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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

01
Abr09

"Buraco do Arrabalde" o início do fim!


 

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“Buraco do Arrabalde”  o início do fim…

 

Sinceramente há decisões, de gente iluminada, que não entendo… mas, para se entender melhor aquilo que eu não entendo, vamos a uma breve história do “Buraco do Arrabalde”.

 

Pois tudo começou no Jardim das Freiras, quando num belo dia alguém se lembrou de, por lá, desfazer um jardim para fazer um parque de estacionamento subterrâneo,  independentemente de haver  consenso ou aprovação por parte da população. Consenso que até nem interessa para quem põe e dispõe dos nossos espaços públicos a seu bel-prazer, e assim o jardim foi desfeito para as necessárias escavações arqueológicas. Como nada de interessante por lá encontraram, deixou de haver impedimento para que o tal parque por lá se construísse   e, assim teria acontecido se  entre demoras de início da obra, os inquilinos da Santa Casa do Poder Local não tivessem mudado. Mudaram os inquilinos e mudou a decisão quanto ao parque de estacionamento das Freiras. Não há parque nem jardim para ninguém, construa-se uma eira e a eira foi construída. Em suma, mudaram os inquilinos da casa grande, mas as decisões continuaram a ser tomadas sem o consenso e aprovação da população, consenso que até nem interessa para quem põe e dispõe dos nossos espaços públicos a seu bel prazer… e por aí fora. Interessante que mudaram os inquilinos, mas manteve-se o discurso, a letra e a música de por e dispor ao bel-prazer de espaços públicos.

 

 Falhado o parque das freiras, os morteiros apontam-se para o Largo do Arrabalde e, de novo, as necessárias escavações arqueológicas, só que aqui, logo cedo, começou-se por encontrar restos da muralha seiscentista para mais abaixo se dar de caras com um antigo e importante balneário termal romano. Eia lá, grande achado! E lá se foi (de novo) o parque subterrâneo para o maneta, pois os achados são mesmo importantes para, por lá, se fazer uma garagem pra popós! E é aqui que começa a segunda parte desta história.

 

Pois dada a importância dos achados, logo desde o inicio se pôs a hipótese de vir a fazer a museolização  do local. Mas aqui a história sobe um patamar e, a decisão do interesse da museolização do local não cabe à Câmara Municipal, mas sim ao Ministério da Cultura através do IGESPAR ou seja,  ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológica e que, após as demoras do protocolo,  tornou há dias pública a sua decisão e, diga-se, que é no mínimo uma decisão surpreendente,  pois o IGESPAR pôs as batatas ao lume e depois, a queimar,  passou-as para as mãos da Câmara Municipal, ou seja, o IGESPAR diz a respeito  que o valor arqueológico e histórico do que foi posto a descoberto nas escavações é de valor inquestionável, no entanto só se poderá pronunciar a favor da museolização do local se as escavações forem concluídas e deixarem a descoberto todo o complexo termal, com as piscinas e o templo que sempre existia nos balneários romanos, caso contrário, terá que se pronunciar contra a museolização do local, exigindo que de imediato se proceda ao fecho das escavações e se retome a anterior praça, de modo a não deteriorar os achados a descoberto e a por em causa uma museolização futura, em tempo indeterminado.

 

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Aplausos para quem tão bem decide, pois mais uma vez vamos ficar sem estacionamentos subterrâneos, sem balneários romanos  e sem museu, pois adivinhava-se a decisão da Câmara Municipal, e a loucura que seria demolir todo o casario do Arrabalde confrontante com a Praça de táxis, parte do casario da Rua do Olival e ainda coragem para demolir o Palácio da Justiça e o edifício da antiga Estalagem Santiago, ou seja, todas as construções que foram construídas em cima do complexo termal e templo romano, e tudo com custos por conta da Câmara Municipal, incluindo indemnizações a privados e a construção de um novo Palácio da Justiça em local a determinar. Mais uma vez estava a preparar-me para ficar sentadinho no sofá a aguardar o desenrolar dos acontecimentos e, claro, a rir baixinho… só que desta vez enganei-me, pois com uma rapidez surpreendente (ou talvez não) a Câmara Municipal acatou de imediato as recomendações do IGESPAR, e decidida que logo ficou por não avançar para o museu, mandou de imediato tapar o buraco e mais dia, menos dia, temos o antigo Largo do Arrabalde de volta.

