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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

15
Ago21

O Barroso aqui tão perto - Freguesia de Covas do Barroso

Aldeias e Freguesias do Barroso - Concelho de Boticas


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Covas do Barroso

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FREGUESIA DE COVAS DO BARROSO

Covas do Barroso - Muro - Romaínho

 

Depois de termos abordado individualmente cada uma das aldeias da freguesia de Covas do Barroso, fazemos hoje aqui o resumo da freguesia, com a sua caracterização e mais alguns dados sobre a freguesia.

 

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Muro

 

Localização geográfica

A freguesia de Covas do Barroso situa-se na parte Sul do concelho de Boticas. Confronta com várias freguesias: a Norte S. Salvador de Viveiro, a Este Canedo do concelho de Ribeira de Pena, a Sul Gondiães do concelho de Cabeceiras de Basto e a Oeste Dornelas. A freguesia localiza-se num vale, protegido a Norte pela Serra da Sombra e a Sul pela Serra do Pinheiro. É devido à sua situação geográfica, rodeada por serras, que advém o seu topónimo de Covas, pois quando avistada do Alto do Castro parece uma cova. Dista da sede do concelho aproximadamente 20 km. O acesso viário faz-se seguindo pela ER 311, virando na indicação Campos / Covas do Barroso, percorre-se a EM 519-C até à aldeia de Covas do Barroso, ou, em alternativa, percorre-se a ER 311 e virando na indicação Covas do Barroso segue-se pela EM 519-1C.

 

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Romaínho

Área total da freguesia: 29,6 km2

 

Localidades da freguesia:

 

- Covas do Barroso, sede de freguesia

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Muro

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Romaínho

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População Residente

262 habitantes (CENSOS de 2011)

 

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Gráfico da população residente. Até 1967 a freguesia de Covas, além das atuais aldeias que a compõem, pertenciam ainda à freguesia as aldeias de Viveiro, Agrelos, Bostofrio e Campos que deram origem à freguesia de São Salvador de Viveiro.

 

Orago

Santa Maria

 

Festas e Romarias

- S. José,* 19 de Março, Romaínho,

- Nossa Senhora da Saúde, 1º domingo de Junho, Covas do Barroso

- Santo António,* 13 de Junho, Covas do Barroso

- Carolo de Santo António, 14 de Junho, Covas do Barroso

 

(*) – Só celebração religiosa

 

Património Arqueológico

- Alto do Castro

- Castro do Poio

- Povoado de S. Martinho

- Povoado do Cemitério de Covas do Barroso

 

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Covas do Barroso

Património Edificado

- Capela de Nossa Sra da Saúde (Covas do Barroso)

- Cruzeiro de Covas do Barroso – Património Classificado (IIP)

- Fontanário (Covas do Barroso)

- Forno Comunitário de Covas do Barroso

- Igreja Paroquial de Covas do Barroso – Património Classificado (IIP)

- Tribunal (Covas do Barroso)

- Capela de S. José (Romaínho)

 

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Covas do Barroso

Outros locais de interesse turístico.

- Forno do Povo de Romaínho (construção recente)

- Dois Moinhos de Rodízio (Covas do Barroso)

- Casa Museu Quinta do Cruzeiro (Ecomuseo de Barroso)

 

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Covas do Barroso

 

A FREGUESIA DE COVAS DO BARROSO: GEOGRAFIA E PERSPECTIVA HISTÓRICA[i]

 

A freguesia de Covas do Barroso situa-se na parte Sul do concelho de Boticas. Confronta com várias freguesias: a Norte S. Salvador de Viveiro, a Este Canedo, do concelho de Ribeira de Pena, a Sul Gondiães, do concelho de Cabeceiras de Basto, e a Oeste Dornelas. Dista da sede do concelho aproximadamente 20 km. O acesso viário faz-se seguindo pela ER 311, virando na indicação Campos/Covas do Barroso, percorre-se a EM 519-C até à aldeia de Covas do Barroso, ou, em alternativa, percorre-se a ER 311 e virando na indicação Covas do Barroso segue-se pela EM 519-1C.

 

É constituída por três aldeias: Covas do Barroso, sede de freguesia, Romaínho e Muro, localizadas num vale, protegidas a Norte pela Serra da Sombra e a Sul pela Serra do Pinheiro. É devido à sua situação geográfica, rodeada por serras, que advém o seu topónimo, pois quando avistada do Alto do Castro parece uma cova. Em termos territoriais é a quarta maior freguesia do concelho, ocupando uma área total de 29,6 km².

 

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Muro

População, economia e sociedade

O desenvolvimento da população desta freguesia de Covas do Barroso tem acompanhado o movimento demográfico que caracteriza toda a região de montanha no Norte de Portugal tipificada por uma diminuição progressiva da população, com uma pirâmide etária invertida, onde os grupos etários mais baixos são diminutos e a população envelhecida aumenta.

 

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Romaínho

 

Actualmente, esta freguesia conta com aproximadamente 348 residentes. Ao longo dos últimos 40 anos, e à semelhança do que se verifica na generalidade das freguesias do concelho, perdeu muita da sua população residente, cerca de 79,2%. Este fenómeno explica-se em parte pela intensificação dos fluxos migratórios que se registaram a partir da década de 60, nomeadamente para França, Brasil, Estados Unidos da América, Canadá, Suíça, Alemanha. No entanto há que levar em consideração que os valores observados em 1960 (1672 residentes) integram as localidades de Agrelos, Bostofrio, Campos e Viveiro que à altura faziam parte da freguesia e que a partir de 1967 passaram a constituir uma freguesia independente (S. Salvador de Viveiro). Tendo em conta que na década de 60, nas aldeias que actualmente compõem freguesia de S. Salvador de Viveiro residiam 830 pessoas, retirando este valor ao da freguesia de Covas do Barroso, que ficaria então com 842 residentes, verifica-se que a percentagem de diminuição da população é semelhante à da média, 58,7%.

 

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Covas do Barroso

 

A este fenómeno alia-se o gradual envelhecimento da população, sendo que 81% dos 348 residentes têm idade superior a 25 anos, e destes, 40% têm 65 anos ou mais.

 

Os níveis de alfabetização da população residente são baixos, acompanhando o seu nível de envelhecimento, destacando-se o número elevado de pessoas sem nenhuma qualificação académica. Esta situação excepcional é suportada pelo grande número de idosos, alguns deles regressados da emigração, em situação de aposentados.

 

Relativamente à área de actividade económica dominante, a maior parte da população local dedica-se à agricultura e à pecuária, seguindo os caminhos ancestrais da freguesia, visando principalmente a subsistência.

 

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Muro

 

Algumas famílias continuam a actividade tradicional de criação de gado. Dedicam-se também à produção de batata, milho e algum centeio, os produtos que melhor se desenvolvem e produzem nesta região de Barroso, com elevados níveis de qualidade e sabor. Também a produção artesanal de mel e fumeiro está hoje em vias de desenvolvimento, funcionando como complementaridade no rendimento das famílias. Dadas as médias altitudes a que a freguesia se encontra, tem o clima mais quente pois encontra-se mais próximo da Ribeira, que dos rigores extremos de Barroso, aqui também se produz vinho de bordadura/morangueiro. Parte da população trabalha na construção civil local ou em freguesias vizinhas.

 

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Covas do Barroso

 

No que se refere à sociedade, esta comunidade é uma sociedade homogénea, caracterizada pela existência de famílias de lavradores e pequenos proprietários de terras onde se desenvolve a actividade agrícola e pecuária.

 

Na freguesia existem dois cafés e uma mercearia. Em termos associativos existe a Associação Cultural e Recreativa de Covas do Barroso.

 

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Covas do Barroso

 

Marcas do seu passado

Não é fácil conhecer a data da origem da maioria das paróquias e freguesias, sendo a sua origem desconhecida no tempo, por não haver provas documentais. Umas mais antigas, outras de origem mais recente, sabe-se que a maioria destas aldeias são formadas a partir do agrupamento de famílias unidas por laços de parentesco ou afinidades económicas e profissionais, que se organizaram em comunidade. Muitas das aldeias de Barroso têm a sua origem histórica no movimento de reconquista e povoamento do território iniciado com a formação do Reino de Portugal em 1143 e posterior fixação de uma ou mais famílias de povoadores. Teve particular desenvolvimento a partir dos finais do século XIII. Estes povoadores eram atraídos por contratos de aforamento, cujos termos do contrato eram favoráveis à sua fixação, traduzidos em pagamentos de foros de valor acessível. Estes contratos são conhecidos como o processo de enfiteuse que era promovido indistintamente pela Coroa e/ou pelas Casas Nobres e Senhorios Eclesiásticos.

 

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Romaínho

 

São conhecidos alguns contratos de aforamento para as terras de Barroso, o que nos permite pensar que a grande maioria das suas aldeias e povoados tiveram origem neste modo de povoamento[ii].

 

Alguns contratos de aforamento são disso testemunho, como é o caso do aforamento da “Póvoa” de Lavradas, feito nos finais do século XIII (1288 da era Cristã), no tempo do Rei D. Dinis e que, tudo o indica, está na origem da actual aldeia de Lavradas.

 

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Covas do Barroso

 

De facto, por este documento fundador de Lavradas, verifica-se que foi terra ocupada, a partir de uma carta de aforamento passada pelo Rei de Portugal, a um conjunto de povoadores que, com suas mulheres, receberam autorização de Sua Majestade para formarem 11 casais (propriedades agrícolas), que deveriam povoar, lavrar e frutificar, a troco de um foro (renda), traduzido em dois maravedis e dois alqueires de pão (um de milho outro de centeio) por casal, que deveriam pagar pelo S. Martinho. Covas de Barroso tem, porém, vestígios que informam a presença de habitantes de época pré-romana. Situada na bacia do rio Beça, integra um conjunto de povoados que revelam vestígios da presença dos povos antigos, designadamente dos romanos e dos suevos. Pensa-se que os habitats resultavam da presença de minérios e da consequente exploração.

 

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Muro

 

Existem vestígios de dois povoados medievais. Segundo a tradição oral, o povoado de S. Martinho ficou deserto pelo abandono resultante da peste epidémica. É possível encontrar vestígios de estruturas habitacionais e até trilhos de rodados de carros de animais. O povoado de Stª Bárbara, também deserto, ficaria junto da capela de Santa Bárbara, onde os vestígios de ocupação humana são menos visíveis. No “Numeramento” mandado fazer por D. João III, Covas aparece referenciada como tendo 34 moradores, não referindo porém Romainho que, por estar perto de Covas teria sido integrado na própria sede de paróquia. Como se pode ver no documento de 1758, que vem no ponto seguinte, Covas era no século XVIII uma paróquia com mais quatro aldeias e com um termo mais alargado, fazendo parte dela Campos, Viveiro, Bostofrio e Agrelos que, por actualmente pertencerem a uma nova freguesia (S. Salvador de Viveiro), serão tratadas em lugar próprio.

 

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Romaínho

 

O Castro do Poio e outros vestígios arqueológicos em Covas do Barroso

O povoamento do território que corresponde à actual freguesia remonta a épocas muito distantes, como o comprovam os diversos vestígios arqueológicos encontrados nesta zona.

 

O Castro do Poio é um outeiro que apresenta 3 linhas de muralhas e marca a ancestralidade desta freguesia. Nesta freguesia encontram-se também vestígios de povoados medievais, no lugar de S. Martinho, que terá sido, diz o povo, uma aldeia medieval que ficou deserta pela acção da peste. Também junto da capela de Stª Bárbara se encontram vestígios que parecem ser de antigas construções, que fariam parte de uma povoação. Outro testemunho da riqueza cultural de Covas do Barroso é a sua imponente Igreja Paroquial, com cachorrada exterior, duas capelas e dois altares laterais, onde podemos observar frescos e a estátua jazente de D. Afonso Anes Barroso, escudeiro de D. Afonso, 1º Duque de Bragança. Esta igreja, cujo orago é Santa Maria, é imóvel de interesse público, conforme o Decreto Nº 47508 de 06/10/1967.

