Ocasionais
“FUMEIRO de MUNTALEGRE”!
Este ano fui à FEIRA DO FUMEIRO, de MONTALEGRE.
Fui numa «excursão».
Na caminete, ao sairmos de Braga, uma senhorita, experiente em viagens excursionistas, foi ao microfone dizer que nunca tinha falhado um FEIRA DO FUMEIRO, DE MONTALEGRE - já ia nas «vint’óito» - e chamou a atenção dos viajadores para as paisagens do Gerês.
Pedi licença para lhe lembrar que, a partir de certa fronteira, as paisagens também eram barrosãs!
Alguém ouviu as minhas observações, dirigidas à companhia do assento, em relação às povoações, aos montes, às cortinhas, aos desfiladeiros, às barragens, e a outras particularidades (algumas com sabor a segredo), e insistiu para eu «ir ao microfone».
Não fui.
Pelos comentários acerca dos mosaicos da paisagem que se iam vendo desde a caminete, percebi que toda a gente sabia mais do Gerês e do Barroso do que eu.
Além desta grande diferença entre mim e os companheiros de viagem, havia aquela diferença insignificante da minha condição de, aí, no Barroso, ter frequentado o meu «jardim infantil» e a “Escola Primária», e regado as minhas raízes com as águas do Rabagão, do ribeiro de Sanguinhedo, do Cávado, do Noro (Terva), do Bessa e do Covas, e do Tâmega, e das poças de uns rigueiros; temperadas com nevadas, que até faziam parar a «carreira do Marinho», ali por Penedones; por geadas, que me deixavam imitar, a mim e aos meus companheiros de aventura, o Fângio, na descida desde a Misericórdia até às portas da Portela, a conduzir um «ferrari» feito com uma caixa do sabão, que «Casa Morais» ou o «Enes» m’arranjava; e benzidas pela Festa do Sr. da Piedade; e enrijecidas em campeonatos de futebol, ora no adro da igreja, ora no relvado do castelo, ora no campo do Rolo, ou no da Srª da Livração, e ….
A guia, que escutou algumas vezes o que eu ía dizendo conforme o lugar por onde passávamos, comentava o brilho do meu olhar e a emoção que apanhava nas minhas palavras.
E eu nem sabia bem se era eu que estava a matar saudades ou se eram as saudades que me estavam a matar a mim!
Mas, adiante!
Paragem na coroa da Barragem da VENDA NOVA, para fotografias.
Afinal, nas conversas avulsas, vi que ninguém sabia como ir à Ponte da Misarela; ninguém conhecia a “Ponteira”, nem o Outeiro, nem a Barragem de Sezelhe. Todos tinham ouvido falar de Pitões das Júnias. Nenhum conhecia o Forno do Povo de TOURÉM.
Todos conheciam a fama de bruxo, do Padre Fontes. Alguns já tinha ido a Vilar de Perdizes, ouvi-lhes.
Nenhum conhecia Bento da Cruz.
Pedi à guia para referir, pelo microfone, este insigne Normando-Tamegano barrosão.
Alguns tinham sido «funcionários da EDP», na construção da “Barragem dos Pisões”.
Isso deu-lhes o direito de conhecer melhor do que este humilde peregrino (que, em cada aventura em que se metia, em cada viagem que fazia ou ainda faça, fica sempre surpreendido e admirado com novas descobertas barrosãs!) «O BARROSO»!
No “Sol e Chuva”, atirámo-nos ao «cozido»!
Pelo «andamento», receei já «não chegar a horas do horário da Feira do Fumeiro»!
Para os que me acompanharam na excursão, se não para todos, pelo menos para a maioria, o ponto alto da visita à Feira tinha sido atingido!
Realmente, “o Renato e Família” serviram um cozido que foi um regalo de fartura e de paladar!
E, fosse lá por que bruxedo fosse, a mim, mesmo em frente ao meu prato, vieram pôr três ossos (ó «inbejôsos», tam’ém tem de me calhar alguma sorte, carago!), daqueles que eu, noutros tempos, ia por aí, pela Normandia Tamegana, comer numa ceia muito especial, acompanhados com umas batatas e umas couves espigadas das «nossas» ou uns grelos dos «nossos», bem regadinhos com um azeite do «bô», e tudo benzido e abençoado com uma pinga, da adega de uns ou da adega de outros!
Lá pró meio da tarde, sempre se conseguiu (mos) chegar a MUNTALEGRE.
Como era sexta-feira, não andava lá muita gente.
Melhor.
Deu para ser surpreendido por um amigo dos tempos das juvenis escaladas aos Penedos de Santa Catarina e de se matar a sede na “Mijareta”, e por outros amigos de CASTELÕES. Estes deram-me a boa notícia que o estradão, desde a ALDEIA até à Srª do Engaranho está alcatroado. “São mil e cinquenta e cinco metros de alcatrão”, disse-me e repetiu «repetidas vezes» o meu amigo Júlio de Castelões.
O entusiasmo, a dedicação e o carinho que os Castelamunenses votam à sua ALDEIA e ao seu Santuário, e a hospitalidade com que recebem quem os visita, merece bem este apontamento.
Mesmo nem que seja só para desfrutar do sossego e das paisagens e horizontes que dali, de CASTELÕES, se alcançam, mais do que valer a pena é uma sorte ir até lá!
De fumeiro, abasteci-me nalguns dos expositores. Mas também trouxe, para me consolar cá em baixo, folar, pão centeio e mel de Pitões da Júnias.
Este ano, não vi ninguém a vender batatas (Na minha anterior visita ainda arranjei um saco)!
No Bar dos Bombeiros de SALTO, «molhei a palabra» na companhia de novos amigos barrosões, e tive uma amena conversa com os bombeiros que me atenderam (fiquei contente por saber que o Grupo de Cantares de SALTO continua).
Valeu-me ter levado um saco para transportar as compras e a caminete da excursão estar paradinha ali mesmo em frente à porta do “Multiusos” de MONTALEGRE!
Claro que tive de fazer algumas «reviangas» pelas escaleiras abaixo, porque outros «fumeiristas», quer-se dizer, visitantes da FEIRA DO FUMEIRO, DE MONTALEGRE, em vez de trazerem, nas mãos ou aos ombros, saquinhos com chouriças, salpicões e linguiças, transportavam uns quartilhos bem medidos, talvez até umas canadas, de tintol … ou de cerveja!
Atão, com as concertinas «a rasgar»!...
M., vinte e sete de Janeiro de 2019
Luís Henrique Fernandes