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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

04
Abr24

Dez Andamentos

Da Cartografia do Desconhecido


 

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DA CARTOGRAFIA DO DESCONHECIDO

O desconhecido aproxima-se muitas vezes da suave atracção do exótico, originando um mapa onde, inadvertidamente, as camadas de um inocente imaginário criam um mundo fabuloso.

 

As atraentes listas alaranjadas de um nautilus, expelido pelas tépidas águas do mar de Andaman, podem assim encobrir o nacarado brilho interior da sua concha. Mas dessa brilhante luminosidade, aconchegada nas sinuosidades da uterina cornucópia, poderá saltar, inesperadamente, um listado tigre de Bengala, traçando com as suas presas e as suas garras um avermelhado rasto que rasga, como sanguinolenta radiografia do seu selvagem instinto, todas as nossas inocentes e idílicas imagens.

 

Na desilusão deste insuspeito mundo, agora esventrado e desvendado, o cativante brilho interior da madrepérola poderá albergar também a gelatinosa memória de uma medusa, cuja leitosa translucidez, subitamente transparente, acaba por fustigar as pernas, os braços e o corpo de quem mergulha em busca da nacarada e ideal perfeição circular, discretamente protegida pela exterior rugosidade das ostras.

 

Mas a perfeição do nácar, essa, poderá não resistir sequer à suave diluição lilás das pétalas de uma saponária, não necessitando sequer de vinagre para lembrar a corroída erosão de uma estátua de mármore, perdida no tempo e fustigada pelas chuvas, cuja desfigurada forma sempre ostentou, afinal, uma silenciosa boca preparada para qualquer inclemência.

 

São chuvas semelhantes a estas, com uma outra acidez, interior mas palpável, que fustigam também o nosso quotidiano, cavando profundos sulcos que ininterruptamente esgrafitam o mapa das nossas vidas e, a cada dia que passa, nos deixam perdidos dentro de nós próprios.

 

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28
Mar24

Dez Andamentos

Da Conta que Deus Fez


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DA CONTA QUE DEUS FEZ

 

Recolham-se, de ignoradas e secretas pedreiras da Arriacha Cimeira, alguns blocos de granito. Talhem-se estes com rude mestria, criando sólidos paralelepípedos, e transportem-se, depois, para a Arriacha Fundeira. Daí, dê-se ordem de transporte para o caminho da Fonte Velha.

 

Já em Belver, pressentindo o Tejo e o calor do sul nas nossas costas, adentremo-nos pelos muros do velho caminho, atentando no ferruginoso castanho-avermelhado do granito e nos seus traços de biotite e moscovite. Ao lado, que não nos escapem os milhares de brilhos granulados dos gneisses e dos xistos.

 

Nestes muros, criados para suster as terras e assegurar o lesto e invernal escoamento pluvioso das águas férreas, ergamos então as colunas de granito, agora mais que duas, e criemos a moldura, clara e granítica, de uma janela.

 

Emparedemos, depois, o interior desta janela com acastanhados tons de diferentes terras, com ocres, com vermelhos, com pedras e sombras.

 

Em contraste com a tessitura vagamente geométrica das rochas circundantes, que acentuam a abstracta cortina de penumbra e luz, emolduremos no parapeito desta janela, como na soleira de um portal para outros universos, a indolente figura esculpida de um felino.

 

Entre o sono e o sonho, deixem-se cirandar e entrelaçar por ali o Schrödinger, o Filipe, a Ana, o Nuno e o António Jorge, como numa rodopiante gravura de Paula Rego.

 

Reflectida nas águas de um Tejo que entretanto chegou já a Lisboa, levando consigo sáveis e lampreias, mouchões e lezírias e memórias avieiras de outros tempos, vejamos agora a lua cheia que milagrosamente se desdobra, criando uma palaciana janela encimada por três místicos hemisférios.

 

Meditemos, então, nos mistérios da lua cheia, do sol e da lua nova, e encerremos, delicadamente, as nossas incrédulas pálpebras.