 

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Covas do Barroso

 

Um documento de 1758

No ano de 1758 o Rei D. José através do seu ministro Marquês de Pombal desenvolveu um inquérito a todas as paróquias do Reino de Portugal continental que hoje se encontram no IAN/TT[iii]

 

Este inquérito, que foi respondido pelos párocos das freguesias, era composto de três partes, a primeira respeitante à paróquia onde se tratava de saber da sua história, produções agrícolas, população, instituições locais, igreja e capelas com suas devoções e romagens, a segunda tratava da serra e das suas características, se tinha lagoas e nascentes, monumentos, capelas, caça e árvores e a terceira perguntava sobre os rios e ribeiros que nela existissem, assim como das levadas, represas, moinhos, pisões e culturas nas suas margens.

 

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Covas do Barroso

 

É a resposta dada pelo pároco da freguesia de Covas nesse ano, o Abade Bento de Moura que adiante apresentamos. Note-se que esta descrição engloba as aldeias que hoje já não constam da freguesia.

 

Para melhor leitura foi actualizado o Português naquelas palavras que consideramos necessário, introduzindo-se-lhe pontuação e parágrafos.

 

Descrição da terra, serras e rios deste lugar e freguesia de Santa Maria de Covas de Barroso.

 

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Muro

 

Bento de Moura, Comissário do Santo Ofício, abade da igreja paroquial de Santa Maria de Covas de Barroso, comarca de Chaves, Arcebispado de Braga Primaz das Hespanhas. Certifico e digo em resposta aos interrogatórios que recebi por ordem do Ilustríssimo Abade Senhor Doutor Vigário Geral da dita comarca.

 

Ao primeiro, este lugar de Covas é termo do concelho da vila de Montalegre, da comarca e ouvidoria de Bragança pólo secular e província de Trás-os-Montes. Pelo eclesiástico é da comarca de Chaves, Arcebispado de Braga Primaz e cabeça da freguesia de Santa Maria de Covas de Barroso.

 

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Covas do Barroso

 

Ao segundo, é este lugar e freguesia [assim] como todo o termo e concelho da jurisdição da Sereníssima Casa de Bragança, que nele põe todas as justiças e tem nesta freguesia muitos foros e casas.

 

Ao , tem este lugar de Covas noventa e seis vizinhos com o arrabalde de Romaínho, que fica afastado meio quarto de légua pouco mais ou menos, e tem quatrocentas e trinta pessoas com mais de sete anos.

 

Ao , está este lugar situado num vale pequeno, cercado de montes ásperos com muitas pedras e dentro dele não se avista povoação alguma.

 

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Muro

 

Ao , não tem este lugar termo seu, pertence ao da vila de Montalegre.

 

Ao , igreja paroquial está fora do lugar mas não muito longe dos vizinhos. Tem a freguesia, além do dito lugar de Covas os seguintes: o lugar de Campos que dista da paróquia meia légua, tem vinte e oito casas e cento e trinta pessoas; o lugar de Viveiro que tem cinquenta fogos com duzentas e trinta e seis pessoas e dista da paróquia três quartos de légua; o lugar de Bustofrio que dista da paróquia meia légua, tem vinte e cinco fogos e cento e dezoito pessoas; O lugar de Agrelos com catorze fogos e setenta e sete pessoas. Toda a freguesia tem no total duzentos e treze fogos e novecentas e noventa e uma pessoa, todas com mais de sete anos.

 

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Romaínho

 

Ao , o orago é Santa Maria de Covas de Barroso, [a igreja] tem cinco altares: o altar maior onde está colocado o sacrário do Santíssimo Sacramento, a Senhora padroeira, São Luís, São Caetano, Santo Antão, São João Evangelista, Santa Ana e Santa Maria Madalena. No corpo da igreja, está da parte do evangelho o altar da Arcossólio de D. Afonso Anes Barroso Senhora do Rosário e o altar do Menino Deus e da outra parte o altar de S. Sebastião e o altar das Almas. A igreja não tem naves, a capela maior é de abóbada de pedra que representa ser muito antiga; no corpo da igreja está uma sepultura levantada e metida com um arco na parede de costan da parte do sul que é um caixão de pedra posto em cima de dois leões de pedra. E por cima está tapado com uma pedra que tem em relevo a figura do homem que nela se sepultou. Defronte tem um epitáfio gravado numa pedra, com letras góticas em relevo e levantados que dizem: Aqui jaz Afonso Anes Barroso o qual foi muito honrado escudeiro do Duque de Bragança, filho do rei D. João, morreu no ano do Senhor de IMCCCC : IX], ano que segundo o que me parece são mil L : IX e quatrocentos e nove anos; presume-se que este homem viera para esta terra com muito dinheiro a fazer prazos que hoje são da Sereníssima Casa de Bragança e fizera [esta] capela para sua sepultura e depois a dera para a paróquia. Sabe Deus se assim foi!

 

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Covas do Barroso

 

Ao , o título do pároco desta freguesia é abade da apresentação da Sereníssima Casa. E como dos frutos desta abadia se tirou a terça parte para a capela dos Reais Passos de Vila Viçosa, as quartas nonas para a Santa Basílica Patriarcal e segundo as partilhas que lhe fazem, ficaram para o Abade cento e oitenta a duzentos mil reis em frutos, pouco mais ou menos.

 

Ao nono, não tem beneficiados, somente o Abade apresenta o vigário da freguesia de Santa Maria Madalena das Alturas, sua anexa, que dista daqui uma légua grande.

 

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Covas do Barroso

 

Ao décimo, não tem esta freguesia convento algum.

 

Ao 11, não tem hospital nem casa de misericórdia.

 

(?)[iv]

 

Ao 13º, tem esta freguesia as seguintes ermidas ou capelas: neste lugar de Covas, a de Santo António, que está dentro do lugar onde está situada a irmandade das Almas, por cuja despesa corre a fábrica dela; no arrabalde de Romaínho está a ermida de Nossa Senhora do Desterro, pouco afastada das casas do lugar e as mais das vezes dela se administra o sagrado viático; no lugar de Campos há a emida de Santo Amaro, um tiro de bala fora do lugar, pertence aos moradores que a fabricam; no lugar de Agrelos a ermida de São Mamede, que fica quase no meio das casas e também pertence aos vizinhos; no de Bustofrio, a de São Marçal, junto às casas dos moradores a quem pertence por a fabricarem; no de Viveiro a de Santa Bárbara, fora das casas mas junto a elas, que também pertence aos moradores pela mesma razão. Há mais outra ermida dentro do limite do lugar de Viveiro apartada dela meio quarto de légua grande, num monte no meio de um casal da Sereníssima Casa da invocação do Senhor Salvador do Mundo. Parece ter sido algum tempo freguesia porque na parede dela, no adro e à volta há, ainda hoje, algumas sepulturas feitas em pedra lajes à medida e com o feitio de corpos. Esteve durante algum tempo quase arruinada mas foi reconstruída com as esmolas dos fiéis.  

 

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Muro

 

Ao 14, a nenhuma das referidas ermidas acorrem romagens de fora da freguesia excepto algumas pessoas que vêm às festas que nelas se fazem no dia da invocação dos seus santos padroeiros, em cada ano. Somente à do Senhor Salvador do Mundo vem muita gente de várias partes, com porcos, bois e vacas quando lhe adoecem com algum contágio ou são mordidos por alguns cães danados. Nela fazem em cada ano duas festas que constam de missa cantada, sermão e às vezes gaita de foles: uma a 6 de Agosto por conta dos moradores de Viveiro, é a principal; e outra na primeira terça feira depois do domingo da Ressurreição de Cristo. A ambas acorre muita gente em romaria e trazem as suas esmolas de centeio, linho e orelhas de porco de cujo produto se faz esta festa e se fabrica a capela. Alguns mandam cantar as suas missas e nestes dias vêm bastantes tendeiros com as suas tendas, paneleiros de Chaves com loiça, outros com cebolas e outros com pão, vinho e frutos. Também no dia da Ascensão se junta bastante gente com clamores, que em alguns anos também vêm nos outros dois dias acima ditos.

 

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Romaínho

 

Ao 15, os frutos que se colhem neste lugar de Covas são: milho grosso, algum centeio, algum milho pequeno e vinho verde de umas árvores a que chamam de enforcado. Em Agrelos e Bustofrio centeio, algum milho grosso e miúdo e já colhem também algum vinho verde de enforcado. Em Campos e Viveiro centeio e pouco milho.

 

Ao 16, nos lugares desta freguesia somente há juízes pedaneos e quadrilheiros, no restante estão sujeitos às justiças da vila de Montalegre que [tem] juiz de fora posto pela junta da Serenissima Casa e camara feita pela mesma.

 

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Covas do Barroso

 

Ao 17º, não é couto, nem cabeça de conselho, nem honra. Não consta que destes lugares saíssem homens notáveis em Virtudes, Letras ou Armas.

 

(?)[v]

 

Ao 19º, não tem feira franca nem cativa. Não tem correio, servem-se do de Chaves, Braga e alguns do de Basto.

 

(?)[vi]

 

Ao 21, dista esta freguesia da cidade de Braga, capital do Arcebispado, dez léguas e da cidade de Lisboa, da capital do Reino, setenta e uma pouco mais ou menos.

 

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Covas do Barroso

 

Ao 22º, esta freguesia, assim como toda a comarca da Ouvidoria de Bragança, tem os privilégios de vassalos da Sereníssima Casa e não podem ser demandados fora do seu juízo sem provisão concedida por Sua Majestade como administrador do Ducado. Tem mais alguns moradores que possuem casais, os privilégios de reguengueiros e além destes, tem outros moradores os privilégios de Tabaco, Bulas, Cativos e Santo António. Para além destes, há os que possuem casais fechados da mesma Sereníssima Casa têm tais privilégios que dentro deles não se podem prender criminosos, segundo o que tenho ouvido dizer. Não há outro privilégio nem antiguidade digna de memória.

 

Ao 23º, não há nesta terra, nem perto dela, nenhuma fonte ou alguma lagoa célebre. Não há porto marítimo, nem terra murada, nem há perto dela castelo ou torre alguma antiga. Não sofreu ruína alguma no terramoto de 1755, bendito seja Deus, nem me consta de outra coisa alguma digna de memória.

 

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Romaínho

 

A respeito das serras

Há uma pequena serra, entre este lugar de Covas e a freguesia de Salvador de Canedo, chamada Pinheiro, pouco conhecida ao longe. O termo destas duas freguesias divide-se pelo cimo dela. Principia no sítio de Mestras e vai continuando por entre o lugar de Covas, o seu limite e a freguesia de Canedo e vai findar entre o lugar de Carvalho, freguesia de Nossa Senhora de Vilar de Porro, e o lugar de Viveiro desta freguesia.

 

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Covas do Barroso

 

Terá de comprido légua e meia pouco mais ou menos e de largura onde é mais alta que chamam o Coto da [Gallas] do rio Beça até ao rio de Covas três quartos de légua. Daí vai baixando até ao marco da Lijó donde torna a subir para outro alto a que chamam Lesenhos que fica entre o lugar de Campos, desta freguesia, e o lugar de Penalonga, da freguesia de Canedo. E o dito Lesenho foi castelo dos mouros tinha duas ordens de muros.

 

Não nasce na dita serra rio algum. Não há nela vila ou lugar algum da parte desta freguesia. Não tem fontes de raras propriedades. Não há nela minas de metais que se saiba, nem canteiras de pedras finas, nem de outras matérias, somente pedras duras e grosseiras de gran que só servem para alvenarias. Produz matos a que chamam urzes e alguns arbustos são pastados pelos gados deste lugar de Covas e pelos da freguesia de Canedo. E uma parte dela se cultiva para centeio e algum milho. Tem alguns soutos de castanheiros e é muito abundante de colmeias.

 

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Muro

 

Não tem igrejas nem mosteiros. Somente por baixo do sítio de Lesenhos está uma ermida de Santa Ana milagrosa onde vão pedir chuva ou sol. Pertence ao lugar de Pena Longa da freguesia de Canedo.

