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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

05
Jun22

O Barroso Aqui Tão Perto - Freguesia de Dornelas - 2ª Parte

Boticas - Barroso


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O Barroso aqui tão perto - Freguesia de Dornelas - 2ª Parte

 

UM DOCUMENTO DE 1758

No ano de 1758 o Rei D. José, através do seu ministro Marquês de Pombal, desenvolveu um inquérito a todas as paróquias do Reino de Portugal continental que hoje se encontram no IAN/TT.

 

Este inquérito, que foi respondido pelos párocos das freguesias era composto de três partes. A primeira parte, respeitante á paróquia onde se tratava de saber da sua história, produções agrícolas, população, instituições locais, igreja e capelas com suas devoções e romagens, a segunda tratava dos rios e ribeiros que nela existissem, assim como das levadas e represas, moinhos e pisões, e a terceira perguntava pela serra e por todas as suas caracteristicas, se tinha lagoas e nascentes, monumentos, capelas, caça e árvores.

 

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Gestosa

É graças a este inquérito que se pode obter uma visão mais ou menos completa de como era a freguesia e o Couto de Dornelas, nos meados do século XVIII como abaixo se vê. Esta memória paroquial é particularmente importante na informação que dá sobre o funcionamento do couto e da sua economia que mais tarde viria a ser complementada pelo levantamento feito por Columbano Pinto de Castro no ano de 1796 do qual se extraiu a informação que permitiu a construção do quadro atrás analisado.

 

Breve cópia de relação e fundação deste Couto de Dornelas da comarca de Chaves, do Arcebispado de Braga Primaz das Hespanhas.

interrogatório

Fica este Couto na Província de Trás-os-Montes, confronta pela parte do Sul e a Poente com a província do Minho. No espiritual pertence a comarca de Chaves e ao Arcebispado de Braga Primaz. O seu termo compreende somente uma freguesia que tem por orago o Apóstolo São Pedro.

 

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Gestosa

É esta freguesia Couto dos senhores arcebispos de Braga, por doação e mercê que dela lhe fez o Senhor Dom Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal. O motivo que para isso houve foi o seguinte: no tempo em que Senhor Conde Dom Henrique da Litoringia, com o seu célebre esforço andava na expulsão dos Sarracenos, que nesse tempo ocupavam estas terras, ao chegar a esta terra os encontrou tao fortificados que combatendo-os em vários combates não conseguiu destruir a praça ou muralha em que se achavam fortificados no que chamavam a cidade de Genestota, vocábulo que se transformou em Genestoza. Vendo-se o Senhor Conde D. Henrique neste conflito recorreu a Deus prometendo esta terra a Virgem Santíssima Nossa Senhora Santa Maria do Hospital. E assim que fez a promessa os tomou a combater e logo os venceu, assolou e destruiu. E não podendo por em execução, a promessa que linha feito, até as portas da sua morte, encontrando-se na cidade de Astorga no reino da Galiza, ali mandou chamar seu filho o Senhor Afonso Dom Henriques, lhe disse e pediu que lhe cumprisse aquela promessa a Nossa Senhora, dando-lhe aquela terra. Como lhe tinha prometido, o Santo Príncipe executou-a quando lhe foi possível, a ela veio ele próprio na companhia do senhor Dom Plázio Arcebispo de Braga e a deu e doou a Nossa Senhora na forma seguinte: Em nome do Pai e do Filho e do Espirito Santo. Eu servo de Deus o infante Dom Afonso Henriques faço, dou a Santa Maria e àquele hospital de Dornelas para remédio da minha alma ou dos meus parentes e é aquele couto terminado em primeiro lugar a Lucenciam e depois (vai) à Portela Figueiras que depois (vai) ao Penedo (Pena Boa) depois à carvalhosa depois a Mossa de Subverso depois à Fraga da Graça (Graçalios) depois a Pena Petrovili depois Arco (Arcem) de Lagena, depois ao Couto de Cividade de Genestosa a Lucencia onde iniciamos; tudo o que dentro deste couto pertence ao império real tudo isso pagamos, disto foi feito por mão do Senhor Paio (Mendes) Arcebispo da Sé de Braga. E se algum homem vier ou virmos que este (instrumento) feito nosso tentar infringir primeiramente seja excomungado e mal pague uma libra de ouro e este nosso instrumento feito nosso permaneça firme. Eu Infante Dom Afonso confirmo pela minha mão este Couto a que foram presentes Paio testemunha, Pedro testemunha, João testemunha, Gongaio testemunha, Rodrigo testemunha, Egas Moniz confirmo Ermigio Moniz confirmo Gomezio Mendes confirmo Gueda Mendes confirmo... Couto que fez o Infante Dom Afonso a Santa Maria e ao Hospital de Dornelas. Em nome do Pai e do Filho e do Espirito Santo eu servo de Deus, Infante Dom Afonso, faço couto dou a Santa Maria e aquele Hospital de Dornelas para remédio da minha alma ou dos meus parentes e é aquele couto terminado (limitado) por todos os seus vizos que são no circuito tudo o que dentro desse couto e pertence ao império real tudo isso é pago e isto foi feito por mão do Senhor Paio Arcebispo da Sé Bracarense que se algum homem vier que este couto tentar infringir primeiramente seja excomungado e pague uma libra de ouro é este nosso instrumento permaneça firme. Eu Infante Dom Afonso neste couto com a minha mão roboro (confirmo) Paio testemunha, Pedro testemunha, João testemunha, Gonçalo testemunha, Rogus (sic) testemunha, Egas Moniz confirmo Ermigio Moniz confirmo Mendes Moniz confirmo, Mendes Moniz confirmo, Gomes Mendes confirmo, Geda Mendes confirmo, Mendo presbítero escreveu...

 

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As quais doações aqui copiei de uma certidão autêntica que em meu poder tenho e foi tirada autênticamente do arquivo da Sé Primaz de um livro que nele se acha intitulado Tomus tertius Rerum Memorabilium as folhas cento e oitenta e três até ao cento oitenta e cinco, como da mesma certidão mais largamente consta Este couto não paga dízimos nem promissa de frutos alguns que colha. Mas, em seu lugar paga quinze arrobas de cera amarela, todos os anos, à Mitra Primaz de Braga para o que houve Bula Pontifica por contrato e ajuste que fizeram os moradores dele com o Senhor Arcebispo, que a tradição foi o Senhor D. Frei Bartolomeu dos Mártires.

 

Não pagam siza de compras nem vendas dos bens no dito Couto, mas por ser muito pequeno o seu termo e não poderem os moradores dentro criar os seus gados, para os pastarem fora pagam trinta mil réis em cada ano ao cabeção da siza da vila de Montalegre, vão-na entregar a Vila Real e lá tiram paga dela.

 

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Lousas

4°. Tem este Couto e freguesia cento e sete fogos e quatrocentas é nove pessoas. Destas acham-se absentas quarenta e sete.

 

interrogatório - Está este Couto situado entre montes a toda a volta pelas suas divisões. Dele para fora não se avistam povoações para parte alguma por ficar baixo, razão porque é muito doentio e sujeitos os frutos a tolherem-se com a geada.

 

interrogatório — Consta esta freguesia de seis lugares, a saber: Vila Grande que é a cabeça do concelho e freguesia, Antigo, Vila Pequena, Gestosa, Lousas e Casal de Guimbroa. Que todos são do termo e distrito do Couto mesmo que assim o não queiram conceder os Abades da igreja de Santa Maria de Covas do Barroso, pois movendo estes demandas a alguns moradores do Antigo e outros de Gestosa pedindo-lhe dízimos dos seus campos. Por conclusão, o Couto foi demarcado no ano de mil setecentos e três na presença do Doutor Ouvidor e Procurador Geral da Mitra, justiça e Câmara do Couto, justiça e Câmara de Cabeceiras de Basto, justiça e Câmara da Vila de Montalegre e todos os povos circunvizinhos.

 

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Lousas

Concluindo o acto de demarcação, tomou, o que então era abade de Covas, a meter-se com palavras fribulas e sophislicas com os moradores de Gestosa e se tornou a meter de posse de alguns bens do dito lugar, entrando a obrigar os pobres moradores pelos dízimos em que os trouxe muitos anos debaixo de censuras, pondo-os na mais consternação que considerar se pode e os compelio, pela posse que intrusamente tomou, a pagarem dízimos do que nunca se pagou pois até aquele tempo se nado pagava no dito lugar de Gestosa sanjoaneira e agora a pagam mas contra a razão pois avista das doações acima foi este povo a causa de se fazer este Couto.

 

Está tão próxima a fortaleza em que os mouros se fortificaram e resistiram ao Conde o Senhor Dom Henrique, que do alto dela se chega com uma pedra de funda às casas do mesmo povo. Este conservando ainda o nome da antiga cidade Genestoza, ainda vendo-se pelas casas antigas do mesmo povo e paredes dos campos feitas e lavradas que bem mostram ser de antigas habitações. E sobretudo da doação se vê claramente o que o Senhor Dom Afonso deu a Nossa Senhora pois diz a primeira doação nesta parte falando usque ad cautum civitatis Genestosa (até ao da cidade de Genestosa); e porque algum dia poderia haver dúvidas como há, declarou a sua vontade e atenção na segunda doação, que logo fez, onde diz: per suos vizus qui sunte in circuitu (por seus vizinhos que estado ao redor) donde claramente se vê pois ficam em roda deste Povo e seus campos para a parte do norte e entre norte e nascente este monte que é ramo da serra das Alturas. Pela parte do norte se chama o Mourisco e decaindo para o nascente se chama ainda hoje a Luzenga que é até onde aquele sempre memorável Príncipe doou a Nossa Senhora e aos Senhores Arcebispos de Braga. E assim se devem entender as doações acima sobreditas, eu assim o entendo e afirmo pelas ordens que professo.

