Largo da Madalena
LARGO DA MADALENA
Secou na praça o fontenário romântico
o silêncio da água fechou a tarde
num aroma de musgo e limo verde.
Apenas se ouve o pânico
de um corvo rouco
poisado na boca aberta
de um santo barroco
do frontão da igreja
escura e deserta.
E o corvo grasna assim seja.
O resto é o ruído da sombra dos muros nus à roda
tece-lhes o tempo o perfil no chão o puro atrito
do eco agudo de um grito
devolvido à nossa boca muda
pelo gosto salgado do granito.
Fernão de Magalhães Gonçalves, Andamento, Coimbra : 1984.