 

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21
Mar24

Dez Andamentos

Da Natureza e das Memórias da Brancura


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Da Natureza e das Memórias da Brancura

 

Entre o fumegante e húmido brilho baço do arroz cozido, estranhamente, até a brancura gera sombras. Do seu vapor evolam-se memórias e aromas de jasmim, tal como das lagunas sazonais e da secular floresta laurissilva do Fanal, por entre ténues visões entrelaçadas de ramos, troncos e líquenes, se elevam, graciosamente, súbitas e misteriosas neblinas.

 

Daqui e dos desenhados mares de Corto Maltese poderia surgir uma silenciosa gaivota branca. Tão branca que nem o amarelo do seu bico se veria nem as suas penas se distinguiriam da brancura do papel. Seguindo a majestosa epifania do voo e do hierático silêncio desta imaginada ave, ninguém diria que em mundos alternativos, como nas Berlengas, se controla a sua cacofonia e a sua reprodução, ou nas lixeiras das regiões dos grandes lagos a sua voracidade omnívora as leva a ser tratadas como ratazanas aladas.

 

Espraiando-se entre Alcácer e a Carrasqueira, sobrevoando os arrozais do Sado, um outro bico, longo e alaranjado, antecede agora as alvas asas debruadas a negro de uma cegonha. Na Comporta, o vertical brilho do sol incidindo sobre as águas parece anunciar o tempo adequado ao descasque do arroz. Redemoinhando como dervixes ao vento, nuvens de pequenas cascas elevam-se da brancura dos seus grãos, soltando palavras melodiosas e encantatórias – o-ri-zi-cul-tu-ra, bái-fàn, go-han, mūn-jī, que se transformam em imagens de líquidas e longínquas paisagens exóticas e deixam ver lentos e pesados búfalos de água, movendo-se nos alagados e distantes socalcos orientais.

 

Acumulam-se os grãos de arroz em aromáticas pirâmides, crescendo até criarem uma ritmada alternância entre a sua imprecisa brancura e as ocres tonalidades do chão. Como nas casas de um primitivo tabuleiro de xadrez, os diferentes cumes destes montículos e outeiros evocam uma lendária progressão geométrica. Em alguns dos bagos, pequenos traços longilíneos preservam ainda a memória das cascas e lembram herméticas mensagens que, parecendo perder-se na cozida tessitura dos grãos, se transmutam, fervorosa e sublimadamente, em inúmeras gotículas de vapor.

 

A este milagroso desvendar do metafísico palimpsesto preside um súbito e efémero raio de sol, que se desdobra em si mesmo e cria um ofuscante e irradiante manto de cintilantes pregas de luz.

 

Com o seu calor, a brancura torna-se então seca e cegante, como numa caiada parede alentejana ao deslumbrante sol do meio-dia…

 

 

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14
Mar24

Dez Andamentos

Da Solidão em Solilóquio


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Da Solidão em Solilóquio

 

Ignorando o folheto que me pende das mãos, perde-se o meu olhar na memória das tonalidades que já envernizaram estas minhas unhas, irmanando pés e mãos ou denunciando as subtis dissonâncias públicas e privadas da minha existência.

 

Uma existência ainda hoje feita de outras existências passadas, onde os solilóquios fingiam ser altruístas diálogos disfarçando intermináveis monólogos autistas, sempre diluídos naqueles fascinantes brilhos esmaltados que escondem a obsidiana natureza estriada e translúcida das unhas.

 

Não sei porque fazes isto, Eduardo, mas até a claridade zenital deste quarto insiste nessa arte da dissimulação, encenando uma luminosidade que acompanha a nudez do meu corpo e atenua o facto de o meu rosto e o meu tronco permanecerem melancolicamente na sombra.

 

De onde queres que venha esta minha prostrada e desanimada melancolia? Das saudades de um entusiasmante passado, mais sedutor do que este monótono presente solitário? De uma persistente insatisfação que apenas terminará quando eu terminar?

 

Destas dúvidas emana uma única certeza – esta minha melancolia traduz saudades, sim, mas saudades de uma inebriante ideia de futuro que jamais se concretizará…

 

Um futuro materializado nesta bagagem fechada que me acompanha. Quando a abrir, todo o seu mistério se desvanecerá e poderei comprovar que, afinal, o seu fecho e a sua abertura em nada contribuíram para transmutar o seu conteúdo.