 

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Lousas

interrogatório - A igreja matiz deste Couto acha-se situada no lugar de Vila Grande, dentro do corpo do lugar, mais pendente para a parte do Nascente, entre as casas dos moradores e tem a residência do pároco dentro do adro dela.

 

Interrogatório - Tem por orago e padroeiro o Apóstolo São Pedro, esta colocado no altar-mor da mesma igreja. Tem mais no mesmo altar, na parte da Epístola Santo António e São Libório, ambos em vulto e da parte do Evangelho o padroeiro São Pedro e o da Senhora do Pilar, todos em vulto.

 

Tem mais três altares colaterais, dois encostados ao arco da capela-mor e um metido de acostam da parte do sul. No da parte do Evangelho é padroeira nele Nossa Senhora da Conceição. Tem mais a parte da Epístola São José e a do Evangelho Santa Ana, todos em vulto. O altar da parte da Epístola é intitulada de São Sebastião tem o mesmo Santo em vulto e o menino Deus da mesma sorte; o que esta na costam da igreja intitula-se o altar das Almas.

 

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Lousas

Estão neles pintadas e retratadas, em penas no meio do altar está um Senhor pregado numa cruz de bastante grandeza. Todos estes Santos são festejados no seu dia com uma missa cantada organizada por mordomos.

 

Há nesta igreja o sacrário do Santíssimo Sacramento colocada no meio do Altar-mor. Tem renda para sua subsistência e fabrica, que não sei ao certo o que pouco mais ou menos será quinhentos mil réis. Tem uma irmandade das Almas debaixo da proteção do Santíssimo Sacramento. Terá até duzentos irmãos e de casco até seiscentos mil réis pouco mais ou menos. O Santíssimo Sacramento venera-se no dia do Corpo de Cristo com exposição, missa cantada e sermão. Não tem esta igreja naves.

 

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interrogatório - O pároco desta freguesia tem o título de Vigário, é colado, o seu padroeiro e o Senhor Arcebispo. Esta igreja é uma das da sua Camara da Mitra Primaz, tem de estipéndio seis mil e quinhentos réis. Rendera de um ano para outro setenta mil réis pouco mais ou menos.

 

9 Interrogatório — Não há que responder. Nem também ao décimo, décimo primeiro e décimo segundo pois não há nada do que nestes quatro se pergunta.

 

13 Interrogatório - Tem esta freguesia cinco capelas. Uma de São Caetano na lugar do Antigo, junto ao povo, colocada ao pé da estrada que vai da Vila Grande, Cabeça desta freguesia, para a vila de Chaves. Os seus moradores o festejam no seu dia com missa cantada sempre e sermão alguns anos. Tem a mesma capela uma imagem em vulto de Nossa Senhora da Guia que também se festeja muitos os anos, aos 15 de Agosto, com missa cantada e sermão. Não tem fábrica nem rendimentos alguns. Tem mais outra capela no lugar de Vila Pequena com o título de Nossa Senhora das Neves, é Senhora milagrosa, a ela concorrem no seu dia alguns romeiros dos povos circunvizinhos. Seus moradores fabricam a capela e festejam a Senhora com missa cantada e sermão todos os anos.

 

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Vila Grande

Tem os moradores do lugar da Gestoza outra capela com o orago de Nossa Senhora do Bom Despacho e o São Bento, ambos em vulto. Fabricam os seus moradores a tal capela e veneram o Santo com missa cantada todos os anos e em alguns também há sermão.

 

Os moradores do lugar de Lousas tem também capela com o orago de São Marcos, veneram-no no seu dia com missa rezada, porém em alguns anos é cantada. Tem outra capela, no monte de {Terreiro} junto a estrada que vem de Chaves para o Couto, com o título de Santo Antão. E muito antiga e conta a tradição que foi igreja matriz ainda no tempo dos mouros. O que parecia ser provável antes de se reconstruir porque tinha a forma de corpo de igreja e capela-mor, tudo muito pequenino e com o seu adro à volta tapado. Hoje reconstruiu-se de novo a fundamentis com esmolas de algumas benfeitorias e outras que os seus devotos lhe oferecem. E um Santo milagroso para os animais. Como já disse, esta capela fica no monte de Terreiro, defronte a igreja matriz deste Couto, no seu termo e a ela pertencente como todas as que tenho feito menção neste interrogatório.

 

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Vila Grande

Interrogatório — Colhe-se nesta terra centeio, milhão, milho-alvo e painço, vinho e castanha, mas o que mais é abundante é o centeio e a castanha. Mas nem por isso deixam os moradores de comprar pão, quase todos, por se lhe tolher muito com a geada e ser muito apertada a terra que se fabrica.

 

interrogatório — É este Couto de Dornelas da Mitra Primaz, como tenho dito, e todas as suas justiças são postas por ela. Tem juiz ordinário e dos órfãos, vereador e procurador que são eleitos pelo Doutor Ouvidor de Braga. Tem a sua carta de ouvir, estes elegem a Câmara para o que têm o seu escrivão que serve todos os ofícios do publico, judicial, notas, órfãos e câmara. Também estes ofícios são dados pelos senhores Arcebispos de Braga, a quem pertence tudo no espiritual e temporal! dentro deste Couto.

 

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Vila Grande

Interrogatório - Já respondi.

 

interrogatório — Não tenho que dizer.

 

interrogatório — Não tenho que responder.

 

 interrogatório — Não tenho que dizer, só que não há correio e se servem, os moradores deste Couto, de muitos conforme o negócio para onde escrevem. O mais comum é pelo de Cabeceiras de Basto, que fica onde chamam a Rapozeira. Dista quatro léguas deste Couto, nado sei ao certo o dia que parte nem até onde chega.

 

interrogatório - Dista este Couto da cidade de Braga, capital do Arcebispado, dez léguas, e de Lisboa sessenta e seis, oiço dizer, mas nunca aí passei, nem sei ao certo.

 

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Vila Grande

interrogatório - Já no princípio desta breve relação dei conta e copiei as doações deste Couto, agora só me resta dizer que os moradores dele têm obrigação não só de fabricar o corpo da igreja matriz, mas também a capela mo re ornamentá-la com todo o necessário, dar a paga ao pároco, camo disse no ponto 8 e fazer aposentadoria ao Reverendo Visitador quando vem visitar esta igreja. E não tem para ela mais do que três mil réis e isto esta disposto por decreto do senhor Arcebispo inquisidor Geral passado no ano de mil seiscentos e setenta e seis e depois confirmado por outros prelados. E se o Reverendo Visitador gastar mais o repõe ou perde o juiz da freguesia que é o que esta obrigado a fazer aposentadoria.

 

Antigamente tinha a justiça e Câmara deste Couto a regalia e prerrogativa de nomear o pároco para esta igreja, era cura de São João a São João. Os senhores Arcebispos de Braga, por distúrbios que nisto havia, lhe tiraram esta liberdade e puseram encomendados na igreja cinquenta anos. E depois, a deram colada, haverá trinta e oito anos que segue a natureza de colada e se tem dado a três párocos. Não tenho mais coisa alguma que responda e este interrogatório nem aos mais que se seguem até ao número 27.

 

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Tratado segundo das serras e montes que se encontram a volta do Couto e na sua jurisdição, reduzido tudo a um.

 

Principiando pela parte do Norte a esta parte fica a Serra das Alturas. Desta descem dois ramos, um que desce entre Vilarinho Seco, que é lugar da freguesia das Alturas, e a Ribeira de Gestosa pela parte do Nascente e chega até direito do lugar de Agrelos que é povo da freguesia de Santa Maria de Covas de Barroso. Terá esta serra meia légua de comprimento. E infrutífera, não produz mais do que urzes. Tem muita pedra que fora da terra se estão vendo e são de má qualidade, pois são de sua natureza bravas, duras e ásperas, mas da gram branca. Esta serra é por natureza seca e não produz ervas medicinais conhecidas. A esta serra chama-se Luzença, outros chamam-lhe a Costa por ficar muito ao cimo para quem vai da Giestosa para o supracitado lugar de Vilarinho.

 

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Vila Pequena

E a outro braço da serra das Alturas vem pela parte do norte discorrendo para o poente, chama-se o Mourisco e outros chamam-lhe a serra da Carvalha. Vem esta serra dividindo o Couto, e o seu termo, do de Montalegre e acaba onde lhe chama a Ganidoura, ou ponte das Barjas. É de sua natureza seca e muito fria e no Inverno acha-se muito tempo coberta de neve. Não produz árvores nem ervas medicinais, mas sim muitos lobos que nela se criam pela sua aspreza. Tem matos, urzes e pedras, tem e aí cria alguns coelhos e perdizes. Não produz senão centeio em algumas partes mais abrigadas.

 

Defronte a este monte da Ganidoura, olhando em volta se vê e segue-se o monte do Mugadouro que fica ao Poente aos moradores do Couto. Deste nasce um braço que vem pelo Couto abaixo pela parte do Sul.

