Ocasionais - O Mês de Dezembro
“O MÊS de DEZEMBRO”
Para nós, começava com um Feriado - O 1º de Dezembro!
I
O dia 1 não era «um», era O 1º de Dezembro!
E todos sabíamos significar e lembrar o Dia da Restauração da Nossa Independência!
No 1º de Dezembro sentíamos como se estivéssemos no meio da multidão que gritava apoio aos Conjurados e ajudava a escorraçar «o inimigo».
Em 2013, a covardia e a traição de uns «pentelhos de merda» acabaram com a comemoração nacional de uma das datas mais históricas do Povo Português!
Mas nós, dentro do nosso território pessoal e íntimo continuamos a recordar a valentia desses nossos antepassados, a manifestar-lhes veneração e reconhecimento.
O 1º de Dezembro far-nos-á sempre dar conta do orgulho de ser Português.
II
Depois do 1º de Dezembro, celebrado como Feriado Nacional, seguia-se o 8 de Dezembro, consagrado como o «Dia da Mãe».
O Comércio e os poderes dos «Mercados», feitos com a «bispada» e «padralhada», acabaram com ele e mudaram o «Dia da Mãe» como quem muda de camisa…ou de paramento!
III
Particularmente para nós, seguia-se e segue-se a recordação, íntima, de 17 de Dezembro - o dia em que embarcámos no «Vera Cruz» com destino a Angola, para a chamada «Guerra do Ultramar».
Nesse ano, o Natal passámo-lo no alto mar.
As cicatrizes ainda estão em carne viva - e já lá vão cinquenta anos!
IV
O calendário salienta o Natal.
Apetece-nos dizer que, de ano para ano, o Natal está cada vez mais apalhaçado.
A ganância, a estupidez, a hipocrisia, a heresia (ou religiosa ou de sentimentos), o Comércio e os «Mercados» mataram o “Menino Jesus” e proclamaram imperador do Natal um boneco desengonçado, feito com um farrapo vermelho e com uma rodilha mal enchouriçada no toutiço!
Envergonhados de um “Menino” nascido num monte de palha numa corte onde um burro e uma vaca passavam a noite, os novos-cristãos passaram a celebrar o Dia em nome de um bispo turco, que, dada a vincada vocação do pai para a negociata e das vantajosas trocas entre turcos e italianos, mereceu que os seus restos mortais ficassem em BARI.
Numa «vida futura», até venceu dois Festivais de San Remo!
“O Dia do Arco-Íris” [Erano (I Giorni dell'arcobaleno)] deu-lhe fama e proveito!
(Bem, os italianos têm a mania de roubar os santos de outras pátrias: Stº António de Lisboa é Santo António de Pádua, e o São Nicolau de Myra é o S. Nicola dei Bari!).
Aquele encanto e aquela paz de espírito envoltos num manto de alegria por nos sentirmos rodeados por um subtil e misterioso ambiente de felicidade, de especial contentamento por estarmos em família, dando conta que os corações de pais, tios, primos, avós e irmãos batiam ao mesmo ritmo que o nosso, parecendo tocarem-se uns nos outros e tilintarem a cada encontro; o prazer com que se comia um bolinho de bacalhau, se devorava uma filhó e se saboreava uma rabanada, ajuntado ao entusiasmo de uma “Rapa-Tira-Deixa-Põe” de pinhões acabadinhos de debulhar de uma ou duas pinhas de um pinheiro manso, tudo isso foi deitado ao caixote do lixo dos bons sentimentos por aqueles querem e se atrevem a decidir tudo (e mais alguma coisa) acerca da vida, da crença, da fé, dos costumes e das tradições de toda a gente!
Agora a alegria e a felicidade natalícias passam a ser determinadas pelo total das Caixas Registadoras, das Caixas das Gorjetas e pelo Saldo bancário!
Aquele ar fraterno que aquecia as almas e os corações nos primeiros dias de Inverno parece ter sido enxotado para outro mundo.
Já nem se fala (nem se escreve) em “Noite de CONSOADA”!
Pois! A Família é agora a «massa associativa», a equipa, o bando, «o público maravilhoso»!
V
E na semana seguinte chega o Dia de Ano Novo!
Também este já não traz “Vida Nova”: vem apenas com a promessa e o castigo de mais uma enorme carga de impostos, de aumento do custo de vida - como se a vida não fosse já demasiado custosa!
“Boas Festas m’hades dar os reis!” é o alegre cumprimento que perdeu uso!
Barulho, «copos» e «abanar o capacete» passou a ser o ponto alto, o momento certo para que uma grande parte da populaça encontre algum sentido para a vida que leva.
O Homem merece cada vez menos os dons que possui!
M., 1 de Dezembro de 2013
Luís Henrique Fernandes