O prometido é devido e cá estamos a cumprir, com algumas imagens e palavras sobre as festas comunitárias do Barroso à volta do São Sebastião, que tal como todos os anos acontecem no dia 20 de janeiro, salvo exceções por motivos de força maior como foi o caso dos dois últimos anos devido à pandemia, e este ano, na aldeia das Alturas do Barroso, por motivo de a aldeia estar de luto.
Pois muito resumidamente a nossa “promessa” deste ano ficou-se pelo São Sebastião da Vila Grande (Couto de Dornelas) onde chegámos mais tarde que habitualmente, mas ainda a tempo de comer a malga de caldo, de assistir à “procissão” entre a igreja e a cozinha da festa, de assistir a brindes da natureza, ao encher e esvaziar das ruas, a deliciarmo-nos com a oferta do comer, a estar com alguns amigos de sempre e amigos da fotografia que por lá encontramos sempre, e depois, no regresso, o parar nas capelinhas que encontramos pelo caminho, que não sendo muitas, pelo menos uma é de paragem obrigatória, a de Vilarinho Seco.
Dois barrosões de gema, dignos representantes do Barroso, um do concelho de Montalegre e o outro de Boticas
Este ano como não íamos fazer a peregrinação até às Alturas do Barroso, resolvemos ficar pela Vila Grande e fazer o encerramento da festa, pelo menos até ao levantar da toalha de linho que este ano aconteceu por volta das duas da tarde, mas quase apenas nós ficámos para o encerramento, a não ser um punhado de retardatários que lá atrasaram a partida por alguma razão, ou porque, a festa à margem da festa, ainda não tinha terminado, como foi o caso de uma entre amigos minhotos e barrosões, onde, por ter-mos lá alguma gente amiga e conhecida, também acabamos por parar e comungar.
Só depois iniciámos o regresso a casa, com paragem em Vilarinho Seco e a visita obrigatória à casa do Pedro, que este ano teve de ser breve por força das circunstâncias, afazeres do Pedro que ia ter uma noite complicada pela frente, noite que por sinal já estava à porta, no anoitecer, com as vacas barrosãs e respetivo touro a abandonar a pastagem a caminho da corte e nós também pouco mais demorámos, mas já foi de noite que fizemos o regresso à cidade, com passagem pelas Alturas do Barroso, sem parar, e depois a descida até Carvalhelhos, Boticas e finalmente Chaves. Mais uma promessa cumprida.
Vilarinho Seco
E é tudo por hoje, para amanhã, se ainda tivermos tempo, continuaremos pelo Barroso com a primeira aldeia barrosã do concelho de Vieira do Minho.
Nas Alturas do Barroso e na Vila Grande (Couto de Dornelas)
Alturas do Barroso
Já é sabido que dia 20 de janeiro todos os caminhos nos levam até às festas comunitárias do São Sebastião no Barroso, principalmente no concelho de Boticas, mas também no concelho de Montalegre, e são todas iguais e todas diferentes. Iguais na tradição, na celebração do São Sebastião e no comunitarismo da festa. Diferentes na forma como são celebradas e também nos timings, não do dia, porque em todas se celebra no dia 20 de janeiro, mas nas horas e tempo de duração das mesmas.
Alturas do Barroso
Pela nossa parte ainda não fomos a todas, mas já passámos pelo São Sebastião de Cerdedo e, mais habitualmente, pelo menos há uma dúzia de anos, com exceção dos dois anos anteriores devido à pandemia, em que não houve festa, nas festas de São Sebastião das Alturas do Barroso e da Vila Grande (Couto de Dornelas), todas do concelho de Boticas.
Alturas do Barroso
Pois hoje em imagem fica o São Sebastião das Alturas do Barroso, as três primeiras fotos, e da Vila Grande, as fotos seguintes. No entanto a nossa presença nestas duas aldeias não se faz obrigatoriamente por esta ordem, embora assim possa acontecer, desde que seja da parte da manhã, isto porque o grosso da festa com a presença de forasteiros (milhares) vindos de todo o lado, principalmente do Minho e do restante Barroso, na Vila grande, povoam as ruas no período da manhã, logo a partir do nascer do sol e até por volta das 2 da tarde. Já nas Alturas do Barroso, a festa acontece durante todo o dia e prolonga-se pela noite adentro. Isto a nível de festa popular, de rua, pois nas casas dos residentes, aí a coisa é diferente, mas essas só são para familiares, amigos e convidados, aliás como acontece em todas as festas populares.
Vila Grande - Couto de Dornelas
As imagens que hoje ficam são dos anos anteriores à pandemia, de vários anos, com vários momentos que pretendem demonstrar (para quem não conhece as festas e tradição) um pouco dos que elas são. Tal como já dissemos atrás ambas iguais, ambas diferentes e já agora, ambas e as duas bem interessantes, embora, na minha opinião, aquela que dá mais nas vistas e é mais frequentada em número de pessoas em simultâneo, é a da Vila Grande, mas também é a mais breve, só acontece de manhã. A festa das Alturas do Barroso aproxima-se mais das festas tradicionais, à exceção da parte comunitária em que recebem e oferecem a todos que passam por lá e queiram, a comida e bebida, enquanto que na Vila Grande, também oferecem comida, mas não a bebida, nem tem talheres, por isso, se quiser ir por lá, não se esqueça de levar o garfo e a faca, pois vão ser necessários, a não ser que queria fazer como os chineses e comer com dois pauzinhos.
Vila Grande - Couto de Dornelas
Outra diferença entre as duas festas aqui abordadas, nas Alturas do Barroso o comer e oferecido debaixo de telha, no local onde cozinham os alimento, já na Vila Grande, o comer é servido num longa mesa, contínua, com umas centenas de metros (penso que à volta dos setecentos metros) que se prolonga pela rua principal desde a entrada até ao centro da aldeia, a terminar no largo do cruzeiro, junto à igreja.
Vila Grande - Couto de Dornelas
E não digo mais, se quiserem vão lá ver como é, pois uma coisa são palavras e imagens, e outra é viver a festa in loco, e neste caso faz toda a diferença. Se for por lá não se esqueça também, de além dos talheres, levar roupinha no corpo, bem quente, pois por lá quando faz frio, é mesmo frio, tanto que se fosse em Lisboa disparava logo o alerta vermelho, no Barroso, como já estão habituados, basta uma capa de burel, pelo menos dizem, embora saibamos que não é bem assim, pois o frio, quando aparece, é como o sol, é para todos. A de estarem habituados, ou estarmos, pois, as minhas três terras também são frias e, embora o estarmos habituados seja verdade, também é uma treta, pois o frio sente-se na mesma… o hábito não aquece. E com esta me bou, já a caminho do São Sebastião… Até mais logo ao fim do dia, isto se chegar a tempo da edição da noite, senão, as imagens do São Sebastião 2023 ficam para amanhã. Logo se verá. Agora é que me bou mesmo!
Tal como aconteceu com as anteriores freguesias do Concelho de Boticas, no final da abordagem de todas as suas aldeias, trouxemos aqui um resumo de cada uma dessas freguesias. É o que vamos agora fazer com a freguesia de Dornelas e a abordagem conjunta das suas sete aldeias.
Uma vez que na monografia de Boticas “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas” faz a abordagem de todas as freguesias do concelho, vamos lançar mão do que lá se diz a respeito da freguesia de Dornelas. Apenas fazemos aqui um aviso, pois como a monografia foi publicada em 2006, é natural que alguns dados do texto já não estejam atualizados, nomeadamente no que respeita a números de população e mesmo a algumas tradições e festas de algumas aldeias mais despovoadas, como por exemplo no caso da aldeia de Casal.
Assim, da nossa parte, para além da composição deste post, apenas fica esta introdução e a conclusão, bem como as imagens e vídeo que iremos intercalar com o texto da monografia “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas”. À exceção das imagens e mapa desta introdução, as próximas, seguirão a ordem alfabética das aldeias da freguesia, com cinco imagens por aldeia.
A FREGUESIA DE DORNELAS: GEOGRAFIA E PERSPETIVA HISTÓRICA
A freguesia de Dornelas, situada na parte mais a sudeste do concelho de Boticas, confronta com as freguesias de Alturas do Barroso a Nordeste, S. Salvador de Viveiro e Covas do Barroso a Este, com Gondiães, do concelho de Cabeceiras de Basto, a Sudoeste e com Cerdedo a Noroeste.
Esta freguesia tem a peculiaridade de ter um nome que não advém de nenhuma das aldeias que a compõem, mas antes terá a sua origem derivado das inúmeras dornas que aí existiam. E a maior freguesia do concelho e ocupa uma área total de 36,6 Km2, sendo constituída por 7 aldeias: Antigo, Casal, Espertina, Gestosa, Lousas, Vila Grande, sede da freguesia, e Vila Pequena, localizadas perto umas das outras, a excepção de Lousas e Casal que se encontram mais afastadas.
Dista da sede do concelho aproximadamente 25 Km. O acesso viário faz-se seguindo pela ER 311, sentido Braga, e depois segue-se pelo CM 1046, ou em alternativa percorre-se um pouco mais a ER 311 e segue-se pelo CM 1045.
Antigo
1 - População, Economia e Sociedade
O desenvolvimento da população desta freguesia acompanha o movimento demográfico que caracteriza toda a região de montanha no Norte de Portugal, tipificada por uma diminuição progressiva da população, com uma pirâmide etária invertida, onde os grupos etários mais jovens são diminutos e a população envelhecida aumenta.
Actualmente, tem aproximadamente 413 residentes. Seguindo a tendência que se verifica na generalidade das freguesias do concelho, Dornelas perdeu muita da sua população residente nos últimos 40 anos, aproximadamente 59,9%. Este fenómeno explica-se, em parte, devido à intensificação dos fluxos migratórios, numa primeira fase, até meados do século XX, para os países da América particularmente o Brasil, e, a partir da década de 60, para o centro da Europa, particularmente Franca, Luxemburgo e Alemanha. Muitos foram também os que se deslocaram para os centros urbanos em busca de melhores condições de vida. (E)migrar continua a ser uma opção de vida, dada a limitação local de ofertas de emprego.
Antigo
A esta diminuição populacional alia-se a tendência para o seu crescente envelhecimento, sendo que 82% dos 413 residentes têm idade superior a 25 anos e destes, 37% têm 65 ou mais anos. nos.
Os níveis de alfabetização dos residentes são baixos, acompanhando o seu nível de envelhecimento, sendo que 30% destes não têm qualquer qualificação académica. Esta situação excepcional é suportada pelo elevado número de idosos, alguns dos quais regressados da (e)migração em situação de aposentados.
No que se refere as actividades económicas dominantes entre a população local, destacam-se a agricultura e a pecuária. Seguindo os caminhos ancestrais da freguesia, as famílias continuam a actividade tradicional de criação de gado e produção de batata e milho, os produtos que melhor se desenvolvem nesta região do Barroso. Dada a sua localização a médias altitudes, nas aldeias da freguesia produz-se também algum vinho e bagaço, essencialmente para autoconsumo. Tem vindo a desenvolver-se também a produção artesanal de mel e fumeiro, como complemento ao rendimento das famílias. Parte da população local trabalha na construção civil local ou nas freguesias vizinhas, outros ainda no comércio local.
Antigo
No que se refere a sociedade, esta comunidade é uma sociedade homogénea, que se caracteriza pela existência de famílias de lavradores, pequenos proprietários de terras, onde desenvolvem a actividade agrícola e pecuária, e por pequenos empresários e comerciantes, sendo que existem três cafés em Vila Grande (dois cafés - restaurante e um café com minimercado) e uma panificadora; em Vila Pequena existe uma taberna.
Em termos associativos existem na freguesia quatro associações: a Associação de Desenvolvimento de Dornelas, a Associação Cultural, Desportiva e Recreativa do Couto de Dornelas, a Associação Desportiva, Recreativa e Cultural de Vila Grande e a Banda Musical de Dornelas.
