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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

21
Dez19

A Elsa e as Cheias do Tâmega

cheia de 20 de dezembro de 2019


1600-cheia-20-12-19 (2)

 

A cidade de Chaves no dia de ontem, 20 de dezembro, esteve dominada pelo que ia acontecendo com a cheia do Rio Tâmega. Muitas complicações de trânsito com corte de algumas vias, nomeadamente nos acessos à Madalena e Tabolado, mas principalmente na zona e acessos à rotunda do Raio X, em suma, nas zonas mais baixas da cidade que ficaram inundadas com a cheia.

 

1600-cheia-20-12-19 (232)

 

Contudo poder-se-á dizer que esta foi uma cheia normal, muito aquém da cheia de 1909, isto a julgar pelas fotografias da época, pois a placa colocada num dos edifícios da Madalena está colocada acima daquilo que foi a realidade.

 

1600-cheia-20-12-19 (209)

 

Pela análise que fiz nos registos que tenho de cheias anteriores, esta foi muito idêntica à que ocorreu no ano de 2010, e ficou também muito aquém de algumas cheias das últimas dezenas de anos que eu recordo, como a cheia de 1966 que inundou grande parte do vale de Chaves e mais, a cheia de 1989 e as cheias de 2000/2001 em cujo inverno/primavera ocorreram 8 cheias que inundaram a Madalena e galgaram a Canelha das Longras, ano (março de 2001) em que caiu a Ponte de Entre os Rios e o Baluarte do Cavaleiro.

 

1600-cheia-20-12-19 (197)

 

De idênticas dimensões a estas 8 cheias, foi também a cheia do ano seguinte, de 27 de dezembro 2002, mas com muito menos estragos que as dos anos anteriores, pois foi de curta duração e de menor dimensão..

 

1600-cheia-20-12-19 (99)

 

Também por fotografias antigas, dá para observar que durante o século passado aconteceram algumas cheias de grandes dimensões, 1909, 1939 e 1962, mas as últimas duas não atingiram as dimensões da cheia de 1909, sendo a que esteve mais próxima desta a de 1939, isto no século passado. Registos de cheias desde 1960, levam-nos também a algumas dignas de registo, umas pela sua dimensão embora de curta duração e outras embora de menor dimensão, mas de mais duração.

 

1600-cheia-20-12-19 (90)

 

A título de curiosidade, dessas destacam-se as seguintes, isto, desde que existem registos hidrométricos do Rio Tâmega:

 

1960 (Nov.)

1961 (Jan) – Chovia há 4 meses

1962 (Abr)

1963 (Jan)

1966 (Jan/Fev)

1969 (Mar)

1972 (Fev)

1978 (Mar e Dez) – Três cheias seguidas

1979 (Jan)

1982 (Jan)

1987 (out)

1989

1992 (Dez)

1995/96 (Dez/Jan)

2001 (Mar) – Esta, pelos níveis alcançados, há especialistas que a consideram como a cheia centenária, ou seja, grandes cheias que ocorrem (mais ou menos) de cem em cem anos, que no nosso caso seria aquela que esteve a par da cheia de 1909.

2002 (Dez)

2009 (Dez)

 

1600-cheia-20-12-19 (10)

 

Até aqui ficaram imagens da cheia de ontem, dia 20 de dezembro de 2019. A partir de aqui, sem palavras, alguns registos que fui fazendo das cheias dos últimos anos. Pena não ter registos fotográficos de nenhuma das 8 cheias de 2001, mas tenho-as bem presentes na memória, principalmente as noites dessas cheias.

 

 

Imagens da cheia de 1989

cheia de 1989 (19)

1600-cheia de 1989 (16)

1600-cheia de 1989 (14)

1600-cheia de 1989 (8)

 

 

Imagens da cheia de 2002

1600-cheia-27-12-2002 (5)

1600-cheia-27-12-2002 (3)

 

 

Imagens da cheia de 2009

1600-cheia-31-12-09 (84)

1600-cheia-31-12-09 (43)

1600-cheia-31-12-09 (6)

 

 

Imagens da cheia de 2010

1600-25-2-2010-sapo.jpg

1600-25-2-2010-sapo-1.jpg

1600-25-2-2010-sapo-2.jpg

 

 

Imagens da cheia de 2016

1600-cheia-11-1-16 (9)

 

Esta última não foi propriamente uma cheia, pois o Rio Tâmega apenas saiu do seu leito habitual em dois ou três pontos mais baixos da cidade. e pouca coisa...

 

E é tudo, esperamos ainda hoje ter por aqui mais um vídeo com imagens de umas das nossas aldeias do concelho de Chaves.