 

Tem um clima bastante frio em todo o tempo excepto no Estio. Aparecem nela bastantes lobos, algumas vezes fazem-lhe montarias ainda que não tenha fojo; alguns porcos-bravos, poucos gamos, algumas perdizes e coelhos. Não tem mais coisa alguma digna de memória.

 

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Romaínho

 

Enquanto aos rios

Da freguesia do Couto, corre para o limite deste lugar um rio chamado do Couto por passar pela freguesia de São Pedro, couto da Mitra de Braga. Por baixo de Romião desagua nele o regato de Infestas que tem o seu princípio no lugar de Vilarinho Seco, freguesia de Santa Madalena das Alturas, e daí vai correndo algum tanto arrebatado, por montes e campos do dito lugar e do de Agrelos pela parte do poente. E por ele abaixo há algumas árvores silvestres e alguns castanheiros. No Verão vai quase seco e assim se junta ao do Couto e quase no mesmo sítio se junta outro que tem o seu princípio entre o lugar das Alturas e Atilhó da mesma freguesia. Vem-se juntando por campos e montes dos ditos lugares, entre Vilarinho Seco e Viveiro, por seus campos e montes até ao sítio de Mena, onde tem uma ponte de pau com dois olhais; até aqui tem árvores silvestres, moinhos, um pisão de burel e daí para baixo corre arrebatado por entre montes e campos dos lugares de Agrelos e Bustofrio, desta freguesia, onde tem uma ponte de pau estreita e daí corre da mesma forma até desaguar do dito rio do Couto por baixo do sítio de Romião. Em todo o seu curso tem árvores silvestres, bastantes castanheiros e moinhos dos dois lugares.

 

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Covas do Barroso

Cria alguns peixes como trutas e algumas bogas que pescam livremente todo o ano, excepto nos meses de criação os que têm redes e habilidades. E assim juntos com a do Couto vem correndo arrebatadamente até ao sítio das misturas, que dista deste lugar de Covas meio quarto de légua, onde se lhe junta o rio de Covas que tem a sua origem no lugar de Lamachã, freguesia de Santa Maria Madalena de Negrões. Vem correndo brandamente por montes e campos do lugar de Lavradas e Atilhó até ao moinho do Picanço e daí vem correndo por entre os campos de Viveiro até chegar à estrada que passa para Vilar de Porro onde tem uma ponte de pau. E daí, por entre campos do dito lugar de Viveiro e Campos, corre ligeiramente até ao sítio de Codessais, entre Bustofrio e Campos, onde tem outra ponte de pau. Até aqui tem árvores silvestres e moinhos dos ditos lugares e ara baixo corre arrebatado por entre os campos dos ditos lugares e dista de Covas até ao sítio da ponte, que é de pedra lavrada de um arco que estes moradores mandaram fazer, distante do lugar um tiro de mosquete, para sua serventia, e por ele abaixo há árvores silvestres, castanheiros, outras árvores de fruto e moinhos e dele se tira uma levada muito boa de água para regar as terras de milho, hortas e linhos e mais necessário no lugar. E daí corre muito arrebatado até ao dito sítio das misturas donde correm todos juntos, em parte brando e em parte arrebatadamente, por entre montes e a serra do Pinheiro no espaço de uma légua até desaguar no Beça no sítio do Mestras. E assim, o rio de Covas, antes de se juntar com o que vem do Couto e depois, cria bastantes trutas, bogas, barbos, enguias, escalos e muitas lontras. [entrelinhado: a pescaria é livre como encima].

 

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Muro

Correm todos de Norte para Sul. O chamado [rio] de Covas terá de comprimento, desde o seu nascente até às misturas, cinco quartos de légua; o [rio] de Mena terá uma légua até abaixo de Romião; e até este mesmo sítio terá o de Infestas três quartos de légua e deste sítio às misturas meia légua. Todos levam pouca água, mas não secam de todo no Verão e por esta razão nenhum deles é navegável. Há mais alguns regatos, da parte do Nascente deste lugar de Covas, de pouca importância como é o regato da Costela que principia em Campos e vai desaguar no rio juntamente com os demais no sítio das Lombelas e cria os seus escalos.

 

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Covas do Barroso

Não há mais coisa alguma memorável que se possa dizer. E todo o referido vai pouco mais ou menos conforme a verdade e por assim ser, e me ser mandado, o afirmo com juramento, vai assinada por mim, pelo reverendo reitor de Canedo e pelo Reverendo Vigário das Alturas. Santa Maria de Covas, 8 de Março de 1758.

O Abade Bento de Moura

O Pároco do Salvador de Canedo, Bento Pereira

O Vigário de Santa Maria Madalena das Alturas, João Dias de Moura.

 

Referências documentais: IAN/TT, Memórias Paroquiais, vol. 12, memória 438, fl. 3001. ADB/UM. Igrejário: Tombo desta igreja, 1548, liv. 4, fl. 18v; cx. 279, n.º 11; Obrigação à fábrica do Santíssimo Sacramento, a favor dos fregueses desta igreja que querem colocar sacrário com Santíssimo Sacramento na mesma e a ele se obrigam com bens para que esteja sempre decente, 1740, liv. 101, fl. 15v. ADVR, Registo de Baptismos: 1784- 1871; Registo de Casamentos: 1771-1866; Registo de Óbitos: 1816- 1879. Total de Livros: 8.

 

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Muro

Fica assim concluída a abordagem a freguesia de Covas de Barroso e respetivas aldeias (Covas do Barroso, Muro e Romaínho). Digamos que foi a abordagem “oficial”, pois não “oficialmente” de certeza que Covas do Barroso vai vir por aqui outra vez, ou vezes, pois já demos conta que nas nossas visitas passámos ao lado de alguns pormenores de interesse, que na altura desconhecíamos e que nas respetivas aldeias ninguém nos alertou para eles, e por um lado, ainda bem, pois assim já temos um pretexto para voltar a Covas do Barroso, e aí, já levaremos o apontamento daquilo que queremos ver e descobrir.

 

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Romaínho

Para saber mais sobre a freguesia de Covas de Barroso, ficam alguns links de interesse. Recomendamos em particular a página da Junta de Freguesia e da Wikipédia, pois ambas estão bastante completas para se ficar a saber quase tudo da freguesia.

 

links de interesse:

Freguesia de Covas do Barroso: https://cbarroso.jfreguesia.com/

Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Covas_do_Barroso

Casa Museu Quinta do Cruzeiro: https://visitboticas.pt/2017/02/quinta-do-cruzeiro/

 

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Romaínho

 

Link para os nossos post dedicados às aldeias da freguesia:

 

Covas do Barroso

Muro

 Romaínho

 

 

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Romaínho

Para a semana iniciamos a abordagem de outra freguesia do concelho de Boticas, que, seguindo a ordem alfabética, a seguir a Covas do Barroso segue-se a freguesia de Dornelas, iniciando pela aldeia de Antigo.

 

WEBGRAFIA

(consultas em 13 e 14 de agosto de 2021)

http://www.cm-boticas.pt/

https://visitboticas.pt/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Covas_do_Barroso#Turismo

https://cbarroso.jfreguesia.com/

 

 

 

 

 

[i] Nota do Blog Chaves: O texto que se segue foi retirado do caderno da Monografia de Boticas dedicado à freguesia de Covas do Barroso. Trata-se de uma publicação de maio de 2006, pelo que, algum do conteúdo poderá estar desatualizado, nomeadamente quando refere “a população atual” e no que se refere à existência de equipamentos de apoio ou sociais (cafés, mercearias, associações, etc.)

[ii] BORRALHEIRO, Rogério, 2005, Montalegre, Memórias e História. Ed. Câmara Municipal de Montalegre, pp 80-87

[iii] Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo

[iv] - Nota do Blog Chaves – Nos cadernos de onde se retirou este texto, falta o ponto 12º.

[v]  - Nota do Blog Chaves - Nos cadernos de onde se retirou este texto, também falta o ponto 18º.

[vi] - Nota do Blog Chaves - Nos cadernos de onde se retirou este texto, também falta o ponto 20º.

 

 

11
Out20

O Barroso aqui tão perto - Nogueira

Aldeias do Barroso - Concelho de Boticas


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NOGUEIRA

 

Hoje no Barroso aqui tão perto, vamos até a aldeia de Nogueira, a terceira e última aldeia da freguesia de Ardãos e Bobadela, aqui bem pertinho de nós (cidade de Chaves), a apenas 18.3Km. Não queremos ser repetitivos, mas aquilo que dissemos sobre Ardãos e Bobadela, dada a proximidade das três aldeias, também se aplica a Nogueira, principalmente o seu enquadramento e relacionamento que tem com a Serra do Leiranco e com o vale do Alto Terva, daí os próximos capítulos são um bocadinho daquilo que já dissemos para as outras aldeias da freguesia.

 

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Nogueira fica precisamente entre as duas aldeias que dão nome à freguesia, Ardãos e Bobadela, ficando a 1.800m de Ardãos e a 700m de Bobadela.  é a freguesia localizada mais a norte do concelho de Boticas e faz uma “incursão”, como se tivesse ficada entalada, entre o concelho de Montalegre e o concelho de Chaves, ficando o limite da freguesia bem próximo das aldeias de Meixide (Montalegre) e de Castelões, Calvão, Seara Velha, Soutelo, Noval, Pastoria, Casas Novas e Redondelo, estas todas do concelho de Chaves e a menos de 2Km do limite desta freguesia barrosã, com a Pastoria a menos de 500m de distância.

 

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A par da aldeia de Sapelos, da freguesia de Sapiãos, é também a freguesia que se abre para o vale do Alto Terva, a acompanhar o rio Terva que, em termos de peixe só “dá bogas e às vezes trutas” e só nalguns troços do rio, mas que, desde a ocupação romana,  é conhecida pela riqueza em ouro do seu subsolo, pelo menos os romanos exploram neste vale algumas minas deste metal precioso, construíram uma cidade (Batocas) e fizeram passar por ela importantes vias romanas e/ou importantes ligações à Via Romana XVII, que ligava Bracara (Braga) a Asturica (Astorga), com passagem por Aquae Flaviae (Chaves).

 

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Vale do Alto Terva onde existe um parque arqueológico, com alguns passadiços, miradouros, vestígios das antigas minas de ouro, como o poço das Freitas, ou vestígio da antiga cidade de Batocas, gravuras, castros, etc. Mas desde já fica um conselho, se não conhece o vale do Terva, não se aventures a ir para lá às cegas, que o mais provável é não encontrar nada ou mesmo perder-se. Na aldeia vizinha de Nogueira, Bobadela, junto à Igreja/cruzeiro, há um posto de informações com muita documentação, mapas, rotas (natura, das vias antigas, das gravuras, das minas, dos castros e das aldeias) e demais informações. Penso mesmo que fazem visitas guiadas ao Parque Arqueológico. Antes de se aventurar por lá sozinho, vá com alguém que conheça ou passe por este posto de informações.

 

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Como já perceberam esta aldeia de Nogueira é uma aldeia bem próxima da cidade de Chaves mas nada tem a ver com a Nogueira da Montanha de Chaves. Para se ir até lá, Nogueira de Boticas, temos dois acesso possíveis, mas, curiosamente,  ambos mais ou menos à mesma distância. Um dos acessos é via EN103, estrada de Braga, passando por Curalha, Casas Novas, S. Domingos, Sapelos (já de Boticas) e a seguir a esta aldeia irá atravessar uma ponte sobre o rio Terva onde logo a seguir terá uma saída à direita (M507), por onde terá de percorrer 1,7Km para chegar a Nogueira. A outra alternativa, é com saída por Casas dos Montes, Valdanta, Soutelo, Seara Velha, Ardãos (já em Boticas), e logo a seguir temos Nogueira. Nós recomendamos este último itinerário, mas o melhor mesmo, é ir por um itinerário e regressar pelo outro, e aí tanto faz. Fica o nosso mapa para melhor poderem localizar a aldeia e ver como é mesmo perto da cidade de Chaves.

