O Barroso aqui tão perto - Fiães do Tâmega
Aldeias do Barroso - Concelho de Boticas
Fiães do Tâmega - Boticas
Continuamos na união de freguesias de Codeçoso, Curros e Fiães do Tâmega, precisamente nesta última aldeia, Fiães do Tâmega que, como se poderá deduzir pelo seu topónimo, é uma aldeia das proximidades do Rio Tâmega e daí, no limite do concelho de Boticas.
Vamos então até Fiães do Tâmega, como sempre a partida da cidade de Chaves e quase pelo caminho do costume, à exceção da Carreira da Lebre, que desta vez não temos necessidade de passar por lá, pois a partir de Boticas temos uma estrada municipal que nos leva até Fiães se necessidade de utilizar a R311.
Estrada municipal que deveremos apanhar na segunda rotunda da vila de Boticas, na mesma rotunda que recebe a R311 vinda de Vidago, ou seja, apena atravessamos aR314 para apanhar a municipal que serve também as aldeias de Mosteirão e Veral, depois com saída para a R312 que liga a Ribeira de Pena.
Mais uma aldeia que nos surpreendeu pela positiva, com muita vida nas ruas e a paisagem um pouco diferente daquilo que é habitual no Barroso, e assim tem de ser, pois Fiães não só está no limite do concelho mas também no limite do Barroso, sendo o Rio Tâmega o limite natural das terras barrosãs.
E como no caderno da “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas” está quase tudo que queríamos dizer sobre Fiães, passemos já à transcrição de algumas partes desse caderno. Desde já se avisa que a realidade atual pode não coincidir com aquela que é descrita no caderno, pois o mesmo foi publicado em maio de 2006, e desde aí, algumas coisas se alteraram.
Vamos então ao que consta no caderno da “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas”
A freguesia de Fiães do Tâmega situa-se na extremidade mais a sul do concelho de Boticas, zona mais quente com temperaturas amenas, mais parecidas com as de Ribeira de Pena do que com as de Barroso. Confronta a Norte com a freguesia de Curros, a Este com Bragado, do concelho de Vila Pouca de Aguiar, a Sul com Parada de Monteiros, do concelho de Vila Pouca de Aguiar, e a Oeste com Canedo, do concelho de Ribeira de Pena.
Distando da sede do concelho aproximadamente 13 km, o acesso viário faz-se seguindo pelo CM 1050 ate Fiães do Tâmega, ou, em alternativa, segue se pela ER 311, apanha-se a EM 312, vira-se na indicação Veral e segue-se pelo CM 1050.
Esta freguesia e constituída par duas aldeias: Fiães do Tâmega, sede de freguesia, e Veral, localizadas na encosta da Serra de Santa Comba. Ocupa, em termos territoriais, 14,5 km2.
O desenvolvimento da população desta freguesia de Fiães do Tâmega acompanha o movimento demográfico que caracteriza toda a região de montanha no Norte de Portugal, tipificada por uma diminuição progressiva da população, com uma pirâmide etária invertida, onde os grupos etários mais baixos são diminutos e a população envelhecida aumenta.
E, desde sempre, uma das menos povoadas freguesias do concelho, sendo que actualmente tem aproximadamente 167 residentes. Se até aos anos 70 a sua população registou um pequeno crescimento, a partir dessa década a tendência passou a ser inversa e a semelhança do que se verifica na generalidade das freguesias do concelho, perdeu muita da sua população residente nos ultimas 30 anos, mais de 47%. Este fenómeno e em parte explicado pela intensificação dos fluxos migratórios que se registaram a partir da década de 70, nomeadamente para Franca e Estados Unidos da América.
A este fenómeno alia-se o gradual envelhecimento da população, apresentando uma grande tendência para o envelhecimento, sendo que 67% dos 167 residentes têm idade superior a 25 anos. Os níveis de alfabetização desta população residente são baixos, acompanhando o seu nível de envelhecimento, destacando-se o numero elevado de pessoas sem nenhuma qualificação académica. Esta situação excepcional e suportada pelo elevado numero de idosos, alguns deles regressados da emigração em situação de aposentados.
