I
A minha profissão há muito que me obrigou a ser um flaviense ausente, mas que vem à terra e ao berço familiar sempre que é possível, tal como vou acompanhando à distância a vida da nossa cidade, principalmente nesta última década em que a internet tem servido também de depósito a muita informação e imagens sobre o pulsar dos lugares e das cidades, onde os blogs de uma forma não institucional, têm tido uma importância fundamental na sua divulgação, transformando-se muitas das vezes num verdadeiro serviço público, como é o caso do blog « Chaves – Olhares Sobre a Cidade». Desde o início da sua feitura que acompanho este blog, não só pela ligação de amizade que tenho como o seu autor mas também por levar a cidade de Chaves até mim quando mais dela necessito.
Desde início deste blog que o Fernando Ribeiro me convidou para deixar aqui umas palavras sobre a cidade na perpectiva de um flaviense ausente. Por motivos profissionais fui adiando essa colaboração, embora em tempos ainda tivesse deixado por aqui umas palavras mas que de seguida fui obrigado a abandonar por não poder garantir a sua regularidade. Ultimamente o Fernando tem insistido no meu regresso à colaboração e fazendo eu um exercício introspectivo cheguei à conclusão que não poderia negar essa colaboração, retribuindo assim um bocadinho do muito que tenho recebido deste blog. Assim cá estamos para voltar uma vez por mês neste espaço de «Discursos sobre a Cidade».
II
Infelizmente ou felizmente deixei de ser flaviense presente desde meados dos anos setenta do século passado. Infelizmente porque fui obrigado a deixar a minha terra, a minha família mais próxima e muitos amigos, mas felizmente porque em termos de formação e trabalho tive oportunidade de atingir os objectivos a que me propus. Felizmente ainda, embora com uma felicidade infeliz, a de não ser obrigado a assistir na primeira linha ao crescimento desenfreado e desequilibrado da cidade sem a preocupação mínima de ter havido um trabalho prévio de ordenamento, levando a que em muito desse crescimento se tivessem praticado verdadeiros atentados à cidade, principalmente ao seu centro histórico.
Embora durante estes longos anos de flaviense não presente tivesse vindo à terra com uma regularidade de pelo menos uma a duas vezes por mês, a verdade é que me transformei num verdadeiro estranho para a cidade. Não conheço os novos bairros e na tentativa de os conhecer chego-me a perder na cidade nova. Perdi os lugares de referência como o Jardim das Freiras e os cafés da Rua de Stº António que sempre tinham sido local de encontro de flavienses ausentes com flavienses presentes. As caras dos comércios tradicionais mudaram por novas caras e novos ramos de comércio. Com o tempo ir à cidade à procura dos nossos amigos do tempo de liceu e das caras de sempre tornou-se uma missão impossível de ninguém encontrar numa nova cidade. Um verdadeiro estranho na minha terra, e ainda por cima, culpabilizando-me por tal acontecer e por não poder ter estado cá…
III
Assim que, discursar sobre a cidade é uma tarefa complicada. Das duas uma, ou me restrinjo às recordações do passado ou passo à descoberta da nova cidade, deixando aqui as minhas considerações. E foi assim que no último fim-de-semana me propus descobrir mais um bocadinho da nossa cidade, iniciando a descoberta naquela que em tempos era a entrada nobre da cidade – A Estrada Nacional 2. Ao passar na rotunda do Raio X, uma das placas informativa despertou-me o interesse para a descoberta, de interesse turístico, a descoberta da Rota Termal e da Água, rota que desconhecia ter um itinerário definido e da qual ninguém ainda me tinha informado. E lá fui eu seguindo as setas na sua descoberta, em direção a Espanha, confirmada na rotunda da antiga Polícia de Viação.
Mas um pouco mais à frente, junto à Adega Cooperativa a placa da Rota Termal e da Água indica-me o centro da cidade, via nova ponte de S.Roque.
Um pouco mais à frente, na rotunda da Escola Industrial, mais ou menos onde antigamente havia um tanoeiro e o parque de estacionamento dos burros das Leiteiras de Outeiro Seco de novo a placa da Rota, ou melhor, as placas das Rotas, pois aqui dividem-se em Rota Termal e da Água (Chaves) e Rota Termal e da Águas (Verin). Optei pela de Chaves, que curiosamente me obrigava a voltar para trás.
Mas logo de seguida e ainda na mesma rotunda a Rota Termal de Chaves desaparece e aparece a de Vidago.
