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CHAVES ATRAVÉS DA IMAGEM
ONDE PARA A SENSIBILIDADE CULTURAL FLAVIENSE?
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Ao abordarmos, nesta rubrica, aspetos que, a nosso ver, denigrem a imagem de cidade de Chaves e das suas gentes, não o fazemos com fins de militantismo partidário - apesar, da maioria de quem nos lê, saber que de lado do espetro ideológico-partidário nos colocamos -; nem, tão pouco, por uma mentalidade, porventura para alguns, do bota abaixo; ou sequer porque não vamos na cara do senhor que, na atualidade, está à frente dos destinos da nossa autarquia, apesar de - é bem verdade -, não apreciarmos posturas autárquicas autocráticas e que olham as instituições que «governam» como se fossem uma sua coutada e dos seus seguidores partidários.
Quem, assim pensar, em boa verdade, não enquadra duas questões essenciais que estão presentes no exercício da nossa escrita.
A primeira, é a de que não pretendemos qualquer protagonismo político-partidário, quer no partido, no qual enfileiramos, quer na sociedade flaviense, à qual pertencemos.
Quem nos conhece sabe que, há muito tempo, estamos retirados das lides político-partidárias ativas; que tentámos, quando no poder, desempenhar, de acordo com as nossas modestas competências, e o espaço de manobra possível, que soubemos conquistar e nos foi possível utilizar, para, pessoalmente, e em equipa(s), fazermos o nosso melhor. E, se melhor não fizemos, pode, naturalmente, atribuir-se às nossas próprias limitações. E à circunstância de, já na altura, aquilatarmos, e insipidamente constatarmos, que o tempo dos políticos heróis fazia parte do passado; que as decisões políticas, tanto quanto possível, devem ter por detrás equipas multidisciplinares, escolhidas e escrutinadas em função da sua competência - que não os «amigos» partidários - capazes de emitirem informações, pareceres ou opiniões, suscetíveis de melhor as informar, enformar e enquadrar, tendo como pano de fundo uma sociedade cada vez mais aberta, plural e heterogénea, como aquela em que vivemos.
Pode acreditar o leitor(a) que sempre tentámos trabalhar na autarquia cuidando que, o que fazíamos, era o melhor, imbuído do espírito de que estávamos, laborando no município flaviense em cumprimento de um dever cívico, em autêntica «comissão de serviço».
A segunda questão, decorre diretamente da primeira, ou seja, devemos estar abertos às críticas que nos fazem, quer estejamos no exercício do poder, quer na oposição.
Não somos senhores, detentores da verdade. E a perfeição não é algo que se adquira por pura espontaneidade. Vai-se construindo. E vai-se construindo, em sociedades democráticas, abertas e plurais, ouvindo os diferentes lados da barricada, ou, se quisermos, os diferentes espetros da sociedade. E, de entre eles, o ponto de vista livre e «desinteressando» do cidadão que opina sobre a sua cidade e que, nela, pretende construir uma polis mais justa, equilibrada e com melhor qualidade de vida para os seus concidadãos e para aqueles que nela pretendem construir as suas vidas.
Todo este arrazoado vem a propósito da nossa sensibilidade quanto ao que acontece, em termos de cultura - melhor dizendo, sensibilidade cultural -, na nossa cidade.
Não vamos falar da programação cultural que temos. Por razões pessoais de força maior, infelizmente, somos pouco assíduos aos eventos, que são levados a cabo, para podermos ter uma opinião justa, adequada e equilibrada quanto à mesma.
O que nos trouxe hoje aqui à escrita, como dissemos, é mais uma questão de sensibilidade quanto às coisas da cultura em geral da nossa terra.
Pugnámos no passado que um dos aspetos da dinamização social, cultural e económica da cidade tinha a ver com questões do conhecimento e da cultura. Fomos um dos primeiros a falar da criação, em Chaves, de uma Fundação ligada ao pintor/arquiteto Nadir Afonso, conectando-a com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD)-Pólo de Chaves, ministrando-se cursos que, quer a montante, quer a jusante dessem coerência à existência da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Chaves, ligada à região e ao desenvolvimento da parte norte do distrito de Vila Real. Com a existência de, pelo menos, um Departamento (ou Escola) em Chaves, nomeadamente com valências que fossem desde o Turismo, às Artes, à Arquitetura (Paisagística) e à Animação Sociocultural, entre outras. Para já não falar de uma mais íntima e profunda relação que a UTAD deveria ter com a experimentação e o desenvolvimento agrícola em Chaves, uma vez que somos possuidores de uma Veiga, uma das maiores do norte do país - na qual se fez avultados investimentos, ao longo dos anos, em infraestruturas de rega -, pese embora os atropelos que, ao longo dos anos, certos interesses, dos quais a especulação imobiliária e a construção, foram nela os mais visíveis. Durante anos, acalentámos esperanças, mas tudo não passaram de promessas. Até que o tempo tudo levou!...