 

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Nogueira fica implantada já em plena Serra do Leiranco, logo no início da sua encosta vira da nascente, a uma altitude a rondar os 600m, uma serra que embora muitas vezes fique vestida de branco no inverno, protege a aldeia dos ares frios vindos do grande planalto do Larouco e do restante Barroso. É uma aldeia que há muito conhecíamos das nossas inúmeras passagens, mas como sempre vamos dizendo, só passar, não nos dá a conhecer a aldeia. É preciso parar, entrar na sua intimidade, demorarmo-nos por lá o tempo que tiver de ser, e se possível, conversar com os seus residentes, só assim poderemos ficar com algum conhecimento dela, e esta aldeia, tal como as outras duas da freguesia,  surpreendeu-nos pela positiva. Sinceramente gostámos daquilo que vimos e que vamos deixando aqui um pouco em imagem. Uma aldeia com gente simpática, com que tivemos oportunidade de conversar e desfrutar das conversas e que nos levaram à descoberta de alguns pontos de interesse que sem a dica e indicação dos residentes, talvez não tivéssemos descoberto ou ficar a saber do que se tratava e da importância para a aldeia.

 

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Então vamos lá entrar em Nogueira, recordando um pouco o dia 19 de julho de 2018, eram 8H00 (da manhã) quando lá chegámos, num dia coberto de nuvens que na serra do Leiranco era nevoeiro espesso, mas mesmo assim, convém recordar que estávamos numa aldeia, onde as pessoas têm por hábito levantarem-se cedo, daí já haver muita gente nas ruas, que ao saber ao que íamos, nos iam indicando as coisas bonitas para ver, a igreja, as capelas, o calvário, o cruzeiro, etc.

 

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E lá fomos andando e descobrindo, mas como sempre, há pessoas mais dadas às conversas, que gostam de nos mostrar e levar até aquilo que eles acham ser do nosso interesse. Ao longo das ruas não precisamos de nos anunciar, os cães, à nossa aproximação, como estranhos que somos, dão sempre o aviso, tem aquele ladrar de dizer “anda aqui gente”, cumprem a sua missão, mas depois vêm ter connosco e dentro do seu território, até nos fazem companhia.

 

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Já junto ao calvário encontrámos o Sr. Amaro, mas ao qual todos chamam Mário, perguntámos-lhes pelo que era feito do sol… “ele lá vem, hoje vem mais tarde…” por acaso até nem veio, e acrescentou “mas entra hoje o quarto-crescente e é capaz de mudar o tempo”. Pois sinceramente, para a fotografia dentro das aldeias, prefiro os dias encobertos aos dias de sol intenso, desde que haja luz. E a luz também se vai fazendo nestas conversas, como por exemplo a do Sr. dos Aflitos, que estava mesmo à nossa frente e não dávamos por ele. “Tem muita visita, gente de fora e emigrantes, quando estão aflitos, lembram-se dele…”, dizia-nos o Sr. Amaro a quem todos chamam Mário.

 

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Nestas nossas andanças pelas aldeias do Barroso, sem conversas, despachamos a coisa em menos de uma hora, e em Nogueira estivemos quase a cumprir. Depois da conversa com o Sr. Amaro ao qual todos chamam Mário, demos a missão como cumprida, já estávamos de partida quando passamos por uma casa cuja decoração e pintura da fachada nos chamou a atenção. Claro que tivemos de parar para fazer o registo e, continuaríamos para Bobadela se não tivéssemos encontrado a Dona Natividade com a qual estivemos mais de uma hora na conversa.

 

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A Dona Natividade que nos contou montes de estórias, alguma a envolver o seu nome, “o meu nome é fraco”, isto por não ser muito vulgar, era o único nas redondezas e só encontrou uma vez em Chaves um senhora com o mesmo nome. Com 88 anos, pedi-lhe para repetir a idade, pois parecia ter muito menos, e confirmou, 88 anos, e acrescentou “aqui o sossego da terra vale muito”. Pela certa que sim, bem mais sossegados que os anos que passou em França como emigrante, isto nos anos 60/70 do século passado, mas onde ainda tem filhos, netos e bisnetos. Contou-nos muitas estórias, sobretudo estórias que a sua “Vó” lhe contava, e ia-nos dizendo, “Quando eu era garota pequena os velhinhos diziam tantas coisas… a minha Vó dizia-nos: Olhai meus filhos, nada entra aqui no nosso povo, e porque Vó, perguntava eu, e ela dizia-me, olha, porque o diabo já andou para entrar na nossa aldeia, mas dizem que não conseguiu entrar, porque na “estaca do argueiro” está a N. Sr.ª do Alívio, no fundo do povo está o S. Caetano, lá em cima tem o Sr. dos Aflitos, ao pé da serra, ali em cima, tem a capela da Senhora das Graças”.

 

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É o diabo não se deve dar muito bem por estas bandas, pois aqui, só nas redondezas desta aldeia, num circulo de 5km de raio, há pelo menos 5 santuários (S.Caetano, Srª do Engaranho (Castelões), Srª da Aparecida (Calvão) Srª das Neves (Ardãos), Sr. dos Milagres (Sapelos), então igrejas, capelas, nichos e alminhas, nem se fala...  “Já dizia a minha Vó”, continuava a Dona Natividade “Olhai meus filhos quando os homens andarem feitos pássaros a voar lá pelo ar e em cavalos cegos pela estrada fora, preparai-vos para o fim do mundo que está próximo… homens que matam filhos, pais que derrotam as filhas, eu às vezes até fecho a televisão…” . Aproveitámos a chegada do padeiro de Faiões, o padeiro do trigo de quatro cantos, para nos despedirmos da Dona Natividade.

 

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E agora passemos ao que dizem os documentos, mais precisamente ao que encontrámos sobre Nogueira na monografia “Preservação dos Hábitos Comunitários das Aldeias do Concelho de Boticas”.

 

Castro de Nogueira

Designação: Castro de Nogueira

Localização: Nogueira (Bobadela)

Descrição: o Castro de Nogueira fica no topo dum alto cabeço cónico por cima e a NO da aldeia de Nogueira, freguesia de Bobadela.

O acesso a este castro pode fazer-se pelo estradão até à Casa Florestal, dali aos lameiros da Serra, à Salgueira, e uns 200 m acima encontra-se um caminho e carro de bois que leva ao alto, junto das muralhas do castro, quase todas alagadas, embora haja algumas porções que ainda têm 1 m de altura.

No topo do castro existem indícios de aí terem existido casas. No que se refere às muralhas, estas encontram-se muito derruídas e quase imperceptíveis, não sendo possível aferir a sua dimensão. Foram encontrados vários pedaços de cerâmica neste espaço.

Perto do castro, do lado Nascente, encontra-se um ribeiro

 

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Festas e Romarias

Santa Cruz,* 03 de Maio,

São Caetano,* 1º Domingo de Agosto,

 

Património Arqueológico

Castro de Nogueira

 

Património Edificado

Calvário

Capela de S. Mamede

Cruzeiro

Forno do Povo de Nogueira

 

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As Lamas / Lameiras do Povo ou do Boi

(...)

Em algumas aldeias existem lamas/lameiras do povo ou do boi, propriedade comum da aldeia. Nas aldeias onde existiu boi do povo, estas propriedades garantiam parte da sua alimentação, sendo utilizadas como pastagem e para a produção de forragens (feno). Actualmente, estas propriedades, geridas pelas Juntas de Freguesias ou pelos Conselhos Directivos dos Baldios, são arrendadas aos lavradores que delas precisem. Anualmente, ou de cinco em cinco anos, como acontece em Nogueira (Bobadela), são postas a leilão e arrematadas por quem fizer melhor oferta, pois como costumam dizer “quem mais dá, mais amigo é do Santo”.

 

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A água

(…)

As aldeias de Bobadela e Fiães do Tâmega, que partilhavam água com as aldeias vizinhas (Nogueira e Veral), recorrendo a determinadas estratégias, conseguiram ficar na posse dela. Na freguesia de Bobadela, ficou na memória dos aldeãos a história do “Santo Ladrão”. Conta a história que, há muitos anos atrás, no tempo dos antigos, Bobadela e Nogueira dividiam entre si uma água que vinha da Serra do Leiranco. Os de Bobadela achavam que aquela água lhes pertencia por direito e que não tinham que partilhá-la com os de Nogueira, pois estes já tinham muita água, doutras nascentes dessa Serra. Assim, arranjaram um estratagema para ficarem com a água toda, sem que os de Nogueira pudessem contestar tal apropriação. Um dia, juntaram-se as pessoas de ambas as aldeias, dirigiram-se à Serra, ao tornadouro de divisão das águas e combinaram deitar metade da água para Bobadela e a outra metade para Nogueira. A aldeia onde a água chegasse primeiro, ficava com ela. O sinal da chegada da água era o toque do sino da capela, em Nogueira, ou da capela de S. Lourenço, em Bobadela. Ora, os moradores de Bobadela, já com ela fisgada, ainda a água vinha longe, já eles estavam a tocar o sino. Os de Nogueira aceitaram a sentença, mas, convencidos que tinha havido batota, passaram a chamar-lhe o Santo Ladrão.

 

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(…)

Todos os regantes, para poderem usufruir dos seus direitos de água, estão obrigados a participar nos ajuntamentos dos regos, sob pena de não poderem regar. Na prática, isso não acontece. O faltoso, nalgumas situações, apenas se arrisca a uma reprimenda verbal; noutras aldeias, como por exemplo Nogueira, quem, por algum motivo, não possa participar nestes ajuntos pode “compensar” os regantes que o fizeram, fazendo outro trabalho a favor da comunidade, como por exemplo limpar uma fonte ou um tanque.

 

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Há ainda, como acontece em Nogueira (Bobadela) aqueles que têm água e não têm terrenos para regar. Então, dão a água a um vizinho que precise e este, em troca, dá-lhe batatas, dinheiro, etc. Há alguns anos atrás, tentaram alterar o sistema de atribuição da água de rega, de forma a dividirem-na apenas entre os que tivessem terras. Todavia, os que não tinham terras não abdicaram do seu direito à água e depressa se voltou ao sistema dos antigos.

 

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O Gado

(...)

Acontecia, por vezes, em algumas aldeias, como por exemplo em Valdegas (Pinho) e em Nogueira (Bobadela), as pessoas mobilizarem diferentes recursos para poderem criar gado. Existia um sistema, o chamado gado a meias, em que um era dono dos animais e o outro detinha os recursos para a sua alimentação, ou garantia o seu pastoreio. Os lucros obtidos, por exemplo com a venda de crias, eram divididos pelos dois.

 

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E ficamos por aqui, neste tão longo post, mas muito mais haveria para dizer e imagens para mostrar. Fica para uma próxima oportunidade. Agora fica o vídeo, com um resumo apenas em imagem deste post. Espero que gostem

 

 

 

Agora este e outros vídeos do Barroso e região, também podem ser vistos no MEO Kanal nº 895 607

 

Quanto a aldeias do Barroso de Boticas, no próximo domingo teremos aqui o post da freguesia de Ardãos e Bobadela, à qual também pertence a aldeia de Nogueira.

 

 

13
Set20

O Barroso aqui tão perto - Freguesia de Alturas do Barroso e Cerdedo


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Freguesia de Alturas do Barroso e Cerdedo

 

Nas últimas semanas trouxemos aqui todas as aldeias da freguesia de Alturas do Barroso e Cerdedo, uma freguesia recente que resulta da união da antiga freguesia de Alturas do Barroso e a freguesia de Cerdedo, ambas extintas com a última reorganização administrativa do território, Lei n.º 11-A/2013 de 28 de janeiro. Assim os dados que possuímos, são os das antigas freguesias antes da sua união, pelo que, neste resumo, serão abordadas em separado. Mas para iniciar, fica o mapa da atual freguesia e o gráfico síntese com a população total da atual freguesia e das antigas fregiuesias.

 

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Antiga freguesia de Alturas de Barroso

 

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Localização geográfica: Situa-se em pleno coração da Serra do Barroso, na parte Noroeste do concelho.

Distância relativamente à sede do concelho: aproximadamente 18 km

Acesso viário: Pela ER 311, vira-se em direcção a Carvalhelhos e percorre-se a EM 520. Em alternativa, pode seguir-se pela ER 311, vira-se em direcção a Vilarinho Seco e percorre-se o CM 1035 até Alturas do Barroso.

