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Hoje era para vos falar da preocupação dos comerciantes tradicionais cá da terra em relação às anunciadas lojas que os chineses querem abrir em Chaves, mas não o vou fazer porque não quero entrar nessa polémica com cheiro a xenofobia quando muitos dos nossos são emigrantes, não o quero fazer porque o problema, se calhar, até nem está na vinda dos chineses mas talvez esteja dentro do próprio comércio tradicional, ou, como diz um provérbio chinês "Se quer manter a sua cidade limpa, comece a varrer diante da sua casa", também não o vou fazer porque os comerciantes têm uma Associação que para além de contratar os “Rapazões da Venda Nova” e os “cabeçudos”,em principio, existe para defender os seus direitos e por último não o vou fazer, porque existe uma autarquia atenta aos problemas do centro histórico, que ainda há dias anunciou um projecto de dinamização com duração de dois anos onde irá investir 150 mil euros (30 mil contos).
Sinceramente, com assuntos tão preocupantes e bem mais sérios que estão em discussão pública, como as barragens do Rio Tâmega, pouco me preocupam estes desviares de atenções e a preocupação com os chineses, ou como diria o outro “por aqui falam, falam, falam, falam, falam de tudo, mas não os vejo a falar das barragens…”
Vamos então a um assunto sério e que tem a ver com a vida do nosso Rio Tâmega, com uma das conclusões da sessão de esclarecimento que ocorreu há dias em Vidago.
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Sessão de Esclarecimento
“Barragens do Alto Tâmega”
Na passada segunda-feira, o Núcleo do Alto Tâmega do Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega e Presidentes de Junta de Freguesia, promoveram, no salão nobre dos Bombeiros Voluntários de Vidago, mais uma sessão de esclarecimento sobre o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) dos Aproveitamentos Hidroeléctricos de Gouvães, Padroselos, Daivões e Alto Tâmega, cujo estudo se encontra em fase de “Consulta Pública” até ao próximo dia 14 de Abril de 2010.
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A iniciativa contou com a população da região e participaram nesta acção como oradores, António Luís Crespí (Prof. da UTAD), José Emanuel Queirós, especialista em Geomorfologia e fundador do Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega, Pedro Couteiro (COAGRET), João Branco (representante da Quercus, ANCN) e Amílcar Salgado (economista).
Para o professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), António Luís Crespí, o problema mais grave da construção das barragens é não saber o que vai acontecer ao rio Tâmega mas pode adiantar-se que “em termos ambientais poderá ser muito grave”.
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O economista e membro do Núcleo, Amílcar Salgado referiu que a construção das barragens não fazem parte de nenhum documento que contenha elementos relacionados com a estratégia de desenvolvimento da região e portanto não se trata de um projecto desejado pela população. Não se trata de um investimento público, antes pelo contrário de um abandono do Estado, através da venda de um recurso de todos, mas como se tratasse da quinta de província herdada sem mais. Por sua vez, o Estado delega a realização do Estudo de Impacto Ambiental à concessionária para que esta estude se as implicações da construção das albufeiras são ou não significativas em termos ambientais e sócio-económicos por forma a inviabilizar ou a condicionar o projecto. Ora, estamos a ver os resultados do Estudo. É para construir. A Má fé é de tal ordem que nem sequer permite conhecer os impactos à cota a que o concurso foi lançado para as barragens de Gouvães e do Alto Tâmega, partindo logo para uma cota superior. Como pode o povo avaliar e pronunciar-se quando nem sequer lhe é fornecida informação dos impactos à cota 312, partindo logo para a cota 315 !!!!!!. O Estudo climatérico constante do EIA é para rir !!!!!. Além de não quantificar as alterações apontadas para a temperatura do ar e das amplitudes térmicas, não quantifica. Chega a roçar o ridículo, quando usa o n.º de dias de nevoeiro e temperaturas observados e registados nas Pedras Salgadas. Não conhecem nem querem conhecer a região da Ribeira de Oura, porque senão viam que as diferenças são abissais. Basta observar o tipo de culturas permanentes existentes em cada um dos locais. Não se distinguem os efeitos na economia durante a construção e durante a exploração. São lançadas cifras quanto ao n.º de postos de trabalho que vão criar e não contabilizam quantos vão destruir. Os que vão destruir serão permanentes e os que vão criar são temporários. Na região só precisam de 4, isto é, um vigilante para cada albufeira. A Iberdrola vai ter menos postos de trabalho na região do que cada