Antigo
2 - Marcas do Seu Passado
Como já foi referido, muitas das aldeias e povoados do Norte de Portugal, e também desta região de Barroso, tiveram origem muito antiga, como os inúmeros castros conhecidos o testemunham. Os castros de que hoje apenas encontramos vestígios de ruinas são vulgarmente conhecidos também por citânias, mas também castelos, cercas e cividades. No caso do castro de Gestosa, muitos naturais da região conhecem-no e identificam-no como cividade da Giestosa.
Efectivamente muitos destes povoados castrejos, caracterizados pela sua localização no cabeço dos montes e nas suas linhas de muralha, configurando uma vocação defensiva que nos informa que estes povos eram particularmente guerreiros e isolacionistas, vivendo sobre si em comunidades que se sustentavam do pastoreio dos gados, são testemunho da presença do homem muito antes da nacionalidade.
Os castros conhecidos nesta região indicam ser do tempo da II Idade do Ferro, isto é, pelos séculos III e II antes de Cristo. Muitos deles foram abandonados com a invasão dos povos romanos, mas outros foram ocupados pelos romanos, sofrendo os efeitos de uma nova civilização e desenvolvimento técnico.
Casal
3 - Os Castros de Dornelas
No território de Dornelas encontram-se identificados dois castros. O castro de Gestosa, a que os locais chamam também Souto da Lama, esta datado da Idade do Ferro e apresenta claramente a sua natureza de povoado fortificado e, segundo elementos histéricos conhecidos, apresenta vestígios de romanização. O mesmo não se passa com o castro de Ervas Ruivas situado a sudoeste da aldeia de Lousas e sobranceiro a ribeira com o mesmo nome. É um castro fortificado, também da Idade do Ferro, que não apresenta sinais de romanização.
Estes dois sítios arqueológicos revelam a presença antiga da civilização castreja, não permitindo porém afirmar que destes dois castros tenham resultado, respectivamente, as actuais povoações de Gestosa e Lousas, da freguesia de Dornelas.
Casal
DORNELAS NAS ORIGENS DE PORTUGAL: O COUTO
Dornelas é uma das terras mais antigas com referência muito significativa à formação de Portugal. Segundo a tradição, como em 1756 o pároco de Dornelas conta, teria passado por terras de Gestosa o Infante D. Henrique, na luta contra os mouros, ao tempo da reconquista cristã, onde travou fortes combates, tendo recorrido a proteção divina para poder triunfar.
Em troca de tal proteção, prometeu doar esta terra à Virgem, o que fez ao encarregar o seu filho, D. Afonso Henriques, que viria a ser o primeiro rei de Portugal, de cumprir tal tarefa.
Este assim fez e daí surgiu o Couto de Dornelas que foi doado por particulares ao Arcebispo de Braga. D. Afonso Henriques também doou ao Arcebispo de Braga, juntamente com os coutos de Agostém, da Campeã, de Capareiros, de Ervededo, o “hospital” de Dornelas entre outros[i]. Significa isto que esta terra passou a fazer parte do Arcebispado de Braga, que sobre ele detinha um conjunto de direitos, dos quais o mais importante era o de exercer a jurisdição sobre o território no domínio civil e crime, não podendo o rei ou os seus representantes entrar em terra coutada.
Casal
Um couto, era um território com alguns privilégios, dos quais os mais relevantes eram o de exercer a administração do seu próprio território e exercer o controlo social, isto é, detinha uma autonomia municipal que andava depositada na câmara e nos oficiais do Couto.
Ainda que variassem de couto para couto, os povos da terra coutada beneficiavam de alguns privilégios, dos quais os mais comuns eram a isenção de ir à guerra no exército do rei e de pagar outros tributos: coutar huma terra he escusar os seus moradores de hoste e de fossado, e de foro e de toda a peita[ii] . Estava também isento de pagar “siza de compras e vendas dos bens no dito Couto.
Casal
O couto era criado pelo rei, através de uma Carta de Couto, para compensar algum préstimo de gente eclesiástica, nobre ou fidalga, ou para promover o povoamento de terra deserta, privilegiando quem se dignasse viver em terras inóspitas e de permanente conflito, como acontecia por certo na terra de Dornelas. Neste caso, como já vimos, a carta de couto foi passada para cumprimento de uma promessa do pai do primeiro rei de Portugal, mas também serviu para a promoção da ocupação e povoamento. Na Carta do Couto estavam indicados os limites geográficos da terra coutada e o alcance da imunidade que poderia ser total ou parcial face ao rei. Normalmente a isenção era total.
No século XVIII escreveu um magistrado régio que o Couto de Dornelas era pertença da Mitra de Braga, a quem pagava tributos e consta que foi dado este couto ao dito Arcebispo por el-rei o Snr. Affonso Henriques[iii]. Do seu território faziam parte as terras de Vila Pequena, Lousas, Antigo e Vila Grande que era a Vila, cabeça do concelho e sede da Câmara da Couto[iv].
Hoje, a freguesia de Dornelas, apesar do século e meio passado, mantém o nome Couto, de tal modo que no dia-a-dia, com frequência se usa o nome de freguesia do Couto ou Couto de Dornelas em vez de Dornelas.
Não anda alheia a este fenómeno a narrativa oral que transmite de viva voz o seu passado. Revela-se algum orgulho nos habitantes da freguesia pelo facto de em tempos ter tido uma identidade jurídico-administrativa própria expressa, no seu rústico pelourinho, que permanece garboso junto a igreja, afirmando aos visitantes a sua condição de terra livre e com autonomia municipal[v],
O Couto de Dornelas era, assim, um dos inúmeros concelhos portugueses. Por todo o território existiam imensos concelhos que eram designados por cidades, vilas, concelhos, coutos e honra[vi]
No “reino” de Barroso, também essa complexidade se manifestava. Para além do Couto de Dornelas, de jurisdição eclesiástica, existiam também os Concelhos de Ruivães e Montalegre, pertencentes a Sereníssima Casa de Bragança, assim como as honras de Gralhas, Meixedo, Padornelos, Vilar de Perdizes, Padroso e Tourém, e os lugares místicos de Santiago, Rubiás e Meãos, em terras da Galiza e Trás-os-Montes, governados em simultâneo por dois Juízes ordinários, um de cada reino.
Espertina
O Couto de Dornelas e a Câmara
A Câmara
Como senhor do Couto de Dornelas era ao Arcebispo, ao Cabido, Sé Vacante, que competia o exercício de toda a jurisdição cível e crime[vii]. Nas suas terras, não entrava nem Corregedor, nem os funcionários régios. O Governo do couto era feito pela câmara, composta de quatro membros a saber: o Juiz Ordinário, dois Vereadores e um Procurador. Eleitos pela assembleia do povo, eram os Vereadores e o Procurador escolhidos de entre homens de boa consciência e, naturalmente, com alguns haveres. Exigia-se que os homens que deveriam andar na câmara fossem dos mais ricos e importantes na terra. Os homens dos ofícios e os mais humildes não podiam exercer estes cargos. Num couto de pequena dimensão territorial, com uma economia muito débil, como o de Dornelas, era natural que esta disposição não pudesse ser integralmente cumprida, exigindo uma maior rotatividade nos cargos, por carência de homens com qualidades para pertencer à câmara.
O mandato era anual, não podendo os eleitos exercê-lo nos dois anos seguintes.
Espertina
Competia ao Juiz Ordinário, aos Vereadores e ao Procurador, exercer funções administrativas, económicas, judiciais e fiscais. O Juiz Ordinário tinha funções administrativas e judiciais, podendo julgar em primeira instância pequenos delitos. Como não tinha formação jurídica, existia no concelho um escrivão com formação em direito, que assessorava o Juiz Ordinário. É provável que no Couto de Dornelas o corpo de oficiais fosse reduzido, mas mesmo assim haveria um tabelião e um escrivão. Competia também à câmara velar pelo território sob a sua alçada e pelas suas gentes. Aos vereadores competia fazer as posturas, administrar os bens do couto, regulamentar o trânsito de mercadorias, feiras e mercados, cuidar do abastecimento de bens de consumo, construir e reparar pontes e estradas, promover o recrutamento militar, vigiar os pesos e medidas, o pagamento dos tributos e manter a ordem pública.
Espertina
0 quotidiano de Dornelas no tempo do Couto
A população do Couto de Dornelas foi crescendo ao longo dos séculos. Em 1506 0 couto de Dornelas, aparecia no censual de D. Diogo de Sousa, com 29 moradores, e em 1530 com 39 moradores[viii]. Ocupava-se naturalmente da agricultura que, nos meados do século XVIII era, juntamente com a criação de gado, o suporte principal da comunidade. A indústria era artesanal e para o consumo dos elementos do grupo doméstico.
Espertina
A imagem da sociedade que o juiz demarcante Columbano P. Ribeiro de Castro nos dá para o ano de 1796 (ver quadro infra), ilustra bem que a maioria da população se dedicava à agricultura, donde 44 indivíduos eram lavradores na vila e termo do Couto. Os restantes habitantes repartiam-se pelas actividades ligadas a vida da comunidade. Havia o barbeiro, alguns jornaleiros e as restantes profissões indispensáveis para que a comunidade fosse auto-suficiente: carpinteiro, pedreiro, sapateiro, ferreiro. Havia 4 clérigos, todos sediados na Vila. Como se vê, não aparece neste quadro algum nobre fidalgo ou aristocrata, o que não surpreende, uma vez que os nobres e fidalgos se refugiavam nas vilas e cidades ou mesmo junto da Corte régia. O poder de governar o couto estaria nas mãos de alguns lavradores/proprietários que exerceriam os cargos de Vereadores e Procurador em rotatividade. Eram cargos muito exigentes e desgastantes, que não compensavam nem conferiam estatuto, para que pudessem ser objecto da avidez da aristocracia fidalga, como acontecia nos concelhos poderosos e ricos. Por isso, os nobres viviam em Braga ou junto da Corte Real.
O Couto de Dornelas era do domínio do Arcebispo de Braga, por isso o domínio directo da terra permanecia no senhor, mas o domínio útil andava nos moradores, muitas vezes como rendeiros, pelo qual pagavam o respectivo foro. Havia enormes áreas de terrenos incultos, os baldios, e superfícies de aptidão agrícola agregadas em parcelas e jeiras que formavam as herdades ou casais. Nelas se cultivava principalmente o centeio, algum trigo e algumas hortas, vinha nas terras mais propicias, para além dos lameiros. Note-se que o couto de Dornelas tinha um território baldio pouco extenso, de tal forma que os povos tinham que pagar um tributo a Montalegre, que nos meados do século XVIII era de 30 000 réis pagão no cabeção das sizas, para poder pastar os seus gados nos maninhos do concelho.
Grande parte da população ocupava-se do trabalho da terra. Constituída por rendeiros, caseiros e colonos, todos entrariam na categoria de lavradores, ainda que o nível de dependência fosse diferente de uns para outros. Com contratos de prazo perpétuos ou em vidas e rendas mais estáveis, assim se conseguia um estatuto mais independente ou não. A repartição da terra andava naturalmente associada ao estatuto dos lavradores. Os maiores arrendatários teriam um estatuto mais elevado, que lhes conferia maior poder e influência social. Era esta relação de posse (com bens de prazo) e a dimensão da propriedade que definiam o estatuto, numa sociedade essencialmente agrária como a do Couto de Dornelas.
*José M.A.Mendes, Trás-Os-Montes nos Fins do século XVIII, , INIC, Coimbra, 1981
** Note-se que no ano de 1796 não aparece Espertina nem Gestosa nos domínios do Couto e freguesia de Dornelas, mas tudo indica que é uma falha de informação pois em 1758 cerca de 30 anos antes Gestosa vem referida como aldeia de Dornelas. Quanto a Espertina é provável que ainda não existisse como povoação.
Gestosa
No quadro supra pode observar-se em detalhe a actividade profissional da população do Couto, que nos dá um retrato bem representativo de uma comunidade onde a agricultura e a criação de gado são, efectivamente, as actividades estruturantes do seu quotidiano, onde não faltam as profissões complementares típicas que auxiliam a sobrevivência e contribuem decisivamente para uma autonomia que, mais que desejada, é indispensável à sobrevivência destas comunidades do interior transmontano.
