Vilar de Perdizes - Montalegre -Barroso
O Barroso aqui tão perto
O nosso destino de hoje para o Barroso aqui tão perto, é mesmo perto, a apena 25km e 30 minutos de distância, isto se não pararmos pelos pontos, lugares, de interesse que temos pelo caminho. Mas deixemos as paragens e vamos diretos até Vilar de Perdizes, o nosso destino.
Mas aqui, vamos diretos até Vilar de Perdizes, sem paragens, isto porque há muito a dizer sobre esta aldeia, tanto, que se calha, até vamos ter de fazer esta abordagem em mais que um post. Mas ainda estamos no início do post e logo se verá como vai decorrer esta abordagem e o que fazer com a informação e dados que temos.
Como já dissemos no início, Vilar de Perdizes fica mesmo aqui ao lado. O itinerário a partir da cidade de Chaves é via estrada do S.Caetano (Soutelinho da Raia). Logo ao passar ao lado de Soutelinho entramos no concelho de Montalegre, e logo a Seguir a primeira aldeia de Montalegre, Meixide, no final da qual a estrada bifurca, com ambos os destinos a indicar-nos Montalegre, mas é pelo da direita que devemos optar. Depois, uns quilómetros a seguir temos Vilar de Perdizes. Mas para não haver dúvidas, fica o nosso mapa.
Também como dizia atrás, motivos para abordar Vilar de Perdizes não faltam. Começando pela aldeia em si e pelas suas características singulares, pela sua história, pelas Olas de Santa Marinha, os penedos, os Congressos de Medicina Popular, os Autos da Paixão, o Padre Fontes e até o pão, mas também o fator humano, afinal de contas quem faz as terras é a sua gente, e tirando os agentes naturais que criaram alguns destes motivos de interesse, como as Olas de Santa Marinha, já quanto ao resto são precisas pessoas para que tal aconteça, quer para construir e habitar o casario, atores para os Autos da Paixão, organizadores de eventos como o Congresso de Medicina Popular, e aí, impõe-se o nome de um Barrosão – O Padre Fontes.
Pela nossa parte fomos descobrindo Vilar de Perdizes ao longo dos anos e ainda continuamos nessa descoberta, pois de cada vez que lá vamos descobrimos pormenores preciosos, alguns deles com a ajuda do Padre Fontes, pois sem o conhecimento e saber dele, nunca lá chegaríamos, mas outros formos descobrindo de livre iniciativa, como a descoberta das Olas de Santa Marinha, onde lá fomos pela primeira sozinhos, num dia em que saí de casa à caça de imagens sozinho e sem destino, o que acabou por ser uma autêntica aventura, que vou partilhar, pois embora tivesse terminado bem, a mim serviu-me de exemplo.
As Olas de Santa Marinha
Então foi assim: Saí de casa sem destino, pelo caminho lembrei-me de que estava a decorrer o Congresso de Medicina Popular em Vilar de Perdizes e para lá rumei. Chegado lá, num dia que recordo ter sido bem quente, a aldeia estava à pinha de gente e sem lugar onde poisar o carro próximo do local do congresso. Dia bem quente, muita gente, não se mostrou muito agradável andar por alí à torreira do sol. Vai daí, estava na dúvida de se havia de ficar ou continuar para outro destino, até que no decorrer deste impasse, vi a Placa a Indicar as Olas de Santa Marinha. Foi assim como uma luz que de repente se fez à minha frente, e bota a seguir a placa. Mas à frente outra placa, depois mais uma ou duas e passados uns quilómetros em terra batida lá estava eu em Santa Marinha, lá no meio do monte, ao fundo num pequeno largo plano, com um cruzeiro e uma pequena capela. Desci até lá.
Chegado ao largo, depois de apreciar a pequena capela, o cruzeiro e a paisagem que desde ali se alcançava vi uma placa a indicar Olas de Santa Marinha. Segui o trilho, uma descida bem acentuada até que lá cheguei. Sem dúvida coisa bonita de se ver, um curso de água que depois vim a saber ser o Rio Assureira, um rio “estouvado” como eu costumo dizer, tudo porque corre ao contrário, ou seja, nasce em Portugal e corre para a Galiza, servindo mesmo de fronteira ao longo de 5km, para depois dar umas voltas na Galiza e desaguar no nosso Rio Tâmega (mas ainda na Galiza).
