No berço
O mundo estava ali aos gritos
Sozinho
Eu a querer acudir-lhe
Sem força capaz
Quis pô-lo no berço
Pesado que era
Caímos os dois
Consegui levantar-me
Mas ele redondo coitado
Patinhava no chão molhado
Sem braços nem pernas
Olhava para mim sem falar
Mas com o olhar a implorar
A dizer pega-me ao colo
E eu de novo a tentar
E outra vez a cair
Dei-lhe a mão
Rolámos pelo espaço
Fugimos dos buracos negros
No céu minado
E rimos à gargalhada
Adormeci depois sem querer
Exausta no berço também
Acordei com ele
De novo aos gritos
Em cima de mim redondo pesado
E eu sem colete salva-vidas
Naufraguei
Sem pernas nem braços
Redonda pesada
E ele nem sequer me deu a mão
Cristina Pizarro
Nota do Blog:
Hoje além deste poema que atrás ficou da Cristina Pizarro, temos outro poema da autora, intitulado “Maths” com o qual ganhou mais um prémio para a sua coleção, neste caso uma Menção de Mérito na Secção S: Poesia em Língua estrangeira do Prémio Académico Internacional de Literatura Contemporânea Lucius Annaeus Seneca,VI Edição, da Academia da Arte e da Ciência Filosófica, Bari, Itália.
A Cerimónia de entrega dos prémios decorreu no 15 de Outubro 2022, na Sala delle Scuderie, Castello Normanno-Svevo, Sannicandro di Bari.
Participara autores de 28 países, 1300 componentes.
Mais uma vez, parabéns Cristina por este prémio, mais um!
Maths
Era tão imperceptível
E ao mesmo tempo indelével
Um grão de areia
Na imensidão da praia
Que fazia diferença
Não se sentia a presença do todo
Mas a ausência da parte
Menos um raio de sol no céu azul
Uma estrela a menos na escuridão da noite
Era preciso estar atento
Saber contar
E sentir que entre o menos
E o mais infinito
Faltava um número pelo meio
Um número pelo menos
Ainda que fosse o zero
Era um número
Fazia diferença
Estivesse à esquerda ou à direita
Era da sua ausência
Que eu sentia a falta
Do vazio preenchido
O buraco negro
Num Universo insondável
Tu
A fada-madrinha
Cristina Pizarro