É um quadro económico e social que apenas poderia sobreviver com estratégias de convivência comunitária, que justificam a existência dos bens comunitários e das regras de convivência e entreajuda, que as autoridades do couto cuidavam de regular e fazer cumprir.
Gestosa
Fim da 1ª parte
Devido ao tamanho do post, tem de ser publicado em duas partes. A segunda parte está no post seguinte.
O Barroso aqui tão perto - Freguesia de Dornelas - 2ª Parte
UM DOCUMENTO DE 1758
No ano de 1758 o Rei D. José, através do seu ministro Marquês de Pombal, desenvolveu um inquérito a todas as paróquias do Reino de Portugal continental que hoje se encontram no IAN/TT.
Este inquérito, que foi respondido pelos párocos das freguesias era composto de três partes. A primeira parte, respeitante á paróquia onde se tratava de saber da sua história, produções agrícolas, população, instituições locais, igreja e capelas com suas devoções e romagens, a segunda tratava dos rios e ribeiros que nela existissem, assim como das levadas e represas, moinhos e pisões, e a terceira perguntava pela serra e por todas as suas caracteristicas, se tinha lagoas e nascentes, monumentos, capelas, caça e árvores.
Gestosa
É graças a este inquérito que se pode obter uma visão mais ou menos completa de como era a freguesia e o Couto de Dornelas, nos meados do século XVIII como abaixo se vê. Esta memória paroquial é particularmente importante na informação que dá sobre o funcionamento do couto e da sua economia que mais tarde viria a ser complementada pelo levantamento feito por Columbano Pinto de Castro no ano de 1796 do qual se extraiu a informação que permitiu a construção do quadro atrás analisado.
Breve cópia de relação e fundação deste Couto de Dornelas da comarca de Chaves, do Arcebispado de Braga Primaz das Hespanhas.
interrogatório
Fica este Couto na Província de Trás-os-Montes, confronta pela parte do Sul e a Poente com a província do Minho. No espiritual pertence a comarca de Chaves e ao Arcebispado de Braga Primaz. O seu termo compreende somente uma freguesia que tem por orago o Apóstolo São Pedro.
Gestosa
É esta freguesia Couto dos senhores arcebispos de Braga, por doação e mercê que dela lhe fez o Senhor Dom Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal. O motivo que para isso houve foi o seguinte: no tempo em que Senhor Conde Dom Henrique da Litoringia, com o seu célebre esforço andava na expulsão dos Sarracenos, que nesse tempo ocupavam estas terras, ao chegar a esta terra os encontrou tao fortificados que combatendo-os em vários combates não conseguiu destruir a praça ou muralha em que se achavam fortificados no que chamavam a cidade de Genestota, vocábulo que se transformou em Genestoza. Vendo-se o Senhor Conde D. Henrique neste conflito recorreu a Deus prometendo esta terra a Virgem Santíssima Nossa Senhora Santa Maria do Hospital. E assim que fez a promessa os tomou a combater e logo os venceu, assolou e destruiu. E não podendo por em execução, a promessa que linha feito, até as portas da sua morte, encontrando-se na cidade de Astorga no reino da Galiza, ali mandou chamar seu filho o Senhor Afonso Dom Henriques, lhe disse e pediu que lhe cumprisse aquela promessa a Nossa Senhora, dando-lhe aquela terra. Como lhe tinha prometido, o Santo Príncipe executou-a quando lhe foi possível, a ela veio ele próprio na companhia do senhor Dom Plázio Arcebispo de Braga e a deu e doou a Nossa Senhora na forma seguinte: Em nome do Pai e do Filho e do Espirito Santo. Eu servo de Deus o infante Dom Afonso Henriques faço, dou a Santa Maria e àquele hospital de Dornelas para remédio da minha alma ou dos meus parentes e é aquele couto terminado em primeiro lugar a Lucenciam e depois (vai) à Portela Figueiras que depois (vai) ao Penedo (Pena Boa) depois à carvalhosa depois a Mossa de Subverso depois à Fraga da Graça (Graçalios) depois a Pena Petrovili depois Arco (Arcem) de Lagena, depois ao Couto de Cividade de Genestosa a Lucencia onde iniciamos; tudo o que dentro deste couto pertence ao império real tudo isso pagamos, disto foi feito por mão do Senhor Paio (Mendes) Arcebispo da Sé de Braga. E se algum homem vier ou virmos que este (instrumento) feito nosso tentar infringir primeiramente seja excomungado e mal pague uma libra de ouro e este nosso instrumento feito nosso permaneça firme. Eu Infante Dom Afonso confirmo pela minha mão este Couto a que foram presentes Paio testemunha, Pedro testemunha, João testemunha, Gongaio testemunha, Rodrigo testemunha, Egas Moniz confirmo Ermigio Moniz confirmo Gomezio Mendes confirmo Gueda Mendes confirmo... Couto que fez o Infante Dom Afonso a Santa Maria e ao Hospital de Dornelas. Em nome do Pai e do Filho e do Espirito Santo eu servo de Deus, Infante Dom Afonso, faço couto dou a Santa Maria e aquele Hospital de Dornelas para remédio da minha alma ou dos meus parentes e é aquele couto terminado (limitado) por todos os seus vizos que são no circuito tudo o que dentro desse couto e pertence ao império real tudo isso é pago e isto foi feito por mão do Senhor Paio Arcebispo da Sé Bracarense que se algum homem vier que este couto tentar infringir primeiramente seja excomungado e pague uma libra de ouro é este nosso instrumento permaneça firme. Eu Infante Dom Afonso neste couto com a minha mão roboro (confirmo) Paio testemunha, Pedro testemunha, João testemunha, Gonçalo testemunha, Rogus (sic) testemunha, Egas Moniz confirmo Ermigio Moniz confirmo Mendes Moniz confirmo, Mendes Moniz confirmo, Gomes Mendes confirmo, Geda Mendes confirmo, Mendo presbítero escreveu...
As quais doações aqui copiei de uma certidão autêntica que em meu poder tenho e foi tirada autênticamente do arquivo da Sé Primaz de um livro que nele se acha intitulado Tomus tertius Rerum Memorabilium as folhas cento e oitenta e três até ao cento oitenta e cinco, como da mesma certidão mais largamente consta Este couto não paga dízimos nem promissa de frutos alguns que colha. Mas, em seu lugar paga quinze arrobas de cera amarela, todos os anos, à Mitra Primaz de Braga para o que houve Bula Pontifica por contrato e ajuste que fizeram os moradores dele com o Senhor Arcebispo, que a tradição foi o Senhor D. Frei Bartolomeu dos Mártires.
Não pagam siza de compras nem vendas dos bens no dito Couto, mas por ser muito pequeno o seu termo e não poderem os moradores dentro criar os seus gados, para os pastarem fora pagam trinta mil réis em cada ano ao cabeção da siza da vila de Montalegre, vão-na entregar a Vila Real e lá tiram paga dela.
Lousas
4°. Tem este Couto e freguesia cento e sete fogos e quatrocentas é nove pessoas. Destas acham-se absentas quarenta e sete.
interrogatório - Está este Couto situado entre montes a toda a volta pelas suas divisões. Dele para fora não se avistam povoações para parte alguma por ficar baixo, razão porque é muito doentio e sujeitos os frutos a tolherem-se com a geada.
interrogatório — Consta esta freguesia de seis lugares, a saber: Vila Grande que é a cabeça do concelho e freguesia, Antigo, Vila Pequena, Gestosa, Lousas e Casal de Guimbroa. Que todos são do termo e distrito do Couto mesmo que assim o não queiram conceder os Abades da igreja de Santa Maria de Covas do Barroso, pois movendo estes demandas a alguns moradores do Antigo e outros de Gestosa pedindo-lhe dízimos dos seus campos. Por conclusão, o Couto foi demarcado no ano de mil setecentos e três na presença do Doutor Ouvidor e Procurador Geral da Mitra, justiça e Câmara do Couto, justiça e Câmara de Cabeceiras de Basto, justiça e Câmara da Vila de Montalegre e todos os povos circunvizinhos.
Lousas
Concluindo o acto de demarcação, tomou, o que então era abade de Covas, a meter-se com palavras fribulas e sophislicas com os moradores de Gestosa e se tornou a meter de posse de alguns bens do dito lugar, entrando a obrigar os pobres moradores pelos dízimos em que os trouxe muitos anos debaixo de censuras, pondo-os na mais consternação que considerar se pode e os compelio, pela posse que intrusamente tomou, a pagarem dízimos do que nunca se pagou pois até aquele tempo se nado pagava no dito lugar de Gestosa sanjoaneira e agora a pagam mas contra a razão pois avista das doações acima foi este povo a causa de se fazer este Couto.
Está tão próxima a fortaleza em que os mouros se fortificaram e resistiram ao Conde o Senhor Dom Henrique, que do alto dela se chega com uma pedra de funda às casas do mesmo povo. Este conservando ainda o nome da antiga cidade Genestoza, ainda vendo-se pelas casas antigas do mesmo povo e paredes dos campos feitas e lavradas que bem mostram ser de antigas habitações. E sobretudo da doação se vê claramente o que o Senhor Dom Afonso deu a Nossa Senhora pois diz a primeira doação nesta parte falando usque ad cautum civitatis Genestosa (até ao da cidade de Genestosa); e porque algum dia poderia haver dúvidas como há, declarou a sua vontade e atenção na segunda doação, que logo fez, onde diz: per suos vizus qui sunte in circuitu (por seus vizinhos que estado ao redor) donde claramente se vê pois ficam em roda deste Povo e seus campos para a parte do norte e entre norte e nascente este monte que é ramo da serra das Alturas. Pela parte do norte se chama o Mourisco e decaindo para o nascente se chama ainda hoje a Luzenga que é até onde aquele sempre memorável Príncipe doou a Nossa Senhora e aos Senhores Arcebispos de Braga. E assim se devem entender as doações acima sobreditas, eu assim o entendo e afirmo pelas ordens que professo.
Lousas
interrogatório - A igreja matiz deste Couto acha-se situada no lugar de Vila Grande, dentro do corpo do lugar, mais pendente para a parte do Nascente, entre as casas dos moradores e tem a residência do pároco dentro do adro dela.
Interrogatório - Tem por orago e padroeiro o Apóstolo São Pedro, esta colocado no altar-mor da mesma igreja. Tem mais no mesmo altar, na parte da Epístola Santo António e São Libório, ambos em vulto e da parte do Evangelho o padroeiro São Pedro e o da Senhora do Pilar, todos em vulto.
Tem mais três altares colaterais, dois encostados ao arco da capela-mor e um metido de acostam da parte do sul. No da parte do Evangelho é padroeira nele Nossa Senhora da Conceição. Tem mais a parte da Epístola São José e a do Evangelho Santa Ana, todos em vulto. O altar da parte da Epístola é intitulada de São Sebastião tem o mesmo Santo em vulto e o menino Deus da mesma sorte; o que esta na costam da igreja intitula-se o altar das Almas.
Lousas
Estão neles pintadas e retratadas, em penas no meio do altar está um Senhor pregado numa cruz de bastante grandeza. Todos estes Santos são festejados no seu dia com uma missa cantada organizada por mordomos.
Há nesta igreja o sacrário do Santíssimo Sacramento colocada no meio do Altar-mor. Tem renda para sua subsistência e fabrica, que não sei ao certo o que pouco mais ou menos será quinhentos mil réis. Tem uma irmandade das Almas debaixo da proteção do Santíssimo Sacramento. Terá até duzentos irmãos e de casco até seiscentos mil réis pouco mais ou menos. O Santíssimo Sacramento venera-se no dia do Corpo de Cristo com exposição, missa cantada e sermão. Não tem esta igreja naves.
interrogatório - O pároco desta freguesia tem o título de Vigário, é colado, o seu padroeiro e o Senhor Arcebispo. Esta igreja é uma das da sua Camara da Mitra Primaz, tem de estipéndio seis mil e quinhentos réis. Rendera de um ano para outro setenta mil réis pouco mais ou menos.
9 Interrogatório — Não há que responder. Nem também ao décimo, décimo primeiro e décimo segundo pois não há nada do que nestes quatro se pergunta.
