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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

26
Mar16

Hoje também há folares


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Já em tempos deixei aqui a receita do folar, mas ela não é tão rígida assim, pois pode ter algumas pequenas variantes conforme a casa em que se faça, mas o segredo para um bom folar está mesmo na qualidade dos ingredientes, principalmente na qualidade dos ovos, do azeite e das carnes, de preferência, para um folar de primeira qualidade, quanto mais caseiro melhor, pelo menos no que toca aos ovos e às carnes (presunto, linguiça, salpicão e carne gorda). Quanto ao resto é tudo uma questão de q.b., jeito de amassar, farinha 55, algum sal, fermento, tempo de levedar e forno quente no ponto e alguma paciência. No final, embora todos os folares tenham mais ou menos o mesmo aspeto, é quando se saboreia que se nota a diferença, isto para quem já comeu dos verdadeiros folares caseiros, com os tais ingredientes caseiros e a mestria de os fazer. Que hoje começa a ser coisa rara e pela certa não os encontrará nas feiras e feirinhas da especialidade, mas em muitas casas ainda os há.

 

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Mas tudo o que disse são apreciações para os mais antigos, pois os mais recentes os mais jovens, ou têm a sorte de ter uma avó a altura de fazer um bom folar caseiro ou então nunca os avezaram  ou saborearam, comem dos outros, que na ausência de melhor, também marcham. Mas isto, hoje em dia, não é só coisa dos folares. Passa-se um bocadinho com tudo que levamos à boca, principalmente nas cidades, mas o que mais me preocupa é que com o despovoamento das nossas aldeias estamos a perder também os verdadeiros sabores e saberes que fizeram a delícia gastronómica destas quadras festivas, e ontem mesmo tive a prova disso em duas aldeias do Barroso mais barrosão, onde os fornos do povo, agora, apenas servem para turista ver e fotografar.

 

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 Seja como for, agora com o folar também industrializado e outras iguarias mais comerciais a fazerem-lhe concorrência, a verdade é que por aqui o folar ainda é uma iguaria desta quadra  e no Domingo de Páscoa, manda a tradição que seja o cordeiro ou o cabrito que ocupe o centro das nossas mesas, acabando também assim a presença (época) das carnes de porco e fumeiros à mesa, que desde o Natal, com o seu ponto alto na quadra do Carnaval, eram presença assídua nas mesas transmontanas. E disse bem, eram!, pois também as tradições, com origem no mesmo mal do despovoamento rural, se foram perdendo ao longo dos últimos anos (desde finais do século passado até hoje).

 

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Lamentos mas também palavras para memória futura, para se saber que houve um tempo em que a comida que se punha à mesa era toda caseira, ou quase toda, com grande exceção para o bacalhau que nunca se deu nas hortas, galinheiros, capoeiros ou cortes.

 

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Quanto às imagens de hoje, já não são do folar caseiro como há uns anos atrás vos deixei aqui. Ontem, nas tais aldeias do Barroso,  bem fui à procura delas ontem, mas por incrível que pareça não vi um único forno a deitar fumo, e o aroma do folar cozido também não andava nas ruas. Assim, as imagens de hoje são já de um folar mais industrializado, de forno elétrico, embora confecionados com alguns ingredientes caseiros e alguma arte à moda antiga, que no final ainda faz um bom folar ao gosto atual.     

 

 

 

15
Out13

Estratos


 

Uma fatia de folar e um chá de Limonete, por favor


Uma fatia (ou muitas) de folar e um chá de Limonete, servidos em mesa oval com tampo de contraplacado. E à lareira repolgas, para depois.


Antes, houve diospiros comidos no escano e mãos sujas que faziam correr para o quarto de banho entre risos e ralhetes.


Ovos estrelados ao lanche e bolos de bacalhau a qualquer hora. E a chávena de chá de Limonete com migalhas do folar que obrigou a dias – ou seriam anos – sem ovos.


Com o Tejo ao fundo, lê-se “Folar de Chaves”. Uma fatia de folar e um chá de Lúcia-lima, por favor. E uma mesa oval sobre chão verde e preto. E lareira, também. E já agora, uns cogumelos, um ovo estrelado e meia dúzia de bolos de bacalhau. Ou um pratinho de pastéis, como queira.