Relativamente à àrea de actividade económica, a maior parte da população dedica-se à agricultura e à pecuária, seguindo as caminhos ancestrais da freguesia, visando apenas a subsistência.
Assim, algumas famílias continuam a actividade tradicional de criação de gado e produção de batata e milho. São os produtos que melhor se desenvolvem e produzem nesta região de Barroso, com elevados níveis de qualidade e sabor. Por se encontrar numa zona localizada a médias altitudes, mais quente e com menores amplitudes térmicas do que as que se registram nas zonas mais altas do concelho, nas aldeias desta freguesia também se colhe vinho. Também a produção artesanal de mel esta hoje em vias de desenvolvimento, funcionando como complementaridade no rendimento das famílias. Parte da população trabalha na construção civil e na área da industria e em empresas do concelho (Aguas de Carvalhelhos, Euronete, etc).
No que se refere a sociedade esta comunidade caracteriza-se pela existência de famílias de lavradores e pequenos proprietários de terras onde se desenvolve a actividade agrícola e pecuária. É uma sociedade homogénea com alguns quadros médios que se dedicam a actividade comercial e desenvolvem actividade no ensino e na vida administrativa nas terras vizinhas designadamente na sede do concelho.
Em Fiães do Tâmega existe um café, com mercearia, e em Veral uma taberna, também com uma pequena mercearia. Nas horas de ócio e sempre que o tempo o permite, as pessoas ainda têm a hábito de se reunirem a conversar nas principais ruas das aldeias ou sentadas nas escadarias das casas dos vizinhos.
MARCAS DO SEU PASSADO
Embora o desejo de todos os habitantes de uma terra seja saber como e quando ela nasceu, a resposta não é fácil de esclarecer. Excluindo uma ou outra que vem identificada nos documentos antigos, a maioria das aldeias têm origem desconhecida no tempo e por razões variadas. Umas com história mais antiga, outras de origem mais recente, sabe-se que a maioria destas aldeias foram formadas a partir do agrupamento de famílias unidas par laços de parentesco ou afinidades económicas e profissionais que se organizaram em comunidade.
Os inúmeros vestígios histórico-arqueológicos informam-nos da passagem e até actividade e fixação de povos antigos designadamente os povos árabes, visigodos, suévicos e romanos.
Muitas das aldeias de Barroso têm a sua origem histórica no movimento de reconquista e povoamento do território iniciado com a formação do Reino de Portugal, em 1143, e posterior fixarão de uma ou mais famílias de povoadores Teve particular desenvolvimento a partir dos finais do seculo XIII. Estes povoadores eram atraídos por contratos de aforamento cujos termos eram favoráveis a sua fixação, traduzidos em pagamentos de foros de valor acessível. Estes contratos são conhecidos como o processo de enfiteuse ou aforamento e eram promovidos indistintamente pela Coroa e/ou pelas Casas Nobres e Senhorios Eclesiásticos.
São conhecidos alguns contratos de aforamento para as terras de Barroso, o que nos permite pensar que a grande maioria das suas aldeias e povoados tiveram origem neste modo de povoamento.
Os casais eram bens aforados, com maior au menor dimensão, a uma ou várias famílias dando lugar a formação de aldeias. Os foreiros tinham como obrigação trabalhar a terra e pô-la a produzir, ficando senhores dela e pagando um foro que estava consignado no contrato, mui tas vezes traduzido em bens de consumo produzidos no próprio casal, como centeio e/ou partes de criação.
Fiães do Tâmega e certamente uma das aldeias que se integra neste movimento povoador.
Desde sempre fez parte do território da paróquia de Curros. Em 1527, no Numeramento de D. João III, aparece identificada e povoada já com 11 moradores e Veral apenas com seis. Por morador entende-se fogo, correspondendo assim a uma população calculada de 70 a 80 in divíduos.
Em 1758 vem referida num documento produzido pelo pároco da paróquia de Curros como sendo uma aldeia dessa freguesia juntamente, com Curros, Antigo e Mosteirão.
