Pedra de Toque - O Folar
O Folar
Na altura da Páscoa era manjar em todas as moradias de Chaves e do Concelho.
Também penso que se fazia nas vilas vizinhas mas, sem falsa modéstia, sublinho que o folar da minha cidade era o mais apreciado.
A minha mãe, todos os anos, nesta época, não esquecia de confecionar os folares para nós e familiares, bem como para amigos que residiam fora.
A massa muito batida na velha masseira (trabalho braçal muito cansativo), ficava deveras macia e fofa.
O recheio compunha-se de carnes várias como presunto, entremeada e de boa linguiça e de delicioso salpicão, fumeiro caseirinho, recheio de deuses.
Com o decorrer dos anos e as forças a faltarem, minha mãe socorria-se da velha amiga e ainda parente Almerinda, também já falecida, natural de Loivos, terra do meu avô paterno, mas aqui moradora, igualmente exímia na feitura dos folares.
O meu pai adorava folar sem ovos, de que me habituei também a gostar e ainda hoje é o meu preferido.
Minha mãe incumbia-se sempre de ser ela a fazer essa bola, um folar igual aos outros só que sem ovos, para o marido.
Atafulhava-o das tradicionais carnes, a que acrescentava por vezes coelho estufado que lhe dava um sabor muito especial.
Juro-vos que era um petisco delicioso que ainda procuro descobrir nos tempos que correm, mas que já não encontro com a qualidade com que saía das mãos fadadas da minha saudosa e querida mãe.
Este dito folar sem ovos, como referíamos lá em casa, os que dele mais gostávamos, não era tão forte e, necessariamente, empanturrava um pouco menos.
Os homens por norma, comiam o folar acompanhado de vinho ou cerveja e as senhoras e a miudagem optavam por café ou chá onde, por vezes, o molhavam.
Quando os folares se faziam a azáfama nas casas era grande porque era necessário não só bater a massa, como partir cuidadosamente todas as carnes.
E a “canseira” só terminava quando as empregadas os levavam em tabuleiros na cabeça para os fornos que existiam cá na terra.
Registo com agrado que a tradição se mantém já que, em tempos de Páscoa, o folar continua a ser petisco de que não se prescinde à mesa dos Flavienses.
Com jubilo congratulo-me com a recente distinção de ouro, por quem de direito, para o folar de Chaves, o melhor folar salgado do nosso país.
Ao lembrar-me de tempos idos vou por ora deixar-vos e, enquanto como um cibo de folar, aproveito, para vos deixar votos sinceros de uma PÁSCOA FELIZ!...
António Roque