Sabores de Chaves - A Feira do Pastel
Primeira parte – Umas palavrinhas de introdução
"Onde a tradição tem gosto…"
A frase consta na contracapa do guia ao visitante dos Sabores de Chaves/Flaviae Fest – feira do pastel (que se realizou neste último fim de semana) e é curiosa, pois embora eu pense que a ideia da frase se refere aos Sabores de Chaves e neste caso ao pastel, deixa também outras interpretações, e uma delas, ainda para mais porque vem acompanhada do Jardim Público de Chaves é a de que dá gosto ver uma feira destas no Jardim Público. Mas há a questão do “onde a tradição”.
Mas vamos ao significado das palavras.
Sobre o “onde” penso não haver dúvidas. É um advérbio de lugar que significa “no lugar em que”
Já por tradição, entende-se os costumes que vêm do passado ou o facto de transmitir e conservar os costumes. Mas transmitir e conservar os costumes não é coisa fácil, como dizia Thomas Eliot: « a tradição não é dada por direito de herança, e, se a quiser, é preciso muito trabalho para a obter.”
Assim sendo o gosto da tradição só está no pastel, mas ficaria o "onde" de fora (no lugar em que) e esse é o Jardim Público, e aqui chegamos a uma contradição, pois, como se pode afirmar que o pastel tem gosto no Jardim Público se é a primeira vez que se faz lá uma feira do pastel?. Pois para se saber que a tradição tem gosto num lugar, esse lugar torna-se ele mesmo tradição para que a outra tradição (o pastel) tenha gosto. A não ser que se queira dar a mão à palmatória e se vá buscar (repescar) a tradição no lugar em que a ADRAT levava a efeito, com sucesso reconhecido, as feiras do artesanato que realizavam no Jardim Público, até há 12 anos atrás. Pois se é por aí que a ideia quer ir, talvez se tivessem continuado as feiras da ADRAT em vez de se andar a experimentar lugares e feiras sem qualquer tradição como os “produtos da terra”, a dos “saberes e sabores”, para agora ser só “sabores”, qualquer uma delas longe do saber e dos sabores das feiras da ADRAT, aí sim, poder-se-ia falar de tradição de lugar.
Mas já é um início e a suposta tradição lá poderá a vir a ter o seu gosto ser verdadeira tradição se forem seguidas as palavras de Thomas Eliot “…é preciso muito trabalho para a obter”. Se esta Feira do Pastel for para continuar e melhorar, tudo bem, pois para ser feira do pastel e ter por lá só 8 produtores, é muito pouco para uma cidade onde em todas as esquinas se faz pastel de Chaves, mas antes 8 que nenhum, já é um começo.
Antes ainda de passar à segunda parte, fica só um recadinho para uma menina da feira: Nunca há duas fotografias iguais… e tenho dito.
Só mais uma. No livrinho distribuído na entrada da feira, faz-se uma pequena abordagem sobre os pastel de Chaves, descrição e história, onde se diz – “ A história do Pastel de Chaves remonta a 1862”. A respeito do modo como a história se faz, Napoleão Bonaparte dizia o seguinte: “ A História é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo”. Gostaria de saber de onde raio saiu o ano de 1862, pois tanto quanto sei não há data precisa para se atribuir ao aparecimento do pastel de Chaves, mas tudo indica que é bem anterior a essa data… quem sabe se um dia destes não abordaremos o tema, mas só depois de devidamente documentado, e isso, tal como a tradição, leva tempo a fazer e dá trabalho.
Segunda parte – o elogio
A parte agradável, a do elogio da feira , para que os do costume não digam que eu só falo mal das coisas que se fazem em Chaves , pois quando há que louvar, louva-se, mas como sempre os louvores têm de ser merecidos. E como hoje estou em maré de citações, fica mais esta de Miguel de Cervantes: “ O louvor vale pela pessoa que o dá” – Assim sendo, atribuam a este louvor o valor que entenderem que ele tem.
