 

Como bem-vinda é a amiga Anne, professora de filosofia em Paris, que visita Chaves, todos anos, por esta altura. Mulher de meia-idade, cabelo louro aparado curto, pele trigueira onde resplandece o sol do entardecer. Dona de uns olhos azuis aquosos e lábios suaves, como escarabunhas de romã e um sorriso sereno e acolhedor.

 

Numa das pequenas conversas, que mantemos às refeições, de mesa para mesa ou quando nos despedimos no final, deu para entender quanto gosta da profissão e o seu desânimo actual.

 

“E em Portugal, como é ser professor?”

 

Respondi, que provavelmente, o mesmo que em França.

 

Foi então, que ela, mantendo o sorriso perene quando fita alguém, pela primeira vez mostrou ligeiras rugas na fronte e sombras pairaram sobre o azul-marinho dos olhos.

 

“Ah! A educação dos jovens … e os pais?” - suspirou.

 

Como lhe era visivelmente desagradável, passou a falar de como gostava da cidade, das pessoas, da comida e do prazer que tinha de aprender e falar a língua portuguesa, o que já fazia muito bem, sem sotaque e pronúncia perfeita, embora por vezes não compreendesse uma ou outra palavra ou expressão. Denotava atenção e estudo. 

 

Ironicamente, mesmo ao lado, uma família de emigrantes portugueses em França, abjurava da língua natal.

 

Quando saí do restaurante, ainda com a imagem da encantadora Anne na mente, dei por mim a recordar o valente pontapé no rabo, que levei do doutor Ângelo e que me fez projectar directamente para o passeio, sem pôr os pés nos degraus exteriores do baixo que dava para a rua Direita, onde ele e o irmão – este no compartimento contíguo e interior -,  davam explicações de matemática e física.

 

Por coincidência no mesmo instante passavam os meus pais. O doutor Ângelo empalideceu.

 

Os meus pais sorriram, condescendentes e disseram-lhe: “Não se preocupe, certamente foi porque o mereceu.”

 

Só muitos segundos depois, o antigo veterinário municipal, conseguiu balbuciar:

 

-“ Este rapaz é muito inquieto e desatento…”

 

 

 

Logo de imediato e como se estivesse a percorrer com os dedos fichas de arquivo, surgiu o doutor Costa, e um famoso estalo que dele levei – digo famoso, porque estou sempre a repetir a história -, numa aula, desta vez sem razão que o justificasse. Quando o doutor Costa se apercebeu, da injusta punição, consolou-me:

 

-“ Deixa lá, rapaz, na próxima diz que tens um de crédito!”

 

Não demorou muito que o feitio azougado e a vontade infantil de ser gracioso, me levasse a fazer qualquer maroteira, pois podia o professor esquecer-se…

 

Quando a fiz, já o doutor Costa tinha a mão no ar… Eu, já descrente da escrituração contabilística do vice-reitor do Liceu Nacional de Chaves, consegui dizer:

 

- “ Sô doutor, tenho um de crédito…”

 

A mão fechou-se em punho e apenas recebi um ligeiro toque com os nós dos dedos na cabeça.

 

- “ Agora, já sabes, estamos quites!”

 

 Mário Esteves

 

31
Dez10

Discursos Sobre a Cidade - Por António Tâmara Júnior


 

Foto de Tâmara Júnior

 

 

 

NONA

 

 

Com catorze anos veio de uma recôndita aldeia do sul do distrito para as terras mais frias e, ditas ricas, do norte. Acompanhava sua mãe, sua irmã mais nova e seu irmão, deslocado em múnus pastoral.


Traziam a esperança de uma vida melhor e mais próspera.


E horizontes mais largos que as fragas do Marão não lhes davam, apesar da beleza agreste das suas vistas e dos enormes e policromados vinhedos que, à sua volta, todos os anos se lhes ofereciam em horto de canseiras.


Fizeram, nas faldas das fartas terras da Veiga, o seu lar, construindo sua casa.