 

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Vila Pequena

Esta serra no seu inicio chama-se a Pedradeira, por onde vem a estrada de Basto e Salto para o Couto. Finda esta serra dentro do mesmo Couto onde chamam a Figueira da Cabra. Tem de cumprido uma légua. Esta serra produz muita colmeia, tem muita castanha e vária caça como javalis, corgas, coelhos, lebres, perdizes e também lobos; dizem-me que nela se tem visto algumas vezes gamos e veados.

 

 Em conferência desta serra sobredita corre igualmente outra que se chama a Lomba de Melcas, que faz a divisão do termo do Couto do concelho de Cabeceiras de Basto, cujo termo vai pelo cume, ou serro da serra abaixo e vai findar o termo com a serra onde chamam o Mosteiro que é um porto onde se passa deste Couto para o lugar do Penedo, da freguesia de Gondiães do concelho de Cabeceiras de Basto. Esta serra tem a mesma natureza, comprimento e caça que a de cima e ambas correm de Poente para Sul, iguais na altura e no comprimento.

 

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Vila Pequena

Este Couto tem mais um monte da parte do Nascente que fica defronte aos lugares dele e encobre a vista a todos os lugares e terras circunvizinhas. Este defronte ao lugar do Antigo, chama-se Terreiro é onde esta a Capela de Santo Antão a que já fiz menção.

 

Em seu lugar, e subindo mais ao alto do monte se chama Pinheiro o  qual é por uma e outra parte do termo do Couto. Fica entre Nascente e Sul aos moradores do lugar de Giestosa. Tem este ao pé de si outro monte chamado o Crasto que foi onde os mouros se fortificaram para resistirem aos seus adversários. É este monte redondo, pequeno e descortinado da parte do Poente, Norte e do Nascente lhe fica o monte Pinheiro que o cobre e defende.

 

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Vila Pequena

 

Esta fortaleza, ou monte Castro, foi murada com três ordens de muralhas: a primeira cerca-o pelo meio em roda, a segunda mais acima coisa de quarenta passos, e a terceira em todo acima em toda a roda e terá de comprimento de Norte a Sul cem passos e de Nascente a Poente cinquenta. Hoje se acham os seus muros quase que todos arruinados, mas ainda se vêem os seus fundamentos e em algumas partes se acha ainda parte dos mesmos muros. No cimo desta muralha para a parte sul descobre-se uma porta, que oiço dizer por tradição, que é uma estrada falsa que eles tinham feito para ir buscar água a um ribeiro que passa a beira da fortaleza, mas to fundo que são mais de seiscentos passos de onde se divisa a porta abaixo ao ribeiro.

 

Este monte é todo fragoso. Esta ainda cheio de pedras virgens que nunca foram movidas nem quebradas. [Não há] em todo este monte, nem dentro da fortaleza, vestígios de ter existido casa alguma, Está todo coberto de urzes e matos, não tem arvores em si e só o redor está povoado de castanheiros, dos moradores daquele lugar. Que eu saiba, nenhum dos montes acima tem minhas, nem ervas medicinais, nem águas com virtudes especiais de que se possa fazer menção.

 

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Festa do S. Sebastião

 

Terceiro tratado, dos rios e suas propriedades.

 

Tem este Couto três regatos. Um nasce e começa onde chamam Rebordelos, do distrito e termo do lugar de Vilarinho Seco das Alturas. Nasce muito pequeno e assim vem descendo pela ribeira do lugar da Gestosa. Os moradores dos dois lugares de suas águas livremente para cultura dos seus campos, para regar os frutos e as suas ervas. Este regato corre de Norte para Sul, tudo por terras do Couto e seu termo, vai passando à beira de Vila Pequena onde os moradores também se serve dele usando as suas águas para limar os prados e regar os frutos dos seus campos; depois vai-se meter e incorporar o que vem de Cerdedo entre o lugar do Antigo e a Vila Grande. Tem este regato uma ponte de pau onde chamam o Troviscal, que fica no caminho que vai da Gestosa para Vilarinho Seco do termo e concelho de Montalegre; tem outra ponte de pau onde chamam o Sabugueiro, abaixo da Giestosa na estrada que vai para Vila Pequena; tem outra mais abaixo onde chamam a Telhada entre vila Pequena e um monte chamado a Gramela; Tem outra entre Vila Pequena e o Antigo no sitio a que chamam Candelas; tem outra entre Vila Grande e Antigo no sítio chamado Porto Carreiro, todas de pau e todas nas estradas que vão de uns lugares para os outros. Tem este ribeiro seis moinhos negreiros que só no inverno moem, por falta de águas, no Estio descansam.

 

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Festa do S. Sebastião

 

O ribeiro que de Cerdedo desce entra neste Couto no sítio onde chamam as Varges e desce por montes bravos até onde chamam a Codeçosa e assentando aí o seu curso vai brandamente correndo regando os prados dos moradores de Vila Grande que usam também [as suas águas] para regarem os frutos dos campos. Vai correndo em roda e cercando os campos do dito lugar até vir incorporar com o que vai da Gestosa, onde chamam o Espinhagal e juntos ambos seguem o seu curso até se juntarem com outro que vem do lugar de Agrelos, a que chamam Rumião. Juntos vão correndo, fazendo a divisão entre o Couto e o termo de Montalegre até onde chamam o Mestras, que juntos ai com o rio chamado Beça vão as suas águas parar ao rio Tâmega no sítio chamado Ponte de Cabes (sic, por Cavez).

 

Tem este rio que vem de Cerdedo uma ponte de pau onde chamam a Fraga, outra onde chamam Tijosa, outra no sítio chamado Água Longa e outra desde que ambos se juntam, a que chama a Ponte do Antigo por ficar próxima daquele lugar. Este rio teve, noutro tempo, outra num sítio chamado Piagro Negro, num atalho que ia deste Couto para o lugar de Covas. Este rio tem alguns moinhos negreiros que moem todo o ano.

 

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Festa do S. Sebastião

 

Todos estes regatos trazem as suas trutas e bogas, nele não há pesqueiras nem poços de senhorio, geralmente [a pescaj é livre excepto nos meses de defeso.

 

Tem este Couto outro regato que nasce acima do Casal de Guimbroa e vem descendo a beira dos campos deste povo, correndo entre Poente e Norte, vem descendo pelos campos do lugar de Lousas, de que toma o rio o nome nome, chama-se rio de Lousas, e vai desaguar nos outros, que também nascem no Couto, no sítio onde chamam o Mosteiro. Este rio tem alguns moinhos negreiros. Traz e cria seus peixes como são: trutas, bogas e escalos. Os seus moradores usam livremente as suas águas para limar e regar os seus campos. Não sei que as suas águas tenham alguma propriedade rara de que se faça menção nem que em suas áreas se achem [faíscas] de ouro.

 

Isto é tudo quanto se me oferece a responder aos interrogatórios, que tudo é e vai na verdade e se necessário eu afirmo I juro in verbo sacerdotis.

 

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Festa do S. Sebastião

 

Couto de Dornelas, 18 de Março de 1758, o pároco desta igreja o padre José Pinto da Silva. Vai também assinada pelo revendo Abade de Cerdedo e pelo Reverendo Vigário de Gondiães, de cada um os seus nomes.

Abade de Cerdedo Vicente Ferreira de Alcantara

O Vigário Domingos Ferreira Alves

 

Referências documentais:

IAN/TT, Memórias Paroquiais, vol. 13, memória 27, fl. 157.

ADVR, Registo de Óbitos: 1871-1882. Total de Livros: 1.

I.I.P.: Castro de Giestosa/Castro do Souto da Lama; Pelourinho de Dornelas.

 

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Festa do S. Sebastião

 

TRADICÕES E FESTIVIDADES

Ao longo dos tempos, muitas das festividades que outrora animavam estas comunidades foram-se perdendo. Todavia, algumas resistiram a erosão dos tempos e continuam a realizar-se.

 

Ainda cantam os Reis. A Banda Musical de Dornelas dá a volta pelas aldeias a cantar os Reis. O que as pessoas oferecem é para a banda pagar o ordenado mensal ao seu mestre. Antigamente as pessoas juntavam-se em grupos a cantar os Reis.

 

“Abram-se essas portas

Que ainda não estão bem abertas

Que aqui vem os do presépio

Vem lhe dar as boas festas.”

 

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Festa do S. Sebastião

As pessoas costumavam dar ovos, chouriças, dinheiro. Com o dinheiro, mandavam rezar uma missa. O resto era utilizado, uns dias depois, para fazer uma função.

 

Todos os anos, no dia 20 de Janeiro, realiza-se aquela que é uma das mais importantes festas de cariz comunitário: a Mezinha de S. Sebastião ou Festa das Papas, como era inicialmente conhecida. As origens desta festa perdem-se nos tempos. Diz a memória popular que, aquando da segunda invasão francesa, em 1809, comandada pelo general Soult, o povo de Vila Grande avistou os soldados a passar numa estrada, a estrada velha, perto das aldeias do Couto de Dornelas e sabendo que por onde passavam, saqueavam tudo, imploraram a protecção divina.

 

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Festa do S. Sebastião

Pegaram na imagem de S. Sebastião, saíram com ele à rua, levaram-no até à torre da igreja e prometeram ao Santo que todos os anos realizariam uma festa em sua honra se as tropas não descessem até às aldeias. Eis que o milagre se deu, caiu uma grande nevada e as tropas passaram ao largo das aldeias e o povo, agradecido, cumpriu a promessa.