 

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E de volta temos também o espaço do parque de campismo da Rua 25 de Abril, pois também ficamos a saber ontem, que a Câmara Municipal com a mediação da Confraria de Chaves, finalmente entrou em acordo com o “campista” do Baluarte do Cavaleiro e pôs assim fim às negociações que já demoravam anos, ou seja, praticamente desde que o Baluarte do Cavaleiro ruiu  arrastando consigo as casas a ele adossadas, e já lá vão 8 anos.

 

Negociações complicadas e demoradas mas das quais todos saíram a ganhar: A cidade, a Câmara Municipal, a Confraria de Chaves e o “campista”. A cidade ganha ao finalmente ver desimpedida a muralha e ao ver-se livre daquele que já se tornava num vergonhoso acampamento terceiromundista. A Câmara Municipal ganha pelas mesmas razões e pelos termos do acordo/negócio, mas os que mais têm a ganhar são a Confraria de Chaves e o “Campista”, senão vejamos os termos do acordo:

 

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- Já todos sabia-mos que o “campista” era residente nos Açores onde tinha uma empresa que fornecia leite e queijos para várias marcas Açorianas (entre as quais aquela da publicidade do Pauleta) mas sempre mostrou interesse em comercializar os seus produtos com marca própria e sediada no continente com vista ao mercado Ibérico. Sabendo disso, a Confraria de Chaves que se propõe negociar os produtos da região, avançou com a proposta de o nosso “campista açoriano”  sediar a sua empresa em Chaves em parceria com a Confraria, criando uma nova marca de leite e queijos (Leite do Cavaleiro e Queijos Muralha), ou seja, o “açoriano traz o leite e os queijos em bruto, são embalados e rotulados cá na terrinha e a Confraria, com o carimbo de produto regional, genuíno e de qualidade, encarrega-se da comercialização e distribuição por Portugal e Espanha (para já).  E onde entra a Câmara de Chaves!? – Entra com a Confraria e com a cedência de dois lotes no Parque Empresarial de Outeiro Seco, a título gratuito, tendo em troca o espaço ocupado pelo “campista” junto às muralhas e a garantia de que serão criados 70 postos de trabalho nesta nova empresa, ficando ainda co-proprietária com 10% da nova empresa,  uma vez que esta percentagem será partilhada com o Ayuntamiento de Verin no âmbito da Euro-cidade, tal como já acontece na parceria com a Confraria de Chaves e a empresa que irá negociar os presuntos de Feces de Abaixo debaixo do rótulo: “Presuntos da Raia de Chaves”.

 

E voilá,  a bem,  tudo se resolve a bem de todos. Segundo apurei, ontem mesmo o Grão Mestre da Confraria de Chaves registou em seu nome as marcas “Leite do Cavaleiro” e os “Queijos Muralhas”, aliás tal como o fez com os Pasteis de Chaves, o Folar de Chaves, e o Presunto da Raia de Chaves, tudo marcas a comercializar pelas Lojas do Confrade da Confraria de Chaves, que está também a pensar engarrafar água das termas com a marca “Águas Calientes do Imperador” com embalagem para microondas. Segundo o Grão Mestre da Confraria, também mestre em ideias, diz que nesta primeira fase serão lançadas as água medicinais, realçando o termo Calientes para mais uma vez num simples termo meter a Euro-cidade, o quente das águas e um novo tratamento recentemente descoberto – o tratamento de calos. Numa segunda fase (diz ainda o G.M.) serão comercializadas “Águas Calientes do Imperador” com sabor a limão, sabor a morango e sabor a  grelo da veiga, esta última, pensada para vegetarianos, também para servir a quente mas com cubos de gelo.

 

A nova imagem destes produtos já está a ser elaborada mas ainda está no segredo dos Deuses, mas especialista que a confraria é em publicidade, não tardará e a imagem estará disponível para ser apreciada, embora os produtos possam demorar mais um bocadinho. É questão de ficarem atentos aos respectivos sítios na net da Câmara de Chaves ou da Confraria.come

 

E por hoje penso que já chega de novidades, amanhã cá estaremos de novo com o coleccionismo de temática flaviense.

 

Até amanhã!