 

Como numa paradoxal metáfora, tudo o que dali sair será exactamente igual, embora este presente seja o futuro do passado e eu já não seja a mesma pessoa que ontem fui, nem esta minha solidão seja a mesma que ontem foi. 

 

E este inquieto saltitar, Eduardo, este inquieto saltitar que tu insistes em gerar no nosso interior, fazendo-o contrastar com a aparente imutabilidade dos cenários onde nos colocas, mais parece justificar que as tuas mãos sejam tesouras, fazendo recortes e criando colagens, e não as extremidades com que manejas estas serenas pinceladas que inquietam a nossa existência.

 

Sim, não me enganas, Eduardo. Imagino a tua deliciada satisfação quando concluis uma destas telas, sabendo que nela poderás inscrever então, uma vez mais, o apelido Hopper, com toda a ironia que essa assinatura traz ao cenário e às personagens de cada uma das tuas obras.

 

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Edward Hopper (1882-1967)

Hotel Room (1931)

 

 

07
Mar24

Dez Andamentos

Das Penumbras da Existência


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Das Penumbras da Existência

 

A luminosidade caiada das paredes reflecte a evaporada brancura do sal do mar, lembrando velas enfunadas por um vento que já não sopra e deixa toda esta roupa testemunhando a incorpórea ausência de outras gentes.

 

Evolam-se desta feérica brancura da cal merencóricas memórias árabes.

 

O silêncio de um imaginário muezzin evocando a distante e perdida Chelb, as suas hortas e os seus pomares, o orvalhado aroma das laranjeiras em flor, os versos de Al-Mutamid.

 

Da negra figura feminina parecem fluir sonhos, árabes também, como a visão de um menino de olhos fixos no horizonte, cujo vestuário de pedra sustenta uns braços pendentes rematados por grossos guantes, proporcionais ao desmesurado e abandonado elmo deposto a seus pés e à enviuvada angústia da sua eterna herança.

 

Outros sonhos afluem ainda, africanos também, mas não árabes, islâmicos ou nigerianos, sequer, como se tivessem escapado ou sido largados da mão, depois de muitos anos agrilhoados num quinhentista mercado de Lagos.

 

Da luz e da sombra do empedrado solo inclinado desta ladeira, ressalta então uma altruísta imagem das virtudes cristãs, compartilhando generosamente com o mundo a celebração do seu Calvário.

 

Alongando-se ainda nas paredes desta rua e nas soleiras das portas por onde se estendem as fímbrias da memória, as sombras parecem pontuar uma larga albufeira de luz, como num memorial consagrado ao umbral da vida.

 

E assim nascem algumas penumbras da nossa inquieta existência.

 

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Artur Pastor (1922-1999)

Albufeira (s.d.)

 

 

29
Fev24

Dez Andamentos

Do Olhar de Kupka


 

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Do Olhar de Kupka

 

Que fazes sentado nessa cadeira, Francisco, com esse robe que nem sequer hás-de vestir em Macau, três décadas depois?

 

Antevês a marcha forçada para a frente de batalha que, antes disso, te obrigarão a fazer, meditando na estóica companhia da tua mulher, caminhando contigo lado a lado, até ser detida?

 

Ou recordas as searas de Van Gogh, descobrindo as sombras lançadas pelas aves sobre os campos, num voo estilizado que absorve a luminosidade que há-de surgir nos seus nocturnos?

 

Saturada de tonalidades amarelas e vertiginosas cintilações subtis, onde se envolvem o indiano, o napolitano e o limão, o cádmio, o níquel e os ocres, os adorados amarelos de ouro e de barite da Vieira e ainda o fabuloso amarelo de indantreno da Leonoreta, que nada tem de azul, a tua aura dilui-se no teu olhar.

 

E essa é a essência do teu olhar. Um olhar de ícone ortodoxo, aureolado, virado para o exterior mas reflectindo, enigmaticamente, o que ninguém sabe ser o teu olhar interior.