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uma da maioria das confeitarias da região. É preciso analisar e pensar bem, uma vez que os custos indirectos afectarão todos e não só aqueles que vão ficar com os seus terrenos submersos”. A título de exemplo: o aumento do nevoeiro vai diminuir a intensidade dos raios solares e por isso induzirá a um aumento de despesa com o aquecimento nas casas da região e serão as populações a suportar esse sobre-custo; o aumento da humidade vai obrigar a um aumento do n.º de tratamentos na vinha e a conduzir à introdução de tratamentos no olival da região, cuja despesa será suportada pelos produtores; as potenciais alterações da tipicidade dos nossos produtos; O aumento da frequência de problemas decorrentes de mosquitos e melgas, bem como acréscimos de eventuais problemas psíquicos resultantes da diminuição do n.º de horas de sol; a destruição do habitat de outra espécie muito rara na região, que não só os mexilhões, ou seja, os seres humanos que podem abandonar de vez a mesma. Ora se todos estes custos sombra forem contabilizados no projecto, aquilo que é apresentado em termos individuais como viável pode não o ser do ponto de vista colectivo, uma vez que o resultado de um (Iberdrola) pode ser o prejuízo de milhares. Por isso, afirma que a região não irá ganhar nada, pelo contrário, irá aprofundar o nosso ciclo de pobreza. Muitos pensam em turismo, porque pensam que as barragens do Tâmega são de montanha e não sabem que a probabilidade de eutrofização das águas do nosso rio é elevada e que o estudo aponta quase como certa, já que se trata de albufeiras de vale fortemente agrícola a montante. Se eutrofisar a água não tem outra utilização que não seja gerar energia, nem para rega pode ser utilizada.
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O representante da Quercus, João Branco, alertou a população para o problema da qualidade da água que irá piorar por estar sempre parada, levando à sua contaminação. O mesmo chega a afirmar que “o que querem fazer ao rio é uma tremenda maldade, existindo claros interesses económicos por detrás deste empreendimento hidroeléctrico”.
A associação Ibérica (COAGRET), representada por Pedro Couteiro, disse que a população e os empresários viraram às costas ao rio. Durante estes últimos anos não se tem sabido tirar partido do rio, chegando a dar o exemplo da pesca como potencial produto para a restauração e para a prática da pesca. Por isso, é necessário aproveitar todas essas potencialidades. O mesmo apelou a plateia para a participação das pessoas na manifestação contra as barragens no Tâmega que teve lugar no passado Sábado, 13 de Março, junto da ponte velha de Amarante.
Antes de terminar a sessão, o fundador do Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega, José Queirós, criticou o facto da empresa responsável pela elaboração do EIA, a Procesl, ter referido, em 2001, no âmbito da elaboração do Plano de Bacia Hidrográfica do Rio Douro que o rio Tâmega possuía um ecossistema que devia ser recuperado e preservado e agora, em 2010, a mesma empresa vem dizer que é permitido a construir de 5 barragens. “Como é que isto é possível, onde está a seriedade desta empresa?” questiona José Queirós.
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E como especialista em Geomorfologia, José Queirós, chama a atenção para o facto do EIA não referir que o rio Tâmega corre numa falha sismotectónica de grande fragilidade e sabe-se por experiência que o peso da água num subsolo fragilizado é indutor de sismos, bastando para isso nos recordarmos do que aconteceu na China, nos EUA e na Índia.
Para terminar foram divulgadas fotografias da péssima qualidade da água junto à barragem do Fridão (Amarante), e como disse José Queirós “será que poderemos chamar a esta coisa verde água?”
P´lo Núcleo do Alto Tâmega do Movimento Cidadania para o Desenvolvimento no Tâmega
Júlio Silva