13 Interrogatório - Tem esta freguesia cinco capelas. Uma de São Caetano na lugar do Antigo, junto ao povo, colocada ao pé da estrada que vai da Vila Grande, Cabeça desta freguesia, para a vila de Chaves. Os seus moradores o festejam no seu dia com missa cantada sempre e sermão alguns anos. Tem a mesma capela uma imagem em vulto de Nossa Senhora da Guia que também se festeja muitos os anos, aos 15 de Agosto, com missa cantada e sermão. Não tem fábrica nem rendimentos alguns. Tem mais outra capela no lugar de Vila Pequena com o título de Nossa Senhora das Neves, é Senhora milagrosa, a ela concorrem no seu dia alguns romeiros dos povos circunvizinhos. Seus moradores fabricam a capela e festejam a Senhora com missa cantada e sermão todos os anos.
Vila Grande
Tem os moradores do lugar da Gestoza outra capela com o orago de Nossa Senhora do Bom Despacho e o São Bento, ambos em vulto. Fabricam os seus moradores a tal capela e veneram o Santo com missa cantada todos os anos e em alguns também há sermão.
Os moradores do lugar de Lousas tem também capela com o orago de São Marcos, veneram-no no seu dia com missa rezada, porém em alguns anos é cantada. Tem outra capela, no monte de {Terreiro} junto a estrada que vem de Chaves para o Couto, com o título de Santo Antão. E muito antiga e conta a tradição que foi igreja matriz ainda no tempo dos mouros. O que parecia ser provável antes de se reconstruir porque tinha a forma de corpo de igreja e capela-mor, tudo muito pequenino e com o seu adro à volta tapado. Hoje reconstruiu-se de novo a fundamentis com esmolas de algumas benfeitorias e outras que os seus devotos lhe oferecem. E um Santo milagroso para os animais. Como já disse, esta capela fica no monte de Terreiro, defronte a igreja matriz deste Couto, no seu termo e a ela pertencente como todas as que tenho feito menção neste interrogatório.
Vila Grande
Interrogatório — Colhe-se nesta terra centeio, milhão, milho-alvo e painço, vinho e castanha, mas o que mais é abundante é o centeio e a castanha. Mas nem por isso deixam os moradores de comprar pão, quase todos, por se lhe tolher muito com a geada e ser muito apertada a terra que se fabrica.
interrogatório — É este Couto de Dornelas da Mitra Primaz, como tenho dito, e todas as suas justiças são postas por ela. Tem juiz ordinário e dos órfãos, vereador e procurador que são eleitos pelo Doutor Ouvidor de Braga. Tem a sua carta de ouvir, estes elegem a Câmara para o que têm o seu escrivão que serve todos os ofícios do publico, judicial, notas, órfãos e câmara. Também estes ofícios são dados pelos senhores Arcebispos de Braga, a quem pertence tudo no espiritual e temporal! dentro deste Couto.
Vila Grande
Interrogatório - Já respondi.
interrogatório — Não tenho que dizer.
interrogatório — Não tenho que responder.
interrogatório — Não tenho que dizer, só que não há correio e se servem, os moradores deste Couto, de muitos conforme o negócio para onde escrevem. O mais comum é pelo de Cabeceiras de Basto, que fica onde chamam a Rapozeira. Dista quatro léguas deste Couto, nado sei ao certo o dia que parte nem até onde chega.
interrogatório - Dista este Couto da cidade de Braga, capital do Arcebispado, dez léguas, e de Lisboa sessenta e seis, oiço dizer, mas nunca aí passei, nem sei ao certo.
Vila Grande
interrogatório - Já no princípio desta breve relação dei conta e copiei as doações deste Couto, agora só me resta dizer que os moradores dele têm obrigação não só de fabricar o corpo da igreja matriz, mas também a capela mo re ornamentá-la com todo o necessário, dar a paga ao pároco, camo disse no ponto 8 e fazer aposentadoria ao Reverendo Visitador quando vem visitar esta igreja. E não tem para ela mais do que três mil réis e isto esta disposto por decreto do senhor Arcebispo inquisidor Geral passado no ano de mil seiscentos e setenta e seis e depois confirmado por outros prelados. E se o Reverendo Visitador gastar mais o repõe ou perde o juiz da freguesia que é o que esta obrigado a fazer aposentadoria.
Antigamente tinha a justiça e Câmara deste Couto a regalia e prerrogativa de nomear o pároco para esta igreja, era cura de São João a São João. Os senhores Arcebispos de Braga, por distúrbios que nisto havia, lhe tiraram esta liberdade e puseram encomendados na igreja cinquenta anos. E depois, a deram colada, haverá trinta e oito anos que segue a natureza de colada e se tem dado a três párocos. Não tenho mais coisa alguma que responda e este interrogatório nem aos mais que se seguem até ao número 27.
Tratado segundo das serras e montes que se encontram a volta do Couto e na sua jurisdição, reduzido tudo a um.
Principiando pela parte do Norte a esta parte fica a Serra das Alturas. Desta descem dois ramos, um que desce entre Vilarinho Seco, que é lugar da freguesia das Alturas, e a Ribeira de Gestosa pela parte do Nascente e chega até direito do lugar de Agrelos que é povo da freguesia de Santa Maria de Covas de Barroso. Terá esta serra meia légua de comprimento. E infrutífera, não produz mais do que urzes. Tem muita pedra que fora da terra se estão vendo e são de má qualidade, pois são de sua natureza bravas, duras e ásperas, mas da gram branca. Esta serra é por natureza seca e não produz ervas medicinais conhecidas. A esta serra chama-se Luzença, outros chamam-lhe a Costa por ficar muito ao cimo para quem vai da Giestosa para o supracitado lugar de Vilarinho.
Vila Pequena
E a outro braço da serra das Alturas vem pela parte do norte discorrendo para o poente, chama-se o Mourisco e outros chamam-lhe a serra da Carvalha. Vem esta serra dividindo o Couto, e o seu termo, do de Montalegre e acaba onde lhe chama a Ganidoura, ou ponte das Barjas. É de sua natureza seca e muito fria e no Inverno acha-se muito tempo coberta de neve. Não produz árvores nem ervas medicinais, mas sim muitos lobos que nela se criam pela sua aspreza. Tem matos, urzes e pedras, tem e aí cria alguns coelhos e perdizes. Não produz senão centeio em algumas partes mais abrigadas.
Defronte a este monte da Ganidoura, olhando em volta se vê e segue-se o monte do Mugadouro que fica ao Poente aos moradores do Couto. Deste nasce um braço que vem pelo Couto abaixo pela parte do Sul.
Vila Pequena
Esta serra no seu inicio chama-se a Pedradeira, por onde vem a estrada de Basto e Salto para o Couto. Finda esta serra dentro do mesmo Couto onde chamam a Figueira da Cabra. Tem de cumprido uma légua. Esta serra produz muita colmeia, tem muita castanha e vária caça como javalis, corgas, coelhos, lebres, perdizes e também lobos; dizem-me que nela se tem visto algumas vezes gamos e veados.
Em conferência desta serra sobredita corre igualmente outra que se chama a Lomba de Melcas, que faz a divisão do termo do Couto do concelho de Cabeceiras de Basto, cujo termo vai pelo cume, ou serro da serra abaixo e vai findar o termo com a serra onde chamam o Mosteiro que é um porto onde se passa deste Couto para o lugar do Penedo, da freguesia de Gondiães do concelho de Cabeceiras de Basto. Esta serra tem a mesma natureza, comprimento e caça que a de cima e ambas correm de Poente para Sul, iguais na altura e no comprimento.
Vila Pequena
Este Couto tem mais um monte da parte do Nascente que fica defronte aos lugares dele e encobre a vista a todos os lugares e terras circunvizinhas. Este defronte ao lugar do Antigo, chama-se Terreiro é onde esta a Capela de Santo Antão a que já fiz menção.
Em seu lugar, e subindo mais ao alto do monte se chama Pinheiro o qual é por uma e outra parte do termo do Couto. Fica entre Nascente e Sul aos moradores do lugar de Giestosa. Tem este ao pé de si outro monte chamado o Crasto que foi onde os mouros se fortificaram para resistirem aos seus adversários. É este monte redondo, pequeno e descortinado da parte do Poente, Norte e do Nascente lhe fica o monte Pinheiro que o cobre e defende.
Vila Pequena
Esta fortaleza, ou monte Castro, foi murada com três ordens de muralhas: a primeira cerca-o pelo meio em roda, a segunda mais acima coisa de quarenta passos, e a terceira em todo acima em toda a roda e terá de comprimento de Norte a Sul cem passos e de Nascente a Poente cinquenta. Hoje se acham os seus muros quase que todos arruinados, mas ainda se vêem os seus fundamentos e em algumas partes se acha ainda parte dos mesmos muros. No cimo desta muralha para a parte sul descobre-se uma porta, que oiço dizer por tradição, que é uma estrada falsa que eles tinham feito para ir buscar água a um ribeiro que passa a beira da fortaleza, mas to fundo que são mais de seiscentos passos de onde se divisa a porta abaixo ao ribeiro.
Este monte é todo fragoso. Esta ainda cheio de pedras virgens que nunca foram movidas nem quebradas. [Não há] em todo este monte, nem dentro da fortaleza, vestígios de ter existido casa alguma, Está todo coberto de urzes e matos, não tem arvores em si e só o redor está povoado de castanheiros, dos moradores daquele lugar. Que eu saiba, nenhum dos montes acima tem minhas, nem ervas medicinais, nem águas com virtudes especiais de que se possa fazer menção.
Festa do S. Sebastião
Terceiro tratado, dos rios e suas propriedades.
Tem este Couto três regatos. Um nasce e começa onde chamam Rebordelos, do distrito e termo do lugar de Vilarinho Seco das Alturas. Nasce muito pequeno e assim vem descendo pela ribeira do lugar da Gestosa. Os moradores dos dois lugares de suas águas livremente para cultura dos seus campos, para regar os frutos e as suas ervas. Este regato corre de Norte para Sul, tudo por terras do Couto e seu termo, vai passando à beira de Vila Pequena onde os moradores também se serve dele usando as suas águas para limar os prados e regar os frutos dos seus campos; depois vai-se meter e incorporar o que vem de Cerdedo entre o lugar do Antigo e a Vila Grande. Tem este regato uma ponte de pau onde chamam o Troviscal, que fica no caminho que vai da Gestosa para Vilarinho Seco do termo e concelho de Montalegre; tem outra ponte de pau onde chamam o Sabugueiro, abaixo da Giestosa na estrada que vai para Vila Pequena; tem outra mais abaixo onde chamam a Telhada entre vila Pequena e um monte chamado a Gramela; Tem outra entre Vila Pequena e o Antigo no sitio a que chamam Candelas; tem outra entre Vila Grande e Antigo no sítio chamado Porto Carreiro, todas de pau e todas nas estradas que vão de uns lugares para os outros. Tem este ribeiro seis moinhos negreiros que só no inverno moem, por falta de águas, no Estio descansam.
Festa do S. Sebastião
O ribeiro que de Cerdedo desce entra neste Couto no sítio onde chamam as Varges e desce por montes bravos até onde chamam a Codeçosa e assentando aí o seu curso vai brandamente correndo regando os prados dos moradores de Vila Grande que usam também [as suas águas] para regarem os frutos dos campos. Vai correndo em roda e cercando os campos do dito lugar até vir incorporar com o que vai da Gestosa, onde chamam o Espinhagal e juntos ambos seguem o seu curso até se juntarem com outro que vem do lugar de Agrelos, a que chamam Rumião. Juntos vão correndo, fazendo a divisão entre o Couto e o termo de Montalegre até onde chamam o Mestras, que juntos ai com o rio chamado Beça vão as suas águas parar ao rio Tâmega no sítio chamado Ponte de Cabes (sic, por Cavez).
Tem este rio que vem de Cerdedo uma ponte de pau onde chamam a Fraga, outra onde chamam Tijosa, outra no sítio chamado Água Longa e outra desde que ambos se juntam, a que chama a Ponte do Antigo por ficar próxima daquele lugar. Este rio teve, noutro tempo, outra num sítio chamado Piagro Negro, num atalho que ia deste Couto para o lugar de Covas. Este rio tem alguns moinhos negreiros que moem todo o ano.
