Carnaval é carnaval, mas por Chaves, não há tradição do seu festejo, pelo menos organizado, com desfiles e folia nas ruas. Claro que temos as criancinhas pela rua de Stº António abaixo, mas a coisa é tão breve, que se por acaso alguém se distrai 5 minutos a tomar café, o desfile já foi, já era, já passou – foi o que me aconteceu no desfile de Sexta-Feira passada.
No tempo das bombas e rabichas de carnaval ainda se iam ouvindo uns estouros aqui e além, e na cidade, na mesma rua onde desfilam as criancinhas, era um regalo ver as bombas a rebentar nos pés dos polícias que, na ausência de outros crimes que a pacata cidade não proporcionava, se entretinham a perseguir (sem nunca apanhar) os criminosos das bombas de carnaval. Afinal nem sei quem se divertia mais, se os lançadores de bombas, se os espectadores se os polícias…
Mas, claro, já sabemos que a tradição não se faz do pé para a mão e, penso que também nunca houve interesse em criar por cá a festa do carnaval ou do Entrudo. Refiro-me à festa da rua, pois à mesa, a tradição ainda vai sendo o que era – um regalo de iguarias – daquelas que são (estas sim) um verdadeiro desfilar de sabores e saberes da terra e do fumeiro, ou seja, aquelas coisas boas que se guardam do reco que se matou por altura do Natal.
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Mas em coisa de festas, vamos sempre deitando o olho àquilo que os vizinhos fazem e vamo-nos tornando convivas das suas festas. Refiro-me à festa do Entróido de Verin onde, para além da Festa do Lázaro, lhe vamos retribuindo as visitas que fazem à nossa Feira dos Santos. Aqui sim, há tradição, tanta, que mesmo na altura do Salazar e do Franco, em plena Península Ibérica controlada pelos dois ditadores fascistas, a fronteira abria-se para os flavienses irem ao Lázaro e para os nosso amigos Galegos virem à Feira dos Santos. Já quanto ao Entróido, aí a coisa era diferente, pois parece que o Franco não gostava de Entróidos e a festa do Entróido galego, embora nunca tivesse deixado de se fazer, era assim meio clandestina e festa caseira.
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Só após Franco, e Espanha se ter convertido à democracia (sem república), é que a festa do Entróido começou a ganhar grandeza, sendo hoje uma das principais festas da Galiza, que não se resumem só ao dia de ontem, mas já vem de há umas semanas atrás, com as já célebres noites dos compadres e das comadres, o desfile de Domingo, entre outros festejos e cerimónias, com muitos copos à mistura e sempre muita festa.
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Não estranhará portanto que sendo Verin nossa vizinha, os flavienses lhe invadam os festejos e participem neles. Aliás Chaves-Verin agora até é uma eurocidade que até vai ter um autocarro a ligá-las e tudo… Pode ser que com o tempo a tal eurocidade se comece mesmo a sentir e em termos culturais e de tradição também possa haver um intercâmbio para além das actividades de cada, contarem na agenda cultural de Chaves. Sei, porque me contaram, que este ano o desfile das criancinhas já teve alguns Cigarrons. Quem sabe se a coisa bem negociada não pode trazer até nós um desfile galego como o que ontem aconteceu em Verin. Isso é que era isso, mas para já, vamo-nos contentando com uma eurocidade que ainda não saiu das reuniões e da papelada. Já agora, talvez não fosse mal sermos mais ambiciosos e deitar um olhinho também a Orense, porque com Verin, já nem se inventa muito, pois o nosso relacionamento, pelo menos comercial e de amizade, sempre foi próximo e de há muitos, muitos anos.
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Pois eu sempre que posso, Domingo ou Terça-feira de carnaval vou até ao Entróido de Verin. Gosto da festa, do colorido, dos cigarrons e também de apreciar a beleza e até a crítica e a sátira que sempre esteve associada ao Entrudo, carnaval ou entróido, afinal como se diz por cá – no carnaval ninguém leva a mal – e este ano até havia pormenores bem picantes por Verin.
Mas o que mais impressiona é os nossos amigos galegos levarem as coisas a sério. Brincar sim e muito, mas com algum profissionalismo e dedicação e isso nota-se na qualidade dos trajes, dos adereços e do próprio espectáculo, pois a coisa, sem o profissionalismo das escolas de samba, também não é um simples arejo que se dá às peças de vestuário esquecido no roupeiro.
Sem menosprezar a festa em si, os Cigarrons dão um toque especial e único ao entróido de Verin além da sua própria existência e história bem como alguns “rituais” ou regras que há a cumprir para se ser Cigarron. Mas isso já o expliquei por aqui num dos carnavais ou entróidos passados.
E é tudo por hoje é tudo e quanto ao carnaval, também , pois por cá é apenas um dia e é à mesa que se cumpre.
Até já, com a crónica de Mário Esteves.