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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

24
Abr20

Ocasionais

“QUINZENTENA”


ocasionais

 

“QUINZENTENA”

 

 

“O homem não se rende aos anjos,

 nem se entrega inteiramente à morte,

a não ser pela fraqueza

da sua frágil vontade”-

-Edgar A. POE-

 

 

À minha porta passou um destes goliardos da moda, com o «pópó» em marcha lenta e os altofalantes no máximo, aproveitando o movimento e as filas de pessoas para entrada no CAFÉ, na Pastelaria, na Clínica Veterinária, no “Euromilhões”, no Talho, na Lavandaria, no “Take Away”, no super-mini-Mercado, no Multibanco, na Farmácia a convidar, ou a provocar, a que as pessoas reparassem no carro novo, com dez anos de livrete, que acabara de comprar, a prestações, no stand  que mais alargadas condições de crédito lhe tinha dado.

 

Fazendo uma aceleração, com um chiar de pneus, lá ao cimo da rua, sumiu-se na curva da «poça».

 

O sol e o cheiro a Primavera tentaram-me a sair à rua.

 

Sei lá bem por quê, lembrei-me que o meu amigo Jorge Agamben me disse, se a memória não me falha, que o estado de excepção era «o momento do direito em que se suspende o direito precisamente para garantir a sua continuidade e, inclusive, a sua existência».

 

Fiz a vontade à tentação. E fiz uma excepção ao estado de excepção.

 

Saí à rua!

 

Tive a sorte de ver dois melros e um casal de lavandiscas a pisgarem-se para o arvoredo de um quintal vizinho. Nos arbustos do meu jardim, os pardais chilreavam tanto que até pareciam andar engaliados.

 

E vejo por aqui criaturas excepcionais a quem o estado de excepção confere uma excepcional excelência de atitude e de comportamento.

 

Um cliente do Talho estaciona ao viés o seu automóvel. Sai da viatura com ar severo, depois de ter afivelado todos os músculos do rosto com um aperto mais puxado que o das albardas das burras e burrecos do «comboio de Seara Velha»! Empurra o ar com um «pipo» onde armazena zelosamente bifanas, entrecosto, costeletas, «francesinhas», feijoada e umas grades de «bejecas»! Olha para os transeuntes com ar de castigador imperador. Convencido de que elevava o grau da sua alpina importância, arrima os óculos para cima da cabeça! De acordo com o estatuto social que se atribui a si mesmo, calcula a excepcional distância coronovírica e aguarda a vez de ir encher a saca que pendura na mão direita.

 

Um casal, também acabadinho de chegar no seu Renault Clio de 1990, estaciona de tal forma que nem à esquerda nem à direita cabe um «papa-reformas»: ganharam espaço para abrir as portas do seu «topo de gama», com uma solenidade e ares de grandeza realmente mais «grande»! Ambos vestem (para ser mais fino, pois falo de «gente fina», não digo calçam!) luvas e usam máscaras ANTI-COVID/19!

 

Passados uns largos minutos (Não!... Que se fossem estreitos minutos os que estavam, cá fora; à espera, não reparariam na excepcional exigência na selecção das suas compras!) vi-os sair, a ela, com uma saca colorida e meia cheia de mercearia; a ele, com duas «boxes» de 5 litros, cada, de vinho alentejano.

 

Do lado de lá da rua, sobe o passeio e pára à porta de uma CAFÈ um jovem de trinta e cinco anos   -   se tivesse trinta e seis já não lhe podia chamar jovem, segundo a lei empresarial – ministerial    -   com a cara tapada por uma máscara e as mãos tapadas com umas luvas, uma e outras também anti-pandémicas!

 

Não demora muito, e vejo, entre os grupos que se dirigem à Farmácia, à Lavandaria, ao “Euromilhões”, ao «Continente», à Pastelaria, ao «Multibanco», pessoas a menearem a cabeça e a balouçarem as mãos, preocupadas em exibir os privilégios de serem pessoas excepcionais, muito especialmente neste estado de excepção; senhoras de recursos excepcionais para, neste regime de excepção, se defenderem excepcional e excelsamente do  «coronavírus chinês»!

 

Realmente!  O regime de excepção cria mesmo gente de excepção!

 

Cria mesmo gente excepcional!

 

Toda a equipa médico-sanitária se queixa da falta de máscaras e de luvas   -   e de outros equipamentos fundamentais para o exercício das suas tarefas (e que não são assim tão poucas!), e, pelas ruas e alamedas deste «jardim da Europa»   -   como se a Galiza e a Andaluzia não fossem também um jardim!...   -   «à beira do mar plantado» passeiam, «garbosos e contentes», dezenas de “combatentes anti-vírus”, com ar de super-heróis   -   de quem até o ZORRO teria medo e vergonha!...

 

Ontem, numa Farmácia aqui vizinha, entrou um “MASCARILHA-COVID /19”, com ar de “Batman” à portuguesa!

 

Coitado! Não fora a «doutora de Framácia» (a farmacêutica) chamar-lhe a atenção para a máscara colocada ao contrário e este «tugalês» excepcional ainda a estas horas andaria por aí a fazer «alegre» figura! E se o Bronco Bustin visse este MASCARILHA-COVID /19”, de tanto rir, até daria um tiro no pé!

 

Como agora, por decreto presidencial, mais rebeladamente afectivo  do que efectivo,  uma «QUARENTENA COVÍDICA» é igual a quinze dias, uma QUINZENA de FÉRIAS será de quarenta dias», olarilolela!

 

Ah! Sindicalistas!

 

O Povo é quem mais ordena!

 

Se uma QUARENTENA SANITÁRIA é de quinze dias, uma QUINZENA de FÉRIAS tem mesmo de ser de quarenta dias!

 

A luta continua!

 

E há já muito que não se falava de guerra!

 

Vejam só a coragem, a valentia, o arroubo, o «lanço» com que os nossos pistoleiros de treta e das tretas, os nossos guerreiros «parlamenteiros» e bem-governados falam de guerra, graças ao seu enorme conhecimento e sabidola experiência adquiridos no uso «exponencial» de pistolas e de metralhadoras ……………de plástico ……… ou dos vídeo - jogos!

 

Treinos desses não os tive eu, nem alguns de vós, caraças!

 

Coisas e loisas de uma excepcional pandemania de excepção!

 

 

(Agora a sério: espero que «a íntima solidariedade» entre Democracia e Totalitarismo não esteja a brincar connosco).

 

 

Mozelos, vinte e oito de Março de 2020

Luís Henrique Fernandes, da Granginha

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