Neste terrunho decidiram levar para a frente suas vidas.


As terras da Veiga tinham fama.


Fama que lhe vinha da história. Da situação geográfica privilegiada. Das suas gentes.


Terra de fronteira, o comércio e relacionamento entre povos era a sua especialidade.


Pelas histórias que se contavam e contam, assim era, ou parecia ser.


Nos anos 60 e 70, as terras da Veiga tinham aura, encanto e encantamentos. E comércio próspero. E fronteira cheia de “peliqueiros” endinheirados pela imigração clandestina. E pelo contrabando. E agricultura, suporte da maioria das actividades das gentes do mundo rural, ainda pujante. E bancos gordos das remessas das divisas das suas gentes, pobres de terras, à procura também de melhor vida. E meio urbano fervilhando de estudantes e militares (Caçadores 10 e Liceu), propiciando uma “movida” de fazer inveja a muitas cidades com pergaminhos, gabarito e fama na área da diversão e da animação.


Enfim, via-se que a terra tinha futuro. Que era uma esperança. E que havia que apostar.


Daí, em alguns espíritos, um certo ar de superioridade, de indiferença, quiçá até de desprezo, para com as gentes do sul. Clima este, mais patente e visível, nas instituições da Vila, capital do distrito.


Toda esta envolvente, era meio para cativar, seduzir. O amor próprio andava alto.


Com toda esta vivência, de auto-estima positiva, Nona, que, de tempos a tempos, vinha a norte passar férias com os seus parentes, foi seduzido. Também conquistado. Apesar de, no fundo, andar desconfiado. Pois sentia que tanta “fartura” não podia durar sempre. Porque não sentia ali o dedo do engenho, da arte, do esforço, do trabalho, da criatividade. Somente o usufruto fácil de situações facilitadoras. Portanto, fáceis.


Mas acabou por ficar também. O coração falou mais alto que a razão. E fez também neste cantinho o seu lar.


E, durante mais de trinta anos, deu o melhor que soube e tinha da sua juventude à terra onde repousam os restos dos seus entes mais queridos.


Hoje, Nona, já tio, entrando naquela idade que apelidamos de velhice, olhando de frente para o passado, resmunga consigo próprio e com os seus conterrâneos que não souberam, a tempo, usar da tradição e da história, da situação geográfica privilegiada, dos seus recursos agro-florestais e do subsolo e, fundamentalmente, das suas gentes, para se desenvolverem.


Porque ninguém desenvolve ninguém a não ser nós próprios.


Porque vivemos quase sempre na miragem de uma imagem fossilizada do que éramos, enquanto outros prosperavam. E passámos a vida a culpabilizar os outros e a pedir ajuda a terceiros.


Esquecemo-nos de olhar para o fundo de nós próprios e tentarmos descobrir que, numa quadra em que tanto se fala de nascimento e novo, urge sabermos investir num renascer e um novo homem flaviense. Que seja capaz de sair da mentalidade miserabilista, da apatia e do acanhamento. E que saiba estar mais à frente, para além da fronteira, investindo mais em si próprio e potencializando, pela inovação e criatividade, todos os seus recursos.


Eis, em suma, o resumo da conversa ontem mantida com o Tio Nona quando ontem me dirigi a sua casa para lhe desejar um Bom Ano 2011.


Bom Ano 2011 a todos!

 

 

António Tâmara Júnior

 

 

 

 

31
Out10

Feira dos Santos 2010 - Uma voltinha


 

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Costumo dizer que no sangue de um flaviense corre sempre um bocadinho do Rio Tâmega, um pouco de nevoeiro, um pedaço de Ponte Romana, recordações das Freiras mas também a Feira dos Santos, a nossa festa grande. Lamentos à parte, pois esses já os fiz na quarta-feira passada, vamos então dar uma volta pela festa deste ano, apenas ou quase só em imagem.

 

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São sem dúvida imagens que se repetem todos os anos, não fossem os Santos uma festa de tradição, mas, tal como a Ponte Romana, é sempre com gosto que fotografamos a feira.