Festa do S. Sebastião
Todos estes regatos trazem as suas trutas e bogas, nele não há pesqueiras nem poços de senhorio, geralmente [a pescaj é livre excepto nos meses de defeso.
Tem este Couto outro regato que nasce acima do Casal de Guimbroa e vem descendo a beira dos campos deste povo, correndo entre Poente e Norte, vem descendo pelos campos do lugar de Lousas, de que toma o rio o nome nome, chama-se rio de Lousas, e vai desaguar nos outros, que também nascem no Couto, no sítio onde chamam o Mosteiro. Este rio tem alguns moinhos negreiros. Traz e cria seus peixes como são: trutas, bogas e escalos. Os seus moradores usam livremente as suas águas para limar e regar os seus campos. Não sei que as suas águas tenham alguma propriedade rara de que se faça menção nem que em suas áreas se achem [faíscas] de ouro.
Isto é tudo quanto se me oferece a responder aos interrogatórios, que tudo é e vai na verdade e se necessário eu afirmo I juro in verbo sacerdotis.
Festa do S. Sebastião
Couto de Dornelas, 18 de Março de 1758, o pároco desta igreja o padre José Pinto da Silva. Vai também assinada pelo revendo Abade de Cerdedo e pelo Reverendo Vigário de Gondiães, de cada um os seus nomes.
ADVR, Registo de Óbitos: 1871-1882. Total de Livros: 1.
I.I.P.: Castro de Giestosa/Castro do Souto da Lama; Pelourinho de Dornelas.
Festa do S. Sebastião
TRADICÕES E FESTIVIDADES
Ao longo dos tempos, muitas das festividades que outrora animavam estas comunidades foram-se perdendo. Todavia, algumas resistiram a erosão dos tempos e continuam a realizar-se.
Ainda cantam os Reis. A Banda Musical de Dornelas dá a volta pelas aldeias a cantar os Reis. O que as pessoas oferecem é para a banda pagar o ordenado mensal ao seu mestre. Antigamente as pessoas juntavam-se em grupos a cantar os Reis.
“Abram-se essas portas
Que ainda não estão bem abertas
Que aqui vem os do presépio
Vem lhe dar as boas festas.”
Festa do S. Sebastião
As pessoas costumavam dar ovos, chouriças, dinheiro. Com o dinheiro, mandavam rezar uma missa. O resto era utilizado, uns dias depois, para fazer uma função.
Todos os anos, no dia 20 de Janeiro, realiza-se aquela que é uma das mais importantes festas de cariz comunitário: a Mezinha de S. Sebastião ou Festa das Papas, como era inicialmente conhecida. As origens desta festa perdem-se nos tempos. Diz a memória popular que, aquando da segunda invasão francesa, em 1809, comandada pelo general Soult, o povo de Vila Grande avistou os soldados a passar numa estrada, a estrada velha, perto das aldeias do Couto de Dornelas e sabendo que por onde passavam, saqueavam tudo, imploraram a protecção divina.
Festa do S. Sebastião
Pegaram na imagem de S. Sebastião, saíram com ele à rua, levaram-no até à torre da igreja e prometeram ao Santo que todos os anos realizariam uma festa em sua honra se as tropas não descessem até às aldeias. Eis que o milagre se deu, caiu uma grande nevada e as tropas passaram ao largo das aldeias e o povo, agradecido, cumpriu a promessa.
Existe também outra lenda de que esta festa se começou a fazer depois de uma grande peste que matou muitos animais na freguesia. Desesperadas, as pessoas pediram protecção ao Santo, prometeram-lhe que todos os anos fariam a festa em sua honra se os livrasse de tão terrível maleita. Feito o milagre, o povo cumpriu a sua promessa.
Certo ano faltaram ao prometido e não celebraram a festa, contam que por causa disso deu uma moléstia nas patas dos animais e, nesse ano, não os puderam utilizar para os trabalhos agrícolas. Em desespero de causa, arrependidos pelo incumprimento da promessa, imploraram novamente a protecção ao Santo e desde então para cá a festa tem-se realizado no dia 20 de Janeiro de cada ano.
Festa do S. Sebastião
A organização desta festa, refeição comunitária, está a cargo dos mordomos, inicialmente os 9 maiores lavradores da aldeia de Vila Grande, os que tinham mais posses, num sistema de rotatividade entre eles.
São os mordomos, com a ajuda de familiares e amigos, que arranjam e preparam a comida servida na refeição comunitária (pão, carne e arroz). Dada a dimensão desta festa, tudo tem que ser preparado com muita antecedência. Por altura do Natal, andam pelas casas das aldeias da freguesia a recolher os cereais (centeio e milho) para fazer as broas. Em Janeiro, recolhem os restantes donativos: carne de porco (essencialmente peito e queixadas) e dinheiro para comprar o arroz.
Festa do S. Sebastião
Além de procederem à recolha destes produtos, arranjam lenha para cozerem as broas e para cozerem os alimentos; e procedem à moagem dos cereais em dois moinhos locais.
A comida é confeccionada na “Casa do Santo”. Esta casa, construída para o efeito com o apoio da Câmara Municipal, tem uma cozinha com uma lareira, um forno grande, uma amassadeira eléctrica e uma sala para armazenar as broas.
Durante cerca de cinco dias e cinco noites cozem as centenas de broas que vão ser distribuídas ou vendidas no decorrer da festa. No dia 19, à meianoite, acendem o lume na lareira da “Casa do Santo”, à volta do qual dispõem mais de 20 potes de ferro com a carne partida aos bocados, a cozer. No dia 20, assim que toca o sino para a missa, colocam-se os potes com o arroz a cozer.
Festa do S. Sebastião
Finda a missa, seguem em procissão com o Santo até à “Casa do Santo”, onde o padre procede à bênção do pão, da carne e do arroz.
Pode então iniciar-se a distribuição da comida. Na principal rua da aldeia, ao longo de centenas de metros, estão colocados os bancos de madeira, cobertos com alvas toalhas de linho – a mesa – onde, de vara em vara, será colocada a comida: broa e dois pratos de madeira, um com carne outro com arroz.
Esta refeição é para todas as pessoas que a ela acorram. Pratos e talheres cada um leva os seus, assim como a bebida para acompanhar tão salutares alimentos. Entretanto, o mordomo percorre a mesa dando o S. Sebastião a beijar e recolhendo as dádivas que cada romeiro queira oferecer ao Santo.
Festa do S. Sebastião
Dizem que, por ser benzida, esta comida tem propriedades curativas; de tal forma que as broas podem-se guardar muito tempo que não criam bolor. Tais são os benefícios que lhe são atribuídos, que muitos são os que levam pedaços, senão mesmo broas inteiras, para casa, para comer ou dar aos animais para que não padeçam de maleita nenhuma.
São Brás, 3 de Fevereiro, Espertina. Este Santo é o padroeiro desta aldeia, assinalando-se este dia com uma missa.
O Entrudo, trazia muita alegria e folia como saudosamente recordam os informantes. Encaretavam-se e andavam pelas aldeias da freguesia, enfarinhavam-se e atiravam farinha a quem encontrassem pelo caminho. Hoje são poucos, essencialmente crianças e jovens, os que se vestem de caretos.
No dia de Entrudo as refeições são à base de carne de porco (orelheira, pés) e um petisco especial a que chamam o “Bucho do Entrudo”, enche-se o bucho de um porco com farinha (centeio, trigo ou milho) misturada com ovos, açúcar e há quem lhe misture também chouriço. Coloca-se num pote e coze-se. Depois serve-se cortado as fatias.
Festa do S. Sebastião
Na Páscoa costuma realizar-se a visita pascal. Antigamente, nesse dia costumavam jogar os panêlos. Os jovens juntavam-se num grupo numa rua ou largo da aldeia, faziam uma roda e atiravam um panêlo uns aos outros. Perdia quem o deixasse cair.
São Marcos, 25 de Abril, Lousas. Assinalam o dia deste Santo, padroeiro da aldeia, com uma missa.
No S. João (24 de Junho) e no S. Pedro (29 de Junho) — Padroeiro da freguesia — faziam as tranquilhas das ruas com carros dos bois, paus e cancelas. Esta tradição acabou por desaparecer.
São Bento, 11 de Julho, Gestosa. Assinalam o dia deste Santo, padroeiro desta aldeia, com uma missa.
Festa do S. Sebastião
Nossa Senhora das Neves, 5 de Agosto, Vila Pequena. Assinalam o dia dedicado a esta Santa, padroeira desta aldeia, com uma missa e procissão de andores, acompanhada com uma banda musical, pelas principais ruas da aldeia. à noite, a festa prossegue num animado arraial popular.
São Caetano, 7 de Agosto, Antigo de Dornelas. Assinalam o dia dedicado a este Santo, padroeiro desta aldeia, com missa.
Nossa Senhora dos Remédios, 17 de Agosto, Vila Grande. Assinalam esse dia com missa e procissão de andores, acompanhada com uma banda de música, pelas principais ruas da aldeia. A noite a festa prossegue com um conjunto que anima o arraial popular.
Festa do S. Sebastião
Por altura das festas do final do ano (Natal e Ano Novo) costumam fazer as Fogueiras de Natal, reacendidas por altura da passagem de ano, a volta das quais as pessoas se reúnem e num ambiente de partilha e comunidade celebram o final de um ano de labutas e recebem o novo ano, mais um em que o ciclo se renova e a tradição perpetua.
Conclusão
Para concluir, apenas vamos deixar o nosso habitual vídeo, não com a totalidade das imagens que já aqui publicámos, de cada uma das aldeias da freguesia, pois cada aldeia teve o seu vídeo, mas um vídeo da freguesia com as imagens do post de hoje. Para rever os vídeos de cada uma das aldeias, a seguir ao vídeo de hoje fica um link para o post de cada aldeia da freguesia.
Agora os nossos vídeos também podem ser vistos no MEO KANAL nº 895607
[i] COSTA, Avelino Jesus, 1997 (2° Edição), O Bispo D. Pedro e a organização da Arquidiocese de Braga, vol. I, Braga, Ed da irmandade de S. Bento da Porta Aberta, p. 416
[ii] definição do tempo de D. Dinis citado por António Caetano do Amaral in, COSTA, J.Avelino, 1959, O Bispo D.Pedro II e a Organização da Diocese de Braga, Coimbra.
[iii] MENDES, J.M.A., 1981, Trás-os-Montes nos fins do séc. XVIII, Coimbra, INIC, pp. 376
[v] Alexandre Herculano considera que um dos factores da formação de alguns concelhos assentou na organização dos homens que se agruparam em comunidades concelhias com vista à sua liberdade pondo fim a servidão.
[vi] BORRALHEIRO, Rogério, 2005, Montalegre, Memorias e História, Ed. Câmara Municipal de Montalegre.
[vii] Os concelhos quase sempre preferiam depender directamente do Rei. Columbano Pinto Ribeiro de Castro, juiz demarcante da província de Trás-os-Montes conforme a lei de 1730, em 1796 propôs a extinção do Couto de Dornelas e a sua integração no Concelho de Montalegre porque a administração eclesiástica se tornara muito prejudicial a tranquilidade pública evitando-se as desordens que se praticão em semelhantes coutos.
[viii] FREIRE, Anselmo Braancamp, 1909, A Povoação de Trás-os-Montes no séc. XVI, Arquivo Histórico Português, Lisboa, pp272.
Ontem, dia 20 de janeiro, como todos os anos, um pouco por todo o lado, mas principalmente no Barroso de Boticas e de Montalegre, festeja-se o São Sebastião com festas comunitárias. Este ano fomos a uma delas (Vila Grande de Dornelas), e passámos por outras duas (Cerdedo e Alturas do Barroso). Pois, muito resumido, mesmo muito, deixamos aqui a Festa da Mesinha de São Sebastião da Vila Grande, freguesia de Dornelas, concelho de Boticas, em cinco olhares da festa, mais um extra.