Tal como a feira do Presunto que tarda em chegar, esta feira do Pastel já há muito que é merecida e só por isso, já nos podemos congratular pela sua existência.
Como já disse atrás, penso que o Jardim Público é o espaço ideal para que eventos deste género aconteçam. Tem todas as condições para isso, e só é pena que sejam ocasionais e que nesta época de verão não se repitam mais vezes, pelo menos aos fins de semana. Mas tal como não me admirei que a feira de há 15 dias atrás levada a efeito pelo TEF não tivesse alcançado o sucesso pretendido, esta tinha todas as condições para alcançar algum sucesso e, só não alcançou mais (pois este foi muito tímido), precisamente pela falta de tradição que pela certa também influenciou a falta de participação de expositores e de pessoas. Mas foi um início (se for para continuar e trabalhar) e um dia, o Jardim Público poderá estar cheio de barracas, pois espaço não lhe falta e se faltar, sempre se pode prolongar para espaço Polis. Mas isto já é sonhar, embora até seja um sonho possível.
Esteve bem a organização ao juntar o festival da flaviae Fest aos pastéis, principalmente pela qualidade e quantidade de grupos musicais que teve nos três dias do evento, e lá vai mais uma citação, esta de Miguel de Cervantes - “ Onde há música, não pode haver coisa má”. A “Capoeira” também animou um pouco a tarde de sábado e quanto ao resto da animação não posso falar, pois só assisti à tarde de sábado, mas pelo programa, penso que poderia ter mais qualquer coisa, principalmente à tarde, pois as noites estavam garantidas com o festival.
Também soube bem saber que havia por lá dois ou três sítios onde se podia beber um copo, pois já se sabe que um pastel tem de ser acompanhado e as mesas (esplanadas) também eram simpáticas, embora poucas (só duas esplanadas, suponho) mesmo com aquelas mesas dos tabuleiros de damas, que por fim, lá tiveram alguma utilidade, pena continuarem ao sol. Também aqui (nos bares e esplanadas) se poderá apostar mais, pois se ao longo do rio (com abertura para o mesmo) por exemplo, existissem várias esplanadas para se poder beber um copo e comer um pastel ou outra coisa qualquer (presunto de Chaves, por exemplo), a feira tinha outro atrativo, uma coisa chama a outra e aí sim, a festa estava completa, pois sem música e comes e bebes, não há festa. Os foguetes neste caso dispensam-se.
E já que se falou em presunto, porque não fazer a feira do pastel e do presunto, alargando a oferta para se ter uma festa maior, pois embora elogie a feira do pastel, com feira ou sem feira há sempre pastéis em Chaves, aliás o caricato nesta feira do pastel é a de, em regra, se fazerem feiras para se promover um produto, nesta, foi o produto que promoveu a feira. Já quanto ao presunto, as coisas piam mais fino, esse precisa mesmo de uma feira para o promover, não na marca e fama, que essa já a tem de sobeja, tanta que até há por aí muito presuntinho (sabe-se lá de onde e feito como) que é mamado como sendo de Chaves, enquanto que o genuíno, bem poderia ser classificado como “uma espécie em vias de extinção”
Terceira parte – As incertezas
Pois desta vez quase dou os parabéns pelo o evento e só não o faço por duas razões, primeiro porque o sucesso foi muito tímido ou moderado e segundo porque falta saber se este foi um caso isolado ou se a feira do pastel fica com data marcada para o próximo ano, ainda para mais com eleições à porta e daí, falta saber se isto foi apenas foguetório para eleitor ver, e depois falta saber quem vai ganhar as eleições e se, se vai continuar a desfazer aquilo que está bem feito e pode crescer e melhorar, só porque não foram eles os autores da iniciativa. É o costume, não é? – E com esta me vou.
Logo meia-noite estreia a Rita com os seus “Estratos” e para amanhã ao fim do dia, temos a publicação das 19.