Área total da freguesia: 32,8 km2

Localidades: Alturas do Barroso, sede de freguesia, Atilhó e Vilarinho Seco

População: 444 habitantes

Orago: Santa Maria Madalena

 

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Festas e Romarias

São Sebastião, 20 de Janeiro, Alturas do Barroso.

São Sebastião, Domingo a seguir ao dia 20 de Janeiro, Atilhó.

Santa Cruz, 03 de Maio, Vilarinho Seco

Sto António,* 13 de Junho, Alturas do Barroso e Atilhó

Santa Maria Madalena,* 26 de Junho, Alturas do Barroso

São Paio,* 26 de Junho, Vilarinho Seco

Santa Ana, 26 de Julho* / inicio de Agosto, Alturas do Barroso

Santa Margarida, último domingo de Agosto, Atilhó

Santa Bárbara,* 04 de Dezembro, Atilhó

Santa Luzia,* 13 de Dezembro, Atilhó

 

(*) Apenas celebração religiosa.

 

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Cruzeiro e tanque em Alturas do Barroso

 

Património Arqueológico

Castro de Vilarinho Seco / Couto dos Mouros

Castro do Côto dos Corvos

Mamoa da Pedra do Sono / Pedra do Sono

Mamoa de Chã do Seixal / Chã do Seixal

 

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Alturas do Barroso

 

Património Edificado

Capela de Nossa Sra. de Fátima (Alturas do Barroso)

Capela de Sampaio (Vilarinho Seco)

Capela de Santa Margarida (Atilhó) – Património Classificado (IIM)

Casas de Vilarinho Seco

Forno do Povo de Alturas do Barroso

Forno do Povo de Atilhó

Forno do Povo de Vilarinho Seco

Igreja Paroquial de Santa Maria Madalena (Alturas do Barroso)

Relógio de Sol (Vilarinho Seco).

 

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Vilarinho Seco

 

Outros locais de interesse turístico

Casas com cobertura de colmo

Miradouros Naturais da Serra do Barroso

Moinhos

Museu Rural de Alturas do Barroso

Parque de Lazer de Peade (Alturas do Barroso)

 

Aldeias da antiga freguesia de Alturas de Barroso

 

Alturas do Barroso

 

Para quem quiser rever mais alguns dados sobre a aldeia de Carvalho, basta seguir este link para o post que lhe dedicámos: Alturas do Barroso

 

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Atilhó

 

Para quem quiser rever mais alguns dados sobre a aldeia de Carvalho, basta seguir este link para o post que lhe dedicámos: Atilhó 

 

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Vilarinho Seco

 

Para quem quiser rever mais alguns dados sobre a aldeia de Carvalho, basta seguir este link para o post que lhe dedicámos: Vilarinho Seco 

 

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Antiga freguesia de Cerdedo

 

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Localização geográfica: A freguesia de Cerdedo situa-se no extremo Oeste do concelho de Boticas.

Distância relativamente à sede do concelho: aproximadamente 25 km

Acesso viário: Pela ER 311 até aparecer a indicação Cerdedo.

Área total da freguesia: 23,9 km2

Localidades: Casas da Serra, Cerdedo, sede de freguesia, Coimbró, Covêlo do Monte e Virtelo.

População: 176 habitantes

Orago: S. Tiago

 

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Festas e Romarias:

Santo Amaro,* 15 de Janeiro, Coimbró

São Sebastião, 20 de Janeiro, Cerdedo

Santo António e S. Lourenço,* Terceiro Domingo de Agosto, Cerdedo

Nossa Senhora da Saúde, Agosto, Coimbró

Senhora do Monte, 08 de Setembro, Cerdedo

 

(*) Apenas celebração religiosa.

 

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Igreja Paroquial de São Tiago - Cerdedo

 

Património Edificado

Assento de Lavoura

Capela da Senhora do Monte (Cerdedo)

Capela de N. Sr.ª da Ajuda (Virtelo)

Capela de Santo Amaro (Coimbró)

Casa do Morgado de Coimbró

Casario Tradicional de Coimbró - Património em vias de Classificação

Forno do Povo de Cerdedo

Forno do Povo de Coimbró

Igreja Paroquial de S. Tiago (Cerdedo)

 

 

Aldeias da antiga freguesia de Cerdedo

 

Casas da Serra

 

Para quem quiser rever mais alguns dados sobre a aldeia de Carvalho, basta seguir este link para o post que lhe dedicámos: Casas da Serra

 

 

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Cerdedo

 

Para quem quiser rever mais alguns dados sobre a aldeia de Carvalho, basta seguir este link para o post que lhe dedicámos: Cerdedo

 

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Coimbró

 

Para quem quiser rever mais alguns dados sobre a aldeia de Carvalho, basta seguir este link para o post que lhe dedicámos: Cerdedo

 

 

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Covêlo do Monte

 

Para quem quiser rever mais alguns dados sobre a aldeia de Carvalho, basta seguir este link para o post que lhe dedicámos: Covelo do Monte

 

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Virtelo

 

Para quem quiser rever mais alguns dados sobre a aldeia de Carvalho, basta seguir este link para o post que lhe dedicámos: Virtelo

 

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E por hoje é tudo. No próximo domingo iremos até à aldeia de Ardãos, iniciando assim a nossa ronda pelas aldeias da freguesia de Ardãos e Bobadela.

20
Jul20

O Barroso aqui tão perto - Cerdedo

Aldeias de Barroso - Concelho de Boticas - Portugal


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CERDEDO 

 

A descoberta de Cerdedo é recente. A primeira vez que lá fui, foi pela mão do Luís de Boticas, um botiquense amante do seu Barroso e também colaborador deste blog. Estávamos na festa do São Sebastião da Vila Grande, Dornelas. edição de 2016, e falou-nos desta aldeia, que tínhamos de ir lá, e lá fomos, antes de fazemos a passagem do São Sebastião da Vila Grande para o São Sebastião das Alturas do Barroso. O mesmo santo, ambas festas comunitárias, mas bem diferentes na forma de as fazer. Já agora, o Cerdedo também celebra o São Sebastião, também com uma festa comunitária, logo pela manhã, ainda antes de começar a da Vila Grande, mas sobre isso, falaremos mais à frente.

 

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Pois mal chegámos à aldeia, quer-se dizer, mal parámos na estrada ER311 e lançamos um olhar sobre a aldeia, ficámos logo apaixonados por ela. Como era possível por entre montanhas despidas ou vestidas tons avermelhados e acastanhados escuros, existir tanto verde. Parecia coisa artificial, uma tela pintada por um artista naturalista de paisagens que tinha abusado e exagerado na exuberância verde, apenas quebrado pelo recortar dos muros de pedras e do casario que se vai dispersando no meio de tanto verde, mas tudo aquilo era real e estava ali mesmo à minha frente. Mas dessa vez ficámos apenas pelas vistas desde a estrada, mas Cerdedo ficou debaixo de olho para as próximas passagens e para uma visita com descida à aldeia, nas calmas.

 

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E assim foi durante os 2 anos seguintes até maio de 2018 em que decidimos fazer a descida à aldeia para o nosso levantamento fotográfico e algumas conversas, aliás muitas conversas, pois Cerdedo é uma terra com gente nas ruas que gosta de conversar e de alguns lamentos. Contam-nos estórias, falam-nos nos filhos que estão fora a lutar pela vida, da vida na aldeia, do “trabalhar de estrela a estrela” como me dizia o Sr. Arlindo e a D. Alda, falam-nos na falta de gente na aldeia e nas aldeias vizinhas, “antigamente bastava um realejo e fazia-se logo um baile na rua, agora não há ninguém” três, filhos, todos fora, “a mais nova vive no Algarve” dizia-nos a D. Alda enquanto nos mostrava a cozinha velhas e a adega onde faziam vinho , a bold e sublinhado pois fazer vinho no Barroso é obra, mas agora já não se faz, “as pipas estão todas esbardalhadas” e se não fosse termos uma agenda a cumprir, ainda hoje lá estávamos à conversa.

 

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Estas entradas nas aldeias do Barroso têm de ser feitas sempre como mandam as regras, primeiro com respeito por tudo e por todos, depois convém fazer as apresentações, dizer ao que vamos, quem somos, de onde vimos, para onde vamos, depois vem a conversa, saber ouvir é importante, muito importante, primeiro porque aprendemos sempre alguma coisa, depois porque nos dão dados preciosos para o conhecimento e pordemos fazer um pouco da história destas aldeias, e tivéssemos mais tempo, não fosse uma “visita de médico” para recolher imagens, e acabávamos à mesa com uns nacos de presunto, linguiças e bom vinho (este das terras onde o há do bem), tudo do genuíno, tal é a pureza e hospitalidade deste povo barrosão. Mas atenção, isto é para quem vai por bem e com boas intenções, e eles sabem quando assim é, pois para os que vão de má fé e são descobertos, o mais provável é levarem umas estadulhadas no lombo ou na cabeça, que os arruma logo, mas como agora os estadulhos já não estão à mão,  um zagalote também serve, perde-se talvez uma perdiz ou um coelho, mas não são levados por lorpas.    

 

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Quanto à aldeia, já fora das vistas desde a ER311, agora já na sua intimidade, tem um povoamento disperso ao longo de todos os cainhos, mas com dois pequenos núcleos mais consolidados. A aldeia cabe dentro de um circulo com perto de 900 metros de diâmetro, e no seus tempos em que a população abundava, a freguesia chegou a ter 508 habitantes (Censo de 1960), mas nos últimos Censos (2011) a freguesia só já tinha 145 habitantes e Cerdedo, segundo informações colhidas na aldeia, agora tinha à volta de 70 pessoas, mesmo assim, ainda é uma aldeia com vida.

 

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A aldeia implanta-se numa baixa entre montanhas, não em vale, mas em terras com pouca inclinação, mesmo assim a construção que se encontra no ponto mais alto da aldeia está implantada quase a uma cota de 1000 metros de altitude, enquanto que o ponto mais baixo, já junto ao rio, anda na cota dos 800 metros. Terras altas e de invernos rigorosos, mas sem a força de quebrar ou queimar o verde das pastagens cuja exuberância domina a cor da aldeia.

 

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Para mim, ou seja a opinião é pessoal, se me pedissem para indicar 10 aldeias do Barroso de visita obrigatória, não hesitaria nem um segundo em indicar Cerdedo, não por ser uma aldeia típica do Barroso, mas pelo seu todo e pelo domínio e exuberância do seu verde.

 

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E como se chega lá!? Pois é muito fácil. Para nós que saímos sempre da cidade de Chaves, basta apanhar a EN103 (estrada de Braga) até Sapiãos, depois Boticas e aqui apanhamos a ER311 em direção a Salto, depois ´se seguir sempre pela ER311 até chegar a Cerdedo. Atenção às placas de entrada na aldeia, pois embora as melhores vistas sobre Cerdedo sejam desde a ER311, indo de carro e desde o seu interior, a aldeia não é muito visível, é necessário estarmos bem na berma da estrada para a ver como deve ser. Depois de apreciá-la lá desde cima, desde a ER311, uma descida à aldeia é obrigatório, e não se preocupe se deixou a entrada da aldeia para trás, pois como a aldeia tem 4 entradas, pode apanhar a última e assim vai vendo a aldeia de vários ângulos, qual deles o mais interessante. Para ajudar um pouco na localização, fica o nosso mapa.

 

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Para ver com mais atenção, recomenda-se uma visita à igreja do cemitério e também as vistas que desde aí se alcançam para a aldeia, mais uma vista interessante e diferente de todas as outras. Os dois pequenos núcleos de construções, também são interessantes, e uma descida ao rio, também é de não perder.

 

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Falta-nos conhecer com mais pormenor a Festa do São Sebastião, que tal como as outras do Barroso se celebra todos os anos a 20 de janeiro. Este ano fomos lá, mas chegamos em má hora para as nossas pretensões, que seria antes ou depois da missa, mas quando chegámos estava a missa a decorrer, e como na nossa agenda estava também chegar a horas à Vila Grande, adiámos para uma próxima edição, talvez na próxima edição, isto se o raio do bicho do Covid-19 o permitir, vamos esperar que até lá tudo fique resolvido com este problema que tanto nos afeta a normalidade dos dias, das festas e do convívio onde as pessoas de ajuntam. 

