Cimo de Vila da Castanheira ou um pretexto para uma definição de aldeia
Quase todos os fins de semana quando abordo aqui as nossas aldeias, acabo por cair no mesmo discurso, o discurso do problema que mais as aflige e que poderá ser abreviado em duas palavras – envelhecimento e despovoamento. Na tentativa de mudar de discurso sem abandonar o tema, fui à procura de definição de aldeia e, espante-se, embora todos saibamos o que é uma aldeia, não existe uma definição concreta, cabal e satisfatória para a definir, pois todas as definições acabam por andar à volta daquilo que o dicionários nos dão, como por exemplo no meu: “ s.f. 1 - pequena localidade, geralmente com poucos habitantes e de organização mais simples que a de uma vila ou cidade, sem autonomia administrativa; povoação rural; 2 – meio rural; campo.” – Dicionário da Língua Portuguesa – 2006 – Porto Editora.
Bem podem procurar na Internet, onde há definições para tudo, que pouco mais conseguirão que no dicionário. Mas nas definição do dicionário que nos remete para a povoação rural, ainda tive esperança que no significado de povoação tivesse uma explicação/definição satisfatória, mas também esta apenas diz “ Povoação – Acto ou efeito de povoar; as pessoas que habitam uma localidade”. Em ambas as definições, de aldeia e povoamento, para além das casas apenas fala em abstrato de pessoas e habitantes, nada mais. E é aqui que está o principal problema das aldeias – poucas casas e pessoas, e é assim que são vistas pelos que detêm o poder, apenas poucas casas e poucas pessoas, sem interessarem os nomes das pessoas, os laços familiares, os usos e costumes, a religião, os saberes, aquilo que as une entre si e à terra que habitam, os porquês de estarem ali, a sua história, etc, etc, etc, que faz de cada aldeia uma comunidade especial e única, com direito à individualidade de cada um mas que partilha comunitariamente coisas comuns, quer sejam físicas ou não, como um forno, uma fonte de água, um cemitério ou uma crença, um orago, o dia da festa, um uso ou costume.
Pois ninguém, nem nenhuma definição nos dá aquilo que todos sabemos ao não dizer que uma aldeia é uma pequena localidade, com poucos habitantes onde vive uma comunidade. É que a comunidade e o seu entendimento fazem toda a diferença, senão vejamos a definição (há muitas e para todos os gostos, quase tantas como comunidades) mas fiquemos por uma que me é muito querida pelo seu âmbito social, a de Ander-Egg: “comunidade é um agrupamento organizado de pessoas que se entendem como unidade social, cujos membros participam de alguma característica, interesse, elemento, objetivo ou função comum, com uma consciência de pertença, situadas numa determinada área geográfica na qual a pluralidade das pessoas interage mais intensamente entre si que noutro contexto”
E é tudo. Fica para reflexão no que resta de fim-de-semana com a ilustração de três olhares sobre uma aldeia – Cimo de Vila da Castanheira.