 

Existe também outra lenda de que esta festa se começou a fazer depois de uma grande peste que matou muitos animais na freguesia. Desesperadas, as pessoas pediram protecção ao Santo, prometeram-lhe que todos os anos fariam a festa em sua honra se os livrasse de tão terrível maleita. Feito o milagre, o povo cumpriu a sua promessa.

 

Certo ano faltaram ao prometido e não celebraram a festa, contam que por causa disso deu uma moléstia nas patas dos animais e, nesse ano, não os puderam utilizar para os trabalhos agrícolas. Em desespero de causa, arrependidos pelo incumprimento da promessa, imploraram novamente a protecção ao Santo e desde então para cá a festa tem-se realizado no dia 20 de Janeiro de cada ano.

 

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Festa do S. Sebastião

A organização desta festa, refeição comunitária, está a cargo dos mordomos, inicialmente os 9 maiores lavradores da aldeia de Vila Grande, os que tinham mais posses, num sistema de rotatividade entre eles.

 

São os mordomos, com a ajuda de familiares e amigos, que arranjam e preparam a comida servida na refeição comunitária (pão, carne e arroz). Dada a dimensão desta festa, tudo tem que ser preparado com muita antecedência. Por altura do Natal, andam pelas casas das aldeias da freguesia a recolher os cereais (centeio e milho) para fazer as broas. Em Janeiro, recolhem os restantes donativos: carne de porco (essencialmente peito e queixadas) e dinheiro para comprar o arroz.

 

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Festa do S. Sebastião

Além de procederem à recolha destes produtos, arranjam lenha para cozerem as broas e para cozerem os alimentos; e procedem à moagem dos cereais em dois moinhos locais.

 

A comida é confeccionada na “Casa do Santo”. Esta casa, construída para o efeito com o apoio da Câmara Municipal, tem uma cozinha com uma lareira, um forno grande, uma amassadeira eléctrica e uma sala para armazenar as broas.

 

Durante cerca de cinco dias e cinco noites cozem as centenas de broas que vão ser distribuídas ou vendidas no decorrer da festa. No dia 19, à meianoite, acendem o lume na lareira da “Casa do Santo”, à volta do qual dispõem mais de 20 potes de ferro com a carne partida aos bocados, a cozer. No dia 20, assim que toca o sino para a missa, colocam-se os potes com o arroz a cozer.

 

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Festa do S. Sebastião

Finda a missa, seguem em procissão com o Santo até à “Casa do Santo”, onde o padre procede à bênção do pão, da carne e do arroz.

 

Pode então iniciar-se a distribuição da comida. Na principal rua da aldeia, ao longo de centenas de metros, estão colocados os bancos de madeira, cobertos com alvas toalhas de linho – a mesa – onde, de vara em vara, será colocada a comida: broa e dois pratos de madeira, um com carne outro com arroz.

Esta refeição é para todas as pessoas que a ela acorram. Pratos e talheres cada um leva os seus, assim como a bebida para acompanhar tão salutares alimentos. Entretanto, o mordomo percorre a mesa dando o S. Sebastião a beijar e recolhendo as dádivas que cada romeiro queira oferecer ao Santo.

 

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Festa do S. Sebastião

Dizem que, por ser benzida, esta comida tem propriedades curativas; de tal forma que as broas podem-se guardar muito tempo que não criam bolor. Tais são os benefícios que lhe são atribuídos, que muitos são os que levam pedaços, senão mesmo broas inteiras, para casa, para comer ou dar aos animais para que não padeçam de maleita nenhuma.

 

São Brás, 3 de Fevereiro, Espertina. Este Santo é o padroeiro desta aldeia, assinalando-se este dia com uma missa.

 

O Entrudo, trazia muita alegria e folia como saudosamente recordam os informantes. Encaretavam-se e andavam pelas aldeias da freguesia, enfarinhavam-se e atiravam farinha a quem encontrassem pelo caminho. Hoje são poucos, essencialmente crianças e jovens, os que se vestem de caretos.

 

No dia de Entrudo as refeições são à base de carne de porco (orelheira, pés) e um petisco especial a que chamam o “Bucho do Entrudo”, enche-se o bucho de um porco com farinha (centeio, trigo ou milho) misturada com ovos, açúcar e há quem lhe misture também chouriço. Coloca-se num pote e coze-se. Depois serve-se cortado as fatias.

 

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Festa do S. Sebastião

 

Na Páscoa costuma realizar-se a visita pascal. Antigamente, nesse dia costumavam jogar os panêlos. Os jovens juntavam-se num grupo numa rua ou largo da aldeia, faziam uma roda e atiravam um panêlo uns aos outros. Perdia quem o deixasse cair.

 

São Marcos, 25 de Abril, Lousas. Assinalam o dia deste Santo, padroeiro da aldeia, com uma missa.

 

No S. João (24 de Junho) e no S. Pedro (29 de Junho) — Padroeiro da freguesia — faziam as tranquilhas das ruas com carros dos bois, paus e cancelas. Esta tradição acabou por desaparecer.

 

São Bento, 11 de Julho, Gestosa. Assinalam o dia deste Santo, padroeiro desta aldeia, com uma missa.

 

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Festa do S. Sebastião

Nossa Senhora das Neves, 5 de Agosto, Vila Pequena. Assinalam o dia dedicado a esta Santa, padroeira desta aldeia, com uma missa e procissão de andores, acompanhada com uma banda musical, pelas principais ruas da aldeia. à noite, a festa prossegue num animado arraial popular.

 

São Caetano, 7 de Agosto, Antigo de Dornelas. Assinalam o dia dedicado a este Santo, padroeiro desta aldeia, com missa.

 

Nossa Senhora dos Remédios, 17 de Agosto, Vila Grande. Assinalam esse dia com missa e procissão de andores, acompanhada com uma banda de música, pelas principais ruas da aldeia. A noite a festa prossegue com um conjunto que anima o arraial popular.

 

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Festa do S. Sebastião

 

Por altura das festas do final do ano (Natal e Ano Novo) costumam fazer as Fogueiras de Natal, reacendidas por altura da passagem de ano, a volta das quais as pessoas se reúnem e num ambiente de partilha e comunidade celebram o final de um ano de labutas e recebem o novo ano, mais um em que o ciclo se renova e a tradição perpetua.

 

Conclusão

 

Para concluir, apenas vamos deixar o nosso habitual vídeo, não com a totalidade das imagens que já aqui publicámos, de cada uma das aldeias da freguesia, pois cada aldeia teve o seu vídeo, mas um vídeo da freguesia com as imagens do post de hoje. Para rever os vídeos de cada uma das aldeias, a seguir ao vídeo de hoje fica um link para o post de cada aldeia da freguesia.

 

 

 

Agora os nossos vídeos também podem ser vistos no MEO KANAL nº 895607

 

Link para os posts das aldeias:

Antigo

Casal

Espertina

Gestosa

Lousas

Vila Grande

Vila Pequena

 

*********************

 

[i] COSTA, Avelino Jesus, 1997 (2° Edição), O Bispo D. Pedro e a organização da Arquidiocese de Braga, vol. I, Braga, Ed da irmandade de S. Bento da Porta Aberta, p. 416

[ii] definição do tempo de D. Dinis citado por António Caetano do Amaral in, COSTA, J.Avelino, 1959, O Bispo D.Pedro II e a Organização da Diocese de Braga, Coimbra.

[iii] MENDES, J.M.A., 1981, Trás-os-Montes nos fins do séc. XVIII, Coimbra, INIC, pp. 376

[iv] MENDES, J.M.A., ob-cit., pp.377

[v] Alexandre Herculano considera que um dos factores da formação de alguns concelhos assentou na organização dos homens que se agruparam em comunidades concelhias com vista à sua liberdade pondo fim a servidão.

[vi] BORRALHEIRO, Rogério, 2005, Montalegre, Memorias e História, Ed. Câmara Municipal de Montalegre.

[vii] Os concelhos quase sempre preferiam depender directamente do Rei. Columbano Pinto Ribeiro de Castro, juiz demarcante da província de Trás-os-Montes conforme a lei de 1730, em 1796 propôs a extinção do Couto de Dornelas e a sua integração no Concelho de Montalegre porque a administração eclesiástica se tornara muito prejudicial a tranquilidade pública evitando-se as desordens que se praticão em semelhantes coutos.

[viii] FREIRE, Anselmo Braancamp, 1909, A Povoação de Trás-os-Montes no séc. XVI, Arquivo Histórico Português, Lisboa, pp272.

 

 

13
Mar22

O Barroso aqui tão perto - Vila Grande

Vila Grande - Dornelas - Boticas


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Sem qualquer desculpa, há algum tempo interrompemos a regularidade de trazer aqui as aldeias de Boticas. Para relembrar, antes da interrupção, andávamos por terras da freguesia de Dornelas.

 

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Temos abordado as freguesias por ordem alfabética, e dentro delas, seguimos a mesma metodologia. A última aldeia que tivemos aqui da freguesia foi Lousas, o que quer dizer que já tinham sido abordadas  as aldeias de Antigo, Casal, Espertina e Gestosa, daí, termos cá hoje a Vila Grande, ficando por abordar a Vila Pequena.