Mas ia dizendo que finalmente estava nas Olas, em pleno verão quente e seco que estava bem refletido no curso de água do Rio Assureira, ou seja, apenas um fio de água. Mas mesmo assim, a beleza das Olas estava lá, mas sem água. Era notório que com água aquilo devia ser um espetáculo, de correntes, rápidos de água e cascacatas, mas naquele dia, nada, ou quase nada, apena um fio de água que no meio dos rochedo nem sequer se via, mas sabíamos que existia porque entre duas rochas mais altas a ouvíamos cair, mas não a víamos. Para a ver, só descendo para uma poça seca que havia por baixo dessas rochas, talvez dois metros abaixo. A hipótese de conseguir um arrasto do fio de água a cair, levou-me ao disparate de descer até essa poça, tipo cova, com a única saída pelo local de descida, mas na altura só pensei em descer, pois assim não teria ido em vão até às olas, mas fui mesmo, pois o fio de água existia, mas lá para o fundo, no meio da escuridão, impossível de captar em fotografia, e aí começam os problemas, pois descer até foi fácil, mas agora, lá em baixo, a curvatura e lisura das rochas não me permitiam sítios onde me agarrar e depois havia o problema das máquinas fotográficas, duas, que sem elas, talvez conseguisse arranjar forma de subir, mas com elas era mais complicado.
Estudadas as hipóteses de sair, havia três: Uma, esperar que aparecesse alguém para me ajudar a sair; a segunda deixar as máquinas e tentar sair; a terceira e última, tentar sair com as máquinas. Analisados os prós e contra de cada, na primeira hipótese, nesse dia seria pouco provável que alguém aparecesse por lá, é que, entretanto, o dia avançou e estava já próximo do por do sol, depois estava sem telemóvel e se o tivesse o mais provável era não ter rede e por último ninguém sabia que eu estava ali. Pus esta hipótese de parte, pelo menos enquanto não tentasse as outras duas. Quanto às máquinas, eram as únicas que tinha, subir sem elas seria o mesmo que ficar sem elas e sem fotografias, assim, só restava mesmo tentar subir com tudo. Certo que as máquinas iriam sofrer as consequências das pancadas, mas talvez se aproveitasse alguma coisa. Pois não sei como, mas depois de muito tentar, de uma e outra forma, lá houve uma que me tirou de lá, e sem qualquer consequência para as máquinas fotográficas. Tive sorte, mas serviu-me de exemplo. A partir de aí, continuo a fazer alguns desses disparates, mas nunca sozinho e tenho o cuidado de dizer sempre a alguém para onde vamos.
Desculpem lá esta estória da minha primeira vez nas Olas de Santa Marinha, mas pode servir de exemplo para outros, com uns conselhos: Antes de entrarem num sítio complicado ou esquisito, vejam sempre por onde e como sair; Nunca irem sozinhos para sítios complicados; Dizerem sempre a alguém para onde vão ou pensam ir.
Bem, claro que a minha primeira vez nas Olas de Santa Marinha ficou registada para todo o sempre, mas também com vontade de lá voltar, não no verão ou mesmo outono sem chuvas, mas durante o inverno ou primavera depois de ano chuvoso, isto para garantir que as olas estão com todo o seu esplendor, das suas cascatas e rápidos de água. Depois dessa primeira vez, já lá fui mais uma meia dúzia de vezes, e continuarei a ir… mas sempre acompanhado.
Num post que já previa longo, já vou com uma dúzia de parágrafos e ainda não entramos em Vilar de Perdizes, ou melhor, já entrámos, mas saímos logo. Agora vamos ficar, com esta aldeia singular, com um micro clima que lhe permite ser como um oásis no meio do deserto, no caso, um oásis no meios do agreste Alto Barroso, pese a presença nem próxima da Serra do Larouco.