Afinal não, pois 10 metros à frente aparece de novo a rota de Chaves, conjuntamente com uma novidade para nós, o Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso. Seguimos por esta rota que logo a seguir terminava no parque de estacionamento do referido Museu. Pois já que ali estávamos aproveitávamos para visitar o museu, mas por lá alguém nos informou que o Museu embora pronto ainda nunca abriu ao público…
Viramos para trás, que outro remédio não tínhamos e ficamos com a opção de seguir a Rota Termal e da Água de Verin ou retomar a de Chaves que logo passava à de Vidago. Mas observando uma outra placa na mesma rotunda, optámos pela rota de Verin, pois assim também iriamos em direção ao Mercado Abastecedor M.A.R.C. que também desconhecíamos a sua existência
Chegados a Outeiro Seco ficando já para trás a Capela Medieval as placas informativas baralham-nos um bocado. Tivemos de parar para optar pela que nos levava a atravessar o centro de Outeiro Seco em direção a outras aldeias ou então tomar a outra estrada em direção a Espanha, mas também a Universidade (que não sabíamos que existia) e ao Pastelnor (que não sabíamos o que era). Curiosamente a Rota Termal e da Água aqui deixou de ser de Chaves, de Verin e de Vidago e passou a ser uma rota única em direção ao Parque Industrial de Chaves. Desistimos da rota da água. Agora tinha curiosidade em conhecer a universidade. Entretanto perdemos a informação da localização do Mercado Abastecedor.
Mais à frente, numa outra rotunda, ficámos com duas opções, a primeira de Espanha e Vila Verde da Raia e na segunda, para além de algumas aldeias do concelho, tínhamos de novo o Pastelnor e uma nova informação, a do Instituto Politécnico. Das duas, uma, ou nos trezentos metros que andámos de caminho a Universidade foi desqualificada para Instituto Politécnico ou então para além da Universidade também havia um Instituto Politécnico. Esta possibilidade aguçou-nos a curiosidade e fomos ver.
Ainda na mesma rotunda apareceu-nos outra placa, de novo com o Pastelnor e a Universidade. Perdeu-se o Politécnico ou afinal sempre há as duas instituições, Ah, e aparece-nos o Parque Empresarial ou Zona Industrial 3.
Trezentos metros mais à frente novas placas informativas que para além do Pastelnor aparece de novo a desaparecida rota Termal e da Água, a geral, sem Verin, Chaves e Vidago. Informações sobre Universidade, Instituto Politécnico e Mercado Abastecedor não havia.
Na ausência de melhor lá seguimos de novo a Rota Termal e da Água que logo à frente (50 m) de um lado e outro da estrada, apontando para direções opostas, isoladas sem mais informação, lá estava em destaque a rota Termal e da Água, de um e outro lado da Estrada a apontar para lameiros. Decididamente resolvemos não ir pastar e seguimos em direção ao que nos restava – o PASTELNOR.
Mais à frente, passadas as entradas para a autoestrada, finalmente o Parque Empresarial, aparentemente novo e aparentemente abandonado. No painel informativo da rotunda encontramos o MARC – Mercado Abastecedor da Região de Chaves e a Plataforma Logística.
Seguimos nessa direção e a única coisa interessante e inovadora que descobrimos foi o gradeamento das sarjetas. Plataforma logística nem vê-la e em vez de MARC – Mercado Abastecedor há bolos, fábricas de bolos que segundo nos informaram depois, antes dos bolos já tinha sido peixaria… Ficam os gradeamentos inovadores das sarjetas:
Desiludido, nem MARC, nem Plataforma Logistica, nem Universidade, nem Instituto Politécnico e a rota Termal e da Água a terminar em dois lameiros, resolvi regressar à cidade e no regresso, numa rotunda que já tínhamos passado antes, afinal havia outra placa, já no regresso da cidade onde de novo aparecia a Universidade e a rota Termal e da Água. Quanto a esta última indica-nos a direção das outras pelas quais já passámos, quanto a Universidade, tivemos curiosidade e continuámos à procura.
Mais à frente, já após termos passado a aldeia de Outeiro Seco sem encontrar a dita universidade, de novo uma placa a Indicar-nos o MARC e a Universidade, curiosamente a indicar-nos o caminho que tínhamos seguido inicialmente e que nos trouxe até ao ponto onde estávamos. Não, nesta já não caio, disse eu para com os meus botões…
Mas mesmo assim, em vez de seguir o cainho já trilhado indicado nas placas, resolvi voltar atrás ao centro da aldeia e perguntar onde raio ficava a universidade. Disseram-me que não, que por ali não havia universidade. Havia, isso sim, uma Escola de Enfermagem à saída de Outeiro Seco. Quanto a universidade disseram-me que há muitos anos atrás disseram que queriam construir uma no solar, curiosamente mesmo ali ao lado e que reconhecemos de imediato por já inúmeras vezes ter passado neste blog, mas que ninguém fez nada.
Concluindo, placas a presumir que se tem, não é tudo, é preciso ter mesmo, senão tudo não passa de um embuste. Quanto a Rota Termal e da Água durante toda a semana andámos à procura de informação sobre a mesma e sobre o assunto encontrámos um artigo de 2013 no sítio da internet da Eurocidade Chaves Verin (aqui), cheio de boas intenções mas que ainda não saíram lá do sítio da internet, a não ser as placas informativas que não levam a lado nenhum ou quando muito servem para andarmos à volta da cidade ou para terminarmos num lameiro de Outeiro Seco. Mas como o projecto é (ou foi) financiado pela União Europeia, presume-se que por aí andou muito dinheirinho, só que não se sabe onde ele para, embora nas ditas e inúteis placas se tenha gastado algum.
A.Adolfo