 

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Vila Grande – Dornelas - Boticas

 

Vila Grande que comummente por cá, em geral, é conhecida pelo Couto de Dornelas, tudo pelo antigo Couto que existiu na freguesia. Mas sobre o Couto de Dornelas, falaremos no post final da freguesia. Hoje abordamos a aldeia mas também a sua festa grande, que a torna famosa a nível nacional mas também lá fora, ou aqui mais perto na Galiza, também é conhecida, tudo por ser uma festa comunitária. Mais à frente também falaremos desta festa.

 

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Quanto à Vila Grande que também eu conhecia por Couto de Dornelas, foi uma das primeiras aldeias a conhecer no Concelho de Boticas, mas já foi há tanto tempo que na memória, quase só ficou o complicado que foi chegar até lá, então ainda por caminhos de montanha em terra batida e muito irregular.

 

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Decorria então o ano de 1975, quando tudo era possível acontecer e concretizar, quando um grupo de teenagers, penso que 12, todos rapazes, se juntaram e formaram um grupo de cantares de música de intervenção, à capela. Sei que a ideia surgiu num dia, no dia seguinte ensaiámos, e no seguinte já estávamos no palco dos “Canários”, com salão cheio a ouvir-nos cantar, onde fomos logo contratados para a uma atuação no Couto de Dornelas no fim-de- semana seguinte.

 

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O Grupo chamava-se GIEC, se bem recordo eram as siglas de Grupo de Intervenção Estudantil de Chaves, e só falo disto aqui porque a Vila Grande, além de nos ter recebido muito bem, teve a honra de assistir à uma das duas atuações que o grupo fez, depois de uma longa e dura viagem, principalmente a partir de Boticas, que fizemos distribuídos por três ou quatro carros.

Já lá vão quase 50 anos, e para além destas poucas memórias outras não há.

 

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Só anos depois é que soube da festa da Mezinha do São Sebastião que, confesso, me despertou logo o interesse de ir por lá ver como era. Festa que se realiza todos os anos no dia 20 de janeiro e que desde que me falaram dela queria lá ir, mas que por ser sempre dia 20, a maioria das vezes calha fora do fim de semana e que por essa razão, fui adiando, ou porque então ainda estudava e eram dias de aula ou porque depois já trabalhava e era dia de trabalho, e assim foi sendo adiada a ida ao São Sebastião da Vila Grande.

 

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Assim foi sendo adiada a verdadeira descoberta da Vila Grande até que fomos lá ao nosso primeiro São Sebastião, que aconteceu em 2010, mais para descobrir a festa comunitária, da qual ficámos fãs, com promessa de lá voltar nos anos seguintes, que só falhámos no ano de 2019 e 2021/22, nestes dois últimos anos por não se ter realizado por causa da pandemia.

 

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Fora do São Sebastião só fizemos por lá uma visita com um grupo de fotógrafos da Associação Lumbudus, em Maio de 2011 e algumas passagens mais recentes aquando do levantamento fotográfico das aldeias de freguesia de Dornelas. O que fica em imagem é uma seleção das fotografias da aldeia desde do ano de 2010 até 2020.

 

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E como chegamos até à Vila Grande? Pois para quem acompanha o blog e viu os posts de Espertina e Antigo, a Vila Grande fica logo a seguir a estas aldeias. Para quem viu os posts de das aldeias de Casal e Lousas, para lá chegarmos, tivemos que, obrigatoriamente, passar pela Vila Grande.

 

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Para que não viu nenhum dos posts atrás referidos, fica hoje a localização e o melhor itinerário para chegar à Vila Grande, que hoje, ao contrário da primeira vez que lá fomos, é muito fácil de lá chegar.

 

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Então, com partida da cidade de Chaves, como sempre, saímos da cidade pela N103 (estrada de Braga) até Sapiãos. Aí saímos da N103 em direção a Boticas que deveremos atravessar ou passar ao lado pela variante ao centro até encontrarmos o Centro de Artes Nadir Afonso, onde na rotunda, devemos seguir em direção a Ribeira de Pena, Cabeceiras e Salto pela R311 que, deveremos seguir passando por Quintas, e Carreira da Lebre, seguindo depois sempre pela R311 até nos aparecer o desvio à esquerda para Espertina e Antigo. Ficam os mapas e imagens aéreas para ajudar

 

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Um post normal terminaria mais ou menos por aqui, pois em imagens estaria, também, mais ou menos completo com imagens a representar a aldeia, mas falta-nos abordar a festa da Mezinha do São Sebastião, que é, sem qualquer dúvida, onde acontecem os momentos mais altos da aldeia, com milhares de visitantes a confirmar e validar esses momentos.

 

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Festa da Mezinha do São Sebastião  

 

Como já algumas versões diferentes, ou com algumas diferenças,  vamos deixar aqui aquela que consta na monografia de Boticas - PRESERVAÇÃO DOS HÁBITOS COMUNITÁRIOS NAS ALDEIAS DO CONCELHO DE BOTICAS. As imagens ficam pela ordem do decorrer dos acontecimentos, desde a chegada à aldeia manhã cedo, ao juntar do pessoal, à festa, a cerimónia religiosa e a distribuição dos alimentos ao longo da mesa colocada ao longo do arruamento principal da aldeia.

 

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Todos os anos, no dia 20 de Janeiro, realiza-se aquela que é uma das mais importantes festas de cariz comunitário: a Mezinha de S. Sebastião ou Festa das Papas, como era inicialmente conhecida. As origens desta festa perdem-se nos tempos. Diz a memória popular que, aquando da segunda invasão francesa, em 1809, comandada pelo general Soult, o povo de Vila Grande avistou os soldados a passar numa estrada, a estrada velha, perto das aldeias do Couto de Dornelas e sabendo que por onde passavam, saqueavam tudo, imploraram a protecção divina.

 

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Pegaram na imagem de S. Sebastião, saíram com ele à rua, levaram-no até à torre da igreja e prometeram ao Santo que todos os anos realizariam uma festa em sua honra se as tropas não descessem até às aldeias. Eis que o milagre se deu, caiu uma grande nevada e as tropas passaram ao largo das aldeias e o povo, agradecido, cumpriu a promessa.

 

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Existe também outra lenda de que esta festa se começou a fazer depois de uma grande peste que matou muitos animais na freguesia. Desesperadas, as pessoas pediram protecção ao Santo, prometeram-lhe que todos os anos fariam a festa em sua honra se os livrasse de tão terrível maleita. Feito o milagre, o povo cumpriu a sua promessa.

 

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Certo ano faltaram ao prometido e não celebraram a festa, contam que por causa disso deu uma moléstia nas patas dos animais e, nesse ano, não os puderam utilizar para os trabalhos agrícolas. Em desespero de causa, arrependidos pelo incumprimento da promessa, imploraram novamente a protecção ao Santo e desde então para cá a festa tem-se realizado no dia 20 de Janeiro de cada ano.

 

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A organização desta festa, refeição comunitária, está a cargo dos mordomos, inicialmente os 9 maiores lavradores da aldeia de Vila Grande, os que tinham mais posses, num sistema de rotatividade entre eles.

 

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São os mordomos, com a ajuda de familiares e amigos, que arranjam e preparam a comida servida na refeição comunitária (pão, carne e arroz). Dada a dimensão desta festa, tudo tem que ser preparado com muita antecedência. Por altura do Natal, andam pelas casas das aldeias da freguesia a recolher os cereais (centeio e milho) para fazer as broas. Em Janeiro, recolhem os restantes donativos: carne de porco (essencialmente peito e queixadas) e dinheiro para comprar o arroz.

 

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Além de procederem à recolha destes produtos, arranjam lenha para cozerem as broas e para cozerem os alimentos; e procedem à moagem dos cereais em dois moinhos locais.

 

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A comida é confeccionada na “Casa do Santo”. Esta casa, construída para o efeito com o apoio da Câmara Municipal, tem uma cozinha com uma lareira, um forno grande, uma amassadeira eléctrica e uma sala para armazenar as broas.

 

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Durante cerca de cinco dias e cinco noites cozem as centenas de broas que vão ser distribuídas ou vendidas no decorrer da festa. No dia 19, à meia[1]noite, acendem o lume na lareira da “Casa do Santo”, à volta do qual dispõem mais de 20 potes de ferro com a carne partida aos bocados, a cozer. No dia 20, assim que toca o sino para a missa, colocam-se os potes com o arroz a cozer.

 

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Finda a missa, seguem em procissão com o Santo até à “Casa do Santo”, onde o padre procede à bênção do pão, da carne e do arroz.

 

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Pode então iniciar-se a distribuição da comida. Na principal rua da aldeia, ao longo de centenas de metros, estão colocados os bancos de madeira, cobertos com alvas toalhas de linho – a mesa – onde, de vara em vara, será colocada a comida: broa e dois pratos de madeira, um com carne outro com arroz.

 

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Esta refeição é para todas as pessoas que a ela acorram. Pratos e talheres cada um leva os seus, assim como a bebida para acompanhar tão salutares alimentos. Entretanto, o mordomo percorre a mesa dando o S. Sebastião a beijar e recolhendo as dádivas que cada romeiro queira oferecer ao Santo.

 

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Dizem que, por ser benzida, esta comida tem propriedades curativas; de tal forma que as broas podem-se guardar muito tempo que não criam bolor. Tais são os benefícios que lhe são atribuídos, que muitos são os que levam pedaços, senão mesmo broas inteiras, para casa, para comer ou dar aos animais para que não padeçam de maleita nenhuma.