 

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Mas vejamos o que diz a monografia de Boticas – Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias de Boticas.

 

Festa de S. Sebastião em Cerdedo

 

A Festa em honra de S. Sebastião, a 20 de Janeiro, em Cerdedo, é muito antiga, como o certifica o Abade em 1758, e caracteriza-se pela sua dimensão intimista. Mantém as características genuínas de uma manifestação religiosa comunitária onde praticamente só os moradores da freguesia e alguns dos seus “filhos” emigrados que por essa altura vêm à terra venerar o Santo e cumprir com os seus votos, se juntam pelas oito da manhã na igreja em torno do pároco para celebrar a missa da festa. Após esta, parte em cortejo processional em direcção à casa do Juiz. Este, com o Santo no regaço, segue atrás da cruz, acompanhado por todos. O pároco, uma vez chegado, benze e abençoa sucessivamente o pão, a carne e o vinho, delicadamente expostos em cestos e tabuleiros, sob a presença do Santo venerado.

 

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E continua a monografia:

 

Cá fora, no logradouro da casa ou na eira, dispõe-se a mesa coberta com toalha branca e na cabeceira, numa outra mesa pequena, coloca-se o São Sebastião que vai presidir à refeição comunitária. A mulher do mordomo aparece com tabuleiros de pão cortado em fatias, logo atrás surgem as vizinhas com travessas de carne de porco (peito) cortada em bocados. E, num movimento rápido e partilhado, um traz o vinho, outro os copos, outro os guardanapos de papel. Entretanto os devotos iniciam a refeição. Equipados com uma navalha ou uma faca pegam numa fatia de pão centeio, um pedaço de carne e vão degustando enquanto se trocam opiniões sobre o quotidiano da aldeia. Um ou outro vai entretanto pagar a esmola ao Santo que, alheio a tal burburinho, vela pelos seus devotos. Animam-se os comensais e vai-se terminando a refeição com um pouco de aguardente ou vinho do Porto, mimos com que o mordomo não deixa de presentear os seus concidadãos e amigos. Ao lado de grandes cestos de carvalho é doado a cada romeiro um quarto de broa (cerca de um quilo) que, em casa, será partilhado por toda a família e até animais. O pão santo – a mezinha – ajudará a proteger todos aqueles que o comem.

 

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E ainda:

É hora do Leilão e o Sr. Gomes, que ambiciona ter quem lhe suceda em tarefa tão nobre e também tão alegre, lá sobe as escadas até ao pátio para do alto “cantar” o lanço mais alto para um peito de porco, uma orelheira ou meia dúzia de chouriças. Faz isto há Festa de S. Sebastião em Cerdedo mais de vinte anos. As broas de centeio, enormes, são licitadas avidamente, com alegres escaramuças, pela cerca de meia centena de convivas e devotos, todos irmanados no continuar da tradição.

 

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Festa do São Sebastião com muita tradição no Barroso, no entanto a Orago de Cerdedo é o São Tiago, mas fazem festa ao Santo António e São Lourenço no terceiro domingo de agosto e em 8 de setembro à Srª do Monte, esta num pequeno santuário isolado no meio da Serra do Barroso.

 

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Srª do Monte

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Quanto a património religioso e comunitário da aldeia, tem a capela da Srª do Monte, a Igreja Paroquial de São Tiago e o forno do povo.

 

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Igreja Paroquial e antigo cemitério

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Ainda sobre Cerdedo apurámos que foi abadia da casa de Bragança. Em 1839, pertencia ao concelho de Montalegre e judicialmente à comarca de Chaves. Em 1852 passou a pertencer ao concelho de Boticas e judicialmente à comarca de Montalegre. Segundo informação veiculada através das cartas paroquiais de 1758, nasceu e viveu neste lugar um famoso poeta popular conhecido por Pantoja, cuja obra infelizmente se perdeu no tempo

 

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A respeito deste poeta popular Pantoja, num documento de 1758, um inquérito que Marques de Pombal mandou para resposta de todas a paróquias do Reino de Portugal, o então Abade de Cerdedo, o Abade Vicente Ferreira de Alcantra, diz o seguinte:

“ Neste sobredito lugar cresceu aquele insigne Pantoja muito conhecido pelas suas trovas, que fazia cantigas e sátiras que inventava não tendo mais ciência do que a enxada e o arado com que o pobre vivia, como tal acabou imitando os poetas e por tal ao clamado pelos moradores do lugar. Deste não ficou sucessão, nem as sua obras editadas, só ficou na memória de alguns alguma coisa burlesca.”

 

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Ainda neste inquérito de 1758, o mesmo Abade Ferreira, dizia sobre Cerdedo:

“Tem trinta e seis fogos ou vizinhos e pessoas de sacramento cento e quarenta. Está situada em montes ásperos, a maior parte dela, donde se avistam várias montanhas como a montanha do Gerês, bem nomeada pela sua aspereza e os arredores de Montalegre, tudo para a parte do norte. Para a parte de nascente vêem-se vários montes como é o Alvão, e outros que vão correndo per de fronte a ribeira de pena, rio Tâmega, que vem da vila de Chaves para Amarante, cuja ribeira dista daqui três léguas e do Gerês três. E quanto ao eclesiástico está sujeita à Vila de Chaves, onde existe o Doutor Vigário Geral da dita comarca, a qual dista daqui seis léguas para a parte.

Tem esta freguesia cinco lugares: Cerdedo, Covelo, Coimbró, Serra e Virtelo. O primeiro tem doze vizinhos, o segundo quatro, o terceiro onze, o quarto três e o quinto dois e uma pobre e outra na do Cerdedo."

 

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As montanhas a nascente, mencionadas pelo Abade Ferreira no inquérito de 1758

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E na ausência de mais informação sobre Cerdedo, vamos caminhando para o final deste já longo post, apenas nos falta o vídeo com todas as fotografias publicadas até hoje neste blog. Espero que gostem:

 

 

E quanto a aldeias de Barroso, despedimo-nos até a próxima sexta-feira com uma aldeia do Barroso do concelho de Montalegre, Lamachã, e no próximo domingo com uma aldeia do concelho de Boticas, Coimbró.

 

BIBLIOGRAFIA

CÂMARA MUNICIPAL DE BOTICAS, Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas - Câmara Municipal de Boticas, Boticas, 2006

 

WEBGRAFIA

http://www.cm-boticas.pt/

 

 

13
Jul20

O Barroso aqui tão perto - Casas da Serra

Aldeias de Barroso - Concelho de Boticas


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Já estávamos no outono, mas apenas no calendário, pois bem lá na croa da Serra do Barroso, naquele dia de 6 de outubro, ainda era verão, como se fosse julho ou agosto, mesmo nos incêndios que iam manchando o azul do céu com o fumo do que ardia em terra, e a nossa volta, por onde íamos passando, não era exceção, o pouco mato rasteiro que havia para arder, ia ardendo, coisa de pastores diziam-nos, mas por ali não havia alma viva, apenas nós e a estrada, estreita, a caminho de mais uma aldeia do Barroso que nos diziam existir por ali, mas sem se avistar.

 

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Vindos de Coimbró e de Covelo do Monte, passámos por um pequeno santuário no meio do nada e continuámos por estrada que para nós era virgem, era a primeira vez que por ali passávamos, com as curvas que iam contornando pequenas elevações, muitos penedos, vegetação sempre rasteira e muito fumo, às vezes passávamos mesmo pelo meio do fogo, de ambos os lados da estrada, mas sem grande perigo pois as chamas iam comendo, nas calmas, o que restava por arder da vegetação rasteira. Segundo os nossos cálculos, Casas da Serra deveria estar a aparecer-nos no horizonte, mas no entretanto havia apenas estrada, penedos, e o incêndio. Para trás, nas nossas costas, iam ficando as grandes ventoinhas de um dos parques eólicos, um tipo de vegetação recente e alta que agora vai cobrindo os montes altos do Barroso…

 

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E eis que, finalmente, uma pequena placa indica Casas da Serra, e sim senhor, serra(s) havia muita(s), estávamos na Serra do Barroso e ao fundo víamos a serra do Facho e depois dela a Serra do Gerês, e uma pequena povoação na Serra do Facho, Ladrugães, pareceu-me, mas casas de Casas da Serra, ainda não se avistava nenhuma. A figura de um pequeno pato chamou-nos a atenção e lá vai mais um clique, era um daqueles patinhos iguais aos que as crianças põem na banheira a flutuar quando tomam banho, embora este fosse apenas mais um rochedo no monte. Na estrada, agora mais estreita, um enorme penedo obriga a mais uma curva, e finalmente, entre rochedos e bocadinhos de estrada, avista-se um ponto avermelhado que tudo leva a crer ser um telhado de uma casa das Casas da Serra.

 

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E era. Logo de seguida, avista-se uma capela na croa de um pequeno monte e na base desse monte, um pouco de terra plana coberta de vegetação rasteira de um amarelo creme ou bege claro, por aqui não há a exuberância do verde, e logo em primeiro plano, uma casa branca destaca-se quebrando a harmonia da tela. A terra é alta, estávamos a 1.150 metros de altitude e não me cheirava que por ali houvessem nascentes de água,  e também não a ouvia a correr nas levadas, talvez de inverno ou primavera, depois das chuvas e da neve,  o verde nasça para mais tarde, de novo, virar a bege de erva seca. Vista dali, desde o alto da encosta que já desce para a aldeia,  Casas da Serra parece ser simpática, pena aquela casa branca destoar, mesmo assim, olhando com atenção, nota-se que por trás dela há casario antigo,  de pedra, bem camuflando na paisagem, apenas uns poucos telhados laranja nos indicam o granito que os suportam.

 

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Há terras onde se sente mesmo estar no teto do mundo, esta é uma delas, Casas da Serra, lá bem no alto da serra, mas a croa da serra, essa é reservada à pequena capela, de construção recente e cheia de luz, mais parecendo um farol em terra para quem anda a navegar no mar de montanhas do Barroso, embora não seja essa a sua finalidade, mas na realidade, estas capelas servem mesmo de faróis diurnos para quem navega no mar de montanhas do Barroso.

 

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E esta das capelas nas croas de pequenos montes dentro das grandes montanhas, vão-se repetindo nas aldeias das redondezas, desde a capela de São João da Fraga no Gerês à capela de Santo Isidro nas Alturas do Barroso, desde a capela de Santa Luzia em Cela à capela de Atilhó, desde a capela da Senhora da Livração em Ormeche (Paio Afonso) à de São Domingos em Morgade ou à da capela na Nossa Senhora das Treburas em Montalegre, entre outras, vão servindo de referência e indicação/orientação para quem anda a navegar nestes mares, isto para quem as conhece e conhece o Barroso. Um dia, quando acabarmos esta ronda por todas as aldeias do Barroso, pode ser que surjam aqui alguns posts com estas capelas e igrejas das croas dos montes e/ou isoladas na montanha.

 

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Apetecia-me ficar no discurso anterior pois o cartaz de boas-vindas à aldeia não é lá muito acolhedor, um largo, no meio, um tanque vazio, sem água, a maioria do casario, senão todo, está abandonado, fechado. Metade da aldeia está em ruinas, pelo menos os telhados estão todos esbarrondados, e as paredes não o estão porque são de boa construção, aliás uma construção em granito maioritariamente trabalhado em perpianho que demonstra que esta aldeia, quando existiu com toda a sua integridade e pessoas dentro das casas, não era uma aldeia qualquer, mas que agora parece uma aldeia fantasma. Mais uma vez, e agora já estamos dentro da aldeia,  a casa branca destoa no conjunto, e não parecendo abandonada, também não parece habitada e, ia a quase a dizer que pessoas na aldeia não havia, mas uma alma viva, vinda sem sabermos de onde, apareceu, assim a modos de querer saber ao que andávamos, e tinha toda a razão, depois das apresentações e de lhe dizermos ao que íamos, começámos a conversar.