22
Out08

Termas Romanas - Chaves - Portugal


 

 

Já é sabido que aqui pela terrinha quando se abre um buraco no chão tropeçamos logo com um pedaço de história. Centenas de anos, no mínimo, mas se o buraco afundar mais um bocadinho, então esbarramos de caras com quase 2000 anos de história, pois é conhecido de todos, que por baixo dos nossos pés, existem as ruínas de uma antiga e grande cidade romana, Aquae Flaviae. Cidade essa, que tanto quanto se crê e cada vez mais se acredita, seguiria o protótipo  das cidade romanas de então, onde não faltaria um teatro, um fórum, um anfiteatro, termas, um templo e toda uma série de infra-estruturas, vias, aquedutos, rede de saneamento, além do casario e até as suas villas de periferia (Ganjinha, por exemplo). 

 


Em 2004 a Câmara Municipal de Chaves projectou para o Largo do Arrabalde um parque de estacionamento. Enquanto que os privados lá se vão esquivando de fazer sondagens arqueológicas nas reconstruções do casario do centro histórico, pois descobriram que não abrindo buracos as sondagens não são obrigatórias, a Câmara Municipal nas suas obras lá as vai realizando e todas elas acabam quase sempre em escavações arqueológicas. Umas mais importantes, como foi o caso da Rua Bispo Idácio onde se está a construir o Arquivo Municipal, outras que não deram em nada, como foi o caso das Freiras. Mas aqui e ali, quase sempre, encontram-se vestígios da cidade romana. Pelo menos do Arrabalde até ao Anjo, há provas disso mesmo.

 

 

Pois  há 4 anos e para levar a efeito o tal parque de estacionamento subterrâneo no Arrabalde,  a Câmara Municipal contratou Armando Coelho da Silva para que procedesse à abertura de três sondagens arqueológicas. Na segunda das sondagens previstas foi encontrado um pavimento em lajeado granítico de aparelho muito perfeito e datação romana, que indiciava a presença no local de estruturas monumentais bem conservadas desta época. Dado que nascia água quente no canto da sondagem, pôs-se desde logo a hipótese de se tratarem das termas romanas da cidade.

 


As escavações iniciaram-se então a um ritmo que parte da população não compreende muito bem, mas que foram decorrendo ao ritmo certo e delicado que este tipo de trabalhos exigem, pois  todos os trabalhos arqueológicos foi seguido o método de Barker-Harris com a remoção manual de todas as camadas pela ordem inversa à da sua deposição, e com a descrição, registo gráfico e fotográfico de todas as unidades estratigráficas detectadas. Convenhamos que escavara manualmente e com os cuidados precisos até cerca de 7m de profundidade em toda a área da escavação, além de não ser fácil, é trabalho demorado. Talvez um pouco de informação tivesse ajudado a compreender aquela escavação para não vir a ser, por muitos, apelidada com ironia e desprezo como o buraco da Câmara, e logo ali no Arrabalde onde pára grande parte da massa crítica desta cidade.

 

 

Projecção sobre fotografia aérea das termas romanas (apenas o que foi descoberto em escavações),

pois o complexo termal seria de maiores dimensões - ainda por descobrir)


Logo desde cedo, primeiro com o renascimento de um troço das muralhas seiscentistas que foi soterrada em 1870 para construção do mercado que aí existiu até meados do século passado. Na base começaram os primeiros indícios das tais termas romanas que viriam a confirmar as suspeitas das sondagens, ficou inviabilizada a construção do parque de estacionamento previsto e, antevendo-se um grande interesse museológico para a autarquia, o executivo abandonou de vez a ideia de um parque de estacionamento no local. Uma boa opção, sem dúvida alguma.

 

 

A monumentalidade das estruturas descobertas; a sua proximidade à ponte romana; o facto de, das numerosas intervenções arqueológicas até agora realizadas na cidade, quer de iniciativa pública quer privada, poucas terem resultado na musealização do património exumado; e, finalmente, o grande interesse científico que os achados poderiam vir a ter, quer por serem os primeiros vestígios de um edifício público encontrados na cidade em contexto de escavação, quer pelo aparente bom estado de conservação do registo arqueológico, levou a Câmara Municipal, e muito bem, a requer o estatuto de Monumento Nacional para o local, além da  musealização dos vestígios encontrados no local, onde serão colocados todos os achados (milhares e em bom estado de conservação) encontrados no local. Ao que sei, o projecto para o local já está em elaboração e congratula-me saber que desta vez, toca a uma equipa de flavienses (arquitectura e engenharia) fazer o projecto. Congratulo-me, porque está demonstrado que nestas coisas dos projectos, o sentimento e conhecer-se bem a terrinha, são condições muito importantes. Neste aspecto, o projecto, está bem entregue.