Gente. Cabeças que mexem sintonizadas num canal desconhecido. Estranhos.




Um cibo de folar e um chá de Limonete para enfeitar com migalhas. Repolgas, ovos estrelados e bolos de bacalhau. Tejo longe da vista. Tuela ao fundo. E uma mesa oval com tampo de contraplacado, em pernas gastas. Bancos, sem costas, ocupados com vidas. É só, obrigada. É só, por ser tudo.


Rita




31
Mar13

Pecados e Picardias


 


Cheira a folar


 

Cheira a folar

E enquanto cresce a água na boca

voa um pensamento às origens

onde encontros no forno, prediziam futuros

e acordavam passados

 e Deus

(em vez de salivar)

vestido de mistério e semblante carregado

vigiava

aqueles que  tinham ideias clandestinas de adultério

 de  carne desejar…




cheira a folar

E a cabeça fica confusa de tão oca

da moral de sexta feira santa, o apetite dá vertigens

expondo-se alguns  descarados do forno e da forja aos esconjuros...

e agora sopram ventos que nem por ser Páscoa são menos atribulados

E Deus

 (em vez de cá voltar)

Vestia de jejum em espaços breves

 E Pensava

Deixar” troicas” continuar a filosofia da pobreza que nos torna mais leves

 para  subir a escada

já com a certeza de ascender a um céu que aparenta

um milagre sem véu

vedado  a alguns de  nós os hereges que sem crer

continuam a querer empreender com alma tenaz e lenta

a liberdade de poder clamar

Reciprocidades sem prisões relacionais,

mesmo que seja quaresma,  um aroma a todos e os demais

como quando no ar livre cheira a folar…

 

Boa Páscoa  a Todos

 

Isabel Seixas



07
Abr12

Vamos lá a um bocadinho de folar... Bom apetite!


 

Para ontem, prometi uma publicação com folares, mas como só os tinha com carne, só hoje é que os deixo por aqui, não fosse algum guloso pecar.

 

Ficam apenas duas fotos, pormenores por sinal, uma de um folar ainda inteiro a outra de uma fatia com uns pedacitos de carne a espreitar.

 

 

Quanto ao seu paladar nem há como comê-lo,  já quanto à sua confeção, para não me estar a repetir e escrever tudo de novo, deixo-vos o link para aquilo que escrevi em 2007, onde há mais fotos e se ensinam os segredos do folar flaviense. O post continua atual e continuará, pelo menos enquanto houver mãos que saibam amassar folares e ingredientes caseiros.

 

Fica o link:

 

http://chaves.blogs.sapo.pt/165311.html

 

 Boa Páscoa!

 

22
Mar08

Boa Páscoa






.

Embora este Sábado seja dedicado à Agrela (post anterior) não poderia deixar de vir aqui desejar-vos uma boa Páscoa.

 

Para os que não puderam vir à terrinha e, estejam onde estiverem,  não tenham direito a folar, deixo aqui uma fatia dele, pelo menos para matar saudades. Sei que lhe falta o gosto, mas esse, não o posso deixar por aqui.

 

Uma Boa Páscoa para todos!

 

Para quem quiser matar saudades de toda a feitura do folar, fica aqui o link para o post do ano passado, onde passo-a-passo chegavamos ao : Folar de Chaves

 

Até mais logo.

07
Abr07

Foi aqui que pediram folares!?


.

Foi aqui que pediram folares!? Pois então vamos à procura deles e dos seus “passos”.

 

Nesta quadra, em Chaves concelho, é proibido não ter folar em casa. Do pequeno-almoço até à ceia, acompanhado por café, leite, chá, vinho branco ou tinto, cerveja, mas sempre de copo ou caneca na mão, o folar é rei e senhor de qualquer mesa.

 

Mas há folares e folares, e sem desprezar o folar de outras terras, como o de Chaves não há. Há, isso sim, muita mestria na sua confecção e nos ingredientes, que para darem um bom folar, terão que ser todos caseiros – ovos, linguiças, salpicões, presunto e até as carnes gordas, o segredo de uma boa farinha e depois o mais importante de tudo – umas mãos que saibam amassar, aquecer e temperar o forno e dosear tempos e ingredientes. Podem crer que mãos assim não há muitas.