 

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Pensávamos que não havia aqui ninguém, fomos-lhe dizendo, que Casas da Serra já estava como Covelo do Monte[i], mas afinal ainda há vida por aqui. E então,  o resto do pessoal!?Sou só eu!, respondeu-nos o José da Silva Freitas, cinquenta e poucos anos… de tez escura curtida pelo sol e frios secos de inverno, magro e calmo  – então é o dono disto tudo! Afirmámos, e a resposta foi pronta - não, só das casas com telhado… e a aquela branca não é minha. Seguiu-se um prolongado silêncio enquanto subíamos a encosta em direção à pequena capela.

 

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Vista lá de cima a aldeia nem melhora nem piora, é aquilo que ali está. Invadem-nos sentimentos estranhos, fazemos a nós próprios perguntas que não têm resposta nem sabemos responder, e também não queremos perguntar. O que levou os antepassados desta aldeia a construir ali as suas casas no meio de rochas, num pequeno vale, é certo, mas metade  é ocupado pelas casas. Ao contrário das outras aldeias que ergueram as suas casas nas encostas para deixarem as terras de cultivo livres, mas olhando melhor até se compreende o porquê das casas ocuparem este pequeno vale, pois é fácil de imaginar o que são por aqui os invernos, a neve, o gelo e o vento frio de cortar, e o vale sempre está mais protegido, principalmente dos ventos.

 

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Tento imaginar esta aldeia com vida, com o gado, as galinhas, os cães e as pessoas na rua, o tanque da aldeia cheio de água, as casas ainda todas habitadas e o pequeno vale cultivado com o forno do povo bem afastado da aldeia, vá-se lá saber porque, talvez com medo aos incêndios, pois hoje as casas têm telhado de telha cerâmica, mas há coisa de 40 ou 50 anos ainda eram os colmos que faziam a cobertura das casas, o coroamento das parede de topo são testemunho disso. Mas olhando lá do alto da capela, vê-se perfeitamente que os antigos habitantes não viviam da agricultura. Talvez fossem pastores com grandes cabradas e outro gado maior. Talvez fossem caçadores. Talvez fossem ambas e duas as coisas..

 

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Tento imaginar a aldeia antiga o interessante que deveria ser. O lugar é bonito. Desde ele, basta subir até à capela, vê-se quase todo o Barroso, com vistas privilegiadas para terras do Gerês, terras de Cabril, terras de Salto, alcança-se o Larouco já bem distante e ao descer a montanha em direção a poente, temos o rio Rabagão e os seus vales e várzeas, a de Ladrugães na margem direita e de Vila da Ponte e Ormeche na margem esquerda, isto hoje, já depois  da construção das barragens, que há 60, 70 anos atrás era só o rio Rabagão.

 

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Ainda lá em cima no alto da capela,  os sentimentos continuam contraditórios, aquilo que os meus olhos veem são de uma beleza singular, ali, aos nossos pés,  poderia existir um pequeno paraíso, mais uma pequena pérola deste colar do Barroso, mas assim, abandonado, com apenas uma alma viva a habitá-lo, mete dó e temos pena… por outro lado, a compreensão faz-nos voltar à razão, e compreendemos, oh! se compreendemos, perfeitamente, que todos tivessem abandonado, partido e vêm-me de novo as palavras de Torga à lembrança “ Entro nestas aldeias sagradas a tremer de vergonha. Não por mim, que venho cheio de boas intenções, mas por uma civilização de má-fé que nem ao menos lhe dá a simples proteção de as respeitar.” E esta falta de respeito continua, pois estas aldeias definham, morrem à vista de todos e ninguém faz nada para contrariar este mundo que se acaba. Assim a compreensão das partidas leva-me até um outro sentimento, o da raiva.

 

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Quanto ao futuro desta aldeia já se sabe qual é, está a um pequeno passo disso mesmo. Quiçá daqui a 500 ou 1000, ou 10000 anos seja um dos muitos campos de arqueologia, com jovens arqueólogos a estudar uma civilização antiga que vivia o chamado comunitarismo barrosão…

 

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Vou manter esta aldeia debaixo de olho, talvez da próxima vez que lá for me aconteça o que me aconteceu em Covelo do Monte, quando tentei ir lá a primeira vez, quando a meio do caminho uma vedação e um portão vedavam a entrada, toda a aldeia foi comprada para um empreendimento turístico que nunca passou do papel, se é que algum papel existiu. E o turismo bem poderia contribuir para o futuro destas aldeias, mas para isso, teria de ter o seu povo, hábitos e costumes a habitá-las.

 

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Deixemos este já longo desabafo para trás e passemos à localização e itinerário para lá chegar. Já compreenderam que esta aldeia fica na serra do Barroso, lá bem no alto, mas ali, já, onde ela começa a descer para a Serra da Cabreira. Como temos andado pela Freguesia de Alturas do Barroso/Cerdedo, aliás a aldeia fica mais ou menos entre estas duas aldeias (Alturas e Cerdedo) e desde ambas se pode fazer o acesso a Casas da Serra, mas vou indicar-vos o itinerário que julgo mais interessante, com partida, como sempre da cidade de Chaves, passagem por Boticas e Carreira da Lebre, até aqui não nada que enganar. Logo a seguir à Carreira da Lebre, após passar o rio, vira-se em direção a Carvalhelhos, sem entrar na aldeia, pois imediatamente antes, vira-se à esquerda em direção a Atilhó e Alturas do Barroso. Nas Alturas do Barroso o melhor é perguntar a alguém (há sempre gente nas ruas de Alturas do Barroso) qual a saída para Casas da Serra ou Coimbró, digo isto porque em Alturas do Barroso, vindos de Atilhó, há mais duas saídas, uma para Montalegre e outra para Vilarinho Seco, não é por essas, é pela outra que fica a meio, mas vá por mim, pergunte a alguém na aldeia. Depois de estar na estrada certa, deixe-se ir até encontrar um cruzamento com umas construções (parece-me que de apoio ao parque eólico. Aí vire à esquerda e se passados 900 metros encontrar um pequeno santuário, vai pelo caminho certo, depois, logo a seguir, a menos de 3km, encontrará à direita o desvio para Casas da Serra. Mas ficam os nossos mapas com o itinerário, já é uma ajuda.

 

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Quanto às nossas pesquisas sobre a aldeia, bem vasculhamos os nosso documentos, na internet, em tudo quanto era sítio, mas nada ou quase nada, apenas duas referências à aldeia e uma delas já ultrapassada, duas referência na monografia de Boticas onde refere pertencer à freguesia de Cerdedo (que hoje é Alturas do Barroso/Cerdedo, e a outra que diz: “ Parque Eólico da Serra do Barroso (Casas da Serra – Cerdedo)”, e mais nada.

 

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Com todo o nosso palavreado de hoje, também não tínhamos mais espaço e nem sequer um tema do Barroso, como habitualmente acontece, vamos ter que terminar por aqui. Assim só nos resta deixar aqui o vídeo resumo com todas as fotos do post de hoje.

 

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No entanto não queria terminar sem recomendar uma visita a aldeia, o lugar é bonito e recomenda-se, quanto aos sentires, cada um é cada qual e lá sente à sua maneira, se for um misto de sentimentos, até contraditórios, também não é mau, às vezes são necessários para melhor discernimos as coisas.

 

 Agora sim, o vídeo:

 

 

 

[i] Covelo do Monte, uma aldeia vizinha, completamente despovoada.

 

 

 

22
Jan17

O Barroso aqui tão perto - Festas do S.Sebastião


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Como já vem sendo habitual nos últimos anos, o 20 de janeiro é dedicado às festas do S.Sebastião no Barroso, daí hoje incluirmos esta reportagem na habitual rubrica dos domingos de “O Barroso aqui tão perto…”, que até aqui tem sido dedicado ao Barroso do Concelho de Montalegre , mas hoje, excecionalmente, vamos até ao Barroso de Boticas com os festejos do S.Sebastião, antecipando um pouco a nossa entrada nas aldeias de Boticas. Assim, hoje, apresentamos também aquele que irá ser o cabeçalho de “O Barroso aqui tão perto…” com uma imagem do concelho de Boticas,  para a abordagem que futuramente faremos a todas as suas aldeias.

 

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Então hoje vamos até aos festejos do S.Sebastião da Vila Grande da freguesia de Dornelas e o S.Sebastião das Alturas do Barroso, mas também com uma abordagem à aldeia da Gestosa e Vilarinho Seco, como também um pouco da história do S.Sebastião (Santo) e da mesinha do S.Sebastião (lenda), por partes.

 

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1 - S. SEBASTIÃO

São Sebastião nasceu em Narvonne, França, no final do século III, e desde muito cedo  que os seus pais se mudaram para Milão, onde ele cresceu e foi educado. Seguindo o exemplo materno, desde criança São Sebastião sempre se mostrou forte e piedoso na fé.

Atingindo a idade adulta, alistou-se como militar, nas legiões do Imperador Diocleciano, que até então ignorava o facto de Sebastião ser um cristão de coração.

A figura imponente, a prudência e a bravura do jovem militar, tanto agradaram ao Imperador, que este o nomeou comandante de sua guarda pessoal.

Nessa destacada posição, Sebastião tornou-se  no grande benfeitor dos cristãos encarcerados em Roma naquele tempo.

Visitava com frequência as pobres vítimas do ódio pagão, e, com palavras de dádiva, consolava e animava os candidatos ao martírio aqui na terra, que receberiam a coroa de glória no céu.

Enquanto o imperador empreendia a expulsão de todos os cristãos do seu exército, Sebastião foi denunciado por um soldado.

Diocleciano sentiu-se traído, e ficou perplexo ao ouvir do próprio Sebastião que era cristão. Tentou, em vão, fazer com que ele renunciasse ao cristianismo, mas Sebastião com firmeza  defendeu-se, apresentando os motivos que o animava a seguir a fé cristã, e a socorrer os aflitos e perseguidos.

O Imperador, enraivecido ante os sólidos argumentos daquele cristão autêntico e decidido, deu ordem aos seus soldados para que o matassem a flechadas.

Tal ordem foi imediatamente cumprida: num descampado, os soldados despiram-no,  amarraram-no  a um tronco de árvore e atiraram contra ele uma chuva de flechas. Depois  abandonaram-no para que sangrasse até a morte.

À noite, Irene, mulher do mártir Castulo, foi com algumas amigas ao lugar da execução, para tirar o corpo de Sebastião e dar-lhe sepultura. Com assombro, comprovaram que o mesmo ainda estava vivo. Desamarraram-no, e Irene escondeu-o na sua casa, cuidando das suas feridas.

Passado um tempo, já restabelecido, São Sebastião quis continuar o seu processo de evangelização e, em vez de se esconder, com valentia apresentou-se de novo ao imperador, censurando-o pelas injustiças cometidas contra os cristãos, acusados de inimigos do Estado.

Diocleciano ignorou os pedidos de Sebastião para que deixasse de perseguir os cristãos, e ordenou que fosse espancado até a morte, com pauladas e golpes de bolas de chumbo. E, para impedir que o corpo fosse venerado pelos cristãos, jogaram-no no esgoto público de Roma.

Uma piedosa mulher, Santa Luciana, sepultou-o nas catacumbas. Assim aconteceu no ano de 287. Mais tarde, no ano de 680, as suas relíquias foram solenemente transportados para uma basílica construída pelo Imperador Constantino, onde se encontram até hoje.

Naquela ocasião, uma terrível peste assolava Roma, vitimando muitas pessoas.

Entretanto, tal epidemia simplesmente desapareceu a partir do momento da transladação dos restos mortais desse mártir, que passou a ser venerado como o padroeiro contra a peste, fome e guerra.

As cidades de Milão, em 1575 e Lisboa, em 1599, acometidas por pestes epidêmicas, viram-se livres desses males, após atos públicos suplicando a intercessão deste grande santo.

 

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2 - A LENDA DA MESINHA DE S.SEBASTIÃO

 

Reza a lenda,  que há muitos, muitos anos, houve nesta região um ano de muita fome e peste, que também atingiu os habitantes do “COUTO”.