 

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Para finalizar o vídeo com todas as imagens da aldeia de VILA GRANDE que foram publicadas até hoje neste blog. Espero que gostem.

Aqui fica:

 

 

 

Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607

 

E quanto a aldeias de Boticas, despedimo-nos até ao próximo domingo em que teremos aqui a aldeia de Vila Pequena .

 

 

24
Out21

O Barroso aqui tão perto - Espertina

Aldeias do Barroso - Concelho de Boticas


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ESPERTINA - DORNELAS - BOTICAS

 

Nestas voltas pelo Barroso, ultimamente, temos andado pelo Concelho de Boticas, freguesia de Dornelas. Desta freguesia já passaram por aqui a aldeia de Antigo e Casal. Seguindo a ordem alfabética, segue-se a aldeia de Espertina. É para lá que vamos hoje.

 

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Iniciemos pela sua localização e itinerário para ir até lá, que, tal como para a grande maioria das aldeias do concelho de Boticas, sempre com partida desde a cidade de Chaves, devemos tomar a Estrada Nacional 103, estrada Chaves-Braga, mas só até Sapiãos. Aí, saímos da E103 e rumamos em direção a Boticas, que quer se passe pelo centro da vila ou pela variante, iremos acabar por ir ter ao Centro de Artes Nadir Afonso, onde, na rotunda, devermos tomar a saída em direção a Ribeira de Pena e Cabeceiras de Basto, ou seja a ER311 a “grande via” que atravessa quase pelo meio todo o concelho de Boticas.

 

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Ao todo, até chegar a Espertina, deveremos percorrer 42,6 km, e embora próxima da estrada ER311, temos de sair dela. Para sair, podemos tomar como referência a aldeia de Agrelos, a partir da qual devemos ir com atenção, pois a saída para Espertina, fica a 2,5km desta aldeia e após uma curva onde a meio, do lado esquerdo, está uma pequena capela e na estrada deverá existir uma placa a indicar Antigo para o lado esquerdo e Alturas para o lado direito. É aí, em direção a Antigo, que devemos sair da R311, e logo a seguir, ainda antes de Antigo é Espertina. Vejam a imagem seguinte, pois é a seguir a esta capela que devemos sair, mas antes de sair, faça aqui a sua primeira paragem, considere este o primeiro motivo de interesse da aldeia de Espertina, pois é bem interessante, simples mas interessante. Atenção que desde a estrada apenas se vê a fachada posterior da capela.

 

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Então, depois de visitada a capela e o seu cruzeiro, podemos descer até Espertina, localizada na descida para uma pequena depressão de terreno entre montanhas, de terrenos férteis e água abundante, à volta do qual se localizam a maioria das aldeias da freguesia de Dornelas, incluindo a sede de freguesia, a Vila Grande. Pois à volta, para além de Espertina e a Vila Grande, temos ainda a Vila Pequena, o Antigo de Dornelas e ainda poderemos considerar a Gestosa, embora esta se localize do outro lado da ER311.

 

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Entremos então na intimidade de Espertina, uma pequena aldeia com vistas para as aldeias vizinhas, exceção para a Giestosa. Sem um núcleo verdadeiramente constituído, pois na realidade são dois ou três pequenos núcleos, um mais elevado e mais recente, um pouco mais abaixo, a cerca de 200m outro núcleo, este mais antigo, e ainda poderemos considerar um terceiro que serve de entroncamento, com saída para a Vila Pequena, por um lado e para a Vila Grande, por outro. Por sua vez a saída para o Antigo, faz-se a partir do núcleo central.

 

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Ao todo a aldeia tem cerca de 60 construções das quais só cerca de metade, ou menos,  são habitações, habitadas ou não, isto hoje em dia, pois num passado não muito distante, penso que Espertina se resumia apenas ao núcleo central, que em tempos mais distantes talvez fosse ainda menos, talvez apenas pequenas casas de abrigo a agricultores que cultivavam os campos mais próximos. Recordemos que Dornelas foi um Couto, mas sobre esse tema, tentaremos aprofundar mais no post final dedicado à freguesia de Dornelas.

 

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Espertina vista desde a Vila Grande em dia de S.Sebastião

 

Assim, pequena e dispersa, não há muito a dizer sobre a aldeia, tal com os motivos a fotografar. Referimo-nos a pormenores e construções antigas, pois no seu todo, a aldeia tem o seu interesse paisagístico, sobretudo quando se vê à distância, a partir de qualquer uma das outras três aldeias, e o contrário também ser verdade, ou seja, as vistas que desde a Espertina se podem lançar sobre as restantes aldeias e montanhas mais distantes, que conforme a época do ano adquirem interesses diferentes, sem esquecer o da neve de inverno que por estas terras é frequente.

 

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Quanto àquilo que se escreve e diz em documentos, na Monografia de Boticas apenas encontrámos 5 referências, uma a dizer que pertence à freguesia de Dornelas, outra que calha no acesso à sede de freguesia e outra dentro do capítulo das festas e romarias que nos diz que ser a festa de S. Brás, a 3 de Fevereiro, mas apenas celebração religiosa e outra no capítulo do património edificado onde se refere a Capela de Santo Antão, que não pudemos confirmar, mas pensamos que seja a que está junto à estrada e separada da aldeia, pois por perto outra não vimos. Mas há uma última referência e esta bem interessante.

 

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Pois a outra referência diz o seguinte (o sublinhado e bold é nosso):

Em algumas aldeias, como Granja, Vilar e Espertina, ainda é costume juntarem-se as raparigas solteiras no dia do casamento bem cedo, fazem um arco para acompanhar a noiva à igreja e uma passadeira de flores desde a sua casa até à igreja.

Adoptaram-se também novos hábitos, como por exemplo atirar arroz e flores aos noivos à saída da igreja, como votos de felicidades e abundância na nova vida que iniciam. Em algumas aldeias enquanto atiram arroz aos noivos, costumam dizer “Eu deito arroz para vos abençoar, deito e torno a deitar e que seja a mulher em casa sempre a governar”.

 

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Espertina vista desde a Vila Grande em dia de S.Sebastião

 

E sem mais literatura que nos fale de Espertina, estamos a chegar ao fim do nosso post. Falta apenas deixar aqui o vídeo com todas as imagens aqui publicadas, ao qual vamos passar de imediato. Espero que gostem.

 

Aqui fica:

 

 

Agora também pode ver este e outros vídeos dedicados a aldeias do Barroso, entre outros, no MEO KANAL Nº 895 607

 

E quanto a aldeias de Boticas, despedimo-nos até ao próximo domingo em que teremos aqui a aldeia de Gestosa .

 

 

29
Ago21

O Barroso aqui tão perto - Antigo de Dornelas

Aldeias do Concelho de Boticas - Freguesia de Dornelas


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ANTIGO DE DORNELAS - BOTICAS

 

Iniciamos hoje a abordagem de mais uma freguesia do concelho de Boticas, a freguesia de Dornelas. Seguindo a metodologia que temos seguido para o concelho de Boticas, vamos abordar as aldeias da freguesia por ordem alfabética, calhando assim a abertura da freguesia à aldeia de Antigo, que, por existirem mais aldeias com este topónimo no concelho de Boticas e no restante Barroso, para a diferenciar, vamos acrescentar-lhe Dornelas, ou seja ANTIGO DE DORNELAS.

 

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Dornelas é um topónimo sonante, principalmente o Couto de Dornelas. Desde já, e para esclarecer, comummente, pelo menos aqui por Chaves, quando vamos às festas do São Sebastião, costuma-se dizer que vamos ao Couto de Dornelas, quando na realidade o Couto de Dornelas já não existe, coisas antigas que no post que vamos dedicar à freguesia de Dornelas explicaremos. Na realidade, quando vamos ao São Sebastião vamos até a aldeia da Vila Grande, da freguesia de Dornelas.

 

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Para concluir o esclarecimento, talvez seja bom, desde já, deixar aqui a listagem das aldeias que compõem a freguesia de Dornelas e também a ordem pela qual irão aparecer aqui no blog. Assim, fazem parte da freguesia de Dornelas as aldeias de:

 

- Antigo

- Casal

- Espertina

- Gestosa

- Lousas

- Vila Grande

- Vila Pequena

 

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Estas aldeias da freguesia de Dornelas, pela sua identidade e partilha do mesmo chão,  quase que apetecia tratá-las aqui em conjunto. À primeira vista, que depois se confirma, faz lembrar a vizinha freguesia de Covas do Barroso, onde um pequeno vale dá abrigo a todas as aldeias da freguesia. Não fossem as aldeias de Gestosa, Casal e Lousas, também aqui estariam todas junta no mesmo pequeno vale, todas (Antigo, Vila Grande, Vila Pequena e Espertina) dentro de um círculo com menos de 500m de raio, num baixio onde o verde impera como cor principal.

 

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Pequenos vales e baixios que aqui no Barroso, principalmente neste Barroso que gravita à volta das suas grandes serras (Gerês, Barroso, Larouco, Leiranco, etc.) funcionam como pequenos oásis verdes que deram lugar à ocupação humana. Rara é, ou são as aldeias, que se implantam em plena serra, em geral agreste, rude e áspero, onde viver dói, quer pelo frio das neves, quer pelo cortar dos ventos frios, onde nada se dá, a não ser, agora nesta era, as eólicas, onde vão prosperando parques delas, que a ninguém passam despercebidas, talvez sejam um bem necessário, o que até duvido, mas que a paisagem nada ganha com elas.