Em 1834 foi autonomizada juntamente com Veral, formando uma paróquia sobre si e uma freguesia, vindo a fazer parte desde 1836 do território do concelho de Boticas, entretanto criado. Em 1895, consequência de um nova desenho administrativo, Fiães do Tâmega passou para o concelho de Ribeira de Pena onde se manteve apenas ate Janeiro de 1898. A partir dessa data passou definitivamente para o concelho de Boticas até aos dias de hoje.”
Só um aparte para esclarecer que, tal como se disse no início desta transcrição, este documento é de maio de 2006, entretanto também a freguesia de Fiães do Tâmega deixou de existir, pois com a reorganização administrativa do território das freguesias (Lei n.11-Al2013) passou a fazer parte da união de freguesias de Codeçoso, Curros e Fiães do Tâmega.
Para finalizar a transcrição da “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas” que consta no caderno da antiga freguesia de Fiães do Tâmega.
TRADIÇÕES E FESTIVIDADES
Ao longo dos tempos algumas das festividades que outrora animavam estas comunidades foram-se perdendo. Todavia, durante o ano outras ainda se realizam, embora não com o fulgor dos velhos tempos.
Ainda cantam os Reis e o que recolhem reverte para a igreja. As pessoas costumam dar dinheiro e outras coisas, como fumeiro, que depois são colocadas a leilão à saída da missa, revertendo o dinheiro para a igreja. Costumam cantar:
I
Abram-me lá essas portas
Que ainda não estão bem abertas
Aí vem as do presépio
P'ra lhe dar as Boas Festas.
II
Boas Festas, Boas Festas
Trazemos nós p'ra lhe dar
Que nasceu o Deus Menino
Numa noite de Natal.
III
Numa noite de Natal
Noite de tanta alegria
Que nasceu o Deus Menino
Filho da Virgem Maria.
IV
Vamos todos, vamos todos
Bamos todos a Belém
Visitar o Deus Menino
Que Nossa Senhora tem.
V
Aqui vimos, aqui vimos
Aqui vimos bem sabeis
Vimos dar as Boas Festas
E também cantar as Reis.
Em Veral acendem o canhoto que vem do Natal e Ano Novo ate ao dia 6, a que nesta altura chamam de Canhoto do Entrudo.
O Entrudo trazia muita alegria e folia. Hoje ainda se mascaram, especialmente as crianças, andam pelas casas da aldeia e atiram farinha uns aos outros.
Na Páscoa faz-se a visita pascal.
São Bernardino, 20 de Maio, padroeiro de Fiães do Tâmega e da freguesia. Celebram este dia com missa, sermão e uma procissão com a imagem do Santo a volta da igreja.
No S. João (24 de Junho) e no S. Pedro (29 de Junho) outrora faziam as tranquilhas das ruas com carros de bois e paus. Todavia, esta tradição quase caiu em desuso.
Santa Susana, 11 de Agosto, em Fiães do Tâmega. Neste dia fazem uma festa com missa e procissão com andores, acompanhada com uma banda musical, pelas principais ruas da al deia. A noite realiza-se um animado arraial popular com um conjunto musical e um espectáculo de fogo de artífico.
- Martinho, 11 de Novembro, padroeiro de Veral. Fazem uma festa com missa e procissão com andores pelas principais ruas da aldeia. A noite a festa prossegue com um animado arraial popular.
Em cada uma das aldeias por ocasião do Natal e Ano Novo fazem aquilo a que chamam o "Canhoto de Natal" e "Canhoto de Ano Novo", ou seja, uma grande fogueira com cepos e trances de arvores. Em Fiães, no largo da igreja, e em Veral, num largo a que chamam Portela da Fecha. As pessoas têm por hábito juntarem-se a volta destas fogueiras e num espirito de partilha e comunidade despedem-se do ano que termina, enquanto celebram e dão as boas vindas ao novo ano que começa.
E agora sim, o vídeo com todas as imagens da aldeia de FIÃES DO TÂMEGA que foram publicadas neste post. Espero que gostem.
Aqui fica:
Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607
E quanto a aldeias de Boticas, despedimo-nos até ao próximo domingo em que teremos aqui a aldeia de Mosteirão.