 

Um olhar penetrante, quase anguloso, suportado pelas vaporizadas e suavizadas curvaturas da madeira. Um olhar que nos confunde, ao apoiar-se no suave e hipnótico balancear criado por Thonet e no entrecruzado e padronizado emaranhado da palhinha que se esconde sob essa indolente almofada.

 

O surpreendente fumo amarelecido do tabaco, livre daquela minúscula mancha branca aprisionada entre uns esquálidos e esverdeados rosas, quase distrai o nosso olhar, que peregrina incessantemente entre mãos e rosto, interrogando-se sobre a ambígua recriação de gestos cristãos protagonizada pelos teus dedos.

 

Porque escondes o bíblico dedo da criação no seio desse livro? Ocultarás aí a milagrosa criação de uma página com frente e verso, taumaturgicamente abençoada pela tua mão esquerda?

 

Desistindo face ao hermetismo do livro fechado, cujo misterioso universo branco sagazmente depositaste no regaço, perdem-se os nossos olhos no convulso mar amarelo, acabando por ancorar nesse teu magnético olhar.

 

Para onde olhas tu, afinal, Francisco?

 

Ah, sim!... Em abstracto, olhas, essencialmente, para o futuro…

 

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František Kupka (1871-1957)

The Yellow Scale (1907)

22
Fev24

Dez Andamentos

DAS VERTICAIS TRESPASSADAS PELA DIAGONAL


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Das Verticais Trespassadas Pela Diagonal

 

Não há aves nesta paisagem. Nem cavaleiros, nem guerreiros, nem lanceiros.

 

Talvez vagas e confusas memórias de Uccello, das silvestres telas de Vieira ou das longilíneas figuras de Giacometti.

 

Talvez as solitárias personagens de Colville tenham por aqui passado, ignorando embora, as de Hopper, a natural solidão destas terras do norte.

 

Talvez até tenha existido aqui uma senda na montanha, por onde poderiam trotar os cavalos de Uccello ou livremente poderia descarrilar o corcel de Colville, imitando os mustangs das pradarias.

 

Ali, nas pradarias, seria a apascentada lentidão dos bisontes, e não a hasteada horizontalidade dos alces, a pontuar a paisagem.

 

Ali não haveriam cascas de árvores marcadas pelo inquieto e invasivo roçar de javalis, nem a caudalosa azáfama dos esquilos competiria com a incansável e laboriosa vibração dos pica-paus.

 

Ali, os vidoeiros não seriam guardiães das amarelas e alaranjadas linhas de um fim de tarde outonal, ou de um profundo azul aquoso, esparsamente cercado pelos raros tufos de musgo que matizam a paisagem, como aqui.

 

Aqui, talvez a brancura das bétulas seja um prenúncio de neve, numa floresta por onde já terá pairado Poe e os corvos terão crocitado, antecipando a chegada dos ursos e a desova dos salmões.

 

Aqui, talvez o pensamento evoque Fontana, transformando-se numa diagonal que trespassa as verticais e corta a matéria, qual fascinante e tangível prelúdio de uma nova tela em branco.

 

Aqui, onde permanece o espírito Algonquin.

 

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Tom Thomson (1877-1917)

In the Northland (1915-16)

 

 

15
Fev24

Dez Andamentos

DAS SILHUETAS E DA SOBREPOSIÇÃO DAS MÃOS


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Das Silhuetas e da Sobreposição das Mãos

 

Perdem-se, as nossas sombras, mesmo quando não pensamos ser Peter Pan.

 

Perdem-se sobrevoando pradarias, planícies, searas e celeiros, antes de se diluírem em bairros periféricos, entrecruzando-se no Ironbound com estruturas de pontes, carris e guindastes, e chegando depois a Brooklyn através do olhar que, em Newark, Saramago lançou sobre Joseph Stella.

 

Tudo isto parece enlaçar-se e entrelaçar-se numas tranças de finos cabelos negros e num olhar que escapa à imensidão dos campos delimitados por postes, e cercas, e arames, e vedações, nos vastos territórios desta land of fences.