 

 

 

 

Como hoje é sábado, dia de irmos até ao concelho rural, propus-me procurar mãos mestras numa aldeia. Podia ser qualquer aldeia do concelho, pois em todas elas há boas mãos para folares, mas como o tempo já era pouco, decidi-me por uma aldeia aqui à porta e tocou a sorte a Vilar de Nantes.

 

 

 

 

Claro que nestas aventuras temos de ter sempre a cumplicidade de alguém e em Vilar tinha de recorrer à cumplicidade de um amigo que sabe sempre tudo e conhece toda a gente – o Costa. Dito e feito, em apenas alguns minutos estávamos dentro do forno da Tia Luísa que por sorte estava a preparar a sexta fornada do dia.

 

Mas antes dos pormenores, vamos à receita:

 

FOLAR DE CHAVES

Ingredientes:

(Para dois folares)

 

- 1 Dúzia de ovos caseiros

- 1 kg de farinha (55)

- 125 Gramas de manteiga

- Presunto de Chaves q.b.

- Linguiça caseira q.b.

- Salpicão caseiro q.b.

- Carne gorda de porco q.b.

- Uma chávena (de café) de azeite da região

- Fermento q.b.

- Sal grosso q.b.

 

 

 

 

Preparam-se as carnes, cortando-as em pedaços pequenos, batem-se os ovos e vão-se misturando e amassando com farinha, junta-se a manteiga derretida, azeite, fermento e sal, depois de bem amassado põe-se a massa a levedar durante 20 minutos. Depois de levedada, separa-se a massa, juntam-se as carnes, forma-se o folar e põem-se a dormir enquanto se põe o forno no ponto. Depois do forno pronto, metem-se os folares e aguarda-se entre 45 minutos a 1 hora (dependendo do aquecimento do forno). Tiram-se, e “prontos”, basta uma faca para cortar e está pronto a ser comido e deliciado.

 

 

 

 

Parece fácil, mas é preciso ter mãos e saber amassar, saber as doses do q.b. e até saber aquecer devidamente o forno, onde até a lenha que se queima, não é uma lenha qualquer, e depois é só ter a arte e a mestria de os saber fazer, arte que vai passando de geração em geração, de mães para filhas, que embora sem segredos nem truques, há que saber todos os pormenores e sobretudo muita experiência.

 

Pois ontem tive a sorte de chegar no momento certo ao forno da Tia Luisa e de assistir à sexta fornada do dia. Com o forno quente e os folares já bem dormidos, foi só meter ao forno e esperar a cozedura. Mas enquanto coze e não coze, a Tia Luísa “botou” mãos à amassadura da sétima fornada do dia, a última, pois eram quase 6 da tarde e já estava no forno desde madrugada, já era tempo do merecido descanso. Amassa e mais amassa, dois dedos de conversa pelo meio e aí estava a sétima fornada a levedar, uma espreitadela ao forno, agarrar na pá e está pronta a sexta fornada. Como tinha a visita do blogueiro de serviço, há que abrir um folar quentinho, mas sem carne porque o dia é de jejum e, aqui cumprem-se rigorosamente, um copo dos que não partem, vinho do caseiro para o engasgo, e quanto ao resto…não sei como traduzi-lo em palavras. Só vos posso dizer que tanto o folar como o vinho, eram muito bons.

 

 

Ainda quente, havia que prova-lo, com um copo de tinto

 

 

Só falta mesmo agradecer ao amigo Costa e à Tia Luísa por nos abrir a porta do seu forno e pela prova que ficou aprovada e com distinção, sem a colaboração dos quais este post não seria possível.

 

 

A Tia Luísa

 

 

Quanto ao folar só resta desejar aos flavienses presentes que façam bom proveito do folar que têm em casa, o mesmo desejo aos flavienses ausentes que receberam um folar da terrinha, quanto aos outros flavienses ausentes que não receberam o folarzinho da terrinha, há que ter paciência, deixo-vos com as fotografias e o mais que posso fazer, é comer uma fatia de folar por vos.

 

Uma boa Páscoa para todos e até amanhã em mais uma aldeia.

 

 

 

 

 

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