Um pequeno oásis onde se dão as culturas todas, inclusive a vinha. Ainda há dias perguntava ao Padre Fontes se ainda se fazia vinho em Vilar de Perdizes e a resposta do padre, a sua maneira, foi pronta: “Todas as casas têm lagar”. Claro que se todos os lagares seguirem o exemplo do lagar do Padre Fontes, em vez de la se fazer vinho, armazena-se cultura, pois é na “casa” do lagar que ele tem a sua biblioteca, incluindo dentro do lagar. Assim, condições para se fazer vinho em Vilar de Perdizes, ainda há, faltará é gente para o fazer, ou talvez não, pois as terras mais planas continuam a ser tratadas e cultivadas com as mais variadas culturas, mesmo dentro de Vilar de Perdizes, a parte mais baixa é quase na sua totalidade coberta por hortas.
Quanto à implantação de Vilar de Perdizes, subindo à cruz desde onde tomámos a nossa fotografia panorâmica (a primeira do post”) são notórios dois núcleos mais antigos, que outrora estariam separados (tipo Vila e Portela de Montalegre) mas que hoje estão unidos por casario mais recente, que também se expandiu em todas as direções a partir dos antigos núcleos consolidados.
Quanto a pontos de interesse na aldeia, são vários, começando pelo Paço de Vilar de Perdizes, cuja descrição tomei emprestada dos “monumentos.pt” (os negritos e sublinhados são nossos):
Compõem-se de solar, um hospital, as ruínas da antiga capela de Santa Cruz, a capela actual, uma botica e uma casa em ruínas, dispondo-se desalinhados, oblíquos entre si e conflituosamente próximos. (…) Arquitectura residencial e de saúde, seiscentista, barroca e neoclássica. Solar barroco, de planta rectangular, fachadas de dois pisos rebocadas, com pilastras nos cunhais e terminadas em cornija, rasgadas por vãos de molduras simples. Fachada principal aberta no primeiro piso por três portas largas e no segundo por janelas de peitoril, tendo acesso ao andar nobre por escada descentrada, com guarda plena e alpendre no topo assente em colunas toscanas.
(…) Antigo hospital maneirista, de planta rectangular, com cunhais apilastrados e remate em cornija, com fachada principal de dois panos, um deles rasgado por portal de verga recta inscrita e encimada por frontão de volutas interrompido por nicho. Capela de planta longitudinal, com fachada principal terminada em empena, rasgada lateralmente por janelas, espaço único no interior com retábulo neoclássico, de talha policroma, de planta recta e três eixos. Complexo de grande valor histórico constituído por solar e hospital, botica, capela e cruzeiro junto ao caminho de Santiago e de apoio aos peregrinos, referindo-se o facto de dois mapas galegos, um de 1598, de F. Fer Ojea, editado em Amberes, e outro de 1608 apócrifo, incluírem Vilar de Perdizes nos Caminhos de Santiago e não a maior parte das cidades portuguesas junto à fronteira, nomeadamente Bragança. Constitui um dos poucos, senão único, Morgadio em Portugal que se sabe ter sido instituído por comenda pontifícia. (…)
Mais pontos de interesse repartem-se pelas fontes de mergulhos e os fornos comunitários, mas também pelo casario a Igreja de S.Miguel, o Deus Larouco, e a Capela da Nossa Senhora das Neves.
Deus Larouco
Igreja de São Miguel e o Deus Larouco
O deus Larouco, um deus pagão e a Igreja de São Miguel, igreja cristã, aparentemente não combinam muito bem, mas é assim mesmo, estão intimamente ligados, pois a imagem esculpida em pedra do deus Larouco está incrustado na igreja de São Miguel, ou seja, a pedra com a imagem do deus Larouco é uma das pedras de uma das paredes da Igreja. Atualmente não está visível, pois o pavimentos e estrutura do coro tapa-a e protege-a da vista dos cristãos e qualquer outro. Para a ver é necessário subir ao coro e graças a um alçapão lá colocado consegue-se ver. Embora na nossa foto apareça direita, na realidade a imagem está colocada na horizontal, quiçá propositadamente.