 

 

Maqueta das termas romanas de Bath (Aquae Sulis) em Inglaterra - Semelhantes às que agora estão a descoberto no Arrabalde,

à excepção do conjunto da parte esquerda da maqueta (templo), que se crê também existir em Chaves, mas que ainda não foi descoberto.


Mas vamos a um pouco daquilo que por lá se encontrou, que tal é a quantidade e qualidade, que este blog é pequeno para deixar aqui pormenores:

 

 - Logo na muralha, uma conduta de escoamento de águas coetânea que descarregava no fosso exterior a esta e que era composta em grande parte por silhares medievais, muitos deles com siglas de canteiro, reaproveitados, muito provavelmente, do desmonte do torreão que, de acordo com a planta de Duarte d'Armas, se situava ao fim da Rua Direita guardando a porta principal da vila;


- As fundações de uma casa do arrabalde anterior à construção da muralha da restauração incluída no interior de um muro tosco de pedras graníticas irregulares, que delimitava também uma área agrícola (hortas). Encostado ao lado exterior do muro da casa que dava para o interior da área vedada, encontrava-se um canteiro constituído por lajes graníticas fincadas na vertical delimitando uma pequena área. O resto do terreno vedado apresentava ainda marcas de arado. Este conjunto estava construído sobre um outro de cronologia medieval composto também por um muro, mas com pedras maiores e por uma casa, também de maiores dimensões e com um forno adossado. Estratigraficamente associados a este conjunto, mas do lado de fora do muro, encontrou-se:


-Uma grande quantidade de escórias de fundição e numerosas ferraduras e canelos e restos de cota de malha, que indiciam a localização nas imediações de um ferreiro. De notar que ainda hoje se chama Rua dos Ferradores à artéria que corre paralela à ponte do lado montante e que desemboca no Largo do Arrabalde.

 

Ilustração de Alma-Tadema do que seriam as termas romanas no seu interior -

Também idênticas às de Chaves


Sob este conjunto de unidades estratigráficas encontrava-se uma série de depósitos aluviais de areias e limos, correspondentes a um momento de abandono do local, sob os quais se detectou:

 

- as valas de violação do balneário termal romano, abertas nas camadas de derrube da cobertura deste. Pelo menos algumas destas valas devem ter sido abertas imediatamente após a derrocada do edifício, uma vez que se encontrou uma sepultura romana em tégulas formando uma caixa que continha um esqueleto em conexão anatómica, escavada nos derrubes da cobertura. A maior parte das valas estavam abertas ao longo das paredes da estrutura, de modo a recuperar, com o mínimo esforço os silhares bem aparelhados que as compunham.

 

Era notório o derrube organizado da abóbada de canhão que cobria originalmente a área de uma das piscinas  e do acesso a esta, prolongando-se até as estruturas do balneário romano.

 

 

Projecção das piscinas termais (sem cobertura) sobre fotografia aérea. As duas piscinas da parte inferior da imagem

já estão a descoberto, a piscina na parte superior da imagem, está apenas parcialmente a descoberto nas

escavações. Pensa-se que parte da piscina com dimensões idênticas à projectada neste esquema,

está por baixo da actual praça de táxis.


Após a escavação da área intra muralha até ao interface de destruição das estruturas romanas, procedeu-se à abertura de uma sondagem de controlo estratigráfico no enchimento do fosso, presumivelmente aterrado aquando da terraplanagem de 1870. Verificou-se, assim, que os construtores da muralha, ao abrirem a enorme vala para implantação da camisa e construção do fosso, destruíram todos os níveis medievais e removeram uma fiada de pedras das termas romanas, algumas das quais reutilizaram no embasamento da muralha, mas deixaram intactos os níveis de derrube da cobertura e o pavimento de uma sala em opus signinum, bem como as fundações dos muros e a cloaca de escoamento para o rio das águas excedentes do balneário.

 

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Parte de Pirgo ou Turricula ( à esquerda tal como foi exumado) - à Direita um exmplar

do Landsmuseum de Bona, também em opus interassile.

De salientar que o pirgo encontrado em Chaves é o que se encontra em

melhor estado dos três únicos existentes e encontrados até hoje

e com desenho bem mais interessante que os outros dois existentes.

Trata-se de um lançador de dados para jogo.


