Feira Medieval - Chaves
Tal como disse há dois dias atrás, andavam a acontecer coisas estranhas na Praça do Duque. Anunciava-se uma Feira Medieval e confesso que fui até lá com um pé atrás, mas com olhos de ver, como sempre faço antes de escrever sobre os eventos que se fazem cá na terrinha. Muitas vezes acusam-me de crítico e de falar mal de tudo quanto se faz por cá, e confesso novamente que algumas vezes o faço, não por gosto ou prazer, antes pelo contrário.
Mal entrei na feira, uma das personagens trajadas pediu-me – “Por favor, desta vez não fale mal da feira…” e a minha resposta foi rápida e simples – “Só falo mal se houver razões para isso…”
Pois desta vez, embora com alguns considerandos finais, dou desde já os parabéns à organização. Do que vi e assisti, gostei e digo-vos que é muito fácil gostar quando as coisas são bem feitas e há profissionalismo em quem as faz ou participa nelas tal como também é fácil as pessoas (público/residentes, visitantes e turistas ocasionais) aderirem e até interagirem com os músicos e actores quando estes o sabem fazer e a festa é boa. E assim aconteceu, pelo menos naquilo (repito) que vi e assisti.
Gostei do espaço escolhido para a realização da feira. Afinal se se tratava de uma feira medieval nada melhor que a fazer dentro de muralhas medievais, nas suas praças (por sinal as mais monumentais e bonitas que temos). Pena que o Castelo e envolvente não fosse incluído no espaço, mas até isso é desculpado.
Também os espaços escolhidos para actuação dos grupos musicais, do teatro de rua e da exibição das aves “selvagens” esteve bem, principalmente por não ter lugar marcado (palco) e acontecerem em simultâneo e alternadamente em todos os espaços da feira por entre as pessoas.
Pode ser que a alegria da praça destes dois dias contagie quem costuma organizar eventos no Largo das Freiras, pois está mais que provado que estes espaços das Praças (Praça da República, Praça do Duque e Praça do Município) são bem mais interessantes e acolhedores que as Freiras.
Uma palavra de apreço para os grupos locais, não só pela sua qualidade mas pelo profissionalismo com que o fizeram, principalmente pela sua perfeita integração na feira. Também para as Associações que montaram barraca ou aderiram ao evento. (CCD, Bombeiros, Amo Chaves, Escuteiros…), não só pela apresentação dos produtos, produtos expostos, trajes e os comes e bebes que alguns tinham, com direito a queimada nocturna como convém.
Na barraca e exposição da Associação Amo Chaves congratulo-me de ter descoberto o João Catarino, autor do livro “EN2 – Portugal não é um país tão pequeno como parece…”, mas isso são contas de outro rosário que se calhar ainda esta semana que aí vem ainda terá direito a um post especial neste blog.
Embora não muito significativo, mas também gostei de ver a adesão de algumas lojas do comércio tradicional à feira. Pena que pelo menos as lojas do Centro Histórico não tivessem aderido em massa, com barraca à porta, mas eles lá saberão porquê não aderiram.
E agora vamos aos considerandos.
Quando fui visitar a feira convidei uma pessoa para ir comigo. Disse-me que não, que quem vê uma vê-as a todas e depois, se era igual às anteriores, não valia a pena… Realmente é um facto. Esta feira nada trouxe de novo ou de inovador. É uma cópia do que se vai fazendo por aí fora e também vos digo, que embora sem comparação (pela positiva) com as anteriores edições, já as vi muito melhores, principalmente no arranjo dos espaços, nas tascas e tasquinhas onde se pode comer e beber bem, porque já se sabe que festa onde não se coma e beba bem, não é festa. Mas também havia coisas boas como presunto, alheiras e chouriças e numa das poucas tascas, até havia alheiras e chouriças na brasa, mas espante-se, não eram das nossas, tiveram que vir da cidade da Guarda, ainda para mais com um tasqueiro que me disse que para tirar fotografias às alheiras, tinha que pagar…
Também seria uma boa oportunidade para dar-mos uma oportunidade aos nossos artesãos, mas mais uma vez tiveram que vir alguns de fora. Dos nossos, apenas dois ou três. Gostaria de ter visto o barro preto de Vilar de Nantes, mas de lá, apenas veio um cesteiro que felizmente ainda teima em ser artesão. Mas também sabemos que para haver barro preto de Vilar de Nantes teria que haver oleiros, e pelo que sei, já não os há. Mais uma perda de uma tradição secular a juntar a outras que se foram perdendo.
Outro senão foi a constante entrada e saída de veículos pelo espaço da feira adentro. Já sei que quase todos eram da Santa Casa da Misericórdia, mas excepcionalmente poderiam fazer o que tinham a fazer via Largo Caetano Ferreira, sem incomodar a festa, digo eu, bá! É que os veículos motorizados, além de incomodarem e de até serem perigosos no meio de tantos distraídos, não condiz lá muito bem com uma feira medieval.
Para finalizar. Embora esta feira não tivesse trazido nada de novo (uma cópia daquilo que se faz por aí fora) esteve muito bem na festa, na animação, na participação e adesão dos visitantes. Podemos então terminar dizendo que desta vez sim, houve algum sucesso.