Sabemos da grande vocação de Chaves como grande centro de comércio para o seu mundo rural e, porventura também, para os territórios intra e transfronteiriços, que, com ela, confinam.
Reconhecemos que a Feira dos Santos - embora a necessitar de alguma inovação e de passar a ter uma estrutura organizativa profissional, com um marketing devidamente adequado -, é uma tradição que devemos manter, preservar e, de acordo com os tempos que correm, inovar. É urgente repensar o nosso mundo rural, quer em termos do território que queremos cuidar, cultivar, quer das duas gentes, infelizmente pouca e muito envelhecida. Requerendo uma ampla discussão nacional sobre que mundo rural queremos para o país e que modelo de desenvolvimento a ele ligado queremos.
Constatámos que, particularmente desde o 25 de Abril de 74, os sucessivos executivos municipais não foram capazes de gerar uma bolsa de terrenos, no perímetro urbano e áreas adjacentes da cidade. Tal desleixo ou incúria fez a autarquia flaviense ser presa da especulação imobiliária, pagando muito caro expropriações, quando necessitava de terrenos para lançar e construir equipamentos públicos ou coletivos para uso da comunidade, e acabando sempre por situações de recurso ou localizações acanhadas e pouco desafogadas, em conflito com outros usos.
Não se criou, ao longo destes anos, entre os comerciantes da nossa terra, um verdadeiro espírito de classe que, para além da proteção legítima dos seus interesses individuais, vissem a cidade como um todo, fazendo-se partícipes da sua construção, entendida como polis. E não nos venham dizer que a «culpa» é das grandes superfícies comerciais! As «culpas» morrem sempre solteiras...
Não houve habilidade e/ou pedagogia suficiente para se encontrar terrenos, com função polivalente, junto do centro urbano, capazes de, neles, com unidade de espaço, dignidade e a contento de todos os comerciantes, quer os locais, quer os que nesta época vêm de fora, se poder realizar a Feira dos Santos, dando a esta um verdadeiro, autêntico e inovador carácter regional.
Somos, pois, conhecedores e cientes de toda esta história e das fraquezas que, quanto a esta matéria, pendem sobre nós.
Não esperávamos, contudo, com o espetáculo a que, na passada terça-feira, assistimos.
Quando nos preparávamos para fazer uma visita, mais em profundidade, ao, agora designado, Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso,
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ficámos deveras escandalizados com o que vimos.
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Uma obra - reconhecida internacionalmente como uma obra-prima de arquitetura - da autoria do arquiteto português Siza Vieira,
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que a todos nós munícipes nos custou os olhos da cara, e onde as obras do nosso pintor/arquiteto se encontram em exposição,
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completamente devassada pela presença de toda a panóplia e arsenal de equipamentos de diversão que se lhe apostam à sua frente!
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Já para não falarmos da proximidade destas «diversões» a uma Escola Secundária da nossa cidade!
Nada temos contra aquelas diversões e a alegria ou prazer que proporcionam às pessoas e crianças que deles querem fazer uso para seu lazer nesta altura ou quadra do ano. Estamos verdadeiramente chocados é com a sensibilidade daqueles que decidiram que aquele seria o lugar adequado para as colocar.
Não se entende que uma cidade que se quer posicionar na alta roda da cultura e da programação cultural local, regional e nacional tenha uma sensibilidade tão... rasca!
Sem elitismo, mas usando o bom senso, qualquer cidadão comum, possuidor de um mínimo de estética e gosto, ao ver este espetáculo, deve pensar para consigo próprio que, em Chaves, não bate a bota com a perdigota!
Esta espúria mistura só nos desprestigia. E é pena.
Estamos em crer que os flavienses gostam que a sua cidade espelhe uma imagem bem diferente do que a que, nesta Feira dos Santos, se nos apresenta...
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António de Souza e Silva
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