Como sempre a primeira imagem é a da chegada à aldeia e descida para a “casa dos potes”. Dependendo do ano, esse troço de rua logo pela manhãzinha, recebe-nos com chuva, com céus carregados, com geada e leves neblinas, com neve ou com sol radiante como foi o caso deste ano, mas com um frio de rachar, ou pelo menos com essa sensação, coisa que acontece sempre quando os ares vêm de norte, da Galiza. Claro que logo pela manhãzinha, poucos são os que andam por lá para além dos que estão (já há dias) a trabalhar para a festa e que na “casa dos potes”, têm sempre um pote cheio de sopa para servir aos mais madrugadores, como nós, que já somos fãs dela (da sopa, nem tanto do madrugar). Posso-vos dizer que é a melhor sopa do mundo… e se não for, para mim é a que melhor me sabe, até nos esquecemos do frio enquanto a comemos.
Depois da sopa, há que fazer a obrigatória visita à “casa dos potes” este ano contei 23, e não são potinhos, são “potões” tamanho XXL. Esta casa, para além dos potes, dá abrigo também ao pão, que durante duas semanas foi sendo cozido para ser servido na mesinha do santo ou para quem quiser levar para casa. É também nesta casa dos potes e do pão que tudo se faz (arroz e carne), para servir o almoço a todos os forasteiros, que ao meio dia já serão milhares ao longo da rua principal da aldeia, em frente à mesa mais comprida que conheço, com “apenas” uns 470 metros, mais metro, menos metro. Claro que toda esta comida, antes de ser servida, é benzida após a missa das 11 (horas), e só depois vai à mesa sobre toalha de linho.
Lá diz o povo “merenda comida, companhia desfeita”, e todos sabemos que o povo tem sempre razão. Aqui também não é exceção, após degustado o pão, o arroz e o naco de carne, a Vila Grande volta à normalidade dos dias, ou quase, pois é preciso levantar, encartar e guardar a mesa para o próximo ano, lavar os potes, arrumar a casa… enquanto isso, os forasteiros dirigem-se quase todos até à festa mais próxima, nas Alturas do Barroso, onde os espera um pão, um copo de vinho e uma feijoada, e esta festa, sim, entra pela noite dentro até não haver mais forasteiros na rua. Mas há ainda os que depois passam por Salto. Desta não vos posso dar informações, pois apenas sei que existe, mas nunca lá fui. Para que conste, a primeira destas festas comunitárias acontece em Cerdedo, a poucos quilómetros da Vila Grande e igualmente do concelho de Boticas. Passámos por lá na hora da missa, mas quase nem parámos, por isso, também não tenho pormenores, apenas sabemos que existe e aquilo que nos contaram, mas nós gostamos de deixar aqui o relato da nossa experiência ou viver da coisa. Talvez para o próximo ano fique por aqui Cerdedo.
Em geral regressamos a casa já bem de noite, mas como já conhecemos bem os cantos das festas da Vila Grande e das Alturas do Barroso, resolvemos regressar mais cedo, ao anoitecer, ainda com tempo para uma passagem e paragem em Montalegre e depois sim, o regresso a casa, que gostamos de fazer sempre via Pedrário, onde não resistimos a fazer uma paragem sempre que a mesma nos é solicitada por um olhar diferente. O de ontem, a coincidir com a última foto do dia, é um olhar sobre o anoitecer da Serra do Larouco.
E como as promessas são para cumprir, para o ano lá estaremos “se Deus quiser”, tal como diz o povo, e nunca esqueçam que o povo tem sempre razão...
Este ano não fomos até esta festa comunitária que se realiza na Vila Grande, freguesia do Couto de Dornelas em Boticas, sempre no dia 20 de janeiro. Não pudemos lá ir mas como temos imagens em arquivo, deixamos aqui quatro olhares sobre esta festa.
Olhares sobre o mais significativo que vai desde a festa religiosa com a respetiva missa, bênção do pão e o beijar do santo. A lado pagão da festa também sempre presente com a música dos bombos e concertinas que nunca faltam em todas as edições.
Mas o que mais atrai nesta festa, é mesmo a festa comunitária de dar de comer a todos quantos lá vão, com o pão, a carne de porco e o arroz que é distribuído de vara a vara a longo de uma mesa com centenas de metros ao longo da rua principal da aldeia.
O nosso lamento, deste ano, vai apenas para o termos quebrado a promessa de lá ir em carne e osso, mas cumprimos a promessa aqui ao irmos lá em imagem, de arquivo, do ano passado. Para a ano lá estaremos de novo.
Tal como prometemos ontem, vamos até uma das festas comunitárias do Barroso, uma das mais populares, talvez pelas suas características. Trata-se da Mezinha de S.Sebastião ou a Festa das Papas, como inicialmente se denominava, que todos os anos se realiza em 20 de janeiro na Vila Grande, da freguesia de Dornelas, concelho de Boticas.
Por cá também é conhecida como a festa do Couto de Dornelas. Mas isto do Couto de Dornelas é história que em tempo oportuno será aqui abordado no blog, fica para quando a nossa rubrica de “O Barroso aqui tão perto” entra nas aldeias do concelho de Boticas. O oficial é que esta aldeia tem como topónimo “Vila Grande”.
Andei mais de trinta anos para ir a esta festa, no entanto, testemunha-o o meu arquivo fotográfico, só lá fui pela primeira vez em 2011, e fiquei fã, ou como costumo dizer, fiz promessa de a partir de aí, lá ir todos os anos, e assim tem sido, e este ano não foi exceção.
Nos anos anteriores fui deixando por aqui as imagens, a história da festa com as suas lendas, alguns números ligados ao que vai para a Mezinha do S.Sebastião e um pouco da festa popular que se vai fazendo enquanto se aguarda que a mezinha seja coberta com a toalha de linho e comece a receber os alimentos a todos os convivas.
Como já começo a ser um veterano nesta festa, embora numa festa secular oito anos de festa não sejam nada, talvez fosse melhor dizer que tenho sido mais um dos figurantes na permanência da continuidade da tradição da Mezinha de S.Sebastião, onde como tal, já vou conhecendo os cantos da casa e os tempos (timings) em que as coisas acontecem, e para não estar a repetir aquilo que disse nos anos anteriores, vou deixar por aqui um resumo do que acontece durante uma das minhas manhãs de 20 de janeiro na Vila Grande.
Despertar bem cedinho para chegar a tempo e horas de ver a mezinha ainda despida de adornos e gente. Coisa complicada pois não somos só nós a fazer o mesmo, mas dá sempre para sermos dos primeiros. O popó fica no sítio do costume, pois desde que o descobrimos não queremos outro e permite-nos iniciar o final da mezinha e vê-la a descer pela rua abaixo até à curva da meta final. Esta é quase sempre a primeira foto que tomamos no local.
Pelo caminho, ao longo da mesinha, o habitual vai-se repetindo para contribuir para a tradição. Uns marcam logo o seu sítio de pouso, a banca das chouriças e restantes pertences do reco, agora em fumeiro, lá está no sítio do costume, e nós rua abaixo vamos lançando olhares e a objetiva até onde o motivo chama a sua atenção. Um deste olhares que também é habitual é o que lançamos sempre até à aldeia vizinha de Antigo, que serve sempre para nos indicar as condições meteorológicas do dia.
Ao todo a mesa da Mezinha do S.Sebastião da Vila Grande tem cinco centenas de metros onde por volta do meio dia, após a missa a bênção do pão estará ocupada por milhares de convivas, mas lá iremos, para já continuamos a nossa descida até à “Casa do Santo”, é lá o ponto de encontro com outros amigos habituais e onde os fotógrafos e televisões se juntam para os principais registos, pois é lá que estão os potes ao lume, o pão depositado e os mordomos na azáfama final de fazer comida para milhares de pessoas. Também é por lá que parámos.
Assim, aqui no largo da “Casa do Santo” é de paragem obrigatória. Cumprimentam-se e trocam-se umas palavras com fotógrafos amigos que vamos encontrando nestas andanças, mas sempre com um olho na janela/montra da “Casa do Santo” onde vão servindo umas malgas de sopa feita no pote. Um pequeno almoço à moda antiga das aldeias que além de um sabor único, aquecem até à alma, o que em dias frios, como sempre acontece nesta altura do ano, caem como ginjas.
Nos potes a carne de porco fumada que irá acompanhar o arroz que mais tarde entrará nos mesmos potes e seguirão para a grande mesa acompanhada do pão que repousa em depósito. Potes ao todo, este ano eram 24. Mais pote ou menos pote, é esta a quantidade de todos os anos. Quanto às quantidades de carne, arroz e pão, já a contabilizamos num dos anos anteriores. Presentemente já não recordo as quantidades, mas é sempre a suficiente para chegar até ao fim da mesa e sobrar. Este ano talvez tivesse sido mais um pouco, pois com o dia 20 a coincidir com um sábado, a enchente de pessoal é sempre maior.
Depois do ritual de comer a sopa do pote, de visitar a sala dos potes e o depósito do pão é aguardar pela chegada do pessoal, e umas voltas ao longo da mesa onde os lugares vão sendo ocupados aos poucos até encherem, o que acontece num abrir e fechar de olhos. Tomados os lugares há mesa, só lhes resta aguardar. Há no entanto quem prefira um lugar mais sossegado, a sós, em momentos de apreciação ou até de introspeção, sei lá, nunca sei o que vai na cabeça de cada um…
Quanto a nós, aproveitamos sempre esses momentos de espera para uma visita obrigatória à parte antiga da aldeia, onde o cruzeiro, igreja e pelourinho são pontos obrigatório de visita, mas também para fotografar os nossos habituais modelos e um ou outro pormenor que não acontece todos os dias.
E volta para aqui, volta para ali, o tempo vai passando, a missa acaba e em jeito de procissão o padre da paróquia, o Presidente da Câmara de Boticas e este ano também acompanhados pelo padre Lourenço Fontes, dirigem-se à Casa do Santo, onde o padre benze o pão, para logo de seguida começar a labuta de dar de comer a quem espera ao longos das cinco centenas de mesa.
De seguida o pessoal de serviço começa por colocar a toalha de linho ao longo da mesa, seguido do pedido de esmola acompanhado do beijar do S.Sebastião, o homem da vara com a medida onde se coloca um pão, uma caçarola de arroz e outra de carne. E assim de vara em vara lá vai ficando o pão, arroz e carne. Os convivas apenas terão de por os talheres e a bebida.
Mas o comer vai além daquele que o Santo proporciona, pois muitos dos convivas trazem o farnel de casa que acrescentam à mesa, e que, seguindo o comunitarismo de momento tão comunitário, vão pondo à disposição dos seus vizinhos de mesa.
E enquanto uns comem, e outros esperam, a rapaziada de Ventuzelos (Chaves) vai alegrando a festa com os seus desfiles e a sua música de concertinas e bombos.
Tal como o povo costuma dizer “merenda comida, companhia desfeita”. Na Mezinha do S.Sebastião, na Vila Grande de Dornelas, também não é exceção. Ainda os últimos da mesa não estão servidos, já os primeiros estão de partida. A festa para os convivas dura uma manhã, para o pessoal da aldeia penso que durará todo o dia.
Para quem não conhece, este abandono tão cedo da festa pode parecer estranho, mas estamos em dia de S.Sebastião e não é só na Vila Grande que se comemora e há festa, daí que, o pessoal que parece estar de regresso a casa, está antes a caminho de uma festa próxima, a maioria com destino a Alturas de Barroso, a meia dúzia de quilómetros, onde a todos é servido um prato de feijoadas, um pão e um copo de vinho. E viva a Festa.
Também o nosso destino passou por Alturas do Barroso, com passagem obrigatória em Vilarinho Seco, mas em termos de festa ficámo-nos pela Vila Grande, pois nas Alturas foi só mesmo de passagem. O dia ia longo e algum o cansaço já pedia o regresso a casa. Para o próximo ano há mais.