 

 

25
Dez09

Discursos Sobre a Cidade - O Pato do Natal


Texto de Blog da Rua Nove

 

O Necas era um trampolineiro excêntrico que vivia na Madalena e cuja fama chegara a todos os cantos da cidade e subira a cada recanto das aldeias de montanha.

 

Naquele mês de Dezembro, em que o Tâmega já se espraiara pelo Caneiro, todos os que o conheciam recordavam a sua façanha de há anos atrás. Entusiasta do nimas, não perdia uma sessão no Salão-Maria, fosse qual fosse o filme, fizesse o tempo que fizesse. Sozinho ou acompanhado, todas as noites de cinema atravessava a ponte a assobiar, regressando a casa ora mais animado ora mais macambúzio, consoante o lado para que caía a história da película.

 

Tal como agora, naquele ano o rio transbordara e durante dias inundara parte da cidade. Era Janeiro e o ar estava gelado, mas o Necas não estivera com meias-medidas. Pegara em duas cadeiras e atravessara a Madalena e o Arrabalde como se estivesse encavalitado em duas andas. Dum lado e doutro da cidade os mirones da cheia pasmaram com a inconsciência, segundo uns, ou o atrevimento, segundo outros. Mas todos concordaram que era um acontecimento notável e ainda hoje há gente capaz de jurar a pés juntos que o Necas quase se estivera a afogar quando trocara o passo e se desequilibrara em cima da ponte, correndo o risco de cair na água que redemoinhava entre o gradeamento! (Embora, à puridade, à puridade, e como todos nós sabemos, não haja memória de o rio alguma vez haver galgado a ponte.)

 

Mas agora voltara a ser ano de cheias e aqueles que achavam que as facécias do Necas se apuravam nessas alturas estavam expectantes. O Necas, contudo, andava preocupado com outras questões. Era quase noite de Consoada e nos Codeçais, onde costumava arranjar o perú, não sobrara uma única dessas avantajadas aves. Os que haviam sobrevivido ao gôgo pareciam ter feito questão de mostrar que não sabiam nadar, deixando-se levar pelas águas.

 

Caminhava no S. Roque, lado a lado com o Tó, e era desta situação desesperada, de não ter perú para o almoço de Natal, que se lamentava quando um quáquá vibrante se fez ouvir para os lados da ribeira. "Olá! Ouviste? Cuecas! Temos para ali um parreco...", dissera o Necas enquanto desatara a correr. O Tó ainda se ria da história das cuecas (O Necas havia-lhe dito que quando ia de visita aos primos do Porto nunca se cansava de ir ver filmes todos os dias e que um dia ao sair de um cinema na Praça da Batalha e ao descer para a Estação de São Bento havia reparado na empena de um prédio onde se via o desenho de uma pata seguida de uma ninhada a fazer cuécuécué e que nem queria acreditar que aquilo era um anúncio a uma marca de cuecas, como era...) quando este voltou com um pato debaixo do braço e já com o pescoço torcido. "Está feito! Este ano temos pato para o Natal..."

 

"Então e agora?", perguntara o Tó. "Agora? Agora vais-me arranjar uma bomba de bicicleta e estás convidado para vir almoçar lá a casa no Natal. Vais provar um pato como nunca comeste. Um pato à Necas!" O Tó não se fez rogado, mas ainda lhe foi perguntando para que serviria a bomba de bicicleta. "Deixa isso comigo", foi a resposta. "O Chico Tó esteve em Macau e é que sabe. Foi ele que me ensinou um truque. Depois de depenado, separa-se a pele do resto do pato com uma bomba de ar, para que a pele fique mais tostada e saborosa e a gordura se acumule entre a carne a pele. É assim que os chinocas o comem e fica uma delícia!"

 

No almoço do dia de Natal todos aguardavam ansiosamente a chegada do pato à Necas. E de facto o pato vinha coradinho e tostado, com um aspecto apetitoso como nunca se vira num pato assado. O Necas fez questão de servir a família e os convidados. Um fino pedaço de pele, tostada e rescendente, para cada prato. "Ora provem lá isso e digam se não é o melhor pato que já comeram!"

 

E todos assentiram, dizendo que sim senhor, que era um pato memorável, melhor mesmo que muitos perús. E acrescentaram que mal podiam esperar para saborear o resto. "O resto? Qual resto?", perguntou o Necas. "Ora, a carne, o que é que havia de ser?!", responderam todos. "A carne? Nãã, népias! Só se come a pele. É assim que os chinocas fazem. A carne vai-se dar de bodo aos pobres!"

 

Um ar de surpresa e desânimo perpassou pela mesa, até que alguém conseguiu desabafar: "Ora adeus! Isto é que é o pato à Necas? Comemos a pele e ficamos a olhar para a carne? Patos somos nós, que isto é mas é pato à Népias!"

 

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