 

Um olhar que reflecte as memórias dos emigrantes de Alfred Stieglitz e de toda a gente da terceira classe, desembarcando o futuro de filhos e netos que hão-de vir e aguardando pelo aconchegante natal branco de Miguéis.

 

Um olhar diluído na opulenta brancura das flores e dos jarros de O’Keefe, que escondem em si as descarnadas ossadas do futuro e anunciam as desoladas mães desempregadas de Dorothea Lange.

 

Um olhar desfocado, reflectindo também quem nos vê, fixando a sombria silhueta de um inquietante perfil e a serena sobreposição das mãos sob um rosto delineado a meia-luz, esquecido já da plena e luminosa felicidade inocente dos putti de Rafael.

 

Perdem-se, nestas sinuosas e labirínticas silhuetas, as nossas sombras de hoje…

 

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Ralph Eugene Meatyard (1925-1972)

Untitled (n.d.)

 

 

08
Fev24

Dez Andamentos

DAS MÁSCARAS INTERIORES


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Das Máscaras Interiores

 

São assim as nossas máscaras interiores.

 

Recortadas e tridimensionais, com olhos e ouvidos pronunciados, nariz alongado, boca bem aberta. Como que obedecendo ao hábil e ágil manejar de um intocável e desprezível gladiador retiarius, tudo isto acaba por se enredar numa única malha, inquietantemente sobrepujada a verde, onde o mais negro de nós se enovela.

 

Não é este um verde de esperança, mas de inveja e de medo, de quem teme vir a não ter corpo, nem pernas, nem pés, nem braços, nem mãos. De quem teme ver o seu sangue a ser derramado e a coagular-se na areia, deixando na arena uma empastada mancha que não é já de vermelho vivo.

 

É um verde da cicuta que somos nós mesmos.

 

E aquela mancha, cada vez menos líquida e menos vermelha, nada mais é que uma mancha repleta de medo. O medo de nem sequer conseguir tactear. O medo da insensibilidade e da imobilidade final. O medo de ver passar ante nós tudo aquilo que foi, mas sobretudo o desespero de ver ainda tudo aquilo que poderia ter sido e não foi.

 

E tudo isto suspenso num tempo que foge e voa, podendo não durar mais que uma fracção de segundo.

 

Assim são, também, os nossos medos interiores, simultaneamente eternos e efémeros, permanecendo intactos enquanto aguardamos por uma messiânica visão de rubros grãos de romã e esperamos que o seu sumo seja o nosso absinto.

 

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Cristina Valadas (n. 1965)

Máscara (s.d.)

01
Fev24

Dez Andamentos

Dos Olhares à Janela


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Dos Olhares à janela

 

Que dizer de indiscretos olhares, velados não por translúcidas cortinas mas sim por multicoloridos e feéricos reflexos, nascidos de ilusões e realidades vislumbradas apenas na superfície das vidraças?

 

Muito pouco, certamente.

 

Seriam olhares que não se debruçariam sobre a calçada, sobre as sombras causadas pelas irregularidades das suas pedras ou sobre as ervas irrompendo dos interstícios.

 

Olhares que antes perscrutariam, ansiosamente, mudas sombras e indistintos vultos caminhando ao longo das ruas, procurando adivinhar expressões faciais ou ler abafadas palavras que pareceriam sair de longínquos e difusos rostos.

 

Olhares presos a parapeitos assentes em metálicas grades floridas, mal se apercebendo das reverberações luminosas e dos diferentes tons alaranjados que, ao leve ar da manhã ou ao sufocante calor do meio-dia, pairam sobre os inclinados telhados da cidade.

 

Olhares que ignorariam as flutuações das marés, as diferentes tonalidades aquosas das ondulações agitando o rio, o ténue azul celeste das neblinas encobrindo o céu matinal, o profundo azul do entardecer primaveril, o sublime anilado dos crepúsculos de verão.

 

Olhares que nada mais veriam a não ser a indizível e enganadora aparência de pessoas que parecem viver a vida.

 

Destes olhares o que poderia restar?

 

Nada, certamente.

 

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Maluda (Maria de Lourdes Ribeiro, 1934-1999)

Lisboa – Tejo (1987)

 

 

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