Como já vem sendo habitual nos últimos anos, o 20 de janeiro é dedicado às festas do S.Sebastião no Barroso, daí hoje incluirmos esta reportagem na habitual rubrica dos domingos de “O Barroso aqui tão perto…”, que até aqui tem sido dedicado ao Barroso do Concelho de Montalegre , mas hoje, excecionalmente, vamos até ao Barroso de Boticas com os festejos do S.Sebastião, antecipando um pouco a nossa entrada nas aldeias de Boticas. Assim, hoje, apresentamos também aquele que irá ser o cabeçalho de “O Barroso aqui tão perto…” com uma imagem do concelho de Boticas, para a abordagem que futuramente faremos a todas as suas aldeias.
Então hoje vamos até aos festejos do S.Sebastião da Vila Grande da freguesia de Dornelas e o S.Sebastião das Alturas do Barroso, mas também com uma abordagem à aldeia da Gestosa e Vilarinho Seco, como também um pouco da história do S.Sebastião (Santo) e da mesinha do S.Sebastião (lenda), por partes.
1 - S. SEBASTIÃO
São Sebastião nasceu em Narvonne, França, no final do século III, e desde muito cedo que os seus pais se mudaram para Milão, onde ele cresceu e foi educado. Seguindo o exemplo materno, desde criança São Sebastião sempre se mostrou forte e piedoso na fé.
Atingindo a idade adulta, alistou-se como militar, nas legiões do Imperador Diocleciano, que até então ignorava o facto de Sebastião ser um cristão de coração.
A figura imponente, a prudência e a bravura do jovem militar, tanto agradaram ao Imperador, que este o nomeou comandante de sua guarda pessoal.
Nessa destacada posição, Sebastião tornou-se no grande benfeitor dos cristãos encarcerados em Roma naquele tempo.
Visitava com frequência as pobres vítimas do ódio pagão, e, com palavras de dádiva, consolava e animava os candidatos ao martírio aqui na terra, que receberiam a coroa de glória no céu.
Enquanto o imperador empreendia a expulsão de todos os cristãos do seu exército, Sebastião foi denunciado por um soldado.
Diocleciano sentiu-se traído, e ficou perplexo ao ouvir do próprio Sebastião que era cristão. Tentou, em vão, fazer com que ele renunciasse ao cristianismo, mas Sebastião com firmeza defendeu-se, apresentando os motivos que o animava a seguir a fé cristã, e a socorrer os aflitos e perseguidos.
O Imperador, enraivecido ante os sólidos argumentos daquele cristão autêntico e decidido, deu ordem aos seus soldados para que o matassem a flechadas.
Tal ordem foi imediatamente cumprida: num descampado, os soldados despiram-no, amarraram-no a um tronco de árvore e atiraram contra ele uma chuva de flechas. Depois abandonaram-no para que sangrasse até a morte.
À noite, Irene, mulher do mártir Castulo, foi com algumas amigas ao lugar da execução, para tirar o corpo de Sebastião e dar-lhe sepultura. Com assombro, comprovaram que o mesmo ainda estava vivo. Desamarraram-no, e Irene escondeu-o na sua casa, cuidando das suas feridas.
Passado um tempo, já restabelecido, São Sebastião quis continuar o seu processo de evangelização e, em vez de se esconder, com valentia apresentou-se de novo ao imperador, censurando-o pelas injustiças cometidas contra os cristãos, acusados de inimigos do Estado.
Diocleciano ignorou os pedidos de Sebastião para que deixasse de perseguir os cristãos, e ordenou que fosse espancado até a morte, com pauladas e golpes de bolas de chumbo. E, para impedir que o corpo fosse venerado pelos cristãos, jogaram-no no esgoto público de Roma.
Uma piedosa mulher, Santa Luciana, sepultou-o nas catacumbas. Assim aconteceu no ano de 287. Mais tarde, no ano de 680, as suas relíquias foram solenemente transportados para uma basílica construída pelo Imperador Constantino, onde se encontram até hoje.
Naquela ocasião, uma terrível peste assolava Roma, vitimando muitas pessoas.
Entretanto, tal epidemia simplesmente desapareceu a partir do momento da transladação dos restos mortais desse mártir, que passou a ser venerado como o padroeiro contra a peste, fome e guerra.
As cidades de Milão, em 1575 e Lisboa, em 1599, acometidas por pestes epidêmicas, viram-se livres desses males, após atos públicos suplicando a intercessão deste grande santo.
2 - A LENDA DA MESINHA DE S.SEBASTIÃO
Reza a lenda, que há muitos, muitos anos, houve nesta região um ano de muita fome e peste, que também atingiu os habitantes do “COUTO”.
Foram tantos os mortos, que os mais crentes apelaram a S. Sebastião para que os protegesse de tal flagelo:
“Se a doença se afastasse, se os doentes melhorassem e os animais escapassem, prometiam realizar anualmente, a 20 de Janeiro, uma festa onde não faltasse carne e pão para quantos a ela comparecessem.”
Como o Santo não faltou, cumpriu-se o prometido e assim se fez ao longo dos tempos, mas, com o passar dos anos, o povo foi ficando esquecido, desleixado e possivelmente mal agradecido. Um ano, não se sabe por que motivo, a festa não se realizou. O povo ficou assim, sem a proteção do santo, advogado da fome, da peste e da guerra registando-se graves problemas nesta localidade.
Conta ainda a lenda, que em 1809 (ano em que Napoleão, imperador de França, mandou invadir pela segunda vez Portugal) as tropas entraram por Chaves, a caminho do Porto, passando pelas terras do “Couto”. A má fama dos invasores já tinha chegado às nossas gentes, que atemorizadas pela eminente invasão e suas consequências (pilhagens, mortes, violações, etc.) saíram às ruas com a imagem de S. Sebastião e acolhendo-se à sua proteção, renovaram a promessa: «… Se os invasores não entrarem no Couto faremos todos os anos, dia 20 de Janeiro, uma festa em tua honra, onde não faltará comida a toda a gente que a ela vier…»
Diz a lenda que caiu tal nevão à volta do Couto, que obrigou os invasores a desviarem-se do seu caminho deixando em paz estas “gentes”.
3 - Mesinha de S.Sebastião na Vila Grande
As fotos que têm ficado até aqui são da mesinha de S.Sebastião da Vila Grande, da freguesia de Dronelas. A introdução com a história do Santo e da Lenda apenas se deve a que muitos populares, incluindo da Vila Grande, associam o início destes festejos às segundas invasões francesas. Ora na deslocação deste ano um natural da aldeia puxava o assunto à baila, onde afirmava que teve acesso a documentos em que provavam que os festejos da Vila Grande já se realizavam muito antes das Invasões Francesas. Dada a história do santo, a sua data de nascimento e ao ser venerado como padroeiro contra a peste, a fome e a guerra, entre outros, é natural que os festejos já venham de há longa data, como também é natural que lhe dessem mais significado e importância a partir das segundas invasões francesas.
Quanto à mesinha de S.Sebastião da Vila Grande já nos anos anteriores deixei por aqui o seu funcionamento, mas eu volto a repetir num breve apontamento.
Ao longo da rua principal da aldeia é colocada uma mesa com mais de 500 metros de comprimento, que é coberta com uma toalha de linho onde são colocados um pão, uma caçarola de arroz e um naco de carne de porco, distanciados de aproximadamente um metro. Antes da distribuição há uma missa, depois a bênção do pão e só depois começa a distribuição da comida, antecedida pelo pedido de “esmola” ou ajuda para as despesas (cada um dá o que quer) e o beijar do S.Sebastião.
No entanto o preparar da festa pelas gentes da aldeia começa muito antes. O Pão começa a ser cozido no forno com 4 dias de antecedência, cozendo ininterruptamente durante esses 4 dias fornadas de 35 a 40 pães de cada vez até atingirem os 1200 pães necessários para a festa, dos quais 400 pães são para colocar na mesinha de S.Sebastião e os restantes para vender aos visitantes, pão esse que é composto por uma mistura de milho, centeio e trigo. . Quanto ao arroz, 110 Kg, e à carne, mais de 400 postas, são cozinhados durante toda a noite para começarem a ser distribuídos a partir do meio-dia. A cozedura do pão é feito por turnos de 7 a 8 pessoas durante os 4 dias.
Claro que na noite que antecede a mesinha de S.Sebastião, grande parte da população da Vila Grande envolve-se com os trabalhos da festa para logo de madrugada começar a receber os primeiros peregrinos.
Peregrinos que vêm de todo o lado, principalmente do Norte de Portugal, com maior participação da gente do Barroso e do Minho, individualmente, em grupos de amigos ou mesmo em excursões que aos poucos vão enchendo toda a rua ao longo da Mesinha de S.Sebastião, ao longo da qual vão reservando lugar e petiscando nas merendas que vão trazendo.
Também o pessoal da imprensa nacional e estrangeira (jornais e televisões) não são alheios à festa, mas também um elevado número de fotógrafos amadores individuais ou de associações, como é o caso do nosso grupo de Associados Lumbudus que marcámos sempre presença ou elementos da Associação Portografia do Porto, este ano com pelo menos 5 associados.
Quanto aos preparativos da festa, tal como dissemos, começa pelo menos com 4 dias de antecedência com o cozer do pão. Quanto à Mesinha do S.Sebastião, comido o pão, o arroz e as postas de carne, o pessoal destroça e quase como num milagre, desaparece num instante, tanto que por volta das 2 da tarde a mesa está completamente vazia, mas claro que há uma razão para tal, é que o S.Sebastião não se comemora só na Vila Grande, pois na aldeia vizinha das Alturas do Barroso também há festa e em Salto, um pouco mais à frente, idem aspas. Mas estas com características diferentes. Claro que nós também não somos exceção e acabada a festa na Vila Grande também rumámos os nossos destinos até as alturas do Barroso, mas por etapas.
4 – Gestosa
A caminho das Alturas do Barroso passa-se ao lado da Gestosa. Todos os anos parámos lá num alto onde a aldeia se vê juntinha ao lado de um verdejante vale. Todos os anos ficamos com o apetite de a visitar, mas este ano não resistimos e fizemos o desvio para uma visita breve mas também para ir adiantando trabalho de levantamento fotográfico da aldeia como memória futura para um devido post dedicado à aldeia.
Para já fica a informação de que gostámos daquilo que vimos, pois se lá de cima é interessante, o seu interesse aumenta quando lhe entramos na intimidade, mas descrições ficam para o tal post futuro. Mas gostámos tanto que lhe dedicamos a nossa imagem de arte digital
5 - Vilarinho Seco
Vilarinho Seco é de paragem obrigatória para repor forças, nem que seja só com um café que é sempre bem acompanhado, quer pelos amigos do costume quer pelos improvisados concertos de cantares acompanhados pelas concertinas dos vários grupos minhotos que invadem estas festas.
Mas claro que não resistimos a tomar mais umas fotos daquelas que é uma das aldeias mais interessantes de todo o Barroso, também para memória futura de um post que surgirá quando passarmos definitivamente para o Barroso do Concelho de Boticas. Mas desta vez, além das imagens registámos também em vídeo a improvisada atuação de um duo que tanto quanto entendi era a primeira vez que tocavam juntos.
Claro que a paragem por Vilarinho Seco é sempre breve pois o destino é mesmo Alturas do Barroso par terminar o dia, que ainda só vai a meio.
6 – Alturas do Barroso
Aqui os festejos em honra do S.Sebastião são outros. Em conversa com uma natural das alturas, perguntava-me de qual das festas gostava mais, se a da Vila Grande ou das Alturas. A resposta foi a politicamente correta – Gosto das duas. Mas além de politicamente correta também foi sincera, pois ambas as festas são interessantes, apenas são diferentes, mas há sempre coisas que gostámos mais numa festa do que na outra, mas já lá vamos.
Desde criança que oiço falar das Alturas do Barroso e dos Cornos do Barroso, curiosamente só há anos soube que a aldeia das Alturas está juntinha aos Cornos do Barroso e daí, suponho, a proveniência do topónimo, pois de facto, a aldeia implantada a quase 1200 metros de altitude é a mais alta que se localiza na Serra do Barroso.