 

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A imagem de fotografia aérea, por exemplo do Google Earth, é bem elucidativa daquilo que atrás fica escrito. Um grande amontoado de pequenas rochas ( Pontos mais altos da Serra do Barroso) em forma arredondada, e à sua volta, uma espécie de anel verde salpicado de grupos de pontos laranja esbranquiçados, cada grupo uma aldeia. Ao todo, 4 freguesias e respetivas aldeias (freguesia de Alturas e Cerdedo, Vilar e Viveiro, Covas de Barroso e Dornelas), formam este anel verde na base de um monte de pedras e pedregulhos.

 

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Mas entremos na aldeia de Antigo de Dornelas, uma nossa velha conhecida, cuja descoberta já se deve ao amor pela fotografia, pois num périplo de uma vintena de fotógrafos em torno das aldeias de mais interessantes de Boticas, há uns 10 anos atrás, a freguesia de Dornelas foi uma à qual dedicámos uns cliques, aliás grande parte das fotografias que hoje aqui ficam, são desse mesmo dia, mais precisamente de 28 de maio de 2011. Mas há a acrescentar que, no Antigo de Dornelas, fomos particularmente bem recebidos. Ficámos fãs do Antigo.

 

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Antigo que, em alguns anos, também nos calha no atalho para as celebrações do São Sebastião na Vila Grande, mas aqui só de passagem, sem tomarmos imagens, pois nesse dia os cliques estão quase todos reservados para a festa da Vila Grande.

 

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No entretanto, já a pensar no post de hoje, voltámos a terras de Dornelas à recolha de imagens no dia 18 de maio de 2018, dia que recordo particularmente quente, ainda por cima já bem perto do meio dia. Toma imagem aqui, agora ali e os nossos passos foram sendo como que atraídos para a croa da aldeia, onde a capela fica no encontro de três ruas, mas não era a capela quem nos chamava, era-mos atraídos pelos aromas que saiam de uma casa antiga, remodelada e mais senhorial, e porque a grande porta carral estava aberta e era de lá que imanavam os aromas de igualarias barrosãs, aproximámo-nos, espreitámos e confirmava-se, eram coisas boas que estavam a aloirar na brasa.

 

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Já com água na boca, fomos apanhados em flagrante delito de cobiçar tais iguarias quando o proprietário se aproximou de nós e nos disse: “Boa dia, estávamos à vossa espera para começar… mas será melhor esperar pelos outros”, ao que nós rematámos, — “ somos só nós os 4, não há mais”. Fez-se um breve silêncio, e o proprietário diz-nos: “Mas a reserva era para vinte e tal pessoas!”, Pois! — “Mas nós não fizemos nenhuma reserva”. — “Ah!, pensei que eram os do rali…”, respondeu, ao que nós retorquimos — “não, nós somos os da fotografia”. Pena não sermos os do rali, mesmo assim…

 

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… ficámos por ali a tirar nabos da púcara. E a simpatia do proprietário, filhos e demais familiares que estavam na azafama do prepara do manjar lá nos foi dizendo que recuperaram a casa para servir almoços à barrosã, só por reservas e sem dormidas, apenas comer, e pelos potes e panelas ao lume, e grelhador, diríamos que comer à barrosã e bem. Apresentou-nos outras credenciais, como ser irmão do Pedro de Vilarinho Seco, cuja casa é bem conhecida pelos cozidos à barrosã e casa de paragem nos dias de São Sebastião.

 

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Mesmo na hora de começar a receber, ainda tiveram tempo para nos mostrar a casa, a mesa que já estava posta, e contar-nos um pouco da história daquela casa, por sinal muito bem reconstruída e com pormenores curiosos como o da laje natural em granito que serve de chão ao pátio de entrada, entre outros pormenores. Pediu-nos desculpa por não nos poder servir, mas deu-nos a provar daquelas coisas deliciosas que estavam no grelhador e cujo aroma nos tinha atraído lá, acompanhados de um excelente vinho, e pão ainda melhor. Como não estávamos lá para incomodar, despedimo-nos, agradecemos a simpatia e saímos, sem mais imagens, o aperitivo fez-nos lembrar que do outro lado dos Cornos do Barroso havia um cozido à barrosã à nossa espera. Mas ficámos com vontade de lá voltar, não para visitar, mas para sentar à mesa.

 

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E foram assim as nossas passagens pelo Antigo de Dornelas e se da primeira vez tínhamos fica fãs da aldeia, desta vez reforçamos esse ser fã.

 

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Só nos falta mesmo deixar os mapas para lá chegar, que por problemas técnicos/informáticos, não tivemos acesso aos nossos mapas, pelo que recorremos ao Google Maps e Google Earth para vos localizar e traçar o itinerário recomendado para chegar até Antigo de Dornelas.

 

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E é tudo por hoje, no próximo domingo cá estaremos outra vez com mais uma aldeia da freguesia de Dornelas. Quanto ao Antigo de Dornelas, continuará a calhar nos nossos atalhos para a Vila Grande e o São Sebastião, isto enquanto não arranjarmos um grupo suficientemente grande para nos podermos deliciar com uma refeição à barrosã na tal casa que nos ficou debaixo de olho...

 

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E agora sim, o vídeo com todas as imagens da aldeia de ANTIGO DE DORNELAS que foram publicadas até hoje neste blog. Espero que gostem.

Aqui fica:

 

 

 

Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607

 

E quanto a aldeias de Boticas, despedimo-nos até ao próximo domingo em que teremos aqui a aldeia de ESPERTINA.

 

 

20
Jan13

São Sebastião, Blogues e Fotógrafos Lumbudus no Barroso


 

Hoje, para a blogosfera flaviense aderente, fotógrafos Lumbudus, amigos e convidados,  todos os caminhos vão dar às festas comunitárias do Barroso, mais propriamente à Vila Grande do Couto de Dornelas e às Alturas do Barroso, é lá que se vai realizar o XVIII Encontro de Blogues e Fotógrafos Lumbudus, como sempre, em convívio com as nossas terras e nossas gentes.

 

Embora as festas sejam em honra do São Sebastião, vamos esperar que o São Pedro também dê uma ajuda.

 

21
Jan12

O São Sebastião na Vila Grande e Alturas do Barroso


A mesa à espera que os visitantes cheguem

 

Tal como prometi, este blog vai começar a andar por aí a olhar também as festas, tradições, saberes e pontos de interesse da região do Alto Tâmega e Barroso.

No ano passado fomos à tradicional festa de São Sebastião ou “Mesinha de São Sebastião” na freguesia de Couto de Dornelas. Já lhe conhecíamos a fama de festa comunitária há muitos anos, mas uma coisa é aquilo que nos contam e outra é estar na festa e ver com os próprios olhos. Vi e gostei tanto que fiz promessa de ir lá sempre que puder.


Durante dias cozeu-se o pão que irá ser servido à mesa


As imagens de hoje vão tentar mostrar um pouco da tradição. As palavras também vão tentar ajudar a compreender esta festa, a tradição e a lenda.

Comecemos pela lenda:


A Lenda
 
REZA A LENDA, ... que há muitos, muitos anos...

Houve nesta região um ano de muita fome e peste, que também atingiu os habitantes do “COUTO”.


É destes potes que sai o arroz e a carne de porco para todos os visitantes


Foram tantos os mortos, que os mais crentes apelaram a S. Sebastião para que os protegesse de tal flagelo:
“Se a doença se afastasse, se os doentes melhorassem e os animais escapassem, prometiam realizar anualmente, a 20 de Janeiro, uma festa onde não faltasse carne e pão para quantos a ela comparecessem.”

Como o Santo não faltou, cumpriu-se o prometido e assim se fez ao longo dos tempos...


Antes de comer há que agradecer ao santo


...Mas, com o passar dos anos, o povo foi ficando esquecido, desleixado e possivelmente mal agradecido. Um ano, não se sabe por que motivo, a festa não se realizou. O povo ficou assim, sem a protecção do santo, advogado da fome, da peste e da guerra registando-se graves problemas nesta localidade...


O peditório não faz a festa, mas ajuda


...Conta ainda a lenda, que em 1809 (ano em que Napoleão, imperador de França, mandou invadir pela segunda vez Portugal) as tropas entraram por Chaves, a caminho do Porto, passando pelas terras do “Couto”. A má fama dos invasores já tinha chegado às nossas gentes, que atemorizadas pela eminente invasão e suas consequências (pilhagens, mortes, violações, etc.) saíram às ruas com a imagem de S. Sebastião e acolhendo-se à sua protecção, renovaram a promessa:


O Sol tem ajudado à festa, mas é traiçoeiro


«… Se os invasores não entrarem no Couto faremos todos os anos, dia 20 de Janeiro, uma festa em tua honra, onde não faltará comida a toda a gente que a ela vier…»

Diz a lenda que caiu tal nevão à volta do Couto, que obrigou os invasores a desviarem-se do seu caminho deixando em paz estas “gentes”.

Lenda ou não, a verdade é que se tem mantido a tradição e todos os anos, dia 20 de Janeiro, os habitantes do COUTO de DORNELAS renovam a promessa cada vez mais convictos do amparo do Mártir São Sebastião.