Após a escavação, também deste lado, até ao interface de destruição do balneário romano, procedeu-se ao registo minucioso do derrube organizado da abóbada de canhão em opus laetericium que apresentava grandes tramos ainda em conexão e parte do revestimento em opus signinum, denunciando, uma derrocada súbita num movimento único e abrupto. Esta interpretação viria a ser confirmada pela presença de esqueletos humanos sob o derrube, provavelmente vítimas do colapso do edifício, que embora quase impossível de determinar, sabe-se que foi resultante de causas naturais.

 

Removidos os derrubes da cobertura e as camadas de argamassas e areias de construção que lhe estavam associadas, verificámos que as lamas subjacentes tinham conservado em ambiente húmido anaeróbico todos os metais e matéria orgânica em condições de conservação excepcionais, proporcionando um espólio de peças únicas de grande valor cientifico. De entre estas peças destaca-se um pirgo (torre para lançar dados de jogar) em opus interassile de bronze que constitui um dos três únicos exemplares deste tipo de objecto existentes no mundo (os outros dois encontram-se no Landsmuseum de Bona, na Alemanha e no Museu do Cairo, no Egipto), um fragmento de cestaria forrada de cortiça que envolvia originalmente uma garrafa, de forma a conservar a temperatura da água no seu interior, vários pentes em madeira, uma turquês em ferro perfeitamente conservada, uma ampulla (garrafa achatada e larga com duas asas) em madeira com uma inscrição no exterior, uma taça baixa em madeira, diversos objectos de adorno em madeira, metal e osso, como anéis, braceletes e pulseiras, contas em madeira osso vidro e cornalina, etc. Um autêntico tesouro.


 

Punhos em madeira em forma de mano fico fálica alada


O EDIFÍCIO TERMAL

 

Tal como as restantes cidades romanas com o elemento Aquae no seu nome, cerca de uma centena em todo o Império e oito conhecidas na Hispania (VELASCO 2004), Aquae Flaviae era uma verdadeira estância termal no período romano, o balneário, que constituiria o núcleo definidor do aglomerado urbano, deveria ocupar uma grande parte da área total da cidade.

 

Tratavam-se de termas de tipo terapêutico, muito diferentes tanto em forma como em função das termas higiénicas comuns a todas as cidades romanas. Eram vocacionadas para o tratamento de doenças e este facto, junto com o de estarem, seguramente, associadas a um centro de culto dedicado à divindade que se julgava propiciar os efeitos benéficos das suas águas, atraíam gente de diversos lugares, por vezes bem distantes.

 

Tendo em conta as informações de que, durante as obras de construção do Cine Teatro de Chaves, em 1964, distante cerca de 200 m. do local das presentes escavações, apareceram tanques e canalizações em tudo semelhantes às agora descobertas, bem como o número e capacidade das condutas de escoamento das águas, o complexo termal ocuparia cerca de um terço da área urbana da cidade romana, e teria uma volumetria só comparável, em contextos provinciais, à de Aquae Sulis, na Britania, (actual Bath, Inglaterra), classificada como Património da Humanidade pela UNESCO em 1987.

 

 

Aneis, pulseiras, colares, ferragens, contas, centenas de moedas, loiça,

alicates, etc, etc, ect, milhares de obrjectos encontrados no decorrer

da escavação em materiais que vão desde o ouro, ao bronze,

cobre, ferro, madeira, porcelana, mármore, e até cestaria se

encontrou nas escavações, entre outros - um autêntico tesouro.


Na área agora escavada (28 x 30 m.) foi descoberta uma piscina de grandes dimensões (13,22 x 7,98 m.) com cinco degraus no seu topo Norte,  uma outra apenas parcialmente escavada mas da qual um dos lados deverá ter cerca de 8 m., com seis degraus a toda a volta; um tanque pequeno, possivelmente para banhos individuais, cujo acesso se fazia através da berma da piscina de maiores dimensões por degraus que numa segunda fase terão sido tapados e cuja cobertura teria sido originalmente uma pequena abóbada de canhão, posteriormente substituida por um telhado de tegulae e imbrex; uma sala com pavimento em opus signinum e ralo para escoamento de águas e um complexo sistema de condutas de entrada e saída das águas que ainda correm com uma elevada temperatura e um caudal considerável. A cobertura da área central, incluíndo a piscina A e a área de acesso a esta, era composta por uma grande abóbada de canhão em opus laetericium revestida a opus signinum. Algumas das condutas seriam também cobertas por telhados em tegulae e imbrex. O sistema de condutas de escoamento das águas sofreu alterações ao longo da utilização do balneário, tendo algumas condutas sido tapadas e novas derivações construídas.