Imagem do deus Larouco, que dá o nome à Serra do Larouco e pensa-se ter sido o deus patrono do Altar de Pena Escrita, que se encontra também nas imediações de Vilar de Perdizes. A figura foi encontrada pelo Padre Fontes, dando-a a conhecer a investigadores do lado de cá e da Galiza. A figura em relevo esculpido na pedra apresenta uma figura antropomorfa de masculinidade indiscutível, visível por ter um enorme falo e um tronco desproporcional relativamente às pernas, indicando o seu carácter como deus da fertilidade. Numa das suas mãos tem um martelo, possivelmente um indicador que Larouco também seria um deus do trovão ou da metalurgia, um Deo Máximo como indica uma das aras votivas encontradas nas imediações do Altar de Pena Escrita.
A Igreja Matriz de Vilar de Perdizes, também conhecida como Igreja de São Miguel, com uma arquitetura interior e exterior interessante. A sua história poder remontar a uma altura prévia ao séc. XI. Em Vilar de Perdizes acredita-se que Igreja Matriz remonta ao ano de 1200 e foi fundado por um padre, filho da célebre Maria Mantela, de Chaves.” É a lenda da Maria Mantela a torna-se realidade.”, mas quem somos nós para duvidar de tal.
Capela de Nossa Senhora das Neves
A capela é um pequeno volume de planta longitudinal, com telhado de duas águas e um único espaço interno. Enquadra-se num tipo de arquitectura religiosa vulgar, intemporal, sem características formais ou decorativas notáveis. Implanta-se numa das entradas da povoação, que por sua vez integrava um dos itinerários de peregrinação para Santiago de Compostela, como aliás comprova a existência de um "hospital" no Paço de Vilar de Perdizes , com obrigação de albergar e apoiar os peregrinos. Embora a capela não atinja qualquer distinção no plano arquitectónico, o programa iconográfico descoberto merece toda a distinção e relevo. As pinturas organizam-se numa estrutura retabular tripartida, perspectivada, a imitar talha dourada maneirista. A imagem do "Padre Eterno" coroa a secção central e os restantes painéis relatam o "Milagre de Nossa Senhora das Neves" com a fundação da igreja de "Santa Maria Magiore" em Roma. Segundo o parecer do Prof. Luís Afonso as pinturas «destacam-se claramente no panorama fresquista português pela elevada qualidade técnica que possuem e pela sua erudição plástica (...) são pinturas que desenvolvem um discurso narrativo bastante complexo e apresentam uma virtuosa linguagem maneirista ... ». Ainda segundo o mesmo investigador, «estamos em presença de um dos melhores testemunhos de pintura mural da segunda metade do século XVI que o país possui.»
Congressos de Medicina Popular, sextas-feiras 13 e padre Lourenço Fontes
António Lourenço Fontes, mais conhecido por Padre Fontes, nasceu Cambezes do Rio, Montalegre, em 22 de fevereiro de 1940. De uma família tradicional barrosã, com 12 filhos, todas ansiavam que um deles fosse padre, e foi assim que o António Lourenço Fontes Ingressou no seminário em Vila Real, em 1950, saiu em 1962, padre católico para regressar ao Barroso para junto dos seus, tendo sido pároco de Tourém, Pitões das Júnias e Covelães (1963-71), passando depois a pároco de Vilar de Perdizes, Meixide e Soutelinho da Raia, desde 1971 até à sua reforma recente, tendo ainda sido pároco de Mourilhe (2002-2005), fixando residência em Vilar de Perdizes. Em 1980 concluiu a licenciatura em História na Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 1980.
Segundo as suas palavras, em “Porque amo Barroso e o sirvo” António Lourenço Fonte afirma:
“Sou apaixonado pela terra barrosã, minha pátria materna, quanto mais a conheço, mais a amo e me identifico com ela. A sua cultura é a sua e minha identidade que mantenho e não queria perder apesar das pressões de outras e diferentes.”