Foram tantos os mortos, que os mais crentes apelaram a S. Sebastião para que os protegesse de tal flagelo:

“Se a doença se afastasse, se os doentes melhorassem e os animais escapassem, prometiam realizar anualmente, a 20 de Janeiro, uma festa onde não faltasse carne e pão para quantos a ela comparecessem.”

 

Como o Santo não faltou, cumpriu-se o prometido e assim se fez ao longo dos tempos, mas, com o passar dos anos, o povo foi ficando esquecido, desleixado e possivelmente mal agradecido. Um ano, não se sabe por que motivo, a festa não se realizou. O povo ficou assim, sem a proteção do santo, advogado da fome, da peste e da guerra registando-se graves problemas nesta localidade.

Conta ainda a lenda, que em 1809 (ano em que Napoleão, imperador de França, mandou invadir pela segunda vez Portugal) as tropas entraram por Chaves, a caminho do Porto, passando pelas terras do “Couto”. A má fama dos invasores já tinha chegado às nossas gentes, que atemorizadas pela eminente invasão e suas consequências (pilhagens, mortes, violações, etc.) saíram às ruas com a imagem de S. Sebastião e acolhendo-se à sua proteção, renovaram a promessa: «… Se os invasores não entrarem no Couto faremos todos os anos, dia 20 de Janeiro, uma festa em tua honra, onde não faltará comida a toda a gente que a ela vier…»

Diz a lenda que caiu tal nevão à volta do Couto, que obrigou os invasores a desviarem-se do seu caminho deixando em paz estas “gentes”.

 

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3 - Mesinha de S.Sebastião na Vila Grande

 

As fotos que têm ficado até aqui são da mesinha de S.Sebastião da Vila Grande, da freguesia de Dronelas. A introdução com a história do Santo e da Lenda apenas se deve a que muitos populares, incluindo da Vila Grande, associam o início destes festejos às segundas invasões francesas. Ora na deslocação deste ano um natural da aldeia puxava o assunto à baila, onde afirmava que teve acesso a documentos em que provavam que os festejos da Vila Grande já se realizavam muito antes das Invasões Francesas. Dada a história do santo, a sua data de nascimento e ao ser venerado como padroeiro contra a peste, a fome e a guerra, entre outros, é natural que os festejos já venham de há longa data, como também é natural que lhe dessem mais significado e importância a partir das segundas invasões francesas.

 

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Quanto à mesinha de S.Sebastião da Vila Grande já nos anos anteriores deixei por aqui o seu funcionamento, mas eu volto a repetir num breve apontamento.

 

Ao longo da rua principal da aldeia é colocada uma mesa com mais de 500 metros de comprimento, que é coberta com uma toalha de linho onde são colocados um pão, uma caçarola de arroz e um naco de carne de porco, distanciados de aproximadamente um metro. Antes da distribuição há uma missa, depois a bênção do pão e só depois começa a distribuição da comida, antecedida pelo pedido de “esmola” ou ajuda para as despesas (cada um dá o que quer) e o beijar do S.Sebastião.

 

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No entanto o preparar da festa pelas gentes da aldeia começa muito antes. O Pão começa a ser cozido no forno com 4 dias de antecedência, cozendo ininterruptamente durante esses 4 dias fornadas de 35 a 40 pães de cada vez até atingirem os 1200 pães necessários para a festa, dos quais 400 pães são para colocar na mesinha de S.Sebastião e os restantes para vender aos visitantes, pão esse que é composto por uma mistura de milho, centeio e trigo. . Quanto ao arroz, 110 Kg,  e à carne, mais de 400 postas,  são cozinhados durante toda a noite para começarem a ser distribuídos a partir do meio-dia. A cozedura do pão é feito por turnos de 7 a 8 pessoas durante os 4 dias.

 

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Claro que na noite que antecede a mesinha de S.Sebastião,  grande parte da população da Vila Grande envolve-se com os trabalhos da festa para logo de madrugada começar a receber os primeiros peregrinos.

 

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Peregrinos que vêm de todo o lado, principalmente do Norte de Portugal, com maior participação da gente do Barroso e do Minho, individualmente, em grupos de amigos ou mesmo em excursões que aos poucos vão enchendo toda a rua ao longo da Mesinha de S.Sebastião, ao longo da qual vão reservando lugar e petiscando nas merendas que vão trazendo.

 

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Também o pessoal da imprensa nacional e estrangeira (jornais e televisões) não são alheios à festa, mas também um elevado número de fotógrafos amadores individuais ou de associações, como é o caso do nosso grupo de Associados Lumbudus que marcámos sempre presença ou elementos da Associação Portografia do Porto, este ano com pelo menos 5 associados.

 

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Quanto aos preparativos da festa, tal como dissemos, começa pelo menos com 4 dias de antecedência com o cozer do pão. Quanto à Mesinha do S.Sebastião, comido o pão, o arroz e as postas de carne, o pessoal destroça e quase como num milagre, desaparece num instante, tanto que por volta das 2 da tarde a mesa está completamente vazia, mas claro que há uma razão para tal, é que o S.Sebastião não se comemora só na Vila Grande, pois na aldeia vizinha das Alturas do Barroso também há festa e em Salto, um pouco mais à frente, idem aspas. Mas estas com características diferentes.  Claro que nós também não somos exceção e acabada a festa na Vila Grande também rumámos  os nossos destinos até as alturas do Barroso, mas por etapas.

 

 

4 – Gestosa

 

A caminho das Alturas do Barroso passa-se ao lado da Gestosa. Todos os anos parámos lá num alto onde a aldeia se vê juntinha ao lado de um verdejante vale. Todos os anos ficamos com o apetite de a visitar, mas este ano não resistimos e fizemos o desvio para uma visita breve mas também para ir adiantando trabalho de levantamento fotográfico da aldeia como memória futura para um devido post dedicado à aldeia.

 

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Para já fica a informação de que gostámos daquilo que vimos, pois se lá de cima é interessante, o seu interesse aumenta quando lhe entramos na intimidade, mas descrições ficam para o tal post futuro. Mas gostámos tanto que lhe dedicamos a nossa imagem de arte digital

 

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5 - Vilarinho Seco

 

Vilarinho Seco é de paragem obrigatória para repor forças, nem que seja só com um café que é sempre bem acompanhado, quer pelos amigos do costume quer pelos improvisados concertos de cantares acompanhados pelas concertinas dos vários grupos minhotos que invadem estas festas.

 

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Mas claro que não resistimos a tomar mais umas fotos daquelas que é uma das aldeias mais interessantes de todo o Barroso, também para memória futura de um post que surgirá quando passarmos definitivamente para o Barroso do Concelho de Boticas. Mas desta vez, além das imagens registámos também em vídeo a improvisada atuação de um duo que tanto quanto entendi era a primeira vez que tocavam juntos.

 

 

Claro que a paragem por Vilarinho Seco é sempre breve pois o destino é mesmo Alturas do Barroso par terminar o dia, que ainda só vai a meio.

 

 

6 – Alturas do Barroso

 

Aqui os festejos em honra do S.Sebastião são outros. Em conversa com uma natural das alturas, perguntava-me de qual das festas gostava mais, se a da Vila Grande ou das Alturas. A resposta foi a politicamente correta – Gosto das duas. Mas além de politicamente correta também foi sincera, pois ambas as festas são interessantes, apenas são diferentes, mas há sempre coisas que gostámos mais numa festa do que na outra, mas já lá vamos.

 

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Desde criança que oiço falar das Alturas do Barroso e dos Cornos do Barroso, curiosamente só há anos soube que a aldeia das Alturas está juntinha aos Cornos do Barroso e daí, suponho, a proveniência do topónimo, pois de facto, a aldeia implantada a quase 1200 metros de altitude é a mais alta que se localiza na Serra do Barroso.

 

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Mas como se não bastasse ouvir falar da aldeia desde miúdo, quando comecei a ler a obra de Miguel Torga tropeço com dois momentos registados por torga nessa aldeia, o primeiro data de 1956 que passo a transcrever:

 

Alturas do Barroso, 27 de Junho de 1956

 

Entro nestas aldeias sagradas a tremer de vergonha. Não por mim, que venho cheio de boas intenções, mas por uma civilização de má-fé que nem ao menos lhe dá a simples proteção de as respeitar.

 

Miguel Torga in “Diário XI”

 

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O segundo momento de Torga, mais recente, data de 1991:

 

Alturas do Barroso, 1 de Setembro de 1991

 

Incansavelmente atento às lições do povo, venho, sempre que posso, a este tecto do mundo português, admirar no adro da Igreja, calcetado de lousas tumulares, o harmonioso convívio da vida com a morte. Os cemitérios actuais são armazéns de cadáveres desterrados da nossa familiaridade, lacrimosamente repetidos do seio do clã mal arrefecem, cada dia menos necessários, no progressivo esquecimento, à salutar percepção do que significam na dobadoira do tempo. Ora, aqui, cada paroquiano pisa, pelo menos dominicalmente, a sepultura dos ancestrais, e se liga a eles, quase organicamente. Vive, numa palavra, referenciado. Sabe que tem presente porque houve passado, e que, mais cedo ou mais tarde, enterrado ali também, será para os descendentes consciência e justificação do futuro.

 

Miguel Torga, in Diário XVI

 

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E faço minhas as palavras de Torga, principalmente estas: - “Entro nestas aldeias sagradas a tremer de vergonha”, sim, é verdade e tal como Torga – “Não por mim, que venho cheio de boas intenções,” mas por medo a que as pessoas pensem que as minha intenções não são boas, mas ainda   – “Incansavelmente atento às lições do povo, venho, sempre que posso” o que também é verdade, pelo menos desde que descobri esta aldeia, é sempre com gosto que regresso a ela, nem que seja e só por altura do S.Sebastião, mas passo por lá mais vezes.

 

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Pois além da curiosidade que tinha desde miúdo, Torga aguçou-me o interesse em conhecer também esta aldeia e também como ele apreciei a aldeia, o seu povo, o casario e a festa do S.Sebastião.

 

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Pois quanto à festa só lhe conheço o lado profano, aquele do comer e beber, pois nunca tive a honra de assistir à parte religiosa, que suponho que obrigatoriamente existira.  Tudo porque os da Vila Grande, como já atrás referi, só têm festa da parte da manhã e assim vamos deixando as Alturas para a parte da tarde, mas fica a promessa que numa das próximas vezes invertemos a ordem.

 

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Pois quanto à parte que assistimos, é em quase tudo diferente da festa da Vila Grande. Começando que a das Alturas é feita debaixo de teto e a ementa é servida em prato. Uma feijoada da boa, um copo de vinho e um pão. Segundo consta, pois nunca estivemos até ao fecho, a festa prolonga-se pela noite adentro, enquanto houver peregrinos com vontade de comer.

 

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Mas claro que a parte do comer é só um breve momento, pois a festa esta lá dentro mas também à porta ou nas ruas da aldeia. Os improvisados concertos de cantares ao som da concertina são uma constante onde menos se espera ou melhor, em todos os lugares.

 

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Uma visita, passeio, pelas ruas da aldeia também é obrigatório e se houver um pouco de conversa com as suas gentes, tanto melhor, e desta vez até fomos felizes nesta parte, pois além de fotos consentidas ainda tivemos direito a uma demonstração de como se lança o peão e uma história das antigas, também com direito a imagens, mas também estas ficam para um post futuro dedicado à aldeia, com o S.Sebastião de parte, embora a referência seja obrigatória.

 

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E quase a terminar há que referir a simpatia das pessoas das Alturas, não só as que estão envolvidas no trabalho de dar de comer e beber a tanta gente mas também da aldeia em geral.

 

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E não só, pois a aldeia também surpreende pela gente jovem, coisa que já vai sendo raro nas aldeias barrosãs e em geral do interior transmontano. Pelo menos do dia de S.Sebastião assim é.

 

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E por fim, ficam as fotos prometidas e consentidas, ah! e já ia esquecendo, este ano o S.Sebastião aconteceu em plena vaga de frio polar, talvez por isso não havia neve como em alguns dos anos anteriores e o sol apareceu com a sua alegria do costume…

 

E quanto às festas do S.Sebastião, até pró ano!

 

 

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