 

 

fragmento de um elemento arquitectónico em mármore com uma moldura de folhas de acanto


Quanto à cronologia do edifício, apenas se poderá referir, de momento, que o seu abandono se terá dado, como indicam os materiais selados pelos derrubes associados ao colapso da abóbada de cobertura, no último quartel do Séc. IV d.C. Não tendo ainda sido escavados os níveis correspondentes ao enchimento das valas de fundação de nenhuma das estruturas do complexo termal, não dispondo de elementos que permitam avançar para a datação da construção ou remodelações que este terá sofrido.

 

Da minha parte, pessoalmente e como flaviense, congratulo-me com as decisões que a Câmara Municipal tem tomado no decorrer destas escavações, agora concluídas numa primeira fase. Congratulo-me pelas escavações em si, mas também pela decisão de requerer o estatuto de monumento nacional e da musealização onde se poderão expor todos os achados no local. Congratulo-me também com a equipa de projectivas flavienses e deixo como única senão desta escavação a falta de informação pública que deveria existir no local desde inicio (agora colmatada com um pequeno painel colocado há semanas atrás – que peca por pequeno), além da delimitação da área de escavação que poderia ter um aspecto bem mais agradável, em vez das actuais vedações correntes de uma obra qualquer, porque aquilo não é uma obra qualquer, mas antes um tesouro que a cidade encontrou e que tanto nos pode a vir a dignificar com a sua importância.


Sem dúvida alguma que por baixo dos nossos pés existe um autêntico tesouro por descobrir.

 

Por último resta agradecer ao Director Científico das Escavações e Arqueólogo da Câmara Municipal, Dr. Sérgio Carneiro, a cedência de imagens dos achados bem como todas as informações sobre as mesmas escavações, sem as quais este post não seria possível.

 

29
Set08

Arrabalde, Escavações arqueológicas e o Eusébio.


 

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Há dias em que os ventos não nos correm mesmo de feição. O digitalizador avaria, o You Tube não aceita o filme, o Flickr anda com problemas, a Internet falha e o tempo é escasso. Tudo se vira contra nós e, mesmo insistindo, o resultado fica muito aquém daquilo que pretendíamos. Para cúmulo, a máquina fotográfica também está doente e entre outros problemas, também não pude ir ver a passagem de modelos tamagani aconchegada pela nossa Top Model maior, a Ponte Romana. Fim-de-semana para esquecer, mesmo assim, vamos ao post possível, conseguido sabe-se lá como!

 

Pois hoje pretendia apresentar o filme das escavações dos balneários romanos do arrabalde e elogiar aquilo que foi feito ou se pretendia fazer neste fim-de-semana pelas escavações. Também queria deixar por aqui a passagem de modelos Tamagani na nossa ponte, mas fica o que é possível deixar por aqui.

 

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Há quem me acuse de por aqui (em palavras) só deixar o que de mau vejo na cidade e é um pouco verdade, por duas razões: - A primeira porque todos temos tendência a aceitar as coisas que acontecem por bem como coisas naturais, que apenas poderiam acontecer por ser o mais correcto e desejado ou seja, é como a água ou a electricidade, só nos lembramos do importante que é quando nos falta; A segunda razão é precisamente a razão contrária da anterior, ou seja, que só dá nas vistas e só na chama à atenção aquilo que não está correcto ou aquilo que nos desilude.

 

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Pois neste fim de semana o pouco que aconteceu cá pela terra foi positivo, principalmente no que diz respeito às escavações arqueológicas e à informação vertida sobre os balneários romanos, porque as pessoas, a população em geral, merece e deve ser informada do que lá se passa, nem que seja pela simples razão de se explicar o que lá se passa e que aquilo afinal não é um buraco (como alguns dizem) mas algo de muito importante para a história, principalmente a da cidade de Chaves e do nosso passado romano.

 

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Um bem haja para o município por finalmente explicar e fazer daquela escavação um museu ao ar livre, só peca mesmo é por defeito, pois as anunciadas visitas às escavações não aconteceram durante o fim-de-semana (como estava anunciado em cartaz) e o painel explicativo, no meio de tão grandes escavações e largo envolvente, não passa de uma agulha num palheiro, que ninguém vê, a não ser que tropece com ele, aliás o mais visível mesmo no largo são as placas da obra e o Sr. Eusébio da Silva Ferreira. Valha-nos ao menos isso, o Eusébio, que no largo faz boa figura.