 

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Mesmo com o tempo a contrariar a festa, não há flaviense que resista e lá temos que dar as nossas voltinhas, rua cima, rua abaixo, com mais ou menos gente – vamos sempre lá.

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Apreciamos as modas, e deita-se olho a tudo, até a instrumentos cuja escrita desconhecemos, mas não deixamos de os apreciar, até com um sorrisinho malandro.

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Chaves também já há muito ganhou fama pelo seu presunto, e na ausência do verdadeiro presunto de Chaves, os espanhóis não se fazem rogados e se não o vendem, sorteiam-no. Afinal de contas, agora, também Chaves-Verin é uma euro-cidade e se pela manhã se fez o festival gastronómico do polvo à galega, porque não os espanhóis venderem por cá o seu presunto… temos pena, mas não há outro.

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E viva a pimbalhada, que também faz parte da festa. Aliás bombos e concertinas sempre fizeram parte da Feira dos Santos e também gostamos de os ver e ouvir e, se na animação também há lamentos, não é por causa dos bombos e concertinas descerem à cidade, mas pela ausência de outra animação em paralelo, principalmente ao nível de espectáculos para os nossos jovens, tal como nós os mais crescidinhos tínhamos os famosos e saudosos bailes dos Santos nos Bombeiros.

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Mas vamos à feira e se não compramos, pelo menos apreciamos. Não deixamos de deitar olho a um ou outro monumento que vai passando mas também a penteados mais esquisitos…

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E então o cheirinho a castanha assada…mas melhor que cheirar, é mesmo comer. Penso que toda a gente gosta, mas se não gostar, também há farturas com fartura.

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Mas a festa não é igual para todos e se há quem compre, tem que haver quem venda e se para nós até pode ser uma diversão, principalmente para as crianças, para os vendedores e também as suas crianças, a diversão é bem diferente…

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Mas enfim, também nos dias da feira a noite acaba por cair e com compras ou sem compras, um bocadinho de casa começa a apetecer.

27
Mai10

Colecionismo de Temática Flaviense - Medalhística


 

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Medalha em prata comemorativa dos 25 anos do Clube de Campismo e Caravanismo de Chaves.

 

Além de comemorar os 25 anos do clube, a medalha é atribuída anualmente a todos os membros que completem os 25 anos  de associado.

 

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Características:

 

Material: Prata

Dimensões: Diâmetro - 80mm;  espessura - 5mm

Não assinada

Ano: 1999

Medalha não numerada

Tiragem desconhecida

Cunhagem:  Gravarte - Lisboa

 

 

 


13
Abr09

Flavienses Ilustres - Artur Maria Afonso - Poeta mimoso -2


2ª  e última parte.

 

 

 

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Oh meu velho pai

 

Oh meu bom velho pai

Que olhar cabisbaixo é esse que te acompanha?

Homem de perseverança errante,

Homem grande.

 

Carregas contigo o percurso pando

E agora?

 

Tantas histórias,

Tantos acontecimentos passados,

Tanta desaventurança!

 

Penaste nessa errância

Com pobres de espírito te invejando

Com gente te silenciando…

(E só porque lhes fazias sombra…)

 

Apodera-se de mim uma enorme fúria

Não pai, não vou esquecer…

Não pai, como poderei esquecer?

Não me peçam que deixe de sentir essa dor,

Esse desassossego!

 

Vale-te a pintura, a escrita,

E o conforto de saber que a tua obra, essa, fica!

Porque estás cabisbaixo meu velho pai?

Sossega meu pai…

 

Poema de Artur Afonso

 

 

Agradecimentos: Fundação Nadir Afonso (fotografias), Dinis Ponteira (fotografias).

 

Notas: Os poemas publicados são retirados de obras publicadas de Artur Maria Afonso. As ilustrações de Nadir Afonso são retiradas do livro “Artur Maria Afonso – Poesias” publicado pela Fundação Nadir Afonso.

 

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