E no mesmo espaço afirma ainda:
“Sendo Padre procurei sempre beber a religião do povo, aculturando-me a ela, imbuindo a vida profana de religião popular. Corpo e espírito juntam-se em harmonia, religião e cultura indissociáveis, progresso material sempre acompanhando o espiritual ancestral…
De facto o Padre Fontes não se limitou a ser Padre, teve desde início uma ampla ação cívica, social, cultural e literária sendo o principal impulsionador do Congresso de Medicina Popular, em Vilar de Perdizes, que se realiza-se desde 1983, que atrai desde cientistas e investigadores, a curandeiros, bruxos, videntes, médiuns, astrólogos, tarólogos, massagistas, muitos curiosos e turistas. Foi também o impulsionador das "Sextas-Feiras 13" em Montalegre, que se realizam desde 2002, em que a Câmara de Montalegre organiza a "Noites das Bruxas", que decorrem em todas as "Sextas-feiras 13", e já fazem parte integrante do calendário cultural da região e são consideradas uma das maiores festas de rua em Portugal.
O Padre Lourenço Fontes editou e colaborou em várias obras: Etnografia Transmontana (2 volumes), Usos e Costumes de Barroso, Milenário de S. Rosendo, Antropologia da Medicina Popular Barrosã, Chegas de bois, Raça Barrosã, Las fronteiras invisibles, Contos da raia, Crenzas e mitos da raia seca ourensana, Ponte da Mizarela, ponte do diabo, Roteiro dos castros de Montalegre, Roteiro dolménico de Montalegre. Tem ampla colaboração em vários jornais e revistas regionais. Fundou e dirigiu o mensário Notícias de Barroso de 1971 a 2006. Exerceu as funções de empregado, chefe de pessoal nos Serviços Médico Sociais de Vila Real (Montalegre), de 1973 até 1990. Exerceu as funções de Secretário do gabinete da Presidência na Câmara Municipal de Montalegre desde 1990 a 2000 e reformou-se. Dirige no Centro Social Paroquial de Vilar de Perdizes, de que é fundador e presidente, jardim de infância, agora centro de dia, cursos de formação: artesanato da lã e do linho (1986); Plantas aromáticas em 1998, apicultura (1985), de serigrafia, artes decorativas. Fez centenas de conferências por todo o país e no estrangeiro, em universidades, grupos culturais, escolas, autarquias, congressos, etc.. sendo um dos habituais conferencistas dos Congressos Internacionais de Animação Sociocultural. Organizou vários congressos internacionais: Milenário de São Rosendo (77), Centenário de S. Bento (81); caminhos de Santiago (82); Medicina Popular, (desde 83), 2 de religiosidade popular (84-85) um de arquitetura popular (84 ). 17 encontros de cantadores ao desafio e concertinas, pelo Natal.
Varias vezes entrevistado pelos media nacionais e estrangeira, incluindo as televisões RTP, TVE, TVG. Participou em filmes rodados na região: “Terra de Abril”, “Terra Fria”,”5 dias e 5 noites”, “Não cortes o cabelo que meu pai me penteou”, “Os demónios”, e em documentários da BBC, TV da Holanda e França, UNESCO, Odisseia, etc.
O Padre Fontes foi nomeado com o título de "O Maior Arraiano 2010" pela Associação Os Arraianos.
Em 2012, por iniciativa dos deputados eleitos pelo distrito de Vila Real foi solicitado ao Presidente da República Portuguesa, Cavaco Silva, que o Padre Fontes fosse distinguido com a Ordem do Mérito. Nunca lhe foi atribuída.
Sobre o Padre Fontes, sempre pronto para divulgar e enaltecer o Barroso, conhecedor como ninguém desse torrão, é um autêntico embaixador do Barroso e um dos seus ícones. Embora com busto em Vilar de Perdizes e dar nome ao Ecomuseu de Barroso como Espaço Padre Fontes, é muito pouco para a sua grandeza, merece um reconhecimento maior, e seria bom que ainda o tivesse em vida. Da nossa parte ficou hoje aqui um bocadinho do seu ser, muito pouco, quase nada, mas oportunidades não faltarão para um destes dias voltar por aqui.