 

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Mas este assunto é sério demais para ser tratado com leviandade e, da minha parte, fica prometido deixar aqui pelo blog toda a informação possível sobre as escavações assim que me for possível, entretanto, se olharem com atenção, no meio do largo há um pequeno cartaz, minúsculo mesmo para a importância que tem,  com algumas informações sobre o que por lá se passa. Pode ser que para o próximo ano se dispense uma das fotos de grandes dimensões do festimage, para deixar nestas escavações uma informação atraente e visível.

 

Eu bem tento os elogios, mas, nem sempre são possíveis, porque nem sempre vale a intenção. Há vezes em que mais vale nada fazer do que fazer mal. Gostei das senhoras a distribuir informação, mas de tão mal habituado que o pessoal está, toda a gente lhes fugia, pois pensavam que eram testemunhas de Jeová, publicidade indesejável, ou coisa parecida.

 

 

Só resta mesmo explicar as primeiras imagens do post, pois a primeira tenta retratar aquilo que seriam os baneários romanos no seu interior e a segunda os mesmos vistos do exterior. Seria mais ou menos isso que existiu há cerca de 2000 anos no arrabalde. Imagens bem mais simpáticas que as actuais.

 

Até amanhã, com outros olhares.

 

28
Set07

Chaves, Largo do Arrabalde, escavações arqueológicas.


 

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Ora aqui está a prova provada de que em Chaves quando se abre um buraco no chão damos logo com pedaços da história longínqua, e quando mais fundo é o buraco, mais longínqua e interessante o achado.
 
Já há tempos tínhamos abordado aqui as escavações arqueológicas que decorriam no Largo do Arrabalde. As mesmas que resultaram de um projecto para um parque de estacionamento subterrâneo. Já então dizia, que possivelmente perdíamos um parque de estacionamento mas ganhávamos um espaço museológico. Então estava-se ainda no início das escavações quando se tinham acabado de encontrar um troço da muralha seiscentista.
 
Com o evoluir das escavações, além de por a descoberto um importante troço da tal muralha seiscentista, chegou-se finalmente àquilo que os arqueólogos (por anterior sondagem) já suspeitavam que iriam encontrar, ou seja, o pavimento e a base daquilo que teria sido um importante complexo termal romano, com várias salas de banhos a diferentes temperaturas e com pormenores construtivos, da arte de bem construir, os quais já estamos habituados a observar e verificar em todas as construções romanas, alguns mesmo de fazer inveja aos actuais construtores, com uma complexa, mas simples e funcional rede de captação, distribuição, aproveitamento e saneamento das águas termais.
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As escavações ainda estão a decorrer, ao ritmo que muita gente não entende, é certo, mas ao ritmo moroso e natural de qualquer escavação (talvez um pouco de informação ajudasse), pois não se trata de abertura de caboucos para construção ou de plantação de árvores ou simples couves, neste caso trata-se de pôr a descoberto 2000 anos de história, com gente que sabe (arqueólogos) da arte e do ofício e cujo estudo dos vestígios que vão aparecendo irão contribuir e muito para a história da cidade de Chaves Pena é que o espaço em escavação esteja limitado apenas a parte do Largo do Arrabalde.
 
Só a título de curiosidade, o pavimento do complexo termal romano agora encontrado, está a cerca de 5 metros abaixo da cota actual do Largo do Arrabalde e a água que se vê numa das fotos, é água termal, que embora fora da captação (origem ainda não detectada) atinge entre os 30 a 40ºC de temperatura.
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E só resta mesmo agradecer a quem teve a feliz ideia de um dia pensar para este espaço um parque de estacionamento, sem a qual esta descoberta (embora mais ou menos previsível) não teria sido possível, e já agora lembrar a quem a teve, que já é tempo também de ter outra ideia, para outro parque (claro), é que este, já era!
 
E por hoje vai sendo tudo, mas prometo vir novamente com este assunto ao blog, se possível mais documentado e com a solução encontrada para o futuro deste espaço, que se espera ser um espaço museu, atractivo para fazer mais um pouco da história de Aquae Flaviae, romana, medieval e actual.
 
Até amanhã, em Chaves, mas rural.

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