Cidade de Chaves e a praça do homem de bronze
Gosto daquele homem de bronze, impávido e sereno, duvido que conformado, mas aceitou, sempre aceitou o destino a que foi destinado, sempre, sempre assim foi. Um flaviense, em tudo improvável, alentejano de nascimento, teve Chaves como dote, nobre desta praça, foi duque e conde de outras, mas aqui foi pai e amante, aqui morreu e foi sepultado, em vão, até nisso, lhe foi destinado outro destino. Ficou apenas o homem de bronze para quem passa na sua praça pergunta que é, olha! está lá escrito, de Bragança e Barcelos, mas que raio faz nesta praça que é do Camões!?, mas contra mitos não vale a pena, nunca vale a pena fazer-lhes guerra, pois perdem-se sempre, e assim, lá continua, ele, impávido e sereno, sem desviar o olhar, de dia e de noite, à chuva, ao vento, ao sol, frio ou calor, tanto se lhe dá, destinado que está a ser assim, assim será enquanto quiserem. De entretém só tem a gente que passa, já há muito lá vai o tempo em que por lá pernoitavam, mesmo quando a sua praça que é de outro se enche de gente, embora pareça que todos o olham de frente, embora pareça que é ele que na primeira linha comanda todo um exército atrás dele, embora uma primeira vez se tivesse animado ao ver o seu povo, depressa caiu no seu destino da realidade de ser o homem de bronze, de ser apenas um incómodo a quem parece lançar-lhe os olhares, quando afinal de contas, todo o poder e todos os interesses ficam nas suas costas, nas costas de quem numa vida foi o dono disto tudo…
Mas o que mais custa são as noites, principalmente as longas noites de inverno, sem vivalma que o console ou mesmo atormente, que já era alguma coisinha para companhia, até as pombas que tanta vez lhe poisaram na cabeça, agora andam por outros destinos e deixaram o homem de bronze, ali sozinho, impávido e sereno de olhar fixo sabe-se lá onde…