Vejamos também o que se diz sobre Vilar de Perdizes na Monografia de Montalegre:
Achados - Moedas
Os achados de conjuntos monetários mais importantes são os de Penedones (doze denários de prata que se perderam), da Vila da Ponte (cinco excelentes denários de prata e alguns bronzes médios), Minas da Borralha com mais de 3 mil médios bronzes e Montalegre, com mais de novecentas peças, quase todas denários com magro banho de prata. As moedas destes achados não ultrapassam o século III. Da mesma altura são as aras votivas a várias divindades, que os romanos acolheram, como o Deus Larouco (Vilar de Perdizes); outras dedicadas ao deus Júpiter (Vilar de Perdizes e Chã);
Das ermidinhas, que o estro de Junqueiro abençoa, destacamos quer pela beleza paisagística do local, quer pelo encanto do conjunto “Construção humana e Natureza envolvente”: Nossa Senhora das Neves (São Lourenço) e São Tiago (Fafião), na freguesia de Cabril; Senhor do Alívio, em Salto; Senhora do Monte (Serra do Barroso); São Frutuoso (Montalegre); Santo Amaro (Donões); Santa Marinha, em Vilar de Perdizes;
Os Penedos
São célebres por conterem inscrições ou gravados e, portanto, históricos: O penedo de Rameseiros, o afloramento de Caparinhos, o Altar de Pena Escrita (Vilar de Perdizes),
“Sinais dos tempos” Vários outros monumentos da romanização se descobriram e permanecem cá testemunhando a sua origem e finalidade: marcos miliários em (Padrões, Currais, Travaços e Arcos) aras romanas em (Vilar de Perdizes, Pitões e São Vicente da Chã) estelas funerárias (Vila da Ponte/ Friães), o célebre Penedo de Rameseiros (Vilar de Perdizes) e outros.
Em prol do turismo
Congresso de Medicina Popular Há umas décadas um cura de Barroso decidiu organizar um congresso de Medicina Popular. Foi o padre Fontes. Inicialmente acorria ao evento gente de todas as condições ávidas de cultura e tradições. Eram presentes médicos, cirurgiões, especialistas de nomeada e, obviamente, também apareciam os “vendedores de banha de cobra”. A breve trecho eram muitos mais os “endireitas” do que os cientistas. Às centenas, apareciam endireitas, mulheres “de bertude”, rezadeira, cortadores de coxo e de todos os males humanos. Não faltam ainda os figurões das “garrafadas” que curam o cancro, todos os cancros, expulsam os demónios, etc. Vendem licores de todo o género, chás, infusões, e até os “bruxos” estão presentes. Passam três dias em Vilar de Perdizes e, por isso, a terra é mais conhecida que as Caldas de Chaves. Apareçam e verão milhares de pessoas atarefadas à procura do mito! A par deste fenómeno, são evidentes os sinais de crescimento do concelho de Montalegre a vários níveis mas nota-se que o motor desse crescimento é o turismo. Tudo devido á sub-região ecológica.
As Festas
Por falarmos em festas, algumas ocorrem cada ano por toda a região. As de mais nomeada e tradição são as festas concelhias ao Senhor da Piedade, que se realizam na capital, durante a primeira quinzena de Agosto; a de Salto, à Senhora do Pranto, em 1 de Agosto; a de Vilar de Perdizes, à Senhora da Saúde, a meados de Junho; as das sete Senhoras, todas elas Nossa Senhora dos Remédios, em sete localidades diferentes de Barroso, no dia 8 de Setembro, etc.
Santo André, como Solveira, foram desmembradas da sub-zona denominada Vilar de Perdizes a que pertenciam. Ao conseguirem as suas autonomias escolheram os patronos que já antes admiravam e invocavam. Até há poucos anos ainda se identificavam deste modo: Vilar de Perdizes (Santo André) e Vilar de Perdizes (São Miguel). É terra bastante fértil, com alguma fruta.