A festa faz-se ao longo de toda a rua


Pois não sei se é por São Sebastião estar grato por manterem-lhe a gratidão que o dia de ontem, tal como o do ano passado, lá pelo Barroso mais alto o dia parecia de verão.

Mas passemos à descrição da festa.


A toalha de linho cobre toda a mesa


Durante uns dias coze-se o pão milho e armazena-se numa sala para que no dia da festa não falte pão para todos os visitantes. São umas centenas de pães. Na madrugada do dia 20 acende-se a fogueira, poem-se os potes ao lume (23 conto-os na foto) e coze-se a carne de porco e mais tarde o arroz que depois de prontos e devidamente benzidos serão servidos à ora do almoço a todos os visitantes. Para tal é disposta uma mesa ao longo da rua principal da aldeia – a Vila Grande.


Há que aproveite para vender os produtos da terra e quem compra, agradece


Saliente-se que esta festa é festa da freguesia de Couto de Dornelas do concelho de Boticas,  à qual pertencem, além da Vila Grande, as aldeias de Gestosa, Vila Pequena, Espertina, Antigo, Lousas e Casal.


Mas íamos na mesa ao longo da rua principal da aldeia, que atinge um comprimento de cerca de 400m onde é colocado, de vara em vara (é esta a medida), um pão milho, uma caçarola com arroz e um pedaço de carne de porco. O resto fica por conta dos visitantes, ou sejam os talheres e as bebidas.


O vai e vem de tabuleiros de arroz e gigas de pão


A montagem e o serviço desta mesa não é tão simples assim como atrás é descrito, pois durante a noite são montadas as pranchas de madeira ao longo da rua e, se pela manhã, de manhãzinha, as ruas e as mesas se encontram despovoadas de gente, por volta das 8 da manhã começam a compor-se com os visitantes vindos da freguesia mas também um pouco de todo o lado, com muita gente do Minho, da região do grande Porto, de Chaves também há fiéis seguidores, entre outros locais que não pude apurar. Apurei os companheiros do lado aos quais agradeço, pois desprevenido fui só armado com câmara fotográfica e eles dispensaram-me os talheres, um prato e o vinho. A festa é comunitária e como tal ninguém sai de lá sem comer e beber. Obrigado companheiros de Stº Tirso que também têm promessa de vir a esta festa todos os anos.


Os companheiros de Santo Tirso fizeram promessa de vir todos os anos


Voltemos à mesa. Coladas as pranchas, chegado o pessoal, começam a marcar lugar ao longo da mesa e se de manhazinha a rua e a mesa estão despovoadas, ao meio dia estão repletas de  gente, mas há sempre lugar para mais um.


Uma vara de medida


Benzida a comida, começa-se a servir, mas antes há que por a toalha de linho que irá cobrir todos os 400 metros de mesa que é seguido do beijar do São Sebastião, o peditório para o santo, um pão, uma caçarola de arroz, um pedaço de carne, mais uma vara de medida (que tem cerca de 1,20m) e mais um pão, uma caçarola de arroz e um pedaço de carne e assim sucessivamente até se chegar ao fim da mesa. O abastecimento é feito com corridas sucessivas de vai e vem à “cozinha” com grandes tabuleiros de arroz, uma caçarola enorme de cobre cheia de carne e gigas de pão. Em menos de uma hora todos os visitantes são servidos e, segundo as minhas contas, estimo que sejam cerca de 15.000 os que comunga desta refeição. Basta olhar para o preencher das ruas, saber o comprimento da mesa e fazer as contas.


 

400 metros de mesa para 15 mil pessoas


Claro que festa é festa e quem vem de excursão à festa, e são muitos, faz-se acompanhar de outras iguarias e manjares para acrescentar à mesa, mas não só, pois não faltam as concertinas, danças e cantares que se vão servindo também ao longo da rua, com os grupos que vêm de fora e começam logo a atuar à saída dos autocarros.


Excursões da gente do minho alegram a festa


Quanto à iguaria, há que prová-la para se poder deliciar. Garanto-vos que é coisa boa, com sabor à tradição da carne curada e fumada, com um arroz que é único acompanhado de pão milho caseiro…que mais dizer!? Talvez que falta o copito de vinho, mas esse aparece sempre.


Lumbudos barrosões em ação


Claro que há quem vá lá não só pelas iguarias e pela festa mas também para o registo da tradição. As televisões e a imprensa escrita costumam marcar presença, mas as câmaras fotográficas e de filmar também se vão repetindo nas mãos dos visitantes mas também as de outros fotógrafos, que embora amadores, vão fazendo da fotografia uma arte de mostrar e registar, como as de alguns Lumbudus da Associação de fotografia com sede em Chaves ou da Associação de Fotografia do Porto – Portografia, e alguns autores de blogs que se iam acotovelando amistosamente com um “desculpa” constante para não perder nenhuma cena e registo.


 

Em alturas do Barroso ninguém sai sem comer


Sai-se sempre de lá com espirito de festa cumprida e com vontade de voltar para o próximo ano, mas a festa não acaba ali na Vila Grande, pois esta tradição comunitária do São Sebastião não é exclusiva da Vila Grande da freguesia de Couto de Dornelas. Uns quilómetros mais à frente ou ao lado, conforme se aborde, há outra festa comunitária de São Sebastião, esta na aldeia de Alturas do Barroso, que, feita em moldes diferentes e sem o aparato da mesa ao longo da rua, não deixa que nenhum visitante saia de lá sem comer um prato de feijoada, um pão e um copo de vinho. Dizem que só fecham a cozinha quando já não houver mais nenhum visitante sem comer e assim, a “mesa”, prolonga-se por toda a tarde e entra pela noite dentro.


Em Alturas do Barroso um prato de feijoada, um pão e um copo de vinho é a dose


Bem, se a iguaria da Vila Grande era um petisco apreciado por todos, a pratada das Alturas de Barroso conforta qualquer estomago e, não pensem que é uma feijoada onde os feijões são reis e senhores, nada disso, vêm com todos os pertences e não são de plástico como os dos restaurantes da cidade, pois por lá têm os sabores do Barroso. Claro que embora tivesse sido a primeira vez que fui ao São Sebastião de Alturas do Barroso também fiz promessa de voltar lá sempre que puder.

 

 

O São Sebastião dá as boas vindas à entrada - Alturas do Barroso

 

A juntar a isto tudo há o apreciar único da paisagem e temas barrosões e a visita a algumas aldeias e locais que não se podem perder, como Vilarinho Seco, os Cornos do Barroso e um passeio de regresso ao longo da Barragem dos Pisões e das suas povoações, já por terras de Montalegre.


Fica-se sempre à espera que o 20 de Janeiro surja de novo no calendário. São aquelas datas fixas que a juntar às Sextas-Feiras 13 de Montalegre devem constar obrigatoriamente na nossa agenda.   


21
Jan12

Chaves cidade e Chaves Região


 

Já sei que este blog se intitula Chaves e é a Chaves que se dedica, no entanto Chaves não é apenas a cidade ou o concelho. Chaves é também e desde sempre uma referência na região do Alto-Tâmega, Barroso e outros concelhos próximos, como o de Vinhais ou as terras galegas mais próximas.

Chaves, dada a sua localização geográfica,  sempre foi um ponto estratégico, pelo menos desde há dois mil anos, desde o período da romanização e por essa razão passou por cá uma das principais vias romanas mas também construíram cá uma cidade – Aquae Flaviae – que aos poucos se vai descobrindo a importância que então tinha, como no caso recente das escavações arqueológicas que deixaram à vista parte do Balneário Termal Romano.

Canastro na freguesia de Dornelas - Boticas

 

Sempre foi, também, um ponto estratégico e de relevante importância militar, chegado neste campo a ser a capital da província de Trás-os-Montes.

Também e devido aos mesmos motivos, sempre foi uma cidade comércio onde, para além do comércio diário e das feiras semanais,  ainda resiste umas das mais importantes feiras anuais – a Feira dos Santos.

 

 

Sabendo isto tudo, Chaves não soube aproveitar-se da sua história e situação, distraiu-se a olhar em demasia para o umbigo e em vez de hoje ser um grande centro de uma região, passou a ser uma cidade de província que, com as novas vias de comunicação e a facilidade de deslocação atual, tem perdido a sua importância estratégica agravada ainda pelas medidas centralistas dos últimos governantes (os de Lisboa) e o desleixo (fico-me por aqui)  daqueles que temos mandado para Lisboa, também eles apenas interessados contentes em olhar para o seu umbigo e estatuto.

 

Vilarinho Seco - Boticas

 

Pois por aqui, a partir de hoje e já que ninguém o faz, este blog vai olhar mais e interessar-se também mais pelos seus vizinhos de território, afinal somos um mesmo povo amassado com a mesma massa. À boa maneira antiga em que os vizinhos se entreajudavam em vez de se isolarem e fecharem dentro dos seus pequenos territórios de betão de costas voltados uns para os outros, muitas vezes sem se conhecerem.

Vamos para a rua e começamos hoje, não da forma exaustiva com que o fiz com todas as aldeias do concelho de Chaves, mas a andar por aí a mostrar as tradições, as belezas naturais e os pontos de interesse.

Para já, apenas quatro imagens do Barroso, mas mais logo, teremos por aqui aquela que é uma das maiores festas comunitárias de S.Sebastião, também no Barroso.


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