Mas como se não bastasse ouvir falar da aldeia desde miúdo, quando comecei a ler a obra de Miguel Torga tropeço com dois momentos registados por torga nessa aldeia, o primeiro data de 1956 que passo a transcrever:
Alturas do Barroso, 27 de Junho de 1956
Entro nestas aldeias sagradas a tremer de vergonha. Não por mim, que venho cheio de boas intenções, mas por uma civilização de má-fé que nem ao menos lhe dá a simples proteção de as respeitar.
Miguel Torga in “Diário XI”
O segundo momento de Torga, mais recente, data de 1991:
Alturas do Barroso, 1 de Setembro de 1991
Incansavelmente atento às lições do povo, venho, sempre que posso, a este tecto do mundo português, admirar no adro da Igreja, calcetado de lousas tumulares, o harmonioso convívio da vida com a morte. Os cemitérios actuais são armazéns de cadáveres desterrados da nossa familiaridade, lacrimosamente repetidos do seio do clã mal arrefecem, cada dia menos necessários, no progressivo esquecimento, à salutar percepção do que significam na dobadoira do tempo. Ora, aqui, cada paroquiano pisa, pelo menos dominicalmente, a sepultura dos ancestrais, e se liga a eles, quase organicamente. Vive, numa palavra, referenciado. Sabe que tem presente porque houve passado, e que, mais cedo ou mais tarde, enterrado ali também, será para os descendentes consciência e justificação do futuro.
Miguel Torga, in Diário XVI
E faço minhas as palavras de Torga, principalmente estas: - “Entro nestas aldeias sagradas a tremer de vergonha”, sim, é verdade e tal como Torga – “Não por mim, que venho cheio de boas intenções,” mas por medo a que as pessoas pensem que as minha intenções não são boas, mas ainda – “Incansavelmente atento às lições do povo, venho, sempre que posso” o que também é verdade, pelo menos desde que descobri esta aldeia, é sempre com gosto que regresso a ela, nem que seja e só por altura do S.Sebastião, mas passo por lá mais vezes.
Pois além da curiosidade que tinha desde miúdo, Torga aguçou-me o interesse em conhecer também esta aldeia e também como ele apreciei a aldeia, o seu povo, o casario e a festa do S.Sebastião.
Pois quanto à festa só lhe conheço o lado profano, aquele do comer e beber, pois nunca tive a honra de assistir à parte religiosa, que suponho que obrigatoriamente existira. Tudo porque os da Vila Grande, como já atrás referi, só têm festa da parte da manhã e assim vamos deixando as Alturas para a parte da tarde, mas fica a promessa que numa das próximas vezes invertemos a ordem.
Pois quanto à parte que assistimos, é em quase tudo diferente da festa da Vila Grande. Começando que a das Alturas é feita debaixo de teto e a ementa é servida em prato. Uma feijoada da boa, um copo de vinho e um pão. Segundo consta, pois nunca estivemos até ao fecho, a festa prolonga-se pela noite adentro, enquanto houver peregrinos com vontade de comer.
Mas claro que a parte do comer é só um breve momento, pois a festa esta lá dentro mas também à porta ou nas ruas da aldeia. Os improvisados concertos de cantares ao som da concertina são uma constante onde menos se espera ou melhor, em todos os lugares.
Uma visita, passeio, pelas ruas da aldeia também é obrigatório e se houver um pouco de conversa com as suas gentes, tanto melhor, e desta vez até fomos felizes nesta parte, pois além de fotos consentidas ainda tivemos direito a uma demonstração de como se lança o peão e uma história das antigas, também com direito a imagens, mas também estas ficam para um post futuro dedicado à aldeia, com o S.Sebastião de parte, embora a referência seja obrigatória.
E quase a terminar há que referir a simpatia das pessoas das Alturas, não só as que estão envolvidas no trabalho de dar de comer e beber a tanta gente mas também da aldeia em geral.
E não só, pois a aldeia também surpreende pela gente jovem, coisa que já vai sendo raro nas aldeias barrosãs e em geral do interior transmontano. Pelo menos do dia de S.Sebastião assim é.
E por fim, ficam as fotos prometidas e consentidas, ah! e já ia esquecendo, este ano o S.Sebastião aconteceu em plena vaga de frio polar, talvez por isso não havia neve como em alguns dos anos anteriores e o sol apareceu com a sua alegria do costume…
Aos sábados aqui no blog é dia da nossa ruralidade, daquela que vai além da cidade e das vilas, a ruralidade mais rural, a das nossas aldeias, não só as de Chaves, mas de toda a região envolvente, incluindo todo o Barroso onde o comunitarismo desde sempre fez parte da sua força para vencer os trabalhos de uma terra quase sempre ingrata. Comunitarismo que se reflete também nas celebrações religiosas e que se transforma em festa envolvendo toda a aldeia e comunidade. Mas há festas comunitárias e festas comunitárias que o são mesmo, abertas a toda a comunidade que nela queira participar. São assim as de S.Sebastião no Couto de Dornelas e das Alturas do Barroso, ambas do concelho de Boticas. Festa que desde que a descobrimos fizemos promessa de lá voltar todos os anos.
As imagens de hoje são dessas mesmas festas comunitárias que vão sendo apresentadas pela sua ordem cronológica, em que a primeira imagem que vos deixo coincide com a nossa chegada ao Couto de Dornelas à Mesinha de S.Sebastião. E assim vai sendo, com o decorrer da manhã e do dia até entrarmos na noite, já noutra aldeia. Mas lá chegaremos.
Comecemos então pelo Couto de Dornelas, topónimo pelo qual é vulgarmente conhecida a aldeia, mas penso que não é bem este o seu topónimo, pois o oficial é mesmo a Vila Grande de Dornelas.
Mas falemos da festa onde gostamos de chegar logo pela manhã para não perder pitada, ou quase, pois para por lá a festa começar logo de manhã, grande parte dos seus habitantes já anda há dias a trabalhar para ela. Então na noite que antecede a manhã da festa, nem se fala, é que dar de comer a milhares de pessoas, não é pera doce.
Mas passemos a explicar as imagens. A primeira é da nossa chegada onde a mesinha do S.Sebastião já estava montada na rua principal, mais coisa menos coisa são 400 metros de mesa. Logo pela manhã começam a chegar as pessoas das aldeias vizinhas, mas também os residentes da aldeia marcam presença nas ruas, algumas vestindo ainda as tradicionais capas de burel. Na cozinha comunitária ultima-se a confeção das últimas carnes e arroz em mais de vinte potes dos grandes. Ao lado, o pão já cozido, aguarda a distribuição pela mesa, tal como as gigas de vime cheias de pratos e malgas de madeira.
A visita à cozinha é obrigatória, embora à área de trabalha o acesso seja restrito, pois é apenas para quem trabalha ou para quem como nós blogers e fotógrafos, jornalistas e televisões querem fazer a reportagem e captar outras imagens que só lá dentro são possíveis. Entretanto pela manhã a cozinha serve algumas sopas em malgas para os primeiros forasteiros, e gente que trabalha, consolar os estômagos, pois a comida só sai para a mesinha (a tal dos 400 m) depois da missa e de benzido o pão. Coisa que só acontece por volta do meio dia. Assim, até lá, há tempo de dar uma volta pela aldeia e de apreciar o seu casario mais típico.
Entretanto a mesinha, que pela manhã estava vazia (veja-se a primeira foto), ao meio dia está repleta com milhares de pessoas a aguardar que de vara a vara (a medida) caia um pão, uma caçarola de arroz e um naco de carne sobre uma toalha de linho que previamente cobriu a mesinha de madeira.
Mas ainda antes de a comida chegar à mesa, há o ritual do peditório para ajudar a festa e o desfilar da imagem do S.Sebastião, que os crentes, um a um, vão beijando à sua passagem.
Depois sim, a comida. Pão caseio mistura de centeio e milho, arroz e o naco de carne de porco. É tudo bom, com o sabor que só os potes lhe sabem dar, mas quem vem de fora vai acrescentando sempre qualquer coisinha à mesa, como bolos de bacalhau, linguiças e salpicões, presunto, vinho entre outras coisas, que os estômagos agradecem sempre.
Nós marcamos sempre lugar no final da mesa. Assim podemos ir fazendo as fotos ao longo dos 400m de mesa e no final também saborear a oferenda. É ponto também de reunião de outros amigos fotógrafos ou não, como no caso da última foto com o nosso amigo A. Tedim, Luís Alves e um “cerdedense” vizinho do Couto de Dornelas que de tanto nos falar da sua terra resolvemos passar por lá para a conhecer, e em boa hora, pois foi a surpresa do dia, que o resto já conhecíamos. As próximas seis imagens são de lá, de Cerdedo.
Lembram-se de há dias eu dizer por aqui que havia dois Barrosos, o agreste e o verde. Pois por aqui misturam-se os dois, ou seja, nas terras mais baixas o verde é tão intenso que parece ter luz própria mas, mesmo ao lado, começa a subir-se à croa das montanhas, a luz apaga-se e o agreste predomina.
Então em dia de chuva com neblinas altas, Cerdedo apresentou-se como uma revelação desenhada com a mestria de um artista, daqueles mesmo artistas, verdadeiros. Nada ficou ao acaso, o desenho dos caminhos, os recortes dos muros, a colocação dos canastros, os tons da pintura dos verdes nos lameiros salpicados de amarelos torrados de bois e vacas, os sépias das folhas secas que teimam não soltar-se das árvores.
Até o casario parece ter sido arrumado de modo a não incomodar a harmonia da restante composição, fundindo-se com ela, fazendo parte dela.
Este encanto podia ter sido magia do momento, com as neblinas altas que mais não eram que nuvens de chuva a apagar por completo o azul do céu e a intensidade da luz do sol para que as sombras não apagassem o brilho da chuva caída sobre o todo de uma paisagem que mais parecia uma tela roubada do caixilho de uma pintura para não quebrar a coerência da composição.
Por último, ainda em Cerdedo e ainda as pinturas, agora numa tela de Silva Porto, “Guardando o rebanho” que recordo desde miúdo por ter uma reprodução pendurada numa das paredes da sala de casa dos meus pais, só que, o pastor de Silva Porto caminhava para nós, e o pastor do Cerdedo, como cena final, afasta-se de nós.
Poderia terminar aqui o post que já ficavam bem servidos, mas hoje estou generoso e quero contar-vos, sobretudo em imagem, o resto do dia, pois embora a última imagem seja de Cerdedo, quase não tínhamos saído, ainda, de Couto de Dornelas, e o nosso destino nesse momento era mesmo Alturas do Barroso.
E tínhamos ainda pela frente que subir quase toda a Serra do Barroso e fazer uma passagem com paragem obrigatória em Vilarinho Seco, mas antes, ainda havia tempo de parar no meio da serra para apanhar umas imagens, nem que fossem apenas as dos tais devaneios.
E depois sim, Vilarinho Seco que tal como o Cerdedo foi uma agradável descoberta de há anos atrás e por isso temos de parar sempre por lá para ver se continua tudo lugar e não houve qualquer doidice que estragasse a composição, mas há também o Pedro, onde é também obrigatório parar para botar um copo, mesmo que seja um café.
Por último as Alturas do Barroso onde se celebra com festa, também comunitária, o S.Sebastião, mas aqui de forma diferente. Infelizmente chegamos lá sempre tarde, já quase em hora de termos que regressar, mas cumprimos sempre a promessa. Fotograficamente falando é que as coisas se complicam, pois se em Cerdedo até deu jeito a luz não estar muito intensa, aqui, dava-nos jeito haver mais alguma, mas enfim, não se pode ter tudo. Assim, fica uma imagem noturna.
E com isto ficam aqui vinte imagens sobre o Barroso, que temos aqui tão perto e que é sempre tão interessante ir por lá para recordar o que conhecemos e descobrir novas pérolas, quase sempre com o atrativo da sua simplicidade ou mesmo virgindade.
Não, a foto ainda não é das celebrações do S.Sebastião no Couto de Dornelas, embora seja de lá e no dia da festa comunitária. Esta é uma foto prometida para seguir o seu destino, espero que chegue lá.
Quanto ao S.Sebastião deste ano, amanhã deixo aqui algumas fotos deste ano.