Vilar de Perdizes
A par de Salto e Tourém é das mais cosmopolitas freguesias do concelho, afora Montalegre. Outra zona barrosã testificadamente habitada desde remotas eras, como se prova numa inventariação sumária dos seus monumentos: as inscrições pré-históricas de Caparinhos (gravuras rupestres de controvérsia leitura); o altar sacrificial da Pena Escrita; as duas aras romanas achadas na abertura da estrada para Meixide e Chaves, uma dedicada ao Deus dos Deuses, Júpiter, e outra dedicada ao Deus local Larouco; e a grande inscrição do Penedo de Rameseiros cuja interpretação não consegue recolher consensos. Tal riqueza arqueológica e tão diversificada não é usual em meios pequenos. Mas a riqueza continua no que sabemos da sua igreja de São Miguel e no Solar, que foi berço de filhos de algo, e junto do qual floresceram o Hospital e a Capela de Santa Cruz, destinados a prestar apoio físico e espiritual aos peregrinos de Santiago de Compostela e do Cristo de Ourense que por ali passavam, vindos dos lados de Chaves Alto Douro, Beiras e Castela.
Desta freguesia desligaram-se as duas vizinhas de Solveira (Santa Eufémia) e Santo André e todas pertenceram, por poucos anos, até á sua extinção, ao concelho de Couto de Ervededo.
Modernamente Vilar de Perdizes entra na moda das notícias televisivas por apadrinhar um evento sociocultural que é o Congresso de Medicina Popular. Admira que alguns, ditos intelectuais, lancem farpas ao dito como se estivéssemos ainda no século VI, do São Martinho de Dume, a combater pagãos e as heresias dos maniqueístas e arianos… Recusamo-nos a que nos lancem o anátema de pagãos e hereges pelo facto de querermos alcançar, enquanto é tempo, os saberes (no campo da farmacologia, da medicina e das tradições) dos nossos avós!
Esperemos que a gente de Vilar continue a acarinhar as ervas com que se fazem mezinhas, defumatórios, infusões e chás que nos debelam as dores do corpo e nos dulcificam as dores do espírito! Estão em fase de conclusão os roteiros arqueológico e do contrabando, que a pé e a cavalo de burros irão permitir a visita aos locais que melhor defendem a identidade de Vilar de Perdizes.
E agora vamos até à toponímia de Barroso e ao que lá se diz sobre Vilar de Perdizes:
Vilar de Perdizes
É o derivado por AR da VILA RUSTICA, portanto, diminutivo de Vila, como Vilarinho, Vilela e outros.
Vilares, em Barroso, há dois – o de Porro e o de Perdizes.
Quanto ao primeiro já disse tudo.
De Perdizes – É importante recordar que esta “expressão” , como outras, designavam não um povoado mas umam área topográfica onde vigoravam diversas povoações ou vilares. Assim, em Vilar de Perdizes (além dos seus três bairros que têm como patrono São Miguel havia também, Santo André e Solveira, que agora são freguesias independentes. O mesmo sucedeu com Vilar de Vacas (que foi concelho desde bem cedo e freguesia sob o orago de São Martinho) onde se inseriram várias aldeias incluídas Campos e Lamalonga que fizeram agora nova freguesia.
Vilar de Perdizes era metade do Rei de Portugal e metade do de Leão e a igreja pertencia ao Rei. Nas inquirições são arrolados vários casais de que sobressaem, pela especial medida de fiscalidade:
Fonte Loba, Reboreda, Sameiro e, sobretudo, Extremadoiro (este, talvez, por estar muito perto da parte leonesa ou da fronteira de então).
Está, por isso, duas vezes documentado em 1258:
-«Sancti Michaelis de Vilar de Perdizes» INQ 1258
-«In Vilar de Perdizes casal de Cemeiro» INQ 1527
O topónimo já perfeitamente estabelecido
E agora o vídeo com todas as fotografias publicadas até hoje neste blog.
BIBLIOGRAFIA
BAPTISTA, José Dias, (2006), Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre.
BAPTISTA, José Dias, (2014), Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso.
WEBGRAFIA:
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5766
https://www.portugalnummapa.com/igreja-de-vilar-de-perdizes/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Padre_Fontes